Saltei do carro e agradeci ao meu motorista, como sempre.Era meio da madrugada, e eu sabia que ele estava cansado.Poderia ter pegado um táxi, sem problemas, mas era uma exigênciada equipe de segurança que eu desse sempre preferência por estarem veículos blindados, com alguém de confiança no volante.Esse era o preço de ser quem eu era. Quando me tornassepresidente, as coisas seriam piores.Ainda assim, eu poderia ter seguido normalmente o protocoloe retornado para Nova Iorque só na manhã seguinte, mas estavaindo para o hotel, passar a noite, quando senti uma necessidadeenorme de estar com minha esposa.Chegava a ser irônico isso. O casamento era para ser apenaspor contrato, mas eu estava totalmente rendido por ela.Entrei na casa e subi as escadas já tirando o paletó. Agravata fora arrancada no meio do voo, mas eu não poderiaaparecer totalmente desalinhado em público, nem mesmo no meiode uma madrugada.Entrei no meu quarto, esperando que Isabelle pudesse estardormindo na
Acordei primeiro e deixei Isabelle exausta na cama, enquantoeu ia para a sala de musculação iniciar o meu dia. Nós só nosencontramos na hora do café da manhã, porque ela já estavasentada à mesa, e eu me inclinei para beijá-la.Eu via os empregados sorrindo ao perceberem o clima entrenós. O motorista, os seguranças, minha governanta... Desde o inícioIsabelle conquistou a todos. O público também. Desde que noscasamos e que ela passou a se tornar ativa em várias causas,minha popularidade cresceu.Só que não era apenas por isso que eu estava apaixonado.Era... por tantas coisas...Naquela manhã ela não estava sorrindo como na noiteanterior. Eram os momentos em que eu me perguntava o quepoderia haver de errado que transformava seu humor em poucossegundos. Talvez fosse algum tipo de depressão sobre o qual elaainda não se sentia segura de falar. Fosse como fosse, queriaajudar.Ela deu uma olhada no celular, soltou um suspiro e se voltoupara mim, tentando fazer parecer como se na
Ele não precisava dizer muitas coisas para que euentendesse que Kenneth tinha sido desmascarado. E que eu tinhasido jogada no meio da areia movediça também.Eu e Richard ficamos nos olhando por algum tempo. Ele,muito sério. Eu, muito desesperada. Sentia meu corpo tremer eminha respiração ficar ofegante, porque algo me dizia que aquelaconversa seria dolorosa.Ele me deu as costas e foi caminhando na direção da mesa,com as mãos nos bolsos.— Richard... — comecei chamando o nome dele com um tomfrágil, praticamente me acusando.Ainda sem olhar para mim, ouvi a voz dele sem nenhumainflexão. Como se ele tivesse perdido a alma.— Eu vi o contrato. Não quero mais mentiras, Isabelle. Ele éreal?Eu poderia dizer que não, tentar me proteger. Só que eusabia que Richard não acreditaria.— É real.Havia muitas outras coisas que eu ainda precisava dizer,explicar, mas tudo o que me restou foi me sobressaltar e dar umgritinho quando ele deu um tapa em um objeto de vidro que estavasobre a
O escritório de Zander, no centro de Manhattan, era umaextensão de sua personalidade: imponente, poderoso e masculino.Localizado no coração da cidade, no topo de um arranha-céu, olocal tinha uma vista de tirar o fôlego da cidade que nunca dorme.Eu entrei naquele espaço impressionante, cercado porjanelas que se estendiam do chão ao teto. A vista panorâmica dosarranha-céus, os rios que cruzavam a cidade e a agitação láembaixo, criavam um cenário que transmitia uma sensação dedominação.O escritório em si era uma extensão desse domínio. Asparedes eram revestidas com madeira escura e painéis de couro,criando uma atmosfera sóbria e sofisticada. A mobília era robusta eelegante, com poltronas de couro e uma grande mesa de mognoque ocupava o centro do cômodo.A decoração era pontuada por obras de arte cuidadosamenteselecionadas, todas exibindo temas de poder e influência. Era umespaço que emanava autoridade e presença, como o próprioZander, que ainda era um mistério para mim.A
— Belle, não me mata de ansiedade. O que deu?Amy estava do outro lado da porta, usando o punho parabater na cabine e chamar a minha atenção.Eu estava sentada no vaso sanitário fechado, dentro de umbanheiro no hospital no qual fomos realizar um trabalho, olhandopara o bastãozinho em minhas mãos.Com certeza havia lugares muito melhores para eu estardescobrindo uma gravidez, mas era o que tínhamos. Não era comose meu casamento fosse convencional, não é?Especialmente depois que meu marido passou a mal olhar naminha cara e a me rejeitar.— Belle? Dá para você abrir essa merda dessa porta?Eu precisava fazer isso, não só porque devia algumaexplicação à minha melhor amiga, que estava passando por tudocomigo e segurando a minha mão, mas também porque estava emum hospital e não podia ficar prendendo um dos banheiros por tantotempo.Levantei-me e abri a porta, saindo. Pela minha cara, ela jásabia a resposta.— Positivo? — Amy perguntou, e eu só assenti.Ainda segurando o bastão,
Era como se minhas pernas não conseguissem ficar quietas.Desde que chegamos em casa, Isabelle se afastou e foi para seuquarto, fechando a porta.Como uma estranha.Bem, mas foi o que construímos, não foi? Ela por não ter mecontado a verdade, e eu por...Por ter falado merda e agido como um babaca.Subi as escadas, depois de tomar uma boa dose de uísquesem gelo, e tinha a intenção de ir para o meu quarto, me trancar ládentro e fazer qualquer porcaria que me permitisse esquecer que eutinha uma esposa linda no cômodo ao lado.Só que, com as mãos nos bolsos, eu fiquei zanzando pelocorredor como uma barata tonta. Diante da porta dela, hesitei trêsvezes, chegando a levar o punho à madeira para bater.Ela ainda era a mulher que tinha me magoado. Eu aindatemia confiar nela de novo, mas era inegável que o que eu sentianão poderia desaparecer de uma hora para a outra. E ficava aindamais difícil quando eu a via em meio a crianças em um hospital, comtoda aquela doçura, dizendo palavra
Eram seis da tarde quando pegamos o caminho para a casade Amy, para levá-la, depois de uma sessão de fotos que fizemos,para a campanha de doação para o hospital das crianças. O dia foracansativo, porque eu tive também duas reuniões com marcas queme queriam como embaixadora – tudo com a aprovação da equipede Richard.Cheguei a encostar a cabeça no banco e fechar os olhos, nomeio de uma conversa com a minha amiga. Quase peguei no sono.Só acordei de supetão, porque ela tocou o meu braço.— Desculpa — pedi, meio atordoada.— É assim mesmo, miga. — Apontou para a minha barriga,para eu entender do que ela estava falando, já que não queríamosque o motorista ouvisse.Fechei o vidro que separava o banco dele do nosso e meaproximei de Amy, quando ela pediu, parecendo querer compartilharum segredo.— Depois daquela conversa sobre Aurora, jurei que você iriacontar. Mas já tem o quê? Quase um mês?Eu havia conversado com Amy sobre a surpresa que tive coma aproximação de Richard. E faz
RICHARD WALKEREra difícil tirar os olhos dela. Apesar da expressãomelancólica, Isabelle tentava sorrir e ser simpática, enquantopasseávamos pelo salão, de braços entrelaçados.Ela tinha colocado uma echarpe no pescoço, e eu nãocontestei, mas em algum momento precisaria tirar para que o colarfosse exibido.Eu não a tinha presenteado com ele só para mostrar queconsumia algo da marca, mas porque realmente queria vê-lausando. A cor das pedras chamou a minha atenção, de fato meremetendo aos olhos dela.Isabelle optara por um vestido azul-escuro, com um caimentosimples, mas que valorizava as curvas do seu corpo. Eu sabia que aecharpe era parte da peça, mas ainda não entendia o motivo por elatê-la escolhido.Além do mais, eu a sentia muito, muito nervosa.Não consegui falar com John, para tentar descobrir se algotinha acontecido durante a saída que ela dera com Amy, porquetambém tive que me apressar para me arrumar, mas, além disso,não queria ficar tomando conta de sua vida com