MAITÊ NARRANDO O senhor Bryan me levou para um galpão. Durante todo o caminho, meu coração batia acelerado. Sei que preciso confiar nele, mas estou um pouco assustada. Viver é muito novo para mim. Desde os meus oito anos vivi rodeada pelos muros do orfanato, nunca saí. Quando saí, descobri a imensidão do mundo aqui fora e ainda caí de paraquedas na casa de um mafioso que sabe mais da minha própria vida do que eu.Chegamos em uma parte da cidade que tem vários galpões, tudo muito escuro. O motorista parou o carro na frente de um galpão que estava com a luz fraca. A porta fechada, um completo silêncio. O senhor Bryan falou alguma coisa com um dos seguranças, que entrou no galpão. Assim que ele abriu a porta, ouvimos os barulhos de tiros ecoando. Não demorou nem cinco minutos e os homens começaram a sair do galpão em direção às suas motos e carros.Entramos e ele me deu a primeira instrução. Foi uma sequência de "arruma a postura, respira, relaxa." Quando enfim começamos o treinamento,
EMMA NARRANDO Bryan pensa que sou boba ou que vai me trocar por uma fedelha que mal saiu das fraldas. Pode não estar acontecendo nada entre eles, ainda, mas vai acontecer. O jeito que ele olha para Maitê, e o quanto ela parece com a Marisol quando sorri.Cheguei na casa dos meus pais e fui direto para o meu quarto. Liguei a banheira, coloquei os meus sais de banho, acendi incenso e preparei um banho perfeito. Peguei alguns produtos para a pele, tirei a minha roupa e entrei na banheira.Coloquei a minha máscara feita à base de argila. Esse estresse que o Bryan estava me fazendo passar não vai ficar assim. Ele não vai me usar e me descartar como se eu fosse qualquer coisa. Relaxe enquanto tomava o meu banho de espuma perfeito.Quando a água já estava esfriando, saí da banheira, me arrumei e desci para o jantar.— Filha, pensei que você iria passar a noite com o Bryan — minha mãe falou.— Ele teve uma missão — respondi sem nenhum entusiasmo.Meu pai começou a me cobrar a data do casamen
MAITÊ NARRANDO Não desci do carro e não aceitei que a dona Emma me levasse para o orfanato. Eu vou com o Gerard; não confio nessa mulher. Posso ser ingênua para algumas coisas, mas não sou boba para não perceber que ela não gosta de mim e que essa simpatia não passa de fingimento e falsidade.Assim que chegamos no orfanato, tia Maria veio me receber. Enquanto eu a abraçava, respirava fundo, sentindo o cheiro do lugar onde foi a minha casa por tanto tempo.— Minha menina, como você está linda! Estou vendo que Margareth está cuidando muito bem de você — ela falou assim que desfez o abraço, pegando na minha mão e me olhando da cabeça aos pés.— A tia Margareth é uma pessoa muito especial, ela cuida de mim como se eu fosse sua filha — falei com carinho porque é verdade.Vi umas crianças correndo, e aquelas eu não conhecia. Perguntei, e a tia me falou que chegaram muitas crianças, inclusive um bebê que já foi adotado. É sempre assim: quando os bebês chegam, já tem uma fila querendo adotar
BRYAN NARRANDO Depois do café da manhã, quando a Maitê saiu da mesa com a Mia, Emma permaneceu em silêncio. Ela se retirou e eu fiquei pensando: melhor eu não ir como a Maitê. Não posso misturar as coisas; sou apenas o chefe e o treinador. Tenho que saber onde é o meu lugar na vida dessa garota.Fui até o quarto, bati na porta e, quando ela abriu, seu rostinho estava triste. Não gosto de vê-la assim.— Pode ir ao orfanato visitar as freiras e as outras crianças. Eu e a Mia não iremos, mas quem sabe teremos uma próxima oportunidade — falei olhando nos olhos dela.— Muito obrigada, senhor. Vou me arrumar e não demoro — disse ela. Falei para ela levar o tempo que precisar, chamei minha filha e descemos.Chamei o Gerard, nosso motorista, e pedi para ele levar a Maitê ao orfanato, esperar e trazer de volta. Ela não conhece a cidade e não sabe os perigos que uma mulher bonita e jovem corre pelas ruas de Moscou.Quando a Maitê desceu as escadas, linda como sempre, a beleza dessa jovem me fa
EMMA NARRANDO Fiquei em cólicas esperando a ligação do Jonas, um sinal pelo menos de que o nosso plano deu certo, que a Maitê foi pelos ares. Pensei e comecei a rir, gargalhar sozinha.Bryan e a Mia vão ficar inconsoláveis, mas eu estarei aqui para consolar os dois. É sempre assim, todos passam como china na vida dos dois e eu permaneço. Por isso não vou permitir que o Bryan me deixe, me troque por outra, isso nunca.Não consegui trabalhar, saí do ateliê e fui direto para minha casa, dei a desculpa de que não estou me sentindo bem, minha cabeça está doendo.— Não acha melhor ir ao hospital? — minha mãe perguntou.— Se não melhorar, irei. Mandei uma das empregadas me levar um remédio e um chá, vou tomar e deitar um pouco. — falei apertando a fonte.Subi para o meu quarto, deixei a porta aberta, entrei no closet e troquei de roupa. Realmente estou com dor de cabeça, mas é por conta do sono, não dormi à noite.Quando a empregada me entregou o chá com o comprimido, mandei ela sair e esco
MAITÊ NARRANDO Eu não sabia o que estava acontecendo, pelo menos não lembrava. Minha cabeça latejava. Tentei abrir os olhos várias vezes, mas não conseguia. Senti um cheiro forte de produto de limpeza e remédio. Ouvi vozes, fiquei quietinha ouvindo e identifiquei a voz do Senhor Bryan. Tentei me mexer, mas o corpo doeu.Minha cabeça latejava. Quando ouvi a palavra "acidente", lembrei-me de tudo: meu corpo sacolejando e voltando para o assento. Nesse momento, consegui respirar fundo e abrir os olhos, assustada.Sentei-me na cama. O Senhor Bryan e o médico se assustaram.— Maitê, você acordou — Bryan falou e veio para perto de mim.Ele sorriu de um jeito lindo, como eu nunca tinha visto antes. Sorri fracamente para ele. Minha cabeça estava doendo.O médico começou a me examinar. Perguntei pelo Gerard. O Senhor Bryan falou que ele estava bem, que já foi para casa e estava sob os cuidados da família. O médico começou a me explicar sobre todos os exames que já tinham feito em mim, e disse
BRYAN NARRANDO Quando eu estava conversando com o médico sobre a situação da Maitê, ela acordou assustada. O médico explicou tudo o que ela precisava saber, falando sobre o acidente e os exames que já foram feitos. Maitê está bem e ficará em observação apenas por conta da pancada que sofreu na cabeça; ela se queixou de dor de cabeça.Aplicaram uma injeção e, quando o médico saiu, peguei sua mão e perguntei se ela lembrava de como as coisas aconteceram. Assim que sairmos daqui, vou mandar investigar esse acidente, o suposto caminhão, e descobrir todos os envolvidos e qual foi a real intenção.Emma chegou e soltei a mão de Maitê, não por medo dela, mas porque não quero expor a Maitê dessa forma. Preciso me livrar da Emma. Até lá, não vou insistir em nada com a Maitê.— Como já vi, você está bem, e minha recomendação é que se cuide. Bom, já vou indo porque tenho uma entrega para fazer e não posso me atrasar — Emma falou e pegou a bolsa em cima do sofá.Ela saiu. Pedi licença para Maitê
MAITÊ NARRANDO O Senhor Bryan se levantou bruscamente da cadeira; me assustei, e a Mia também. Ele saiu andando. Quando a Dona Emma ia sentar, ele praticamente rosnou para que ela o acompanhasse.— Me acompanhe, Emma — ele falou por entre os dentes.Saíram em direção ao escritório. Não demorou muito para ouvirmos os gritos da Dona Emma. Só ouvi um grito do Sr. Bryan. Achei melhor levar a Mia para o escritório. Não quero que ela se assuste. Mia ainda é muito pequena para passar por essas coisas que podem traumatizá-la.Assim que chegamos no jardim, sentamos para cantar. Expliquei para ela que não posso correr e fiz um machucado na cabeça. Mia é muito boazinha. Ainda ganhei um beijinho.Deitamos na grama e ficamos cantando. Às vezes, eu fazia cócegas na barriga dela. Quando olhei para cima, vi uma mulher dos azuis muito linda nos olhando.Mia se levantou pulando, chamando a moça de tia. Ela pegou a pequena no colo, abraçando e rodando. Parecia que as duas estavam com saudades.— Olá, m