As lágrimas de Zara também começaram a escorrer sem que ela pudesse evitar. — Canalha. — Zara murmurou entre dentes, com a voz trêmula. Orson, que estava prestes a morder o pescoço dela, parou o movimento assim que ouviu aquelas palavras. Ele ergueu os olhos. O batom de Zara já estava borrado, o delineador manchado pelas lágrimas que haviam caído, e seus cabelos estavam completamente bagunçados. Ela parecia um retrato de puro desespero e desordem. Mas, ao ver as lágrimas penduradas nas pontas de seus cílios, o coração de Orson deu uma batida estranha. Ele suspirou fundo, desacelerando os movimentos. Então, segurou com cuidado a nuca dela e a beijou. Diferente de antes, dessa vez o beijo foi mais suave, mais delicado, e Zara parecia não resistir tanto quanto no início. Mesmo assim, a dor que ela sentia ainda era intensa. E, para ser justo, Orson também não estava se sentindo exatamente confortável. No entanto, agora que ela parecia ceder, ele conseguiu recuperar um pouco de ca
Já era noite. As luzes lá fora haviam se acendido, e os neons coloridos se misturavam às lanternas vermelhas dos carros presos no trânsito da hora do rush. Juntos, formavam uma das cenas mais emblemáticas desta cidade: próspera, mas fria e indiferente. O edifício do Grupo Harris, localizado bem no coração da cidade, tinha janelas panorâmicas enormes que pareciam molduras de um quadro. Tudo aquilo estava ali, enquadrado, como se fosse feito para ser admirado. Orson estava parado ali, observando sem expressão. Segurava um isqueiro entre os dedos e, mecanicamente, pressionava o botão, fazendo a chama azul surgir e desaparecer, repetidas vezes. As lembranças que ele tinha de seu pai eram poucas e dispersas. Quando tentava se recordar, o que vinha à mente era apenas aquele rosto sempre sério, as exigências rigorosas que ele lhe fazia, e, por fim, a imagem de um homem deitado em uma cama de hospital, incapaz de cuidar de si mesmo. Orson tinha apenas 12 anos quando ele morreu. Embora
Orson já havia presenciado todo tipo de tentação ao longo da vida. E, claramente, a mulher à sua frente era do tipo mais medíocre. Ele sequer a olhou. Pegou o celular e ligou para Zara. O telefone chamou, mas ninguém atendeu. A expressão de Orson ficou ainda mais sombria. A mulher, parada logo atrás dele, sentiu-se desconfortável com a forma como ele a ignorava. Mesmo assim, ao lembrar do carro que ele dirigia e das roupas caras que ele usava, ela decidiu reunir coragem e se aproximar.— Qual é o seu relacionamento com a Zara? Vocês são amigos? — Perguntou a mulher, tentando parecer casual. — Mas acho que ela não vai atender o telefone agora… tão tarde da noite, certeza que está com algum homem por aí. Você sabe, né? Ela não é tão certinha quanto parece. Pelas costas, ela se diverte bastante. Hoje de manhã mesmo, eu vi… Antes que a mulher pudesse terminar, os olhos de Orson se voltaram para ela. O olhar frio e cortante que ele lançou foi como uma mão invisível apertando seu pesco
Orson olhou primeiro para a tela do celular dela antes de perguntar:— Onde você estava?Zara apertou os lábios, visivelmente incomodada:— Quem te deu o direito de trocar a minha fechadura?— Responda à minha pergunta.O rosto de Orson estava sombrio e ameaçador.Zara queria discutir, insistir no assunto, mas, ao encarar o olhar dele por alguns segundos, acabou cedendo:— No hospital.A expressão de Orson mudou levemente, e ele a observou da cabeça aos pés, como se buscasse algum sinal.Zara, no entanto, não percebeu o olhar dele. Continuou:— À tarde, me disseram que minha mãe tinha acordado. Mas, quando cheguei lá, ela já tinha voltado a dormir. Fiquei esperando um pouco, para ver se ela acordava de novo.A voz dela era baixa, carregada de tristeza.O rosto frio de Orson finalmente suavizou um pouco, mas, em seguida, ele pareceu lembrar de algo:— E por que não atendeu o telefone?— Estava no silencioso. Não vi as chamadas.Enquanto Zara respondia, aproveitou para perguntar:— Posso
Quando Orson pousou os talheres, ela fez o mesmo. — Já pode ir embora, não acha? — Zara disparou sem rodeios. Orson deu uma olhada ao redor antes de perguntar: — Por que você não mora no Condomínio Oásis? — Aquilo não é meu. — A resposta de Zara foi direta. Orson a encarou por alguns segundos antes de dizer: — Eu posso transferir a casa para o seu nome. — Não precisa, eu gosto daqui. A resposta dela deixou Orson sem palavras, mas uma expressão de desconforto surgiu em seu rosto, com as sobrancelhas claramente franzidas. — Ainda tem mais alguma coisa? — Zara insistiu. Sem responder, Orson levantou-se e disse: — Me arruma uma toalha limpa. Ao terminar a frase, ele começou a caminhar em direção ao banheiro, mas foi prontamente barrado por Zara. — O que você pensa que está fazendo? Este é o meu lugar! — O Condomínio Oásis é minha casa, e você também já tomou banho e passou noites lá, não foi? Zara ficou sem resposta por um instante. Nesse momento, Orson abri
Zara não estava acostumada com aquele gesto dele. Quando tentou puxar a toalha de volta, Orson de repente perguntou: — Sabe o que eu ouvi hoje? Zara ficou surpresa e acabou olhando diretamente para ele. — Talvez eu tenha um irmão que eu não conhecia. — Ele disse com a maior calma do mundo. Os olhos de Zara se arregalaram ligeiramente. — O que... Quer dizer com isso? — Quer dizer que meu pai pode ter um filho fora do casamento. Orson continuava com a mesma expressão tranquila, como se estivesse falando de algo que não tinha nada a ver com ele. Zara não entendia por que ele estava contando aquilo para ela. Quando ainda eram casados, nunca haviam tido conversas profundas ou íntimas. Ela raramente fazia perguntas, e Orson era ainda mais reservado do que ela. Às vezes, mesmo vivendo sob o mesmo teto, passavam dias sem se verem ou trocarem uma única palavra. O casamento deles havia chegado a um ponto que era quase cômico. Mas agora, Orson estava falando sobre os segredos
Eles nunca haviam dividido a mesma cama. Afinal, não importava o quão exausta ela estivesse depois do sexo, Zara sempre fazia questão de voltar para o próprio quarto. Por isso, Zara sempre achou que eles não eram como um casal de verdade, mas sim parceiros — parceiros de cama, parceiros de convivência. E, para Zara, compartilhar uma cama sem fazer absolutamente nada era, na verdade, algo ainda mais íntimo do que o próprio sexo. Só pessoas que realmente se amavam faziam isso. Mas ela e Orson, claramente, não eram esse tipo de casal. Naquele momento, Zara estava agachada ao lado da cama, observando o rosto adormecido de Orson. Ela já tinha visto aquele rosto inúmeras vezes. Fechando os olhos, conseguia desenhar mentalmente cada contorno de suas feições marcantes. Quando era mais jovem, já havia feito muitos desenhos dele. Naquela época, Orson usava o uniforme branco da escola e era o centro das atenções no colégio, sempre destacado no meio da multidão. Com o tempo, ele cresce
Orson acabou indo ao encontro marcado. Quando viu quem estava do outro lado da mesa, ele ficou um pouco surpreso, mas nada além disso. — Olá, Sr. Orson. A pessoa à sua frente sorriu de maneira radiante. — Acho que você deve se lembrar de mim, né? — Laura Barbosa. — Antes que Orson pudesse responder, ela já havia estendido a mão, revelando a resposta. — Naquele baile de máscaras, nós dançamos juntos. — Srta. Laura, é um prazer. — Orson respondeu enquanto apertava a mão dela, sem entrar em detalhes sobre o evento. — Por que você foi embora tão de repente naquela noite? — Laura perguntou. — Tive um compromisso urgente. — Orson respondeu de forma direta. — É mesmo? — Laura sorriu. O sorriso dela parecia carregar algo a mais, algo que deixou Orson desconfortável. Não era o fato de sua mentira ter sido “descoberta”, mas sim a sensação que Laura lhe causava. Orson não tinha problemas em lidar com pessoas inteligentes, mas detestava aquelas que se achavam espertas demais.