Já passava da meia-noite quando Lucca avistou Matteo deixando a boate com os três seguranças. Como se pressentissem o perigo que os rodava nas sombras da noite, os homens de terno preto estavam em estado de alerta.
Da entrada da boate até o carro, Matteo teria que dar sete passos. Protegido pela escuridão do outro lado da rua, vestindo preto da cabeça aos pés e encapuzado, Lucca ajustou a mira do rifle sniper, e deslizou o dedo até o gatilho.
Ele não esboçava nenhum sinal de ansiedade. Suas mãos não tremiam, seus olhos azuis não piscavam e seu coração não estava disparado. Calmo, focado e disciplinado. Para Lucca, era tudo uma contagem de milésimos de segundos.
Matteo estava na mira. O gatilho começou a ser puxado. Um pequeno sorriso curvou os lábios rosados do assassino ao ver o pânico nos olhos negros de Matteo. O italiano já sabia que a sua hora se aproximava. Em breve, estaria adentrando os portões do inferno.
Há muitas maneiras das coisas darem errado, uma delas é quando seus inimigos conhecem os seus métodos, e usam isso ao seu favor. Através da lente do rifler, Lucca viu a garota que foi puxada pelo braço com violência, e colocada na frente de Matteo como um escudo humano.
Lucca fechou e abriu os olhos azuis.
- Merda!
Ele focou o olhar na garota negra, de estatura mediana, compridos cabelos castanhos escuros, rosto delicado e olhar triste. O vestido preto, curto e justo, realçava as suas curvas generosas. Ela mordia o lábio inferior com força, temendo pelo pior. Era linda.
Lucca estava sem mira. Matteo estava escapando bem diante dos seus olhos, por entre os seus dedos. Falhar não era uma opção para Lucca. Vivo, Matteo traria um novo carregamento de prostitutas para Alessandro.
Matteo e a garota foram colocados dentro da BMW preta e blindada, os seguranças entraram em seguida e arrancaram com o carro, fazendo os pneus cantarem.
Lucca abaixou o rifle e rapidamente entrou na sua Mercedes Benz prata. Ele ligou para Greco.
- Matteo deixou a boate com três seguranças. Ele usou uma garota como escudo e eu fiquei sem mira.
No escritório da sua mansão no meio
das colinas verdes, entre as cidades deCatânia e Palermo, Greco atirou o copo de uísque contra a parede de pedra.- Maldição! Ele sabia!
- Eu vou persegui-lo.
- Não seja idiota! É uma emboscada! Volte para casa imediatamente! Isso é uma ordem clara e direta, De Rossi!
- Eles estão a caminho do píer. Matteo vai deixar a cidade de barco. Eu não vou deixar ele escapar.
Lucca desligou o celular e o jogou no banco do carona. Ele forçou a Mercedes pelas ruas da cidade, dando início a uma perseguição implacável.
- Ele está nos seguindo. - Disse um dos seguranças.
Matteo olhou para trás e sorriu.
- Deixe que venha. Vamos cerca-lo no píer. Alessandro mandou homens para lá. - Matteo acariciou o rosto negro de Anna. - Meu diamante da sorte.
A garota se esquivou do toque asqueroso e foi repreendida com uma bofetada na face.
Greco saiu apressado do escritório.
- Paris!
O segurança alto, forte, de cabelos, barba e olhos escuros, apareceu imediatamente ao ser chamado.
- Sim, chefe?
- Reúna os homens. Lucca está em perigo.
Paris ficou cético.
- Lucca em perigo?
Greco já se dirigia para a garagem.
- Andiamo!
No minuto seguinte, três BMW'S deixavam a mansão de Greco em alta velocidade a caminho do píer.
Alessandro não confiava nos seus homens para uma missão tão arriscada, capturar o Príncipe Da Morte. Ele mesmo se colocou a frente da emboscada. A bordo da sua Lamborghini Aventador branca, ele pilotava pelas ruas da Sicília.
As ruas desertas durante a madrugada que prometia ser sangrenta, era um ponto forte a seu favor. Como combinado, Matteo seguia para o píer, atrás dele, o alvo de Alessandro.
Usar Anna foi uma ideia brilhante. Trazida recentemente do México, a garota negra de beleza estonteante, é a prata da casa. Bela o suficiente para mexer com o psicológico de um assassino frio e calculista. Sorrindo, Alessandro acelerou.
Lucca olhou pelo retrovisor. Greco estava certo, era uma armadilha e ele caiu. No entanto, conhecia o chefe o bastante para saber que ele mandaria reforços, mesmo que estivesse furioso com a sua desobediência. Ao longe já se avistava a costa da praia.
Matteo deu a ordem ao motorista.
- Vá para as docas. Vamos encurralar esse filho da puta!
- Sim, chefe.
Anna massageou o rosto negro. Órfã aos dezoito anos, assim como as outras garotas ela se deixou iludir pela promessa de uma vida fácil. Matteo a encontrou nas ruas do México, disse que era olheiro de uma famosa agência de modelos na Itália.
Após semanas procurando emprego, Anna aceitou a proposta de trabalho tentadora. Ela estava morando de favor na casa de uma tia materna depois que seus pais faleceram de febre amarela. Eram caseiros em um rancho, e devido as péssimas condições de higiene e a falta de saneamento básico, muitas pessoas estavam sendo vítimas do descaso das autoridades.
Ao ser apresentada a Alessandro Nivolla, Anna soube que também tinha sido vítima de um destino cruel. Em breve, ela seria só mais uma das muitas prostitutas trazidas do México e da Espanha. No momento, ainda é exclusivamente de Alessandro.
Ele violenta as novatas antes de colocá-las para trabalharem na sua boate. Qualquer tentativa de fuga resulta em uma morte lenta e dolorosa. Anna dúvida que exista algo mais doloroso do que perder os pais, a terra natal, e estar em um país estrangeiro sendo estuprada por um sádico devasso.
Anna se deu conta de uma coisa. Pela primeira vez não estava sob a vigilância constante dos homens de Alessandro, principalmente de Carter Verone, seu fiel cão de guarda. Ela estava com Matteo e seus guarda - costas, e aparentemente, eles estavam muito interessados em capturar alguém.
Uma ideia perigosa surgiu na mente de Anna. Era arriscado, mas ela tinha que tentar. Não poderia viver sabendo que além de burra, foi covarde. Em algum momento haveria de surgir uma oportunidade única, e ela aproveitaria.
Só de pensar em Alessandro empurrando seu pênis enrijecido a força no fundo da garganta dela, o estômago de Anna revirou.
Lucca diminuiu a velocidade ao perceber que estava sendo guiado para as docas. Tarde demais, a Lamborghini Aventador foi para cima dele, e o motorista de Matteo deu ré na BMW. Lucca estava preso entre os dois veículos. Uma olhada pelo espelho retrovisor, e ele reconheceu Alessandro Nivolla.
- Filho da puta!
Homens fortemente armados surgiram por todos os lados. Lucca riu da sua própria imprudência. Antes que pudesse pensar com clareza, três BMW'S invadiram as docas e deu início a uma intensa troca de tiros.
Com um poder de fogo muito superior, Alessandro viu seus homens serem facilmente abatidos por Greco e companhia. Ele não esperava que o desgraçado em pessoa pudesse surgir como o próprio Cavaleiro Do Apocalipse, abrindo fogo contra tudo e todos.O italiano tem culhões, Alessandro reconheceu. A BMW blindada de Matteo não resistiria por muito mais tempo. Alessandro colocou as duas mãos no volante ao ver Greco se aproximar. Com o cabo do rifler ele bateu no vidro da Lamborghini.- Sai do carro!Sabendo que não seria alvejado, Alessandro deu marcha ré, um giro completo de 360º graus e fugiu. Paris olhou para Greco.- Ele está sozinho. Será uma presa fácil.Greco observava a Lamborghini voar em direção a autoestrada. Ele respirou fundo.- Hoje não. Eu não quero iniciar uma guerra. Nós viemos resgatar Lucca, e com sorte, matar Matteo.Paris desdenhou.- A guerra já começou.Matteo em um gesto desesperado, quando viu que seus seguranças
Anna arriscou um olhar hesitante para Lucca. Ele dirigia em silêncio, vez ou outra, olhava para ela com raiva. Estavam no penúltimo carro do comboio que seguia para as montanhas. A noite fria fez Anna estremecer. Dirigindo com apenas uma mão, Lucca tirou a jaqueta de couro preto e jogou no colo dela.- Vista.Anna pensou em recusar. Seria um erro. Ela se vestiu e logo ficou aquecida. Tatuagens cobriam os braços musculosos. O olhar de Lucca pairou sobre as suas pernas por alguns segundos. A jaqueta tinha ficado enorme, então, Anna a esticou o máximo que conseguiu até cobrir os joelhos.Lucca respirou fundo e tentou se concentrar. Uma buzina vinda do carro de trás o alertou que ele estava atrasando o comboio. Matteo estava morto, mas a conversa fiada que o fim justifica os meios, não funcionaria com Greco. Ele não conquistou o trono da família Romano, sendo irresponsável. Lucca pagaria o preço.Ele tinha plena consciência que se deixou levar pela beleza da garo
Anna ficou impressionada com o tamanho do banheiro do quarto de hóspedes. Era maior do que a casa que ela tinha nascido e crescido no México. Tudo era de mármore branco com detalhes em dourado. A banheira oval parecia um sonho, grande o suficiente para três pessoas.Ela encontrou toalhas brancas felpudas e roupões de banho, tudo limpo e impecavelmente dobrados. Na bancada da pia, sabonete, e até shampoo e condicionador. Anna se apressou em tirar o salto alto, o vestido e a calcinha.Ela abriu o chuveiro e entrou debaixo da ducha quente. Quase se afogou com o excesso de água. Após o banho demorado, se sentia um pouco melhor. Porém, com fome e sono.Lucca sentou na cama e olhou para a porta do banheiro fechada. Ele ouvia a água caindo, e pensamentos perigosos começaram a turvar a sua mente. Não é o tipo de cara que se deixa levar por uma mulher bonita. Na verdade, sua vida sexual é inexistente. Trabalhar para Greco consome todo o seu tempo. Sempre tem algum crime par
Na manhã ensolarada, Greco tomava café da manhã no jardim. Após um mergulho na piscina, ele vestia apenas uma sunga preta, enquanto olhava para a tela do iPhone. A chacina estava em todos os noticiários.Depois de passar a noite em claro subornando policiais, Greco não estava satisfeito com o rumo das investigações. Um inquérito seria aberto. A família Cacciola queria a cabeça do assassino de Matteo. O mafioso fez uma ligação.- Alô.- Dormiu bem?Ainda na cama, Alessandro ficou em silêncio. Ele tinha uma vaga ideia de quem poderia ser ao atender a ligação de um número desconhecido. Sonolento, por causa dos sedativos, Alessandro fechou os olhos e levou a mão na cabeça.- O que você quer?- Como eu imaginava, você não está preocupado com Anna.Alessandro riu com ironia.- Eu sei que ela está bem.Greco sorriu.- Sabe
Sob o olhar intenso de Lucca, Anna começou a comer o banquete que ele tinha preparado para ela.- Obrigada por estar sendo gentil comigo.Em pé ao lado da cama, Lucca apenas assentiu. Porém, disse:- Não me agradeça ainda. Em breve, você vai descobrir que eu não sou nem um pouco gentil.Com a boca seca, Anna bebeu um longo gole de suco de laranja. Ela sorriu.- Já tomou café?- Não. Eu tenho coisas mais importantes para resolver.- Meu pai dizia que saco vazio não para em pé.Lucca franziu a testa quando Anna estendeu o sanduíche de peito de peru. Ele pensou em recusar, mas mudou de ideia e sentou na cama. Quase riu quando não fez o que Anna esperava. Ao invés de pegar o sanduíche, ele se inclinou e entreabriu os lábios, esperando que ela desse na boca dele.Anna sabia que estava com cara de idiota com a proximidade de Lucca e a forma como ele se inclinou sobre ela. Perto o bastante para sentir o seu hálito quente, cheiro de sabo
Alessandro levantou, sorriu de forma cordial e trocou um forte aperto de mão com Bambino. Intrigado, não pôde deixar de perguntar:- Quantos anos tem?- Vinte e um.- Não parece ter mais do que dezesseis.Bambino riu.- Eu puxei a genética da minha mãe.- Certamente. Sente-se. Aceita uma bebida?- Não. Está um pouco cedo para beber, e a minha visita é em uma hora muito difícil para mim. Eu estou de luto.Alessandro fingiu ficar emotivo.- Eu lamento muito pela sua perda. Seu pai e eu éramos grandes amigos.Bambino sentou e cruzou as pernas. Ele olhou para Alessandro com cuidado e atenção.- Com a morte do meu pai eu vou assumir os negócios dele. Sou o próximo na linha de sucessão e serei ordenado em alguns dias. Eu gostaria de tomar posse com a cabeça do assassino dele em mãos.Alessandro manteve a expressão de pesar no rosto, mas suas pernas fraquejaram. Ele sentou lentamente. Gostaria de pensar que Bambino não
Greco convenceu a si mesmo que precisava ir até o hospital para não levantar suspeitas. Pareceria estranho seu "sócio" sofrer um grave acidente de carro, e ele não aparecer para prestar apoio.Verone o informou que Alessandro tinha sofrido vários cortes pelo rosto e braços, causados pelos cacos de vidro.Por sorte, estava usando o cinto de segurança, porém, no impacto da batida, fraturou a clavícula e o fêmur, chegando ao hospital inconsciente.Verone, tentando não demonstrar o quanto estava abalado, disse:- Ele passou por uma cirurgia no fêmur e o colocaram na Unidade de Terapia Intensiva por precaução.Em um gesto solidário, Greco colocou a mão no ombro de Verone.- Ele vai ficar bem. Vaso ruim não quebra.- É só você aparecer na vida dele que coisas ruins começam a acontecer. Você desencadeia coisas ruins, Greco.O mafioso pressionou a mão no ombro de Verone, sorriu e se inclinou sobre ele. A ameaça veio em um tom baixo e con
Anna prendeu a respiração ao ver Lucca entrar no quarto e trancar a porta. Assustada, ela foi incapaz de falar ou sair do lugar. Lucca inspecionou as várias sacolas de roupas, sapatos e produtos de higiene pessoal, coisas que Anna nunca imaginou que teria um dia.Ela tinha ganhado até lingeries, maquiagens, perfumes, bolsas e jóias. Produtos de grife que só tinha visto em revistas famosas. Estava grata, mas não deslumbrada. Ainda não sabia o preço que pagaria por tudo aquilo. Nada é de graça.Lucca se aproximou, passou o braço em volta da cintura de Anna e a puxou de encontro ao seu corpo que ardia em chamas. Ele acariciou o rosto negro de forma não tão gentil.- Você é a coisa mais linda que eu já vi na vida. Você será minha. Só minha. Você vai se apaixonar por mim, Anna.Diante de tamanha loucura, Anna tentou sair dos braços que a seguravam com possessão. Foi um erro. Lucca a jogou em cima da cama como se ela fosse uma boneca de pano e foi para cima d