Zara, no final, foi primeiro visitar Natália. Marta tinha decidido acompanhá-la, mas, talvez por perceber a resistência de Zara à sua presença, ou porque era a primeira vez que via a criança, acabou hesitando. Ela havia chegado às pressas e, sem ter trazido nenhum presente, parou antes de entrar no quarto. Do lado de fora, através da porta, Marta podia ouvir a voz de Natália lá dentro, ainda infantil, com aquele tom doce e inocente. Ela não resistiu e espiou pela pequena janela da porta. Conseguiu ver apenas o pequeno corpo de Natália de costas, o cabelo redondinho e os braços finos. Apenas aquele vislumbre foi suficiente para deixar o olhar de Marta mais suave. Foi nesse momento que Zara saiu do quarto. Zara parecia cansada, e a agulha do cateter ainda estava em sua mão. Ela havia tentado tirar a agulha antes, mas Melissa não permitira. — O que você quer falar comigo? — Zara perguntou, indo direto ao ponto assim que voltou para o quarto. — Aqui está. É um documento que
— Eu vi algumas notícias recentemente. Pelo que entendi, você está temporariamente impossibilitada de criar novas histórias em quadrinhos, certo? — Disse Marta lentamente. — Eu sei que a Melissa é uma pessoa extremamente leal e que a família Coelho tem uma base muito sólida, mas, no fim das contas, Natália é minha neta. Viver dependendo de outras pessoas não é algo que eu gostaria de ver, e imagino que você também pense assim. Além disso, após a cirurgia, será necessário um longo período de recuperação. Cidade N tem os melhores recursos médicos do país, então ficar aqui seria o mais adequado para vocês. Quanto à minha casa, você já esteve lá. Fora eu e alguns empregados, o lugar é bem tranquilo. Pode ficar tranquila, Orson quase nunca aparece por lá. Então… Que tal pensar na minha proposta? As palavras de Marta fluíam devagar, mas era evidente que ela já tinha tudo planejado. Cada frase era dita com clareza, expondo todos os prós e contras diretamente para Zara. Zara ficou olhando
Orson estava parado do lado de fora da porta do quarto. Ele vestia preto, como de costume. Parecia ter emagrecido um pouco, o que deixava os ângulos de seu rosto ainda mais marcados. Sua figura alta e imponente exalava uma aura de opressão, algo quase sufocante para quem estivesse perto dele. Zara, no entanto, não se deixou intimidar. Ela ficou diante dele, calma, sem demonstrar qualquer fraqueza. Orson a analisou de cima a baixo antes de perguntar: — Quando foi que você procurou minha mãe? Zara não respondeu. Orson apertou o tom da voz: — Você sabe quantos anos ela tem? — Eu sei. — E, mesmo assim, você a fez aceitar essa cirurgia? As palavras de Orson ecoaram no corredor. Zara permaneceu em silêncio por um momento, mas, em seguida, abriu um sorriso frio. — E você sabe quantos anos Natália tem? A expressão de Orson mudou. Ele franziu a testa. — Natália tem dois anos e meio. Mais precisamente, 29 meses e 7 dias. — Respondeu Zara, com firmeza. — Os médicos disse
— Pode até ser, mas, só com as suas palavras, não há como provar nada. Por outro lado, basta eu mostrar esse laudo e, imediatamente, o consentimento que ela assinou para a cirurgia se tornará inválido. As palavras de Orson ecoaram no corredor, deixando o ambiente ainda mais pesado. Zara permaneceu imóvel, encarando-o. Seu rosto estava vazio de qualquer emoção. Não havia raiva, tristeza ou incredulidade. Ela apenas ficou ali, parada, olhando para ele. Era como se estivesse diante de um completo estranho, alguém que não tinha absolutamente nada a ver com ela. — Por quê? — Zara finalmente quebrou o silêncio. — Orson, você realmente quer ver sua filha… Morrer? Dessa vez, Zara não se preocupou em evitar a palavra "morte". Tudo o que girava na sua mente era a confusão. Ela estava perdida, tentando entender. Por mais que Orson não tivesse nenhum afeto por Natália, por mais que ele a odiasse por decisões do passado, ainda assim… Natália era uma vida. Uma vida que, mesmo que ele não
Naquele momento, Zara de repente pensou em sua mãe. Mas não na mãe biológica, aquela que, mesmo à beira da morte, ainda a culpava por não ter se disposto a doar medula para ela. Zara pensou, na verdade, em sua mãe adotiva, que ainda estava deitada em um leito de hospital. Zara não sabia se, no momento em que sua mãe adotiva se jogou para salvá-la, ela havia pensado nas consequências. Será que ela sabia que aquele gesto a levaria a um coma que parecia não ter fim? Mas Zara imaginava que, se pudesse voltar no tempo, sua mãe faria a mesma escolha. Assim como ela, naquele instante, estava fazendo. Ajoelhar-se diante de Orson, inclinar a cabeça ao chão, perder sua dignidade? Nada disso importava. Nem a sua vida importava. Tudo o que ela queria era que sua filha, Natália, sobrevivesse. Depois disso, Zara sequer se lembrava do que Orson havia dito antes de ir embora. A única coisa que ficou em sua memória foi o som de um papel caindo ao chão. Quando ela olhou, viu que era uma folh
O calor dentro do quarto só terminou de vez duas horas depois. O som da água vindo do chuveiro preenchia o ambiente, enquanto Zara Garcia, após alguns minutos de descanso, finalmente se levantava da cama. Suas pernas ainda tremiam, e ela se abaixou para pegar as roupas espalhadas pelo chão. As ações dele naquela noite tinham sido um pouco mais intensas do que o habitual, a ponto de sua mente ainda parecer vazia. Tentou abotoar o pijama várias vezes, mas seus dedos trêmulos falhavam repetidamente. Logo, o homem saiu do banheiro. Sua figura era alta e imponente, os traços do rosto fortes sem perder a beleza. Envolto apenas por uma toalha amarrada na cintura, gotículas de água deslizavam lentamente por seus músculos definidos, escorrendo pelo abdômen até desaparecerem. Ao notar que Zara ainda estava ali, ele franziu levemente as sobrancelhas. Zara, por sua vez, evitou olhá-lo diretamente. Mantendo o olhar fixo no botão do pijama, continuou travando sua pequena batalha silenciosa
Quem falava era Ophelia Brown, melhor amiga de Fiona e herdeira de um grande grupo empresarial.Ophelia e Fiona cresceram juntas. Desde sempre, Ophelia era uma das maiores apoiadoras do relacionamento entre Fiona e Orson. Agora, com Zara ocupando o lugar de Sra. Harris, Ophelia obviamente não nutria bons sentimentos por ela. Quando Ophelia viu Zara parada na porta, seu semblante continuava impassível, sem qualquer sinal de constrangimento ou desconforto.Foi Fiona quem quebrou o silêncio, chamando-a com suavidade:— Irmã, você veio?Zara apenas assentiu com a cabeça.— Vim te buscar. Já arrumou suas coisas?— Já sim. Vamos.Fiona respondeu de forma dócil, enquanto Zara se mantinha séria. Ophelia, no entanto, não conseguiu segurar a língua:— Sra. Harris, e o Sr. Orson? Hoje é o dia da alta da Fiona e ele não veio buscá-la?— Ele foi para a empresa. — Respondeu Zara, com tranquilidade.— Ah, parece que ele está muito ocupado. Só não sei se está tão ocupado assim ou se foi você quem não
Às sete da noite, Orson voltou pontualmente à mansão. Fiona estava na sala de estar naquele momento. Assim que o viu, deu alguns passos à frente, apressada. — Cunhado! Você voltou! Orson lançou-lhe um leve sorriso, erguendo os olhos logo em seguida. Zara, que observava a cena em silêncio, apertou os lábios e caminhou até ele para pegar o casaco que ele tirava. — O jantar está pronto. — Disse Zara, com o tom reservado de sempre. Na mesa, enquanto todos começavam a comer, Fiona olhou de relance para Zara antes de baixar o tom de voz: — Desculpa, cunhado. Estar aqui não está atrapalhando você e minha irmã? — Perguntou Fiona, com uma expressão hesitante. — Eu até falei pra mamãe que podia ficar sozinha, mas ela não quis deixar... — Não tem problema. — Respondeu Orson, sem hesitar. — Fique aqui o quanto precisar. Se precisar de algo, é só falar. — Sério? Não vai ser um incômodo? — Claro que não. — Srta. Fiona, a sua presença só traz alegria pra esta casa! — Comentou Iv