Anna arriscou um olhar hesitante para Lucca. Ele dirigia em silêncio, vez ou outra, olhava para ela com raiva. Estavam no penúltimo carro do comboio que seguia para as montanhas. A noite fria fez Anna estremecer. Dirigindo com apenas uma mão, Lucca tirou a jaqueta de couro preto e jogou no colo dela.
- Vista.
Anna pensou em recusar. Seria um erro. Ela se vestiu e logo ficou aquecida. Tatuagens cobriam os braços musculosos. O olhar de Lucca pairou sobre as suas pernas por alguns segundos. A jaqueta tinha ficado enorme, então, Anna a esticou o máximo que conseguiu até cobrir os joelhos.
Lucca respirou fundo e tentou se concentrar. Uma buzina vinda do carro de trás o alertou que ele estava atrasando o comboio. Matteo estava morto, mas a conversa fiada que o fim justifica os meios, não funcionaria com Greco. Ele não conquistou o trono da família Romano, sendo irresponsável. Lucca pagaria o preço.
Ele tinha plena consciência que se deixou levar pela beleza da garota ao seu lado e poderia estar morto, ou sendo torturado por Alessandro, se não fosse por Greco.
- Você é o Príncipe Da Morte?
A pergunta repentina arrancou Lucca dos seus pensamentos desenfreados.
- De onde você tirou isso?
- Eu ouvi algo sobre um assassino encapuzado que faz justiça com as próprias mãos. É defensor dos fracos e oprimidos?
Lucca se ajeitou no banco. De repente, estava desconfortável.
- Pare de fazer perguntas. No momento você é uma refém. Reféns não fazem perguntas.
- Os homens de Matteo já estavam rendidos e mesmo assim foram mortos a sangue frio.
Lucca fuzilou Anna com os olhos.
- Eu mandei você calar a boca!
Anna empinou o nariz delicado.
- Você disse para mim não fazer perguntas.
- Eram estupradores. - Lucca disse secamente. - Nós não aceitamos esse tipo de gente no nosso território.
Anna ficou olhando para Lucca. Ele estava cheio de ódio. Ela encostou a cabeça no banco e respirou fundo. Por entre as montanhas, surgiu uma mansão iluminada. O comboio atravessou os portões. A quantidade de homens armados dentro da propriedade era impressionante.
Anna foi conduzida por uma verdadeira fortaleza de luxo e sofisticação. A mansão opulenta de Greco fica nas colinas da Sicília, sem vizinhos próximos, com piscina de borda infinita e uma vista exclusiva do alto da cidade. Quase todos os cômodos se abrem perfeitamente para as áreas externas; com jardim, garagem, área de lazer e a piscina azul turquesa.
Anna ficou a sós com Greco na sala de estar. Ele a observava dos pés a cabeça.
- Senta.
Anna obedeceu e Greco sentou na mesinha de centro de frente para ela. A beleza do mafioso a deixou desconfortável.
- Comece a falar.
- O que quer saber?
- Tudo.
Anna passou a língua pelos lábios ressecados, pousou as mãos no colo e abaixou a cabeça.
- Meus pais morreram, Matteo me encontrou e me trouxe para a Itália com a falsa promessa que faria de mim uma modelo. Ele me apresentou a Alessandro e eu me tornei a prostituta dele. - Anna lutou contra as lágrimas que ameaçavam cair. - Isso é tudo.
- Idade.
- Eu tenho dezoito anos.
- Algum familiar no México?
Anna ergueu a cabeça e encarou Greco.
- Como sabe que eu sou mexicana?
- Garcia é um sobrenome mexicano. Algum parente com que eu deva me preocupar?
- Não.
Greco assentiu.
- Muito bem. São quase duas da manhã. Você pode descansar agora. Pela manhã você vai me dar informações sobre o prostíbulo de Alessandro.
Anna mordeu o lábio inferior.
- Eu trabalho para você agora?
- Você não vai ter que se deitar comigo se é isso que quer saber.
Anna nem disfarçou o alívio que sentiu. Greco sorriu.
- Lucca!
O assassino entrou na sala. Ele já esperava ser chamado e estava ouvindo a conversa atrás da porta.
- Sim, chefe?
Greco levantou e foi até Lucca. Ele se inclinou e abaixou a voz.
- Matteo, seus três seguranças e seis homens de Alessandro. Eu vou passar a noite acordado fazendo ligações e transferências bancárias. Quando o sol nascer, você me paga.
Lucca endureceu o olhar.
- Matteo está morto.
- E com ele mais nove corpos. - Greco deu um tapinha no rosto de Lucca. - É melhor que ela valha a pena.
Anna seguiu Lucca para o andar de cima e entrou em um dos luxuosos quartos de hóspedes. Ela olhou em volta, e em seguida olhou para Lucca. Ele estava sério.
- Eu vou trazer um pijama e alguma coisa para você comer.
Anna assentiu.
- Obrigada.
Foi inevitável para Lucca não olhar para os lábios carnudos e rosados de Anna. Ele resistiu ao impulso de tocar seus cabelos castanhos. Limpando a garganta, disse secamente:
- Vá tomar banho. Eu não quero sentir o cheiro de outro homem em você.
Perplexa, Anna viu Lucca sair do quarto e bater a porta com força. Por alguns minutos, ela não saiu do lugar.
Lucca foi para o quarto, tomou banho e saiu do banheiro com uma toalha preta em volta da cintura. Ele sentou na cama e acendeu um cigarro. Estava perdido em pensamentos quando Paris apareceu na porta com um sorriso zombeteiro.
- Sete anos trabalhando juntos, e eu sempre soube que quando você fizesse merda, seria das grandes.
- Eu não sei o porque de tanto alarde. A missão foi cumprida.
- Não seja dissimulado.
Lucca tragou o cigarro e soltou a fumaça lentamente.
- Como conselheiro de Greco você tem que dizer a ele que devemos ficar com a garota. É para a segurança dela.
Paris riu.
- Você sabe que eu não sou conselheiro dele. E ainda que fosse, você sabe que ele governa a máfia pelo exemplo. E além disso, Anna está ilegalmente no país.
Lucca respirou fundo e passou a mão pelos cabelos úmidos.
- Eu não podia perder a chance de acabar com Matteo.
- É claro. Você não teria outra chance.
Lucca levantou e encarou Paris.
- Não zombe de mim.
- Sabe qual vai ser a sua punição? Greco não vai deixar você perder a cabeça por causa de um rabo de saia. O inferno vai congelar antes que você consiga foder a garota.
Lucca ficou em silêncio. No fundo sabia que Paris estava certo. Greco não é o tipo de homem que perdoa um deslize. Para ele, a caminhada é mais importante do que o destino final. O Príncipe Da Morte sorriu. Seria punido, mas faria valer a pena.
Anna ficou impressionada com o tamanho do banheiro do quarto de hóspedes. Era maior do que a casa que ela tinha nascido e crescido no México. Tudo era de mármore branco com detalhes em dourado. A banheira oval parecia um sonho, grande o suficiente para três pessoas.Ela encontrou toalhas brancas felpudas e roupões de banho, tudo limpo e impecavelmente dobrados. Na bancada da pia, sabonete, e até shampoo e condicionador. Anna se apressou em tirar o salto alto, o vestido e a calcinha.Ela abriu o chuveiro e entrou debaixo da ducha quente. Quase se afogou com o excesso de água. Após o banho demorado, se sentia um pouco melhor. Porém, com fome e sono.Lucca sentou na cama e olhou para a porta do banheiro fechada. Ele ouvia a água caindo, e pensamentos perigosos começaram a turvar a sua mente. Não é o tipo de cara que se deixa levar por uma mulher bonita. Na verdade, sua vida sexual é inexistente. Trabalhar para Greco consome todo o seu tempo. Sempre tem algum crime par
Na manhã ensolarada, Greco tomava café da manhã no jardim. Após um mergulho na piscina, ele vestia apenas uma sunga preta, enquanto olhava para a tela do iPhone. A chacina estava em todos os noticiários.Depois de passar a noite em claro subornando policiais, Greco não estava satisfeito com o rumo das investigações. Um inquérito seria aberto. A família Cacciola queria a cabeça do assassino de Matteo. O mafioso fez uma ligação.- Alô.- Dormiu bem?Ainda na cama, Alessandro ficou em silêncio. Ele tinha uma vaga ideia de quem poderia ser ao atender a ligação de um número desconhecido. Sonolento, por causa dos sedativos, Alessandro fechou os olhos e levou a mão na cabeça.- O que você quer?- Como eu imaginava, você não está preocupado com Anna.Alessandro riu com ironia.- Eu sei que ela está bem.Greco sorriu.- Sabe
Sob o olhar intenso de Lucca, Anna começou a comer o banquete que ele tinha preparado para ela.- Obrigada por estar sendo gentil comigo.Em pé ao lado da cama, Lucca apenas assentiu. Porém, disse:- Não me agradeça ainda. Em breve, você vai descobrir que eu não sou nem um pouco gentil.Com a boca seca, Anna bebeu um longo gole de suco de laranja. Ela sorriu.- Já tomou café?- Não. Eu tenho coisas mais importantes para resolver.- Meu pai dizia que saco vazio não para em pé.Lucca franziu a testa quando Anna estendeu o sanduíche de peito de peru. Ele pensou em recusar, mas mudou de ideia e sentou na cama. Quase riu quando não fez o que Anna esperava. Ao invés de pegar o sanduíche, ele se inclinou e entreabriu os lábios, esperando que ela desse na boca dele.Anna sabia que estava com cara de idiota com a proximidade de Lucca e a forma como ele se inclinou sobre ela. Perto o bastante para sentir o seu hálito quente, cheiro de sabo
Alessandro levantou, sorriu de forma cordial e trocou um forte aperto de mão com Bambino. Intrigado, não pôde deixar de perguntar:- Quantos anos tem?- Vinte e um.- Não parece ter mais do que dezesseis.Bambino riu.- Eu puxei a genética da minha mãe.- Certamente. Sente-se. Aceita uma bebida?- Não. Está um pouco cedo para beber, e a minha visita é em uma hora muito difícil para mim. Eu estou de luto.Alessandro fingiu ficar emotivo.- Eu lamento muito pela sua perda. Seu pai e eu éramos grandes amigos.Bambino sentou e cruzou as pernas. Ele olhou para Alessandro com cuidado e atenção.- Com a morte do meu pai eu vou assumir os negócios dele. Sou o próximo na linha de sucessão e serei ordenado em alguns dias. Eu gostaria de tomar posse com a cabeça do assassino dele em mãos.Alessandro manteve a expressão de pesar no rosto, mas suas pernas fraquejaram. Ele sentou lentamente. Gostaria de pensar que Bambino não
Greco convenceu a si mesmo que precisava ir até o hospital para não levantar suspeitas. Pareceria estranho seu "sócio" sofrer um grave acidente de carro, e ele não aparecer para prestar apoio.Verone o informou que Alessandro tinha sofrido vários cortes pelo rosto e braços, causados pelos cacos de vidro.Por sorte, estava usando o cinto de segurança, porém, no impacto da batida, fraturou a clavícula e o fêmur, chegando ao hospital inconsciente.Verone, tentando não demonstrar o quanto estava abalado, disse:- Ele passou por uma cirurgia no fêmur e o colocaram na Unidade de Terapia Intensiva por precaução.Em um gesto solidário, Greco colocou a mão no ombro de Verone.- Ele vai ficar bem. Vaso ruim não quebra.- É só você aparecer na vida dele que coisas ruins começam a acontecer. Você desencadeia coisas ruins, Greco.O mafioso pressionou a mão no ombro de Verone, sorriu e se inclinou sobre ele. A ameaça veio em um tom baixo e con
Anna prendeu a respiração ao ver Lucca entrar no quarto e trancar a porta. Assustada, ela foi incapaz de falar ou sair do lugar. Lucca inspecionou as várias sacolas de roupas, sapatos e produtos de higiene pessoal, coisas que Anna nunca imaginou que teria um dia.Ela tinha ganhado até lingeries, maquiagens, perfumes, bolsas e jóias. Produtos de grife que só tinha visto em revistas famosas. Estava grata, mas não deslumbrada. Ainda não sabia o preço que pagaria por tudo aquilo. Nada é de graça.Lucca se aproximou, passou o braço em volta da cintura de Anna e a puxou de encontro ao seu corpo que ardia em chamas. Ele acariciou o rosto negro de forma não tão gentil.- Você é a coisa mais linda que eu já vi na vida. Você será minha. Só minha. Você vai se apaixonar por mim, Anna.Diante de tamanha loucura, Anna tentou sair dos braços que a seguravam com possessão. Foi um erro. Lucca a jogou em cima da cama como se ela fosse uma boneca de pano e foi para cima d
Greco deixou Paris acomodar Bambino e foi até o quarto de Anna. Aproveitaria que Alessandro estava no hospital para resgatar as garotas de programa da boate. Não seria uma tarefa das mais fáceis, até porque, muitas mulheres sem perspectiva de um futuro, acabam se deixando levar por uma vida de luxo, sem se darem conta que estão se submetendo a todos os tipos de abuso e humilhação.Se sentindo frustrado em todos os sentidos, Greco bateu na porta.- Anna, eu quero falar com você.No instante em que a porta foi aberta, Greco viu os olhos vermelhos e inchados de Anna. Ele fechou o semblante e perguntou em um tom de voz ameaçador:- O que Lucca fez?Anna poderia dizer a verdade, que Lucca tinha agredido ela, e a deixado aterrorizada. Ao invés disso, secou o rosto molhado pelas lágrimas, fungou o nariz, e respondeu com firmeza:- Lucca não fez nada. Pelo contrário, ele está sendo muit
Anna pensou que estava ficando louca por ter ficado desapontada quando Paris levou o seu almoço, e não Lucca. O fato de querer ver o Príncipe Da Morte depois da forma violenta como ele a tratou pela manhã, deixou Anna preocupada consigo mesma.Não deveria ficar ansiosa pelos seus encontros com um homem instável, e muito menos ficar desapontada pelo fato dele não ter aparecido. Aquilo não era saudável. Ela atribuiu tal despropósito ao fato de estar muito abalada psicologicamente. Em sã consciência jamais se sentiria atraída por um assassino encapuzado que poderia mata-la em um piscar de olhos.Paris parecia ser o menos problemático do grupo. Ele deu um sorriso espontâneo.- Nós estamos com um hóspede indesejado no momento. Ele deve ficar até amanhã depois do enterro do pai. Enquanto isso, você vai ficar aqui no quarto.Anna mudou a sua opinião sobre Paris. Ele se referiu a um enterro como quem se refere ao clima. Tipos como ele são os mais perigosos. Trabalhan