Depois da cirurgia, Aline passou o dia inteiro em coma.Ela só acordou na madrugada do dia seguinte.Mateus estava debruçado ao lado da cama, parecendo estar dormindo.Esquecendo-se de suas feridas, Aline tentou se levantar para pegar o cobertor ao lado. O movimento causou dor na ferida do seu peito esquerdo, fazendo-a gemer baixinho.Mateus, que não estava dormindo profundamente, acordou imediatamente. Ele a empurrou de volta para a cama e disse com um franzir de testa:- Não se mexa.- Você ficou aqui comigo o tempo todo?Ele negou prontamente:- Não, foi Pedro quem cuidou de você.Ela se perguntou se isso era verdade. Ele parecia cansado, com olheiras, diferente de antes.Mateus entregou o celular dela:- Seu telefone não parou de tocar enquanto você estava desacordada. Eu atendi por você.Será que foi Julieta quem ligou?O coração de Aline ficou apreensivo:- Quem... quem ligou?- Foi sua amiga, Antônia. Eu contei a ela sobre o seu acidente.Aline suspirou aliviada interiormente,
Mateus estava confuso, não sabia mais qual era a verdadeira Aline. Talvez todas as versões dela fossem reais e sinceras, mas quanto valia a sinceridade de Aline? Ela dizia amá-lo, mas o traía. Essa era Aline, sempre imprevisível.Perdido em pensamentos, o celular tocou. Era Gustavo. Mateus rejeitou a chamada, não queria falar com ninguém naquele momento. Mas Gustavo insistia. Ao atender, ouviu Gustavo, furioso, perguntar: - Não está atendendo minhas ligações porque está na cama com Aline, vivendo um romance de novo?Gustavo estava exaltado ao telefone. Mateus afastou o celular, respondeu friamente: - Qual é, mesmo que eu estivesse, não seria a primeira vez.Gustavo, resignado, disse: - Você jurou que não cairia no mesmo erro duas vezes, Mateus. E agora, quantas vezes já caiu? Soube que Aline levou uma facada por você. Está hesitante de novo por causa disso?- Nunca pensei que ela se colocaria na frente para me proteger.Gustavo não confiava em Aline: - E se isso for só mais um
Aline segurava o pão com leite, mordendo um pedaço. O aroma do leite era intenso, doce, mas não enjoativo, com uma textura suave e pegajosa. De repente, ela desviou do assunto e ofereceu a Mateus: - Esse pão com leite é bem gostoso, quer provar um?Ela falava com calma, como se não tivesse ouvido o que ele dissera. Mateus franziu a testa, seu olhar se intensificou. Ele reafirmou: - Aline, você está livre agora.Não era isso que ela sempre quis? Agora que ele a libertava, ela deveria estar feliz. Aline engoliu o pedaço do pão, sentindo a garganta seca. Depois de beber um pouco de mingau, ela olhou para ele e perguntou: - Eu... não entendi direito. Você está dizendo que não me odeia mais ou que não vai se vingar de mim?Aline sabia que Mateus não a perdoara por ter levado a facada por ele.Seu porte altivo estava envolto em sombras e solidão. - Eu não consigo não te odiar. Mas você levou uma facada por mim, então nossa dívida de seis anos está quitada.Quitada. Há alguns meses, A
Nesse aspecto, Aline e ele tinham um entendimento tácito. Ele sabia sobre uma pequena pinta marrom no peito direito dela e conhecia todos os pontos que a excitavam, mas não tinha o número do celular dela. Eram os estranhos mais próximos que se pode imaginar.Mateus a observava friamente. Aline, contendo as lágrimas, manteve a calma e perguntou: - Então, Sr. Mateus, o que você disse sobre nunca mais se preocupar comigo, é verdade, certo?- A partir de agora, se você viver ou morrer, não me interessa.- Então estou aliviada. Se eu me casar e tiver filhos, não vou mais te incomodar. Um ex deve ser como um morto.Ela já estava pensando em se casar e ter filhos com outro? Seria Rui? Ou Francisco? Mas isso era realmente da conta dele? Mateus, com o rosto tenso, finalmente falou com indiferença: - Eu não quero ver você, nem ouvir notícias suas. Portanto, mantenha distância de Francisco.Sr. Francisco? Ela realmente teve um bom relacionamento com ele. Mas Mateus estava enganado. Ela se
Em frente ao hospital, do outro lado da rua, estava estacionado um Maybach preto.A janela do motorista estava abaixada um pouco.Uma mão segurando um cigarro, estava casualmente apoiada na borda da janela.A mão era longa e pálida, destacando o vermelho ardente do cigarro.O vento levava metade do cigarro, e ele fumava a outra metade.O cigarro, no vento, acendia e apagava, como suas emoções, provocadas e depois reprimidas pela razão, repetidamente...O rosto sombrio do Mateus estava escondido na fumaça branca, o vapor encobrindo a intensidade de seu olhar, deixando apenas um ar de melancolia.Ele pegou a última vareta de incenso de agarwood, colocou no cigarro, acendendo.Esse leve aroma de agarwood, tão parecido com Aline.Tão sutil, mas viciante. Indefinível o que era bom, mas inesquecível.Mas essa era a última vareta que Aline tinha dado. Depois disso, ele não usaria mais.Coisas viciantes podiam ser abandonadas. Não era difícil.Cigarros estavam assim, varetas de agarwood também
Antônia estava ansiosa do outro lado da linha.Aline a confortou calmamente: - Estou bem, só dói um pouco.- Você ainda consegue sentir dor? Como teve coragem de ir lá? Estou impressionada com você! - exclamou Antônia.- Na hora, não sei de onde veio a coragem. Agora, me arrependo. Se tivesse outra chance, definitivamente não faria isso.Aline falava de maneira leve, parecendo estar de bom humor. Mas Antônia a conhecia bem e disse, com preocupação:- Você fala isso, mas seu corpo diz a verdade. Se tivesse outra chance, iria na frente de Mateus de novo! Eu te conheço! E Mateus, ele ficou com você, cuidou de você?- Ele voltou para Aeminium.Antônia ficou chocada: - O quê! Você levou uma facada por ele! Em termos maiores, você é a salvadora da vida dele! Como ele pôde te deixar sozinha?- Ele arranjou uma enfermeira para mim. É a mesma coisa, e as enfermeiras cuidam melhor do que ele, não é?- Estou tão irritada! Você devia ele, mas já pagou bastante! Aline, não se diminua tanto na fre
Naquela tarde, os especialistas de pneumologia e cirurgia torácica realizaram rapidamente a consulta conjunta. Aline foi diagnosticada com câncer de pulmão. Os médicos vieram ao quarto dela para uma consulta direta, dizendo com conforto: - Você é jovem e não está em estágio avançado. Se fizer quimioterapia ativamente, ainda há muita esperança!- E se eu não fizer quimioterapia, contando apenas com minha resistência e imunidade, quanto tempo posso viver? - perguntou Aline, com uma calma que surpreendeu os médicos.O médico respondeu: - Depende, pode ser de seis meses a um ano, mas não descartamos milagres, como viver mais três a cinco anos.Seis meses? Esse tempo não é tão apertado, suficiente para ela preparar suas últimas vontades.- Quanto tempo levará para minha ferida de faca sarar para eu poder deixar o hospital?- Sua ferida de faca parece séria, mas é apenas uma lesão externa. Se a cicatrização pós-operatória for rápida, você pode deixar o hospital em uma semana. Só precisa
Aline sentiu seu coração parar por um instante e perguntou:- Gustavo já sabe quem é a Julieta?- Ainda não contei! Mas tô com medo dele já ter sacado! Ah... melhor eu desligar, ele tá chegando!Antes que Aline pudesse dizer mais alguma coisa, Antônia já tinha desligado o telefone às pressas.Preocupada, Aline desceu do trem e pegou um táxi:- Para a Residência Celestial!...Na Residência Celestial.Gustavo e Julieta se encaravam em silêncio, por longos três minutos.Foi Julieta quem quebrou o silêncio:- Senhor, fica aí me encarando feito um doido, eu sei que sou bonita, mas não tem flor no meu rosto, por que esse olhar?Gustavo mal disfarçou um sorriso irônico.Ele olhou para Antônia com uma expressão séria e ameaçou:- Essa menina é filha de quem? Fala logo, senão vou deixá-la muda!Julieta encarou Gustavo sem medo:- Senhor, envenenar criança é crime, quer ir pra cadeia?- Ah, sabe das leis, né?- Eu não sou mais bebê, já tenho seis...Quando Julieta ia revelar sua idade, Antônia