Lacantra passou os dias na casa da família solicíta que a acolhera em Pief. Conheceu dezenas de pessoas e foi convidada a morar com muitas, mas se sentia bem onde estava.
A festa a qual fora convidada por Sassa, foi algo diferente. Faziam semanalmente um encontro onde todos apareciam, cantavam, dançavam. Uma grande fogueira era feita no início da noite e era sustentada ao longo da festa. Crianças, jovens, idosos, todos se divertiam.
Aloy compareceu e logo se postou ao lado da jovem. Perguntou se estava se adaptando à tribo e por mais que o quisesse ignorar, acabou dividindo uma bebida com ele, muito comum ali, mas extremamente forte.
- Não sente frio na cabeça, agora? - Questionou-a o rapaz quando a festa já ia alta. - Me dá a impressão que a pele do seu couro cabeludo está vermelha e gelada - Disse passando a mão em seu topo da cabeç
Em silêncio, ambos de costas um para o outro, ela tentando não se mexer após ter se coberto até o queixo, ouviam a matriarca se movendo pelo seu quarto. Parecia estar fazendo uma prece. Ela era bem devota e fazia orações mesmo quando estava na presença de alguém e só quando a senhora entrou no anexo em que estavam deitados, que a garota percebeu que não havia lhe desejado uma noite boa. Pôs se de pé em um pulo e com uma mão em punho sobre o coração, lhe desejou uma noite boa, com a cabeça baixa.- Que a de vocês também seja boa, meus filhos. Aloy, viu Frizzat hoje?Ele se sentou, quase encostando em Lacantra, que diminuiu o espaço entre os dois, se chegando mais para a beirada do manto.- Eu o vi ontem, mãe. Disse-lhe que viria para cá e ele pediu que dissesse que tentará vir antes que a lua co
- Você foi muito bem - Aloy a acompanhava próximo a cerca, dando-lhe um copo com chá quente.Sheraty e Sácia tomavam conta da situação com Zoey. Cuidavam dela e da bebê.O dia começava, o sol aparecia ao longe, e o rapaz tinha uma das crianças adormecida nos braços. Um manto jogado sobre o corpinho cansado que passara a noite preocupado com a mãe.- Fiz algo para todos se alimentarem, quer que te prepare algo? vou deitar Narra com os irmãos.Lacantra não respondeu. Estava imersa em pensamentos. Não entendia como conseguira fazer aquilo. Como teve sangue frio diante da situação.Sácia a chamou por três vezes antes que ela escutasse.- Vamos entrar, Zoey quer falar com você.Com um braço sobre seu ombro, acompanhou a moça até o quarto.Zoey parecia estar menos ab
Essa foi a maior conversa que tiveram na primeira semana em que Lacantra esteve em sua morada.Em seu último dia lá, Sácia a buscou ao fim da tarde, mesmo ela dizendo que conseguiria chegar em Pief sozinha. A líder insistiu em acompanhá-la.Magú a abraçou forte, quase a quebrando ao meio tão logo ela pisou na porteira da tribo. Seus pais e sua irmãzinha também ficaram felizes com a chegada da nova membro da família.- Parece que está maior, Magú, e Sila também, venha cá bebê linda.Ela chegou em um dia em que todos se encontravam, era chamado de festa semanal. Sassa e Aloy dançavam quando ela se aproximou da fogueira, e ele a percebeu ali.O rapaz não a cumprimentou nem falou com ela. Isso a deixou chateada, mas ela não entendia o motivo. Procurou evitá-lo durante o evento, conversou com a maioria
Os dias passaram com uma Lacantra desanimada. Nora e as crianças preenchiam seus dias e isso a ajudava a não pensar tanto em Aloy e sua conversa. Estava treinando o que mãe Shetary lhe ensinara. Aplicava diariamente seu ensinamento quando pensava na família e na conversa com Aloy, e assim iam passando os dias.Pensava muito no que Nora havia dito e talvez tivesse sido isso, ele a atacara verbalmente por ter sido ferido por ela e por tantas outras situações em sua vida. Mas ela se manteria afastada e não pediria perdão por tê-lo esbofeteado.Tirava um tempo todos os dias antes da última refeição para brincar com Magú e Sila. Nora e Sassa estavam sendo suas melhores amigas e Nana, uma linda jovem que sempre estava na morada de Sassa ou no Galpão, também se aproximava de Lacantra.Ela era alegre e sempre os fazia rir. Em Pief, a vida seguia com ela
Ficaram mais de uma hora em cima da árvore.Os seis renegados não estavam com pressa de irem embora. Nadavam, bebiam, nadavam novamente. Lacantra estava mais embaixo, em um galho distante do chão mas seus amigos estavam há uns dois metros de distância dela. O corpo enrijecido da posição, mantinham-se calados. Os bêbados abaixo, tinham espadas que brilhavam a luz do sol, descansando apoiadas no chão, mas nunca longe deles.- Claro que nunca pensei em atacar a velha anciã - Dizia um dos renegados e a voz chegava claramente até onde os amigos estavam. - Ela é uma bruxa, sabiam, sente sua presença antes mesmo de estar em sua frente. Pode lançar maldições, inclusive.- Sim, qual o motivo de morar sozinha tão afastada?- Dizia a mulher. - Ela é muito protegida, penso eu, não teme a nada e os Biús a protegem.<
Dois dias depois, ela foi chamada por Frizzat.- Que sua tarde seja boa, Lacantra. Como tem passado?- Também a do senhor. Tenho passado bem. Anseio voltar para minha tribo, mas estou sendo bem tratada aqui e procurando fazer o que está ao meu alcance.Estavam na choupana onde ficavam as crianças no aprendizado. O lugar estava silencioso e quase vazio, apenas algumas mães andavam por ali.De pé e imponente à sua frente, vestido com um manto de ancião, verde nas cores de Pief, seu manto descia até quase encostar no chão. Sobreposto ao seu manto, uma fita verde escura, se destacava pendurada de seu pescoço e descendo até a altura da cintura. O símbolo de liderança.- Muito me agrada que esteja se sentindo bem. Chamei-a para que pudéssemos dar início ao seu treinamento com os Cândalos.Pelo visto ele soubera de seu
Cada um pensava na invasão dos sem tribos e em sua ameaça velada. Shetary não se juntou à eles nessa noite, devia estar digerindo o mesmo pensamento.Deitados lado a lado em silêncio, adormeceram.Muita terra. Terra vermelha e úmida. Lacantra e mais dezenas de pessoas cavavam um buraco que já estava fundo e largo. Suas mãos doíam e as unhas quebradas, estavam cheias de terra. Tinham pressa. Uma mulher ao seu lado, lhe passou um objeto ovalado com uma tampa de rosca e ela sorveu a água que continha repassando para a pessoa que estava ao seu lado para que bebessem também. Seus cabelos curtos, pouco acima dos ombros, eram de uma cor diferente e não natural, pareciam quase brancos. Estavam submersos por muitos metros dentro da terra como em um túnel, e na entrada do túnel, ela viu seu pai a lhe sorrir.Sua pressa não lhe permitiu se sentir envergonha
Correria e gritos se ouviam, Lacantra encontrou Nora e Reilo saindo da choupana. Sila chorava, tendo sido acordada pelos gritos. No colo do pai, foi passada para Magú que foi incubido de cuidar da irmã enquanto se juntariam aos moradores para enfrentar os sem tribos.- Lacantra, peça aos meus pais que me deixem ir com vocês - Magú a interceptara quando ela voltou ao seu quarto para pegar as armas. Ele segurava uma Sila que chorava cada vez mais frenética.- Magú, os sem tribos são perigosos precisamos de sua ajuda para cuidar de sua irmã e protegê-la, tudo bem, podemos contar com você? - Ela se abaixou á altura do amigo, massageou-lhe as bochechas com carinho. Ele deu de ombros e foi para o quarto, levando a irmã que ainda soluçava.Os sentinelas, cerca de cinquenta que rondavam Pief, deram o alerta e muitas pessoas agora estavam nas rua