Zara e Henrique marcaram o encontro em um restaurante privado.Zara já vivia na Cidade N há alguns anos, mas, se não fosse por Henrique, nunca saberia que existia um lugar como aquele.O restaurante ficava na divisa entre a área urbana e os arredores da Cidade N. Era um lugar luxuoso, com uma arquitetura tão grandiosa que, à primeira vista, Zara chegou a pensar que fosse um palácio dedicado a eventos e lazer. Nos fundos, havia um lago e até mesmo um campo de golfe.O estabelecimento era administrado por uma jovem mulher. Ela não era exatamente bonita, mas sua elegância natural e a delicadeza na maneira de falar deixavam uma impressão marcante.Henrique, ao que parecia, já havia acertado tudo com ela. Não foi preciso nem escolher os pratos. A mulher apenas serviu café para os dois e, em seguida, se retirou discretamente.— Eles preparam os ingredientes no mesmo dia. Por isso, qualquer pedido precisa ser feito com antecedência. Ontem tomei a liberdade de escolher o menu. Espero que não s
— Não fazia ideia de que o Sr. Orson também viria aqui esta noite. Se eu soubesse, teria convidado o senhor para se juntar a nós.Henrique falou com um sorriso calmo, mantendo uma postura impecável, sem sinal algum de constrangimento.Orson soltou a mão dele e lançou um olhar breve na direção de Zara. Ela continuava com a cabeça baixa, deixando claro que não tinha intenção de cumprimentá-lo.Sem insistir, Orson desviou o olhar e respondeu a Henrique:— Sendo um encontro, não vou atrapalhar. Até logo.— Até logo.Depois dessa breve troca de palavras, a dona do restaurante conduziu Orson para outra área, enquanto Henrique voltava a se sentar diante de Zara.— Eu realmente não sabia que ele estaria aqui hoje.Henrique explicou, como se quisesse aliviar qualquer desconforto.— Não tem problema.Zara já tinha recuperado a compostura e até ofereceu um sorriso tranquilo a Henrique.Ele não comentou mais nada.No entanto, até aquele momento, Henrique tinha mantido a conversa fluindo com facili
Roberto ficou em silêncio, apenas semicerrando os olhos enquanto a observava.Zara, por outro lado, soltou uma risada curta:— Por que não fala mais nada?— Zara.Ao perceber o clima pesado, Henrique finalmente se levantou e puxou de leve a mão de Zara.Mas Zara não cedeu.— Você não vai embora, né? Tudo bem, então eu vou.Dito isso, Zara se virou, pronta para sair.Henrique fez menção de ir atrás dela, mas Roberto, com sua típica lentidão calculada, disse:— Ah, não esperava menos da senhorita cheia de moral depois de alguns anos vivendo como madame. Essa pose toda é impressionante. Mas, Zara, a gente não pode esquecer de onde veio, não é? Se não fosse por mim naquela época, você já teria morrido de fome. Nem força pra ficar dando ordens por aí teria. E agora vem me tratar como se eu fosse um peso morto? Deixa eu te dizer uma coisa, Zara: só estou sendo educado porque ainda considero a nossa relação de pai e filha. Mas, se você continuar agindo assim, não me culpe por expor tudo o que
As pessoas nesse mundo... são assim. Mesmo que ela contasse tudo, mesmo que todos soubessem que era a vítima, o que isso mudaria?Nem mesmo a mãe dela conseguiu aceitá-la, sentia vergonha dela. O que esperar dos outros?Zara não ficou parada para dar a eles o prazer de assistir o espetáculo. Após lançar um último olhar para Henrique, virou-se e saiu sem hesitar.— Rita! Zara! Volte aqui, sua desgraçada! — A voz de Roberto, tomada de fúria, ecoou atrás dela.Mas Zara não olhou para trás nem por um instante. Seus passos ficaram mais rápidos, como se cada palavra dele fosse um chicote tentando alcançá-la.O plano inicial era sair dali e pegar um carro qualquer. Mas, ao chegar do lado de fora do restaurante, percebeu que a rua até a avenida principal era longa e deserta. Quem frequentava aquele lugar era gente rica, que chegava em carros próprios ou com motoristas particulares. Táxis ou carros de aplicativo eram raridade por ali.A rua estava vazia. Só ela e a escuridão. Zara pegou o celul
Orson não respondeu às palavras dela. E, enquanto ele permanecia em silêncio, o motorista à frente, obviamente, não seguiria as instruções de Zara.A mão da Zara se fechou em um punho ainda mais firme. Sabia que Orson não se importava com ela. Aos olhos dele, talvez, ela já tivesse perdido qualquer dignidade há muito tempo. Mas, naquele momento, a única coisa que ela não queria era que ele visse sua fragilidade.Não importava que Orson, no fundo, a desprezasse, zombasse ou até mesmo a odiasse, como todos os outros. Ela só queria preservar o que restava de sua dignidade. E, naquele momento, sua dignidade não era nada mais do que... sair do carro de forma minimamente respeitável. Mas, mesmo esse pequeno pedido, parecia que Orson não tinha a menor intenção de conceder.Sem uma palavra, Orson permaneceu calado, e o motorista continuou dirigindo.Zara abriu a boca, prestes a insistir mais uma vez, quando o toque do celular quebrou o silêncio. Ela não precisou olhar muito para identificar o
Zara se esquivou.O vaso caiu no chão e se despedaçou em mil pedaços, espalhando lascas afiadas que cortaram sua perna. O sangue começou a escorrer imediatamente, mas ninguém parecia se importar com isso naquele momento.Carlos apontou para ela com o dedo, o rosto vermelho de raiva:— Foi de propósito, não foi? Você fez isso na frente de todo mundo para se destruir de vez, só para que toda a Cidade N saiba que você é uma vagabunda, não é?! Como eu pude criar uma filha tão sem vergonha como você? Se eu soubesse que seria assim, deveria ter te matado com minhas próprias mãos no dia em que você nasceu! Nunca deveria ter trazido você de volta para casa, para manchar o nome da família Garcia!O silêncio tomou conta do ambiente. Ninguém ousava dizer uma palavra. A voz de Carlos ecoava pelo salão de teto alto, como lâminas afiadas que cortavam Zara uma vez após a outra.Porém… ela não sentia mais dor. Nem um pouco. Nem sequer desviou o olhar de Carlos. Apenas ficou ali, imóvel, olhando-o dire
— Irmã, como você pode falar assim da mamãe? — Antes que Vera dissesse qualquer coisa, Fiona já tinha se aproximado, os olhos vermelhos, encarando Zara. — Ela realmente se preocupa com você! Você não pode pensar isso dela!Zara, no entanto, não queria mais prolongar aquela discussão. Para ela, olhar para aquelas pessoas já era repulsivo. Assim, ignorou completamente as palavras de Fiona, virou-se e começou a caminhar em direção à porta:— Irmã!Fiona parecia querer segui-la, mas Vera a segurou pelo braço. Então, gritou para as costas de Zara:— Muito bem! Zara, se você sair por essa porta, mesmo que morra de fome lá fora, não pense que pode voltar para cá!Ao ouvir isso, Zara deu uma pequena pausa nos passos. Por um instante, Vera achou que ela havia mudado de ideia. Mas, quando Zara se virou, foi apenas para responder com frieza:— Então, eu agradeço por isso.Seu tom era calmo, como sempre. Porém, para Vera, aquela calma parecia gélida… cruel. Como uma serpente venenosa que, com olha
Aquela pergunta de Orson pegou Zara completamente de surpresa. Por um momento, ela achou que tinha escutado errado.Demorou alguns segundos para se recompor, mas, quando finalmente conseguiu, deu um leve sorriso irônico:— Sr. Orson, perguntar isso agora… não acha que é um pouco tarde demais?Orson estreitou os olhos. Quando ela pediu o divórcio pela primeira vez, ele pensou que fosse apenas mais um de seus surtos emocionais. E, mesmo se fosse, ele estava disposto a tolerar aquilo uma única vez. Por isso, na segunda vez, ele simplesmente aceitou.Por orgulho? Talvez um pouco.Mas, naquele momento, ele tinha absoluta certeza de que ela se arrependeria. No entanto, agora parecia que ele estava errado.Sobre o passado dela, Orson já havia descoberto tudo nos últimos dias.O pai adotivo condenado à prisão. A mãe adotiva em coma no hospital.Nada disso ela havia compartilhado com ele.Foi só então que Orson percebeu algo desconfortável: ele nunca conheceu Zara de verdade.— Mas, seja qual f