Kara JimenezEu entrei no quarto com tanta presa, que acabei batendo meu joelho fortemente na quina da mesa. Eu quase gritei de dor e a sensação de desespero se misturou com o joelho, que latejava e sangrava ao mesmo tempo.Caminhei com dificuldade até a cama e me sentei, fechando os olhos e tentando não chorar de dor. Aquele joelho mal havia se recuperado do último acidente e já estava me causando dores novamente. A sensação que eu tinha era que eu nunca mais voltaria aos meus dias felizes. A amargura tomou conta do meu coração quando eu pensei que dali a alguns minutos, Gustavo entraria naquele quarto, furioso comigo.Por que tive a brilhante ideia de sair desse quarto para tomar água? Tive tanta presa de saciar minha sede que não vi aquele maldito jarro de flores e me esbarrei nele. Não foram os cacos espalhados no chão que decretou minha ruína, mas certamente o que eu ouvi naquela sala.Bruna traiu o Gustavo com o empresário dele? Aquilo era horrível e alguma coisa me dizia que eu
Gustavo HenriOlhei para a camisa manchada de sangue e fiquei pensando sobre o que eu havia feito. Decerto, Alexandre tinha razão quando dizia que eu estava me permitindo ser afetado pelo que a Bruna havia feito comigo. Eu não tinha nenhum motivo para odiar a Kara, mas nem eu mesmo entendia os meus próprios sentimentos.Foi uma enorme falha ter saído do quarto dela sem exigir minhas condições. Obrigá-la a se manter calada em relação aos meus segredos, mas eu não conseguir reagir. Ouvi-la dizer que não me trairia como a Bruna fizera, me fez baixar todas as minhas defesas.O que afinal estava acontecendo comigo?Me levantei e joguei a camisa ensanguentada no lixo do meu banheiro. A camisa era nova e havia sido um presente dado pela Bruna no meu aniversário. Eu era um homem totalmente desapegado das coisas e não teria nenhuma dificuldade em me desfazer de objeto ou pessoas.Mas, eu não conseguia me desfazer da Kara. Embora soubesse que bastaria dizer que eu estava à procura de uma babá e
KaraEu acordei com o choro de Jasmim e demorei mais do que deveria para me levantar. As noites pareciam intermináveis. Eu acordava a cada duas horas para dar a comida dela e quando amanhecia eu queria ficar na cama por mais oito horas.Aquele trabalho estava de certo modo acabando comigo.Dei um grito agudo assim que coloquei o pé no chão e sentir meu joelho latejar de dor. Caminhei com dificuldade até o berço de Jasmim, pegando-a no colo e indo em direção à cozinha.A primeira pessoa que vi foi a Marta. Olhou para mim com puro desdém e nem sequer me cumprimentou. Enquanto eu caminhava em direção a Antônia, o choro de Jasmim se intensificou e eu estava ao ponto de chorar de tanta dor que eu sentia.— Você está péssima, Kara – eu mal havia reparado que Antônia vinha me observando desde a hora em que eu entrei na cozinha, me analisava minunciosamente, de modo que eu até fiquei sem graça - penso que a Jasmim está dando bastante trabalho para você.”Soltei outro gemido de dor, quando Ant
KaraAntônia percebeu a fúria estampada no meu rosto, e como se lesse meus pensamentos, colocou o corpo na minha frente, impedindo-me de prosseguir.Eu estava pronta para avançar e ir ao encontro de Gustavo para exigir uma explicação.— Eu não posso deixar você ir perturbar o patrão – disse ela, e sua atitude fez minha fúria transcender.— Você não percebe o que ele está fazendo? – meu rosto esquentou, e eu sabia que havia ficado vermelha.— Esse é o seu trabalho, Kara – disse, apontando para Jasmim, que dormia tranquilamente no meu colo – ele não exigiu nada além disso de você.Antônia estava certa. Embora as palavras dela saíssem como um raio que instantaneamente me assustaram, eu não contestei. Engoli toda a minha frustração e recuei. Eu estava enfurecida, mas eu precisava me colocar no meu lugar e entender que ali, dentro daquela mansão, eu era apenas mais uma funcionária.— Não estou dizendo isso para magoá-la, menina – a voz dela continha traços de arrependimento, embora eu não
Tudo era uma grande armação. Não havia encontro nenhum. Eu saí da mansão naquela noite para ir até a casa do Allan e passar um tempo conversando, embora soubesse que ele estaria bastante contrariado com a minha decisão de não permitir que Kara se encontrasse com ele.Um dia ele entenderia os meus motivos, disso eu tinha certeza.Estacionei o carro em frente à casa dele, pensando nas desculpas que eu inventaria para estar ali àquela hora da noite. Toquei o interfone várias vezes, até que um dos funcionários apareceu me avisando que o Alan não estava em casa.O homem não tinha ideia para onde ele havia ido e eu fiquei parado no meio da rua por longos minutos sem saber o que fazer daquele momento em diante. Dirigir de volta para casa, afinal, nada disso importava, uma vez que o meu objetivo principal havia sido alcançado: Kara não sairia para jantar com Allan.Eu precisava arrumar uma maneira de fazer o Allan entender que a Kara não podia ser nada além da minha babá. Com ele por perto, K
Kara Jimenez O silêncio no carro foi avassalador. O maxilar do Allan permaneceu contraído o caminho inteiro como se travasse os lábios dele, impedindo-o de falar qualquer coisa para mim. Me questionei se eu havia feito algo de errado, se a raiva dele era direcionada a mim, porque foi nítido que o Allan estava contrariado devido algo que aconteceu. Enquanto as dúvidas me consumiam, o carro avançava, nos aproximando do nosso destino. Eu não poderia sair daquele carro sem antes entender o que havia acontecido e quando o veículo parou em frente a mansão do Gustavo, eu não me contive e comecei a falar. — O que o Gustavo disse a você para agir assim? Allan girou o pescoço na minha direção e fixou os olhos nos meus. Tentei decifrá-los, mas não conseguir. O Allan soltou um longo e pesado suspiro e manteve-se em silêncio, pensativo. Eu soube que as coisas eram mais graves do que eu imaginei. — Ele pediu para que eu ficasse longe de você. As palavras dele rasgaram minha mente, deixand
Naquela noite, Jasmim não dormiu comigo e, quando saí da mansão, senti um aperto no peito, como se um pedaço de mim estivesse ficando para trás. Sabia que era um erro enorme me apegar a uma filha que não era minha, mas era impossível não me apaixonar por aqueles olhinhos tão pequenos e brilhantes.Fui para a parada de ônibus e, enquanto esperava, fiquei pensando em tudo o que vinha acontecendo na minha vida, desde o dia em que fui atropelada pelo Gustavo. Agora, sem ter para onde voltar, só me restava um lugar onde pudesse passar o meu dia de folga: a casa da Rosa. Estranhei o fato de ela não ter dado mais notícias. Certamente, o último acontecimento na casa do Gustavo, onde ela havia sido acusada de roubo, a deixou tão constrangida que até mesmo se esqueceu de mim.Quando cheguei ao meu antigo bairro, uma nostalgia me consumiu. Não me lembrava de ter vivido em outro lugar a não ser ali. Aquela rua estava cheia de boas lembranças de uma infância feliz, quando ainda tinha o meu pai ao
Mais uma vez, olhei para o relógio. Outros dez minutos haviam passado. Kara estava atrasada mais de vinte minutos e, embora eu não tivesse nenhum compromisso naquela noite, eu estava realmente preocupado e, ao mesmo tempo, furioso com ela.Quando eu já estava reprimindo a raiva que começava a se espalhar dentro de mim como pólvora, Kara entrou na mansão de cabeça baixa, como se fosse incapaz de olhar nos meus olhos. No entanto, eu não disse nada e quando ela levantou os olhos para me olhar, seu rosto estava pálido e seus olhos repletos de lágrimas.Eu não prestei atenção no que ela havia dito porque fiquei perdido no rosto dela, que exalava dor e angústia. Kara correu para o quarto e a porta se trancando foi tudo o que ouvi depois disso.Observei Jasmim dormindo nos meus braços, então a deixei no carrinho e pensei muito se deveria ir até lá entender o que estava acontecendo. Lembrei-me então das palavras do Allan no dia anterior, quando ele insistiu em dizer o quanto não me reconhecia