Ela não era ela. Era ela, mas era um homem.
Estava falando com um rapaz que era quase idêntico à ela, ou melhor, ao jovem que ela era. Lhe era natural ser um rapaz. O rapaz que era quase idêntico á ela, perguntava lhe uma coisa:
- Tix, sei que não gosta de lutar, mas precisa aprender pelo menos se defender, não posso ficar sempre te defendendo. Seus olhos estão horríveis, um, nem abre!
- Eu sei, Pand, mas estou bem melhor, seja sincero.
Pand deu um tapinha em seu ombro e se retirou.
Tix não queria reclamar para o irmão gêmeo, mas seu olho era o menor dos problemas. Suas costelas queimavam e sua cabeça parecia querer explodir.
Nunca havia sido bom em lutas, nem gostava de lutar; Pand lutava desde que se lembrava, jamais evitava um embate. O líder deles, Rocco, sempre o teve como seu braço direito, o treinou de perto, enqua
Tix enfrentando Brucks, indo à caça. Lacantra via tudo através de seus olhos, via e sentia.Pand sempre junto ao irmão gêmeo; eram melhores amigos. Tix quando se apaixonou aos doze anos, quando fez sexo aos quatorze, jurando estar novamente apaixonado e daquela vez era a pessoa certa. Novamente aos quatorze anos se entrega a uma mulher mais velha e companheira de um senhor que os pegou juntos e espancou o rapaz.Ela viveu a vida de Tix em sua visagem. Viveu anos em apenas algumas horas e a intensidade com que sentia, fazia parecer que eram lembranças suas, que ela era Tix.Viu como era sua vida sendo um sem tribo. Viu-o atacar tribos que se negavam a lhes fornecer algo ou trocar o que pediam.Pand era mais implacável que o irmão.- Resolvi reuni-los para lhes passar uma mensagem da visagem que Pand teve essa noite.Rocco pediu aos seus capangas, quatro fiéis co
Rocco estava em reunião com seus ajudantes e não queria ser interrompido, foi o que disse sua companheira aos dois irmãos quando chegaram a tenda que o líder usava.Pand quis esperar mas seu irmão insistiu, disse que não podiam esperar, que era uma emergência. O líder foi chamado e ignorou-os.Tix invadiu a tenda com o irmão a tiracolo.- Desculpe, Rocco, não o faríamos se não fosse urgente - Disse adentrando a tenda. Não lhe pareceu que estavam tão ocupados; estavam sentados no chão, com uma bebida nas mãos e fumando traviê.A fumaça densa e esbranquiçada estava por toda a tenda.- Garoto impulsivo você, não? - Rocco disse a Tix. - Sabia que impede muito a evolução de seu irmão? Ele tem muito mais a oferecer, mas é comedido por sua causa.- Com todo resp
Aloy tinha os olhos vermelhos quando a acordou.Havia prometido a Lacantra não a acordá-la se ficasse agitada. Ela havia gritado, chorado por horas, gemia um gemido doloroso, como se tivesse pedindo socorro, seu lamento doía na alma do rapaz e por vezes saiu para o quintal para se segurar e não a despertar.O dia amanhecera e ela não acordava. Aloy pensou em pedir ajuda a alguém mas não queria que ela ficasse nervosa com ele se a acordasse e achou melhor esperar. Avisou que não sairia de casa e passou o dia a escutar os gritos de desespero.Já anoitecia quando ele por fim não mais suportou o choro incontido, os gemidos saíam como de uma animal ferido e ele não suportou mais.- Meu amor, que bom que está acordada, me perdoe por acordá-la.- Ele está vindo, Aloy! Temos que correr, me ajude!Ela gritou se levantando, as l
Estavam todos atentos. Shetary estava ficando na morada de Aloy junto com Sácia e Tix. Lacantra foi dissuadida por Aloy de induzir visagens, como ele disse, ela precisava estar atenta e ficar sem dormir, se cansar, não era uma boa idéia e todos foram unânimes em concordar com o rapaz. Se ela queria lutar, que se mantivesse descansada, que treinasse ainda mais, que descansasse enquanto não eram atacados.Lacantra e os demais só não previram que seriam atacados com fogo.Na noite seguinte à chegada de Tix, os Tims tocaram. Ao primeiro toque, estavam de pé, espadas nas mãos, punhais na cintura, atirador em outra mão, prontos para revidarem.Os sem tribos os atacaram na madrugada. A armadilha na entrada da tribo não segurou nenhum deles. Os quatro Cândalos guardiões da entrada foram mortos e jogados no buraco. Deviam saber da armadilha ou chegara
A trinta metros do Galpão, ela viu que seria impossível passar sem ser percebida e atacada.Pelo menos quinze sem tribos lutavam no caminho. Estavam em desvantagem. Menos de dez Cândalos se defendiam com afinco, os gritos de ataque cortavam a noite e ela deitou o garoto no chão.- Por favor, Magú, não me deixe.Ela lhe pedia e ignorava as lágrimas que caíam no peito do garoto. Segurando com ambas as mãos seu rostinho, ela o beijou no topo da cabeça, no rosto, nas pálpebras e soluçava a cada beijo lhe implorando para aguentar:- Você é meu amigo… temos que vencer, temos que ir á caça juntos, não é?- Estou cansado, sonhadora…- Não me chame de sonhadora ou vai ver a minha ira!Ele lhe sorriu sem abrir os olhos.- Me desculpe..- Não, não o desculpo se me deixar. Fiq
Frizzat os chamou: Ranem, Lacantra, Aloy, Sote, Mury e mais uns quarentas que eram os melhores Cândalos guerreiros de Pief para uma reunião de emergência; o ataque já estava mais calmo. Uns haviam saído a pedido do líder antes que fossem atacados. Ele já previa que seria um banho de sangue e pediu ajuda a uns uns Sivaês de tribos vizinhas. Esperavam que chegassem a qualquer momento. Imaginava que até o clarear do dia, tudo teria finalizado.Shetary e Sácia os esperava no Galpão e ao chegarem e iniciarem a reunião, ela disse:- Temos um plano e queremos saber de vocês, principalmente você, Lacantra.A jovem não conseguia prestar atenção em nada que falavam e isso preocupava Aloy. Parecia apenas uma lembrança do que era no dia anterior, parecia uma casca oca.Sua expressão era de vazio, suas roupas
Cerca de duzentos Cândalos vinham para Pief. Várias tribos lhes enviaram seus lutadores.Cecat foi libertado e conseguiram parar as lutas. Os sem tribos que não foram mortos, os feridos, tantos os gravemente quanto os mais leves, estavam na entrada de Pief para partirem. E Lacantra estava entre eles.Cento e seis sem tribos, entre feridos e não feridos, rumariam para longe e não seriam impedidos.Pela primeira vez, Aloy se sentiu mal com a decisão dos Sivaês. Estava inconformado com a decisão de mandarem um dos seus; temia que Lacantra fosse morta, violentada e sofreria as mais bárbaras agressões enquanto não a resgatassem.O dia estava ensolarado quando ela partiu com os sem tribos. O sol, a claridade, os pássaros, não combinavam com o humor de Pief. Parecia que Rafo os esquecera.As ruas de Pief estavam banhadas em sangue. Choupanas
Paxa ficou pensativa, sentada ao lado da moça, ela não falava nada e olhava absorta para o nada, perdida em lembranças.Lacantra tentou forçar mais algo para dentro, precisava estar forte quanto seus amigos a viessem resgatar. Olhou para Paxa e imaginou o que a mulher pensava. Devia estar sofrendo também, perdera os dois jovens que amava como filhos, sua vida não deveria ter sido fácil, mas não podia se solidarizar com a mulher; ela escolhera essa vida. Nada lhe descia pela garganta trancada. Temia o combate que estava próximo, temia perder mais alguém, Lucca fora chamado, sua tribo havia sido contactada e sabia que podiam ter baixas, o bando de Rocco era grande e guerreiros. Um soluço involuntário lhe escapou, de medo, de perda, sua vida havia virado de cabeça para baixo há meses e quando por fim encontrara a felicidade com Aloy, tudo descarrilara novamente.<