A mulher de cabelos compridos e soltos da mesa se levantou da cadeira e cumprimentou Samuel, dando-lhe um aperto de mãos.
Eu não conseguia ver o rosto dela, mas eu me senti enciumada só pelo que estava vendo de suas costas. Se tratava de uma mulher esguia e curvilínea, de pele levemente bronzeada e divinamente coberta por um vestido preto liso de ceda, marcado na cintura e rodado na parte da saia, escandalosamente decotado nas costas definidas; com uma faixa em forma de gola devidamente ajustada ao pescoço. Os cabelos brilhantes reluziam a luz ao correr por sobre as costas e cair pelos ombros quando ela se inclinou, iniciando uma conversa.
Samuel me olhou rapidamente por cima do ombro dela e naquele breve momento, uma pontada cortou meu coração ao ver o quanto eu o havia decepcionado agora. Ver o desapontamento explicito no reflexo dos olhos dele me fez suspirar ruidosamente.
O que eu estava fazendo?
Devemos estar felizes pelas coisas que fazemos a quem amamos, você só não pode se afundar nisso. Não faz mal ser um pouco egoísta às vezes.Você só precisa tomar uma decisão e jogar limpo com as outras pessoas, e principalmente com você mesmo. Eu queria ter me dado conta disso antes, mas eu estava tão preocupada com a decepção que causaria às pessoas se fizesse uma escolha, que me afundei num mar de dúvidas e receios.Havia passado tanto tempo dizendo a mim mesma o quanto estava apaixonada por Samuel, que isso passou a ser a minha verdade, ele era tão bom e eu pensei que poderia amá-lo da mesma forma que amava Thomas, mas mesmo que eu tentasse, isso não aconteceria. Nenhum amor é igual ao outro, e quando Thomas saiu do passado direto para o meu presente, tudo mudou, e essa verdade começou a mexer com a minha cabeça e desfez tud
— Eu quero saber o que te faz pensar que vir aqui e me dizer tudo o que... — Thomas parecia ressentido, e o tom que usara para se expressar não desmentia. — bem... isso... vai fazer tudo ficar bem entre a gente depois de tudo? — Thomas indagou, bebericando da bebida em seu copo.Mesmo que o ressentimento dele estivesse em evidência, eu não me deixei abater. Avancei dois passos e abri a boca duas vezes antes de me pronunciar de fato.— Eu sinto muito. Às vezes eu sou teimosa demais para dar o braço a torcer.Eu realmente sentia, mas Thomas não pareceu se importar muito quando devolveu o copo para a mesa e apoiou-se no móvel, cruzando os braços e inclinando o pescoço para me encarar obliquamente com os olhos, o que lhe conferia um grande ar arrogante.— Alguém já te disse que você se desculpa demais?Fiquei inerte e em silêncio,
— Como você está, mãe?— Melhor do que ontem. — Minha mãe brincou do sofá, abrindo um sorriso espontâneo.As coisas estavam começando a melhorarem. Mamãe estava encarando a cirurgia de uma forma mais otimista. As sessões de quimioterapia ainda não tinham começado, mas depois do que ela passou, estava feliz em ver que ela estava tentando passar por isso da melhor forma possível.— Vocês parem! Ciça está melhor do que a gente. — Fernanda brincou depois de sair do quarto e se sentar na banqueta atrás do balcão. — Olha só esses peitos maravilhosos e turbinadíssimos.— Ainda dói bastante. — Minha mãe comentou.— Você vai ver que vai valer a pena. — Fernanda disse, virando o rosto por cima do ombro para olhá-la. — Eu também tenh
É engraçado como o nosso cérebro nos prega peças. Eu sabia, ou pelo menos, o meu subconsciente sabia, que Thomas estava brincando comigo. Tudo não passava de um jogo de vingança para me magoar e mesmo assim, havia me entregado de bandeja para ele quebrar meu coração. Eu precisava voltar ao trabalho, mas quando o elevador passou pelo andar em que deveria estar, fui incapaz de descer. Saí da Parilla e resfoleguei o ar da rua. Passando a mão entre os cabelos e buscando me reorientar. Não era o fim do mundo, mas doía tanto que parecia ser. Ele tinha me enganado apenas para me magoar. Como ele poderia ser tão baixo? Indaguei a mim mesmo, buscando uma resposta no horizonte onde n&a
Samuca. Até agora era a pessoa que menos havia me magoado e eu não fizera o mínimo esforço de explicar o que estava acontecendo comigo.Naquele momento, ficar de frente para a entrada do escritório dele me fez suspirar ruidosamente antes de tomar uma atitude. Mas eu precisava fazer isso. Samuel precisava, pelo menos, de uma satisfação.— Laura... — disse com a voz fraca.Laura ergueu a cabeça e me fitou com os olhos nervosos e maiores.— Nina... — ela tremeu na hora de falar.— Samuel ainda está por aqui? — indaguei. — Gostaria muito de conversar com ele.Laura abandonou o bloquinho de anotações e começou a levar a mão em direção ao ramal que ficava na mesa ao lado.— Senhorita Nina, talvez não seja uma boa hora, mas eu vou ligar para confirmar. Tudo bem? — Indagou.<
A terça-feira chegou rápido e cá estava eu, no elevador com Mari, Lor, Fred e Fê seguindo para o meu andar de trabalho totalmente envolvidos na discussão do novo relacionamento do momento. — Eu não faço a menor questão de esconder o quanto estou achando vocês esquisitos. — Lorena dizia quando a porta se abriu. Fernanda estreitou os olhos para Lor, mas a porta do elevador foi mais rápida e nós tivemos uma visão panorâmica do que estava acontecendo no quinto andar. Thomas estava de frente para nós e Hector cabeceava a confusão com Verônica, uma mão no quadril e a outra balançando no ar. Ele me pareceu um francês cordial e muito educado, no entanto, a levar em consideração o rosto vermelho, a expressão de aborrecimento e a forma como as palavras lhe saiam rapidamente pela boca, ele não estava assim tão agradável. — O que é isso? — Fred perguntou, mais para si do que para nós mesmo, avançando em direção a agitação. — Os tecstos n
— Carolina quer falar com você — Lorena notificou, antes mesmo que eu me sentasse na cadeira. Fred surgiu a passos seguros da direção do balcão de Lor até que eu pude ouvir. — Ãm, ãm, ãm... Não pense que vai fugir de mim. Vamos, eu preciso da sua ajuda.Lor revirou os olhos e suspirou, soltando da porta como se tudo não passasse de uma grande tortura mental.— Quarta-feira agitada. — Comentou, antes de sair.Certo. Suspirei também. Carolina quer falar comigo.— Eu não quero você olhando assim para mim, Lor. — Fred resmungou enquanto Lor seguia em sua direção. — Nós somos amigos.— Não. — Lor exclamou. — Eu sou a su
A sexta-feira havia chegado e não foi sozinha. Arrumar duas malas de viagem nunca tinha sido tão desesperador até ontem, mas depois de me debulhar em lágrimas e tomar vinho o bastante para me deixar anestesiada, tudo parecia ficar bem.Eu não podia abrir mão dessa oportunidade e por mais que estivesse morrendo de medo de encarar o novo, tratei de erguer a cabeça, engolir qualquer sentimento de que tudo poderia dar errado e caminhei sobre meus saltos, inflando o peito e injetando todo o estoque de confiança que havia armazenado ao longo da vida.— Não dá pra viver à sombra do medo, minha filha.Até que mamãe estava fazendo um bom trabalho em me reconfortar e essa tinha sido a coisa mais poética que eu já tinha ouvido de sua boca nos últimos tempos.Mas não é um conselho fácil de ser seguido. Sem medo.Era muito f