Sem Compaixão

Sarah

Após a jovem sair e me dizer para aguardar pelo "senhor", me recostei no convés luxuoso e olhei a noite estrelada. Ele havia pago dois milhões de dólares para desvirginar uma mulher, algo que considero arcaico. No entanto, ao que parece, ele não tem pressa em receber seu "prêmio". 

Pensei sobre como ele seria fisicamente e em termos de personalidade, algo que nunca tinha considerado antes. Fiquei ali pensando, observando a noite, por um tempo desconhecido. Apesar do nervosismo inicial, agora me sentia mais tranquila. Talvez, por sorte, ele tivesse desistido e eu não precisaria me entregar a um estranho asqueroso.

Minhas esperanças desmoronaram quando ouvi passos se aproximando e a angústia tomou conta de mim. Pensei que pudesse ser outro membro da tripulação ou até mesmo a jovem anterior vindo me dizer que o "senhor" não viria mais.

No entanto, ao me virar na direção dos passos, vi um homem extremamente bonito, mas com a palavra "perigo" escrita em sua testa de forma evidente.

Senti um calafrio, mais de medo do que de excitação, apenas com o seu olhar penetrante que parecia me despir e me deixou sem palavras.

— Espero que não tenha ficado chateada pela minha demora — Ele falou e, apesar das palavras, ele não parecia sentir nenhum pouco. 

— Não fiquei — Eu disse, mantendo um tom de voz tranquilo, apesar das sensações que estavam se alastrando pelo meu corpo apenas em olhar para aquele homem. 

— Ótimo, então. 

Ele tentou fazer um esgar que parecia um sorriso, mas sem sucesso. Seu olhar avaliativo revelava sua satisfação e senti um arrepio percorrer meu corpo.

Como eu poderia ter uma intimidade com aquele homem se apenas o seu olhar me fazia desejar fugir? Ele parecia perigoso e minha segurança estava em jogo.

Olhei ao redor e percebi que não teria coragem de prosseguir com aquilo. Era hora de desistir antes que fosse tarde demais.

— Pensando em desistir? — Ele perguntou, parecendo ler os meus pensamentos. 

— Sim - Confessei. 

— Já é tarde demais — Ele falou e seu tom exalava uma frieza que me deixou aterrorizada. 

— Eu não posso… Não vou conseguir! – Falei, alarmada. 

— Vamos jantar.  

Olhei incrédula. Como ele esperava que jantássemos normalmente depois de eu confessar minha incapacidade de continuar? Antes que pudesse dizer algo, dois garçons apareceram, servindo o jantar. Relutantemente, obedeci quando ele indicou que eu me sentasse. 

Eu sabia que estava em desvantagem, presa em um iate com um homem frio e calculista. Brincar com o perigo não era uma opção. O melhor a fazer era tentar convencê-lo de que aquilo não aconteceria mais, devolver seu dinheiro e, talvez, até encontrar outra pessoa para atender seu fetiche por virgens.

Kael

Olhei para a bela garota a minha frente, que parecia estar bastante nervosa, se a movimentação constante de suas pernas por baixo da mesa fosse realmente um indício disso, mas não senti nenhum pouco de compaixão por ela. 

Ela poderia enganar algum desavisado, que não a conhecesse como eu a conhecia, mesmo nunca tendo encontrado com ela pessoalmente. Mesmo assim, eu sabia mais sobre ela do que várias das pessoas de seu próprio convívio. 

Acredito até que nem mesma a Sarah, sua irmã gêmea, tinha conhecimento do quanto a Rachel era egoísta, além de ser também uma manipuladora mesquinha, que conseguia com que as pessoas fizessem sempre o que ela desejava, sem que estas conseguissem nem mesmo se dar conta daquilo, que estavam sendo manipuladas. 

Mas agora não era hora de pensar na irmã “boazinha”. Resolveria isso mais tarde. Para não ser injusto, eu faria o que prometi a Patrick: comprar sua empresa e pagar suas dívidas de jogo, assim também posso evitar problemas com Ryan.

— Podemos conversar de maneira civilizada agora?  

Rachel falou ao depositar os talheres ao lado do seu prato, mas já havia percebido, porém, que ela mal havia tocado na comida. Eu não estava nenhum pouco preocupado com sua alimentação, no entanto. 

— Nós conversamos de maneira civilizada desde que eu cheguei aqui, não concorda? 

Ela suspirou resignada e estranhei a forma como ele se entregava tão facilmente. Imaginei que a Rachel seria uma leoa, lutando pelo que queria até o fim, sem baixar a cabeça para ninguém. Esse foi o desenho que fiz dela, a partir de tudo que tomei conhecimento ao seu respeito. 

— Posso saber ao menos o seu primeiro nome? 

— Não entendo porque essa insistência em saber algo tão banal como o nome de alguém. Eu poderia falar qualquer nome, apenas para satisfazer a sua curiosidade, mas não acredito que precisamos realmente trocar falsas gentilezas. 

— Não existem “falsas gentilezas”, senhor — Ela teimou, parecendo até mesmo um pouco abatida — Como posso conversar com uma pessoa se nem mesmo o nome dela eu sei? 

Ela está enganada se pensava que me conquistaria com sua fachada de garota frágil. Eu ainda não tinha revelado minha verdadeira personalidade, que era pior do que suas queixas sobre meu comportamento rude. 

Preciso reconhecer que ela é realmente uma excelente atriz, capaz de enganar a todos. Surpreendentemente, ela não havia tentado seduzir-me ou me embriagar. Talvez planejasse algo mais sinistro, como colocar algo na minha bebida. Seu vestido preto era atraente, mas ela não estava usando isso para me manipular como costumava fazer.

— Eu acredito que apesar de estarmos aqui com um propósito, nós podemos ser cordiais um com o outro. Não estamos aqui como inimigos em um campo de batalha. 

— Você falou que queria conversar de maneira civilizada. Diga-me, o que deseja? 

Eu não estava com paciência para enrolação. Fiquei repetindo em minha mente que a Rachel não ia conseguir me enganar como ela fazia com todo mundo e aquela falsa cara de inocente que ela tentava manter, não iria me amolecer. 

Ela precisava aprender uma lição e saber que nem todos são bobos e caem na sua balela de conversa civilizada.  

— Eu não posso — Ela falou e parecia estar se sentindo derrotada — Eu pensei que eu ia conseguir, mas eu não posso. 

— Você teve tempo suficiente para saber se iria conseguir ou não e agora não é hora de voltar atrás. 

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