Pela primeira vez um Fulgot foi interrompido.
Após um dos Sivaê cochichar no ouvido de Sácia, essa pediu silêncio e pediu que se reunissem mais tarde. Aquele conselho tinha saído dos trilhos, e perdendo as forças, sem saber que seria interrompida, não estava preparada para debater com a jovem e nem com todos que se levantaram em protesto. Tinham que pensar em algo, não podiam voltar atrás em uma decisão, a hierarquia era importante. Se aceitassem o que a garota fez, jamais teriam respeito novamente. Se insistissem e a punissem, mandando-a para Falls, mostrariam crueldade e ela poderia levar adiante mesmo essa idéia e sem querer, criara um motim.
Lacantra foi chamada pelo ancião de Pua. Ouviu o que ele e seus amigos lhe diziam, ela não deveria ter se rebelado em um conselho e devia ser advertida. Mas ela não abriu sua boca, não mudaria de idéia.
- Ele, Frizzat, é mesmo sempre assim tão fechado, trata á todos com rigidez? - Questionou-o.- Normal todos pensarem isso, mas não, Frizzat é muito brincalhão e educado. Sempre fala com todos com carinho. Está revendo a idéia de ir para Pief? - Perguntou-lhe Aloy.- Jamais. Pura curiosidade, como você mesmo disse, todos temos á respeito dele, normal.- Mas prefere mesmo ser uma renegada para sempre, envolver outras pessoas, mandá-las para Falls?Lacantra se levantou, enfurecida, quase caiu no riacho para poder ficar de frente para o jovem:- Não pedi que ninguém se interferisse em minha decisão. Nem mesmo aos meus amigos mais chegados. Pare de me acusar, seu puxa saco maldito. Volte ao seu senhor e diga que prefiro morrer a morar na tribo de vocês e saia daqui, suma de minha frente.Ela tremia e sua voz alta e seu dedo indicad
Ela andou por mais de uma hora pensando nisso , no que o pai dissera.Ela prometera à ele que não consideraria mais suas decisões como defeito, mas que tentaria não mais agir por impulso.Deitada em um gramado, debaixo de uma árvore, deu vazão às lágrimas que corriam livres. Uma dor lancinante ao sentir a ausência de sua família. Um buraco instaurado em sua alma, seu coração, sua mente que chegava a doer fisicamente. Ela não acreditava que isso um dia seria amenizado, que essa dor fosse parar. Culpa e ódio, se mesclavam dentro dela. A inconformidade e a vontade de gritar, era uma constante.Olhando para as nuvens, novas lembranças a assaltavam. Sua mãe lhe dizia que toda nuvem, tinha um desenho, não importa a hora em que se olhasse para o céu, lá estava uma nuvem com o formato de algo. As lágrimas e a exau
- Por que a teria visto?Ela respondeu sem o olhar, não queria ele inserido na conversa. Não o queria ali.- Você a conhece? - Lucca perguntou ao rapaz.-Sim. Mãe Shetary é a pessoa mais inteligente que já conheci. Uma matriarca única.- Minha mãe dizia que ela pode tanto abençoar, como amaldiçoar alguém - Falou Lucca.- Não creio nisso - Retrucou Aloy - Ela auxilia em alguns Fulgots, quer o bem de todos e só apareceu em algum, quando algo sério aconteceu e ajudou nas decisões.Os três chegaram a choupana famintos. Se lavaram em uma bacia de madeira, molhando os cabelos e braços para tirarem o calor e a poeira da estrada, se alimentaram e aguardaram a decisão do conselho dos Sivaês, sentados ao fundo. Lutty se aproximou e se sentou junto aos jovens.Tendo se dispersado, andado quase o dia todo
Seu coração que mal havia se acalmado e voltado aos batimentos normais, disparou novamente.Aquela senhora disse ter sentido a situação que pairava sobre o Fulgot. Lacantra não se lembrava onde Aloy tinha dito que ela morava, ou se ele havia dito. Como ela viera, quem a avisara, por que viera tão rapidamente, qual seria seu veredito? Não acreditava que qualquer que fosse a decisão da matriarca, alguém fosse revidar ou reclamar. Seu destino estava na mão daquela criatura estranha e mais velha que alguém já conhecera. Ela dissera que sua histeria não fora de todo incompreendida mas não podiam ceder para não serem desacreditados e enfrentados no futuro.Lacantra esperava entre ansiosa e amedrontada com o que poderia advir da anciã.A senhora a olhava, via sua ansiedade latente mas esperou.- É próprio dos sá
Caos e barulho. Ensurdecedor.Lacantra se pôs de pé depois de tentar se levantar por três vezes e cair. Os joelhos ardiam pelos arranhados.Eram muitas pessoas gritando, correndo desesperadas. Entre eles, crianças.Uma de cerca de uns dois anos, tinha um olho fechado e roxo, sentada em meio aos escombros, sua diminuta boca aberta mostrava que chorava desconsolada mas de onde estava, Lacantra não ouvia seu choro. Lágrimas misturadas a sangue e terra, marcavam seu rostinho.Esse foi o impulso para que Lacantra se levantasse e mancasse até o bebê. O teto do lugar, seja ele qual fosse, caía em intervalos. O medo de Lacantra crescia, temia que um dos pedaços do teto caísse na criança antes que a protegesse.Adultos passavam pelo bebê sem um segundo olhar. Uma mulher magérrima e suja de terra que gritava, mas o barulho que vinha de diversos l
- Ele mereceu - Foi o que ela disse a Lucca que a esperava para se despedirem.- Concordo com você, e foi o que disse á ele. Já não basta tudo que vem passando e ele vir com piadinhas, sim, mereceu, Can, quero que fique tranquila. Que não se preocupe com Pua enquanto estiver em Pief.Somente Lucca para a fazer dar um sorriso naquele momento. Seu carinho a desmontava, sua preocupação com ela era enternecedora. Ela o abraçou forte e o encaixe dos dois, era tão natural como sempre fôra.- Quero combinar algo entre nós dois, também - Continuou o amigo. - Vamos nos encontrar em toda meia lua, quando ela mingua? Pensei que podia ser no lago Ponty, que fica na divisa de Pief com Tangui, não muito distante para nós dois. Vou te esperar lá na próxima meia lua e ficarei o dia todo, mesmo que você não apareça, mas tente apare
Um garoto de uns dez anos, veio correndo em direção á eles.Magrelo, espichado,com cotovelos finos e compridos, um cabelo claro e espetado, um sorriso enorme de dentes grandes, olhos claros e grandes para o tamanho do rosto, os interpelou:- Que o dia de vocês seja ótimo. Como foi o Fulgot, Aloy, quem é ela? - Sem esperar uma resposta, virou-se para Frizzat. - Frizzat, ela vai morar aqui conosco, onde vai morar?- Qual pergunta quer que respondamos primeiro, Magú? - Aloy o puxou, bagunçando seus cabelos.- Me deixe, Aloy, quem é ela?- Essa é Lacantra, Magú. Essa jovem vai morar com a gente, mas ainda não sabemos onde ficará - Respondeu Frizzat com um sorriso genuíno para o garoto, diferente do arrogante que a jovem estava acostumada.- Ah, então você é a sonhadora? - Ele agora pulava ao lado de Lacantra, animado e seus
Deitada, começou a ler um pouco sobre a história de Pief e descobriu coisas que nem imaginava. Na verdade não conhecia muito sobre a tribo. Ali dizia que tinham quinhentos e vinte e sete moradores, mas estava desatualizada. Pief tinha atualmente mais que o dobro do que dizia o pergaminho.Era a tribo que mais tinha pessoas nos arredores. Esse era um dos motivos de ela não entender ter sido alocada ali e nem fora substituída por um ou mais em Pua.Pief era convocada em diversos confrontos, principalmente contra Brucks.Eram mais devotos de Rafo que em Pua. Em tudo davam graças á Rafo, ela percebeu. Até imagens dele estavam espalhadas por toda tribo. Nora agradeceu o alimento que comeram, fechou os olhos e fez uma prece de agradecimento antes.Os pergaminhos que lia, pregava e faziam menções à adoração.Menções tamb&eacut