Vendo que Zara ainda parecia incrédula, Jennifer fez uma pausa e acrescentou: ― Que tal olhar por outro ângulo? ― O que você quer dizer? ― Zara perguntou. ― Por exemplo... E se tudo isso fosse, na verdade, um plano do Sr. Orson? E eu apenas estivesse executando o que ele pediu? Aquela sugestão pegou Zara de surpresa, mas ela logo balançou a cabeça e respondeu: ― Isso é impossível. ― Impossível? Por quê? Você ainda duvida do quanto o Sr. Orson se importa com você? Além disso, pense bem, que tipo de homem ele é? Se ele quisesse apenas uma mulher qualquer, por que escolheria você? ― Jennifer sorriu, com uma sinceridade desconcertante. ― Vou ser honesta: até eu já pensei em tentar seduzi-lo. Jennifer falou com tanta naturalidade que Zara, por um momento, não conseguiu discernir se ela estava brincando ou falando sério. ― Mas, ao menos, eu sei qual é o meu lugar. ― Jennifer continuou, revelando sem rodeios o que aconteceu naquela noite. ― Só precisei de um olhar do Sr. Orson
Quando aquela pergunta surgiu em sua mente, Zara lembrou-se do casal da família Garcia. Ela já havia se perguntado inúmeras vezes o mesmo: o que ela significava para eles? No fundo, ela sabia a resposta. Sempre soube. Mas, não importava quantas decepções enfrentasse, assim que as feridas cicatrizavam, ela voltava a cultivar esperança. Até que seus pais esmagaram seu coração no chão e o reduziram a pó. O que ela estava esperando? Que seus pais a amassem? Ou que Orson, de repente, fosse diferente com ela? Durante dois anos, ela tentou aquecer o coração dele, mas nada mudou. Por que, agora, ele daria um passo em sua direção? Era absurdo. Era ela, mais uma vez, sonhando alto. Como quando era criança e via o senhorzinho na porta da escola vendendo algodões-doces coloridos. Naquela época, tudo o que ela queria era dar uma mordida em um daqueles doces. Mas ela não tinha dinheiro, então só podia ficar ali, parada, olhando de longe. Dia após dia, vez após vez. Ela sabia que, mesmo
Zara não teve chance de recusar, e, de qualquer forma, ela também não conseguia. Logo, as duas chegaram à cafeteria. ― Quando você chegou em Cidade S? ― Laura perguntou diretamente. Zara segurou a xícara entre as mãos, sua voz saindo calma: ― Há alguns dias. ― Ah, é? Veio sozinha? Zara não respondeu. Apenas levantou os olhos e encarou Laura. Laura sustentou o olhar por alguns instantes antes de soltar uma risada. Então, tirou algumas fotos de sua bolsa e as colocou na mesa, bem na frente de Zara. ― A pessoa aqui é você, né? As fotos mostravam o show de fogos de artifício, o movimentado terraço do prédio e, no centro da cena, duas pessoas se beijando. O rosto de Orson estava perfeitamente visível nas imagens. Ele segurava Zara em seus braços, a mão dele repousando em sua face, o que dificultava que o rosto dela fosse identificado com clareza. Mas, naquele ponto, negar seria inútil. Zara apertou as mãos, respirou fundo e, finalmente, assentiu: ― Sim, sou eu. ― E
― Sr. Orson? ― A pessoa do outro lado da linha ainda esperava a resposta dele, estranhando o silêncio. ― Entendido. ― Respondeu Orson, encerrando a ligação em seguida. Ele voltou o olhar para Zara, com a expressão firme. ― O que você está fazendo? A voz dele soava calma, mas havia uma tensão evidente. ― Estou arrumando minhas coisas. Vou voltar para Cidade N. Zara respondeu sem levantar os olhos, enquanto fechava os fechos da mala com um clique seco. Orson permaneceu impassível, mas perguntou com um tom mais frio: ― O que isso significa? Só então Zara finalmente levantou a cabeça, oferecendo-lhe um sorriso tranquilo. ― Afinal, a Srta. Laura já está aqui. Não seria apropriado eu continuar, certo? As palavras dela fizeram Orson estreitar os olhos. ― Ela não é sua noiva? ― Zara continuou, sem rodeios. Orson soltou uma risada baixa, carregada de sarcasmo: ― Então, você está com ciúmes? ― Não. ― Zara desviou o olhar, baixando os olhos. Como poderia ter esse direito
― Esses dias, agradeço muito pelos seus cuidados. Mas, para evitar que a Srta. Laura descubra ou entenda mal, é melhor que não nos falemos mais. Orson não respondeu de imediato. Ele apenas permaneceu sentado, com a expressão inalterada, encarando Zara. Depois de um longo silêncio, ele soltou uma risada leve: ― Então é isso? Você quer cortar todos os laços comigo? Zara não respondeu, mas seu silêncio, ao puxar a mala, deixou clara sua posição. Orson riu de novo, com sarcasmo: ― Certo, você está certa. Se eu quisesse uma mulher… Não faltariam opções. Não se iluda, Zara. Não ache que você é especial. ― Eu sei disso. ― Zara respondeu com um sorriso calmo. ― Também sei que, para você, eu nunca fui nada especial. Então, acho que é melhor não perdermos mais o tempo um do outro. Orson não respondeu e permaneceu em silêncio. Zara se despediu, sem hesitar: ― Nesse caso, vou indo. Desejo a você e à Srta. Laura tudo de bom. E que sua vida seja muito feliz. Dizendo isso, ela vir
Zara reencontrou Orson dois meses depois, em um leilão para o qual Ivo a levara. Naquele momento, ela estava no jardim dos fundos, conversando com Leander, alguém que também não via há meses. Comparado à última vez em que se encontraram, Leander parecia muito mais abatido. Ele estava visivelmente mais magro, e sua expressão carregava um cansaço evidente. Ainda assim, ao ver Zara, ele esforçou-se para sorrir: ― Quanto tempo, hein? Zara, enquanto mantinha um sorriso educado no rosto, praguejava mentalmente contra Ivo por tê-la colocado naquela situação. ― Pois é, há quanto tempo. ― Respondeu ela, tentando manter a compostura. ― Como você tem passado? ― Leander perguntou, com uma tentativa de conversa. ― Bem. ― Ela respondeu de forma vaga. ― Você e o Sr. Orson voltaram? A pergunta de Leander trouxe à tona as memórias dolorosas daquela noite no carro, memórias que Zara vinha tentando suprimir. Ela sentiu a mão que estava pendendo ao lado do corpo se fechar instintivamente
O movimento de Leander parou no mesmo instante, mas a mulher rapidamente apontou para Zara, com o dedo quase cravando no ar: ― Tudo isso por causa dessa vagabunda, né? Você sabe por que o Orson se divorciou dela? Porque ela já estava toda estragada! Desde adolescente ela dormia com o padrasto! E você ainda tem coragem de ficar com alguém assim? Não sente nojo? Nesse momento, quase todos os convidados que estavam no salão principal já haviam se aproximado do jardim. As palavras da mulher, ditas com tanta força e convicção, ecoaram claras e diretas, penetrando nos ouvidos de todos. Zara ficou paralisada. Tudo nela congelou, inclusive as palavras que ela quis dizer, que morreram antes de sair. Leander, por sua vez, mudou de expressão. Ele lentamente virou o olhar para Zara, e o que ela viu em seus olhos foi um misto de choque e incerteza. Ao mesmo tempo, os murmúrios ao redor explodiram como uma onda, uma verdadeira maré de julgamentos, que parecia esmagá-la por completo. Ela ac
― Fiona! Você… Quando o carro estava prestes a sair, alguém correu em direção a ele, parecendo querer dizer algo a Fiona. Mas Fiona rapidamente balançou a cabeça, com um sorriso gentil: ― Essa é minha irmã. Claro que eu não vou deixá-la para trás. Fique tranquilo, está tudo bem. Naquele momento, com sua expressão tão doce e amável, Fiona parecia um verdadeiro anjo aos olhos de quem assistia à cena do lado de fora. Depois de dizer isso, ela fechou o vidro da janela, isolando o interior do carro do mundo exterior. Agora, dentro do veículo, restavam apenas Fiona, Zara e o motorista. Fiona, inicialmente, parecia disposta a continuar interpretando o papel da irmã solidária e carinhosa. No entanto, foi interrompida por Zara, que quebrou o silêncio: ― Foi você quem contou para aquela mulher, não foi? A voz de Zara era controlada, mas havia um tom de exaustão e algo mais profundo, como se ela estivesse se segurando para não perder a cabeça. Seu olhar permanecia baixo, enquanto