VIKTOR— Vai, sogrinho, mostra do que é capaz! — provoco Rafael, rindo, depois de tirar 100% no simulado de tiros.— Vai à merda, garoto! Antes de você sair das fraldas eu já era o melhor atirador, porra! — ele resmunga, visivelmente irritado com a minha pontuação.— Pois é... aí eu nasci e virei o melhor. — digo, com um sorriso debochado.Provocar Rafael é um dos meus esportes favoritos. Ele sempre cai. Mas a verdade é clara: eu sou melhor, e ele sabe disso.Ele atira. Vinte tiros, três raspam perigosamente perto dos alvos civis. Resultado: 70%. A cara dele de ódio é o melhor prêmio.— Eu avisei, Rafa. Eu sou o melhor! — digo, abrindo os braços como se tivesse acabado de ganhar uma olimpíada.— Vai pro inferno, Ivanov! — ele sai da sala pisando forte, visivelmente puto da vida.O celular vibra no bolso. Quando vejo o nome dela na tela, meu sorriso se alarga. Mal posso esperar pra contar da minha vitória. Mas quando atendo...A voz dela.Cheia de medo.A alegria evapora. Meu coração d
ISABELLAMinha cabeça lateja. Sinto meu corpo pesado, como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. Tento mexer um dedo, uma perna, qualquer coisa... mas nada responde. O que está acontecendo?As vozes ao longe me puxam de volta. As duas são familiares. Viktor e Josh. Meu noivo e meu melhor amigo. Uma onda de alívio me invade,eles estão aqui. Eles estão comigo.Mas... onde eu estou?Por que eles estão me vendo dormir? Por que meu corpo não obedece?E então, como um filme, as lembranças explodem em flashes: o restaurante... a risada de Alek... três carros... os tiros... o caos... a explosão. O desespero por não conseguir reagir. O medo de morrer. Livia? Alek? Onde eles estão?O som do monitor cardíaco me dá a resposta: hospital.— Vai pro inferno,moleque imbecil. Você nunca teve chance! — Viktor rosna baixo.A tensão na sua voz me faz estremecer.O quê? O que está acontecendo?— Eu sempre amei ela. Sempre vou amar. Você querendo ou não, Ivanov! — Josh cospe as palavras com raiva
VIKTORAgora que minha mulher está fora de perigo, o médico confirmou: recuperação completa. Só mais alguns dias sob observação. Melissa veio da Itália pra ficar com a filha,e isso me dá liberdade pra focar no que realmente precisamos agora.O plano de ataque.Descobrimos um rato infiltrado entre os homens de Guilherme. Em vez de exterminar o desgraçado, deixamos ele acreditar,junto com todos os outros,que Isabella não resistiu. Ronaldo, o bastardo, teve a cara de pau de mandar os pêsames hoje de manhã. Que filho da puta otário. Mal sabe ele que virou piada no nosso grupo.Deixamos o traidor vazar informações falsas. Agora, vamos alimentar ele com localizações erradas de depósitos importantes,pra logo depois mandar ele direto pro inferno.Meus irmãos e cunhados encontraram os vermes que atacaram Isabella, Livia e Alek. Todos morreram sem abrir a boca. Ronaldo pode ser um merda, mas tem homens leais,ou simplesmente burros demais pra questionar um lunático.Pra encenação funcionar, deix
ISABELLATiros. Gritos. O cheiro de pólvora no ar.Estou agarrada à minha mãe, chorando desesperada. Meu coração bate tão forte que parece querer rasgar meu peito. Por que isso está acontecendo? Por que querem nos machucar?A porta é arrombada com um estrondo que ecoa por toda a sala. Um homem surge na entrada.— Te achei, sua desgraçada — ele rosna, o sotaque estranho tornando suas palavras ainda mais aterrorizantes.Ele aponta a arma para mim, um sorriso macabro no rosto. O som do disparo explode nos meus ouvidos.— ISABELLA! — O grito da minha mãe é a última coisa que escuto antes da escuridão me engolir.Acordo ofegante.O despertador toca ensurdecedor ao meu lado. Meu coração ainda está disparado, e a sensação horrível do sonho persiste. De novo, esse pesadelo. Se eu contar para minha mãe, ela vai dizer que minha imaginação é fértil demais. Mas por que isso parece tão real?Sacudo a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Hoje é o primeiro dia do último a
ISABELLA Entramos no avião. Minha irmã se senta ao meu lado, os olhos fixos em nosso pai, esperando,não exigindo,uma explicação. Quando percebe que ele não diz nada, ela explode: — E então? Vai explicar que merda está acontecendo ou temos que implorar? — Livi nunca teve paciência para rodeios. Nosso pai solta um suspiro pesado. Seu olhar carrega um peso sombrio, como se estivesse prestes a abrir uma ferida que nunca cicatrizou. — Eu vou contar tudo. Vocês merecem saber a verdade. O silêncio que se segue é ensurdecedor. — Há vinte e dois anos, sua mãe fugiu do país onde morava, Rússia.Seu avô… — ele hesita, escolhendo as palavras com cuidado — é um homem cruel e detestável. Ele queria obrigá-la a se casar com um velho de setenta e cinco anos, ainda mais asqueroso que ele. Meu estômago revira. — A única alternativa dela foi fugir. Um soldado infiltrado do meu pai, que é o chefe da máfia nova iorquina, a ajudou a escapar. Trouxeram Melissa para a América, onde ela ficou s
ISABELLA Pousamos no Queens no meio da madrugada. O sono pesava, mas o frio na barriga falava mais alto. No momento em que descemos do avião, carros enormes e blindados já nos esperavam. Meu pai e meu tio saíram cumprimentando aqueles homens com tanta empolgação que até parecia reencontro de novela mexicana. Assim que entro no carro, faço questão de me certificar de que estou em um diferente de dona Melissa. Ainda não estou pronta para falar com ela. E se eu entrar no mesmo carro, vai que ela tenta puxar assunto? Prefiro evitar o risco. Nem percebo o tempo passar, só noto que chegamos quando os carros param. Olho pela janela e me deparo com um condomínio imenso: quatro mansões enormes e várias casas germinadas ao redor. O carro estaciona em frente à maior delas. Parece coisa de filme. Antes mesmo de absorver a grandiosidade do lugar, noto uma movimentação na porta da casa. Uma senhora sorridente surge acompanhada de um senhor elegante. — Vovó! Vovô! — Eu e meus irmãos gritam
ISABELLA Acordo me sentindo mais leve. Depois de uma noite bem dormida em uma cama digna de princesa, boa parte da angústia se dissipou. Ainda estou magoada com minha mãe, mas sei que não posso ficar sem falar com ela para sempre,especialmente agora, com essa guerra contra a família dela prestes a explodir. Me levanto e pego o celular: 15 chamadas perdidas e 50 mensagens não lidas. Josh. Meu melhor amigo desde os seis anos. Conheci ele no primeiro dia de aula, quando o encontrei apanhando de um valentão. Sem pensar, me joguei no meio da briga e gritei o mais alto que pude para chamar a atenção da diretora. Funcionou. Desde então, nunca mais nos desgrudamos. Hoje, ele é o capitão do time de hóquei e conseguiu uma bolsa para estudar engenharia em Nova York. O plano sempre foi irmos juntos,ele engenharia e eu artes,mas parece que a vida tinha outros planos. Sento na cama e ligo para ele antes que o senhor do drama decida sequestrar um helicóptero para me encontrar. — ALÔ,
ISABELLA Hoje é o nosso primeiro dia na imprensa. Logo pela manhã, teremos uma reunião por vídeo chamada com Nathanael, o chefe da máfia de Chicago. Ele é nosso aliado e guarda nossos melhores armamentos sem levantar suspeitas. Em troca, ajudamos a construir um dos maiores bunkers da região, com o acordo de usá-lo como bem quisermos. Além disso, Nathanael é pai de Romeu,marido da minha tia Emília e melhor amigo do meu avô. Desde as quatro da manhã, estou dentro do meu closet, revirando cada peça de roupa na tentativa frustrada de encontrar algo perfeito para vestir. Nada parece bom o suficiente. Pedir ajuda para minha mãe está fora de questão. Ela ainda não superou o fato de que eu e minha irmã escolhemos "essa vida", como ela sempre diz. As discussões intermináveis entre ela e meu pai são a prova de que, no fundo, seu problema não é a escolha em si, mas o medo de nos perder. Quando o relógio marca seis horas, desisto. Pego qualquer roupa, minha bolsa, escondo a arma na cintura e s