O
vulto do grande guerreiro percorria o arraial onde estavam os Guaicurus. Kaluanã andava solitário em volta do fogo, invocando os espíritos da selva. Por horas ficou ali; Não dormiu e não comeu nada desde o primeiro ataque. Ao perceber as primeiras luzes da manhã, convocou seus guerreiros que se posicionaram a sua volta. Todos retocaram as pinturas e encheram suas aljavas. Em uníssono, soltavam urros clamando pelo espírito da guerra. Kaluanã imóvel observava o céu.
— Águas pesadas irão nos castigar durante esta batalha, mas ainda mais aos karaíbas! Guerreiros Guaicurus é chegado o momento de a grande Floresta nos libertar dos demônios
CAPITULO VII A distância entre Kaluanã e os homens de Santa Cruz era muito grande para os flecheiros, mas não para as armas dos Karaíbas. Kaluanã precisava atacar os homens de frente e avançar o mais próximo da clareira. Sabia que o seu primeiro ataque desencadearia o furor da artilharia, que estava bem posicionada. Contava, porém com o tempo que perderiam no recarregar as armas e assim aproveitaria para se aproximar e tentar um combate corpo a corpo. Era preciso calcular o tempo e não errar. Os primeiros guerreiros se aproximaram a uma distância onde poderiam lançar as setas. Atrás das árvores se protegiam de um contra ataque dos mosquetes.
CAPITULO VIII O combate foi cruel e mortal. Os primeiros Guaicurus sucumbiram, mas dezenas logo apareceram e Acauã avançou contra eles. Seus homens o seguiram e ali se travou uma batalha mortal entre bordunas e adagas. Os Guaicurus eram realmente ferozes e atacavam energicamente os homens de Acauã, que sabia serem mais fortes e ágeis com suas adagas. A quantidade de guerreiros, porém era demasiadamente desproporcional e então alguns deles acabaram sendo mortos rapidamente. Acauã avançava facilmente sobre os Guaicurus, que se assustaram ao encontrar entre os inimigos um mestiço tão forte e grande como ele. Acauã se defendia e atacava co
CAPITULO IX E assim Acauã e os capitães de Felipe resolveram que ao raiar do dia sairiam e enfrentariam os Guaicurus numa tentativa de buscarem a fuga. Sabiam dos riscos que corriam, mas não havia alternativa senão enfrentar Kaluanã frente a frente. Se tivessem que sucumbir, que fosse enfrentando o inimigo e não morrendo a mingua sob um cerco mortífero e cruel. As horas que antecipavam as primeiras luzes do dia chegavam trazendo ansiedade e temor a todos na clareira. Era a chance que teriam de tentar uma fuga pelas trilhas e salvarem suas vidas. Porém, teriam que enfrentar Kaluanã e suas hostes e o q
CAPITULO X O s Guaicurus atravessaram o grande rio e voltaram para a aldeia carregando seus mortos. A tribo toda se reuniu e pranteou por dias a morte de tantos guerreiros. Terminado os preparativos, os corpos foram enfaixados e colocados sob uma esteira que seria conduzida por um cavalo até o local sagrado. Comidas, e animais mortos eram separados para irem junto. Abriam-se as covas e os corpos eram cuidadosamente depositados. Sob elas uma esteira era colocada e ao seu lado as comidas e jarros de água. Aqueles guerreiros mais importantes tinham seus cavalos sacrificados e enterrados a parte. Acreditavam que no mundo dos mortos estes guerreiros ainda precisariam deles. Suas armas e um poste com vários utens
CAPITULO XI A manhã logo chegou e Kaluanã não pregara o olho. Ficara pensando na conversa que tinha tido com Acauã. Suas revelações o haviam impactado profundamente. Não acreditava mais em um dia reaver alguém de sua tribo natal, e mais ainda sendo ele um mestiço. Isso o deixou ao mesmo tempo ansioso e frustrado. Ansioso em querer saber como Acauã chegara até ali e de que tribo ele realmente era descendente. E Frustrado por ser ele um possível Panará a serviço de seus piores inimigos. Desde que o atacara na floresta, viu que usava em seu pescoço aquele colar que lhe era familiar. Quando finalmente lhe arrancou, pode ver o símbolo de sua tribo entalhada nele. Fora isso o motivo de n
CAPITULO XII K aluanã chegou junto com a noite e Apoema o aguardava. Ao vê-lo entrar no arraial foi ao seu encontro. — Vejo que já encontrou suas respostas Kaluanã... — Apoema... — Respondeu surpreso ao vê-lo ali. — Estava a sua espera... — Aconteceu alguma coisa? O prisioneiro? — Não, está tudo bem... Ele continua no mesmo lugar. — Então o quer de mim? — Saber se seus fantasmas ainda o afligem... Kaluanã silenciou-se por um momento. Parecia procurar algo em seus pensamentos. — Muitos deles ainda me cercam Apoema... — Acho que será melhor enfrentá-los de uma v
CAPITULO XIII A pós três dias, logo ao amanhecer, Kaluanã pediu para que trouxessem Acauã até o terreiro. Com um olhar desconfiado, ele acompanhou os guardas sem dizer uma palavra. Esperava qualquer coisa, até a própria morte. Quem sabe se Kaluanã resolveu que seria naquele dia? Enquanto caminhavam, as crianças o acompanhavam curiosas. Ao chegarem ao grande terreiro, Kaluanã os esperava junto a Apoema e toda a tribo. Cerca de cem guerreiros pareciam estar prontos para alguma ação, pois portavam seus arcos, suas bordunas e as aljavas cheias. Pinturas de guerra camuflavam os rostos e curiosamente carregavam muitas das armas que Acauã sabia que eram dos homens de
CAPITULO I O forte alarido, vindo dos grandes sinos do pátio do colégio de São Paulo, alertava em alto e bom som, os habitantes da Villa de Piratininga, que algo de grande vulto estava em andamento. Ansiosos em saber o que ocorria, o povo da Villa largou rapidamente o que estava fazendo e saiu apressado para a praça do colégio. Apinhados no pátio, toda a Villa pode vislumbrar ao longe a chegada de uma das Bandeiras, que meses antes, havia se embrenhado pelos sertões. Isso agitou os corações aflitos daqueles que tinham amigos e familiares entre os Paulistas que compunham as tropas. O que viam, porém, não era aquilo que esperavam. Dos mi