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Brincando com uma Zarabatana

O sorriso sádico que havia brotado em seus lábios demonstrava grande felicidade por poder enviar algumas almas para o inferno, a cena a sua frente, as pistolas e as espadas todos o cercando como a um rato de porão.

— Eu ganhei o nome do navio quando fui encontrado, e o capitão Brian foi muito benevolente, mas ele sabia que benevolente era tudo o que eu não era, querem um motim Rapazes então venham. — Pierre convidava a tripulação para que viessem ataca-lo.

Pierre chamou... convidou aqueles homens para que os mesmos seguissem com o motim e assim que os primeiros piratas de aproximaram foram surpreendidos por uma fumaça na coloração roxa, fumaça essa que começou a se espalhar rapidamente por todo o convés, o apelido escorpião não era de graça, e não era apenas pelo nome do navio, ele fazia jus ao nome que carregava, era venenoso e sádico.

A fumaça pegou cerca de dez homens que estavam tomando a frente da situação, os mesmo olhavam confusos sem entender de onde a fumaça tinha vindo, mas a ultima coisa que aqueles lideres do motim viram foi o corpo de Pierre exalando a fumaça, como se ele estivesse acabado de entrar em chamas.

— Intendente, leve eles para o porão! — Gritou Pierre para Zurban.

O intendente que estava amarrado ao mastro se soltou com o auxílio de um punhal e foi com a ajuda de mais cinco piratas levando os dez homens que tomavam a frente do início do motim, mas naquele momento Pierre desconfiou, se Zurban se soltou rapidamente e estava de posse de um punhal a chance de ele ter colaborado com o motim era altíssima. Ele olhou para os outros que permaneciam tapando o nariz e surgiu algo em sua mente maligna.

 "Daqui até a republica dos Piratas em Nassau creio que levem dois meses, as provisões estão bem escassas, e diante dessa rebeldia... e é bem provável que ainda nessa noite Gared venha fazer um ataque, ele gosta dessas aguas... ahh vou usar a mesma manobra de anos atrás, amotinados morrem!"— Se lembrou de uma tática que havia usado com Brian, porem na época eles tinham mais pessoas de confiança, o que parecia ser diferente agora, onde a tripulação estava completamente rebelde.

Ele andou calmo no meio daqueles homens, o número era de 120 piratas.

— Primeiro dia como capitão e já querem um motim, acham mesmo que vão chegar em Nassau com o meu navio? Não vão rapazes, conheço cada alma amargurada desse lugar e acredito ter lhes mostrado meu melhor lado, agora rapazes gostaria de mostrar a vocês um lado não muito bem visto e garanto que vai ser a ultima coisa que vão ver... Intendente amarre todos aos mastros e coloque alguns na borda do Navio. — Zurban tinha medo do veneno do escorpião, por isso se virou contra a tripulação que ele mesmo estava tentando ajudar e começou a amarrar aqueles homens.

Zurban fazia isso com o coração apertado e de maneira lenta, ele tinha de fato mandado um bilhete para Gared, enviou um pequeno papel enrolado no pé de uma ave, e ele queria ganhar tempo para que aquele que os salvaria chegasse ali a tempo de tomar o navio principal e a frota, e todos sabiam sobre aquele motim, a frota tinha sido informada, e estavam até um pouco atrás, os três navios menores estavam navegando com a velocidade reduzida, deixando o caos acontecer livremente no navio principal, assim quando Gared chegasse estaria tudo pronto para o novo capitão que eles queriam que fosse Gared.

No dito bilhete continha a informação de que o navio estava em situações precárias depois do redemoinho e que era a ocasião perfeita para ser atacado, claro Pierre conhecia o coração de Zurban e imaginou que isso pudesse ter sido feito.

Pierre olhava para aqueles homens, o medo em suas faces e o suor em suas testas, indicando o medo e o terror na face de cada um, Zurban olhava para eles e parecia tentar acalmar aqueles homens com o olhar, um olhar de quem diz, " vai ficar tudo bem", mas não ia, naquele momento em que Zurban tinha acabado de amarrar seus parceiros eles viram o garoto magricela sair do interior do navio, o mesmo carregava um monte de fitas vermelhas nas mãos e parecia estar com um sorriso bem doce nos lábios.

— Luid, agora coloque as fitas no braço daqueles homens que lhe vir a mente, não fale com eles, apenas coloque as fitas. — Pierre falou calmamente, enquanto andava de um lado a outro olhando a cena dos homens amarrados em cada extremidade do navio e alguns ao mastro.

Luid não sabia o que seria feito, mas em seu coração estava  muito grato a Pierre, ele com as fitas nas mãos foi olhando para aqueles rostos, ele não saia o motivo de estarem todos amarrados, mas a ele só importava colocar as fitas em todos os principais envolvidos na tortura direta contra ele, e assim o fez, a cada homem que olhava o mesmo ganhava uma fita o temor aumentava nos olhos daqueles homens com a fita, porém Luid deixou para colocar a fita de Zurban por ultimo e quando o mesmo havia sido presenteado a tripulação respirou aliviado, afinal Zurban era o único que ainda não tinha sido amarrado.

Pierre olhou sorridente para eles, tirou do bolso de suas vestes uma zarabatana, e alguns dardos, e na ponta destes dardos continha veneno, um veneno que ele mesmo tinha criado, Pierre era de fato um escorpião, sempre tinha algo nas mangas, ele olhou para Luid e viu o garoto se esconder em baixo da escada diante da porta da cabine do convés, a unica coisa que lhe destacava eram os olhos azuis brilhantes como dois pares de diamante.

— Vamos começar a brincadeira... — Falou o mais novo capitão apontando a zarabatana de maneira aleatória para aqueles piratas que naquele momento começaram a ficar com o olhar tremulo.

Pierre acertou um dardo em um dos homens amarrado a borda do navio, o mesmo desmaiou quase que instantaneamente, ele o soltou e deixou seu corpo caído no centro do convés, depois acertou seu intendente Zurban e o deixou ao lado do homem e viu o suor frio e olhar de medo dos homens, ele sorriu com aquela cena, gostava de causar medo nas pessoas.

— Motim... Falta de companheirismo, por acaso a pilhagem não é dividida por igual aqui?, Cada navio, chalupa ou barcos que o garoto derrubou com seus explosivos deram um grande lucro em pilhagens e vocês o deixaram por onze meses comendo restos, ele é uma criança seus ratos imundos, uma criança que tem o dobro de talento do que a maioria que não sabe mirar uma pistola direito, por isso vão todos morrer.

— Não pode matar a todos não tem como guiar o navio sozinho. — Falou um dos homens que estava amarrado ao mastro central.

— Na verdade eu tenho sim, não sabem por acaso que os escorpiões sempre se viraram sozinhos — respondeu o ruivo colocando mais um dardo na ponta da zarabatana e acertando o homem que havia acabado de abrir a boca. — Tenho 120 amotinados aqui, dez já estão no porão... Alguns vão cair aqui mesmo no convés, e se é o navio que querem então vocês vão ter...

Pierre continuou andando de um lado para o outro acertando os piratas de maneira aleatória, sem dar indícios sobre o veneno ser mortal ou se o mesmo apenas deixava inconsciente apenas. Logo o capitão teve a ideia de chamar o garoto.

— Luid, venha aqui, pratique a sua mira. — Chamou sem olhar para Luid, que saiu de onde estava e foi para o lado de seu capitão.

Pierre lhe entregou a zarabatana e com um dardo ja na ponta, olhou o garotinho pegar o objeto de suas mãos sem entender muito bem do que se tratava.

— Puxe o ar com força e assopre na direção de um desses homens, não precisa estar com a fita, são todos amotinados então o destino deles acaba sendo o mesmo. — Pierre tinha a voz debochada e parecia rir enquanto falava, o que chamou bastante atenção de Luid naquele momento, era raro ver o escorpião sorrir.

Luid pegou o objeto de bambu puxou o ar com força e assoprou na direção de um dos homens, mas Luid estava muito debilitado fisicamente por causa da fraqueza de seu corpo, a maresia e a falta de alimentação adequada o fizeram se sentir tonto assim que assoprou na direção de um de seu algoz.

— Sempre dá uma tontura, nas primeiras vezes, pratique quando puder, pega essa como presente — entregou uma outra ao garoto e um saquinho com vários dardos dentro.— E agora pode descansar, ou quando recuperar o folego me faça companhia.

Luid pegou a zarabatana e olhando para seu capitão decidiu participar daquilo e por mais  tonto que tivesse ficado, ele assim como seu capitão continuaram aquele sorteio de almas.

Cada homem que caia ao ser atingido pelo dardo era colocado amontoado no centro do convés, e um a um foram caindo e os que ainda restavam usavam de todo o desespero que continha em seus corações para implorar aos Deuses que Gared aparecesse o mais rápido possível.

Ao final daquele dia miserável a tripulação do navio principal havia sido reduzida a Luid e o Cozinheiro, Pierre parecia se sentir feliz e aliviado pelas expressões em seu rosto, mas no fundo estava irritado e com muito ódio, nem ao menos tinha assumido seu posto e já tinham armado contra ele.

— Não matamos todos, mas os meus dardos tinham veneno mortal, nos seus apenas um tranquilizante, tem uma ilha aqui perto, vamos pegar a chalupa e partiremos pra ela, a maresia vai acabar te mantando e de lá eu posso bolar um novo plano.

— Mas e o navio senhor? — Perguntou Luid olhando diretamente para o mais velho, Luid ainda tinha os olhos chuvosos, mas não iria insistir na ideia de ver sua mãe, e iria seguir ao lado de Pierre.

—Exploda, vá para o Paiol de pólvora e pegue tudo o que puder e espalhe no navio todo, se Zurban estava envolvido no motim ele deve ter mandado mensagem para Gared,  eu não quero ter que enfrentar ele agora com o navio estando precário e com uma tripulação e frota amotinados, prefiro ver meu navio no fundo do mar do que nas mãos do maldito Gared.

—Mas como pode ter tanta certeza disso capitão? — o garoto Perguntava se sentindo confuso diante daquela situação.

— Zurban não era fiel, e das vezes que enfrentamos o grupo do Gared, sempre estávamos muito bem escondidos, o que me leva a crer que alguém tenha entregado a nossa localização, e Brian sabia das traições mas fazia vista grossa esperava que o intendente mudasse seu ponto de vista.— Pierre explicava de maneira calma — Então se o capitão morreu, e logo veio o quase motim, então é certo imaginar que em breve veremos velas negras no horizonte e a frota do Gared é bem maior do que a nossa no momento.

— E os outros navios no comando do escorpião? — Luid se referia a frota indo até a Borda do navio e olhando para os outros navios que estavam um pouco mais afastados do que o normal e logo sentiu a mão de Pierre em seu ombro e o sussurro do mais novo capitão em seu ouvido o que fez o garoto se arrepiar da cabeça aos pés.

— Explosão... Vai garantir que essas explosões aconteçam ainda hoje, antes da lua chegar ao topo...

Luid podia sentir o cheiro do rum vindo do Hálito de seu capitão e aquela mão em seu ombro juntamente com o sussurro o fez não só se arrepiar como também paralisar por instantes enquanto olhava a situação, até que seu capitão se afastou um pouco e com isso ele voltou a respirar normalmente e a pensar, bolou um plano rápido de como explodiria tudo e foi para o Paiol de pólvora pegou os barris e logo os espalhou em pontos específicos do navio.

Enquanto Luid, preparava tudo para a Explosão o cozinheiro seria o único em toda a frota que seria poupado.

— Vai cuidar da saúde do garoto, e não me traia. — Falou em tom ameaçador entrando na cozinha do navio.

— Não sou louco de trair o escorpião, mas... Tem um plano b? — O homem perguntava olhando com certa timidez para o mais novo que agora era seu capitão.

— Tenho um muito bom, se quiser me acompanhar em terra firme será muito bem vindo, entretanto acredito que não queira acompanhar um garoto sádico... — sorriu sarcástico no meio da frase.

— Eu acompanho senhor, eu estarei cuidando da saúde do Primeiro imediato e da sua. — O cozinheiro mostrou lealdade em suas palavras e um certo dom para prever atitudes.

— Como sabe que vou dar esse posto ao garoto? — Pierre perguntou de maneira divertida sobre a adivinhação do cozinheiro.

— Você não tem como escolher nenhum homem dessa nau, nem da frota, todos são traidores, somos piratas, mas o garoto confia piamente em suas palavras e não demonstra ter medo, e sem contar que o garoto tem uma habilidade inexplicável com explosões.

— Pois bem prepare a chalupa, com todas as provisões, e vamos para a ilha das grutas, lá irei montar um segundo plano de ataque para presentear aquele maldito do Gared — Falou olhando para o lado de fora tendo a visão do convés cheio de corpos.

O cozinheiro era fiel, e nunca saia da cozinha, portanto não tinha como estar envolvido. 

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