— Isso é ridículo... — Rebati abruptamente.
Não era tão ridículo, porque eu estava realmente me sentindo assim. Só que assumir isso em voz alta era absurdo. Eu não podia gostar de dois homens ao mesmo tempo, era errado, obsceno. Era como se estivesse pisando numa linha perigosa, e não fizesse ideia de como voltar atrás, ou parar de fazer o que estava fazendo. Não tinha como parar ou voltar. As coisas estavam tomando proporções estapafúrdias e tudo o que eu conseguia fazer agora era olhar para Thomas e sentir meu corpo todo reagir com borbulhas. Ardendo por um sentimento que se recusava a morrer.
— Ah, é? — indagou ceticamente — Thomas enfiou a mão no bolso de dentro do palito e sacou a carteira, deixando uma nota de cinquenta embaixo do copo dele, e eu fiquei ali, parada, observando-o se movimentar com mais pressa. — Se é t
Eu só precisava pegar a minha Licença e ir embora. Minha mãe seria internada hoje no final da tarde e tudo o que eu queria era passar esse momento com ela. A minha sala estava impecavelmente arrumada. Chegara cedo para limpar todos os arquivos, textos, pesquisas do computador quando Lorena empurrou a porta antes de entrar.— Sua mãe está bem? — indagou num olhar compassivo, desvencilhando-se da cadeira.Assenti que sim num gesto contido de cabeça. Ela estava melhor do que se esperava. Tinha abandonado o estágio de depressão e estava passando pela aceitação.Dizem que as coisas ficam melhores quando você apenas as aceita como são e estava feliz pela forma como minha mãe estava conseguindo lidar com a situação.Lorena se apoiou nos braços da cadeira giratória e enquanto se sentava nela perguntou:— E você?
— Me desculpe, mas eu preciso ir.Essa foi a última coisa que Samuel disse antes de desligar o telefone e o bipe frequente e constante ressoar com o encerramento abrupto da chamada.Samuel tinha ido, apressado e ocupado como sempre.O bolo não me desapontou tanto, porque estava ocupada demais analisando Thomas do outro lado do recinto. Era errado olhar assim para ele. Eu tinha consciência disso, mas ainda assim, eu fiquei ali, parada, com os lábios entre abertos, vislumbrando-o à distância, incapacitada de fazer outra coisa, pois ele estava tão incrivelmente bonito sob a camisa social bordô posta para dentro da calça de alfaiataria preta, suspensa pelo cinto de couro e fivela prateada na altura perfeita do quadril. O meu olhar vagou mais pelo corpo dele, seguindo os braços fortes, com algumas veias mais protuberantes do que outras, surgindo dos nós dos dedos e sugerindo
A mulher de cabelos compridos e soltos da mesa se levantou da cadeira e cumprimentou Samuel, dando-lhe um aperto de mãos.Eu não conseguia ver o rosto dela, mas eu me senti enciumada só pelo que estava vendo de suas costas. Se tratava de uma mulher esguia e curvilínea, de pele levemente bronzeada e divinamente coberta por um vestido preto liso de ceda, marcado na cintura e rodado na parte da saia, escandalosamente decotado nas costas definidas; com uma faixa em forma de gola devidamente ajustada ao pescoço. Os cabelos brilhantes reluziam a luz ao correr por sobre as costas e cair pelos ombros quando ela se inclinou, iniciando uma conversa.Samuel me olhou rapidamente por cima do ombro dela e naquele breve momento, uma pontada cortou meu coração ao ver o quanto eu o havia decepcionado agora. Ver o desapontamento explicito no reflexo dos olhos dele me fez suspirar ruidosamente.O que eu estava fazendo?
Devemos estar felizes pelas coisas que fazemos a quem amamos, você só não pode se afundar nisso. Não faz mal ser um pouco egoísta às vezes.Você só precisa tomar uma decisão e jogar limpo com as outras pessoas, e principalmente com você mesmo. Eu queria ter me dado conta disso antes, mas eu estava tão preocupada com a decepção que causaria às pessoas se fizesse uma escolha, que me afundei num mar de dúvidas e receios.Havia passado tanto tempo dizendo a mim mesma o quanto estava apaixonada por Samuel, que isso passou a ser a minha verdade, ele era tão bom e eu pensei que poderia amá-lo da mesma forma que amava Thomas, mas mesmo que eu tentasse, isso não aconteceria. Nenhum amor é igual ao outro, e quando Thomas saiu do passado direto para o meu presente, tudo mudou, e essa verdade começou a mexer com a minha cabeça e desfez tud
— Eu quero saber o que te faz pensar que vir aqui e me dizer tudo o que... — Thomas parecia ressentido, e o tom que usara para se expressar não desmentia. — bem... isso... vai fazer tudo ficar bem entre a gente depois de tudo? — Thomas indagou, bebericando da bebida em seu copo.Mesmo que o ressentimento dele estivesse em evidência, eu não me deixei abater. Avancei dois passos e abri a boca duas vezes antes de me pronunciar de fato.— Eu sinto muito. Às vezes eu sou teimosa demais para dar o braço a torcer.Eu realmente sentia, mas Thomas não pareceu se importar muito quando devolveu o copo para a mesa e apoiou-se no móvel, cruzando os braços e inclinando o pescoço para me encarar obliquamente com os olhos, o que lhe conferia um grande ar arrogante.— Alguém já te disse que você se desculpa demais?Fiquei inerte e em silêncio,
— Como você está, mãe?— Melhor do que ontem. — Minha mãe brincou do sofá, abrindo um sorriso espontâneo.As coisas estavam começando a melhorarem. Mamãe estava encarando a cirurgia de uma forma mais otimista. As sessões de quimioterapia ainda não tinham começado, mas depois do que ela passou, estava feliz em ver que ela estava tentando passar por isso da melhor forma possível.— Vocês parem! Ciça está melhor do que a gente. — Fernanda brincou depois de sair do quarto e se sentar na banqueta atrás do balcão. — Olha só esses peitos maravilhosos e turbinadíssimos.— Ainda dói bastante. — Minha mãe comentou.— Você vai ver que vai valer a pena. — Fernanda disse, virando o rosto por cima do ombro para olhá-la. — Eu também tenh
É engraçado como o nosso cérebro nos prega peças. Eu sabia, ou pelo menos, o meu subconsciente sabia, que Thomas estava brincando comigo. Tudo não passava de um jogo de vingança para me magoar e mesmo assim, havia me entregado de bandeja para ele quebrar meu coração. Eu precisava voltar ao trabalho, mas quando o elevador passou pelo andar em que deveria estar, fui incapaz de descer. Saí da Parilla e resfoleguei o ar da rua. Passando a mão entre os cabelos e buscando me reorientar. Não era o fim do mundo, mas doía tanto que parecia ser. Ele tinha me enganado apenas para me magoar. Como ele poderia ser tão baixo? Indaguei a mim mesmo, buscando uma resposta no horizonte onde n&a
Samuca. Até agora era a pessoa que menos havia me magoado e eu não fizera o mínimo esforço de explicar o que estava acontecendo comigo.Naquele momento, ficar de frente para a entrada do escritório dele me fez suspirar ruidosamente antes de tomar uma atitude. Mas eu precisava fazer isso. Samuel precisava, pelo menos, de uma satisfação.— Laura... — disse com a voz fraca.Laura ergueu a cabeça e me fitou com os olhos nervosos e maiores.— Nina... — ela tremeu na hora de falar.— Samuel ainda está por aqui? — indaguei. — Gostaria muito de conversar com ele.Laura abandonou o bloquinho de anotações e começou a levar a mão em direção ao ramal que ficava na mesa ao lado.— Senhorita Nina, talvez não seja uma boa hora, mas eu vou ligar para confirmar. Tudo bem? — Indagou.<