II

Não houve nada de especial naquela tarde em Bruxelas. Fizemos a nossa apresentação normal: um breve desfile das estrelas do show com papai apresentando-os e contando suas supostas histórias de vida - sempre muito fantasiosas e cheias de exotismo, claro! - um número de dança, um número de música e uma pequena peça cômica. Não costumávamos andar pela cidade ou sair de perto da nossa pequena caravana, especialmente aqueles que tinham alguma peculiaridade física - se as pessoas estavam dispostas a pagar para vê-los, porque se mostrariam de graça? Eu e Ivan brincávamos bastante ao ar livre, mas sempre onde não havia ninguém. Meu pai e Madame Louise eram os responsáveis por trazer-nos as coisas que precisávamos do mercado e eu às vezes os acompanhava.

Naquele dia, enquanto comprávamos alguns víveres, um senhor de meia idade, muito bem vestido, abordou meu pai, perguntando-lhe se poderíamos fazer uma apresentação em sua casa e combinando com ele os detalhes. Não dei muita atenção, afinal, como já contei, isso não era um evento incomum.

O castelo do duque de Arenberg era uma construção sólida e escura por fora, mas teve seu interior agradavelmente decorado. Havia muitas flores e uma profusão de bibelôs e vasos chineses, remetendo, em minha mente, à delicada moradia dos anjos. O único detalhe destoante eram escuras e pesadas cortinas que pendiam das janelas. O duque estava recebendo visitas e havia várias pessoas nos aguardando no salão quando entramos.

Tudo se passou absolutamente dentro do esperado, as pessoas assistiram mais ou menos chocadas, de acordo com sua sensibilidade, algumas davam suas opiniões supostamente científicas sobre as nossas diferenças e, ao final, observavam mais de perto e, até mesmo trocavam algumas palavras com os artistas mais exóticos. Eu, é claro, ficava praticamente esquecida, pois, além de meu pai, era a única que não possuía uma característica especial. Mas, como administrador da companhia, ele sempre era consultado sobre qualquer coisa. Naquela manhã, porém, pela primeira vez um desses nobres expectadores me dirigiu a palavra.

"A senhorita toca o cravo muito graciosamente."

Foi um elogio breve, inesperado e estranho - já que eu não era nenhuma virtuose e, tocar cravo era algo ridículo num meio onde todos tocavam piano. Um tanto intrigada e muito tímida, agradeci a cordialidade, mas logo a jovem senhora que acompanhava meu estranho admirador acrescentou:

"Por que não a convidamos para nosso pequeno sarau? Eu particularmente gostei de como a senhorita atua com tanta naturalidade. Acho que seria muito agradável vê-la declamar alguns poemas... Conhece alguns, não?"

Os dois ou três segundos que demorei para responder à minha nobre interlocutora me pareceram uma eternidade de ceticismo e dúvida.

"Sim. Gosto muito de ler poesia." - respondi gaguejando.

"Por favor, meu irmão?"

Ela pedia ao rapaz que primeiro me interpelara. Devia ser pouco mais jovem do que eu era então, tinha os cabelos de um bonito tom de caramelo, a pele absurdamente clara e profundos olhos azuis, de uma nuance próxima ao lilás. Trajava um belo vestido florido, um modelo um tanto casual que combinava muito bem com a espontaneidade de sua dona.

"Eu não sei Charlotte, temos de pedir ao senhor que é o patrão dela. E temos de pedir ao tio Eddy, afinal, estamos na casa dele."

Charlotte. Nunca me esquecerei de como achei-lhe bonito o nome. Eu achava tudo nela lindo!

Mais tarde, no nosso acampamento, minha mãe alertou-me para a estranheza desse convite.

"Lori" - ela disse - "Pessoas como eles não costumam convidar pessoas como nós para participarmos de suas diversões. Nós somos a diversão. Tome cuidado para não se magoar."

Ela fez uma longa pausa, ainda tentando compreender o que se passara.

"É realmente estranho que, dentre todos nós, tão peculiares, eles tenham escolhido você para ser a atração da festa. Mas, enfim. Você já aceitou o convite e não é de bom tom desistir..."

"Ora, Gerde! Você não está dando os conselhos certos!" - Louise, que estivera apenas escutando, interrompeu-a.

"Lori, você é uma ótima atriz. Você sabe como rir quando está triste, você é capaz de mudar de personalidade num segundo quando é necessário. Você tem tudo o que precisa para lidar com situações inesperadas. Eles te convidaram como se fosse uma deles e é assim que você deve entrar naquele salão: como um membro da nobreza. Se quiserem rir de você, faça-os rir, mas deixem que saibam que este é o seu trabalho e que você não se sente nem um pouco rebaixada com isso."

Esse foi um dos melhores conselhos que já recebi: usar a minha arte a meu favor. Atuar não era apenas para os palcos, mas para toda a vida. De qualquer maneira, não teria muita oportunidade de atuar em companhia do barão van der Heyden e seus dois irmãos.

Na noite seguinte, coloquei meu melhor vestido e as mulheres da companhia me aconselharam a não usar qualquer maquiagem. Minha mãe fez um de seus belos penteados em meu cabelo e me emprestou algumas das joias que possuía. Meu pai me levou numa das carroças até o castelo, enquanto Ivan resmungava que eu não deveria ir porque seria um completo tédio.

O mordomo me levou a sala de forma indiferente, mas fui acolhida com alegria pela minha jovem anfitriã. O duque e a esposa não se encontravam, mas não impediram que a adorada "sobrinha" fizesse sua pequena reunião e convidasse quem melhor lhe aprouvesse. Os jovens van der Heyden eram filhos de um antigo amigo do duque de Arenberg - dono do castelo onde estavam hospedados - e era a primeira vez que este via os dois mais novos. O pai deles falecera há pouco tempo e a pequena, recentemente "desenvolvera uma terrível fotofobia". Arenberg ficara feliz em recebê-los e não cansava de oferecer-lhes qualquer ajuda que precisassem, pois devia a vida ao falecido barão van der Heyden.

"Senhorita Lorelei! Fiquei com medo que não viesse! Meu irmão disse que a senhorita viria, mas, não sei... Eu tenho tido poucas visitas!" - Ela me pegara pela mão e me conduzira a um sofá, oferecendo-me docinhos.

"Olha só, Willem, quem está aprendendo a ser uma anfitriã!"

"Ah, que distraída eu sou! Senhorita Lorelei, esses são meus irmãos. Aaron você já conheceu, mas Willem é mais tímido."

Eles eram bastante parecidos e deviam ter dez anos de diferença na idade. Willem, o mais novo, aparentava ter por volta de dezoito anos, cabelos bastos, encaracolados, de um castanho escuro que contrastava belamente com seus olhos claros. Aaron assemelhava-se em tudo ao irmão mais novo, mas seus olhos eram profundos e sua tez muito pálida. Quando toquei sua mão, notei que ela estava gelada, mas não fiz nenhum comentário. Ele demorou-se alguns segundos olhando em meus olhos e senti como se me perscrutasse a alma. Fiquei um pouco assustada, mas senti um certo prazer naquilo. Como se um amigo houvesse me compartilhado um segredo.

Tive uma noite agradabilíssima com os van der Heyden. Tocamos cravo e Charlotte me deu algumas noções de piano. Recitamos algumas poesias e ela com o irmão mais novo interpretaram um trecho de “Lucio Silla”.

"Oh, senhorita Lorelei, a senhorita deveria mesmo ir à ópera algum dia, é uma bela combinação de música e teatro, todos nós adoramos, não é?!"

Era um conceito simplista sobre tal forma de arte que mais tarde eu passaria a conhecer como a palma de minha mão, tendo sido companheira de um de seus maiores mecenas e de um de seus maiores artistas e estudiosos. Essa foi a primeira reflexão sobre ópera que ouvi e, nunca poderia prever que, anos depois, passaria horas a fio escutando outras muito mais apaixonadas e profundas - às vezes, até um pouco demasiadamente. Eu tenho um apreço especial pelas artes e gosto de conversar sobre o assunto, mas um pouco de frivolidade e frescor são um bom tempero quando usados aqui e acolá.

Quando finalmente chegou a hora de partir, minha nova amiga, que eu achava que nunca mais veria, despediu-se efusivamente - como tudo o que fazia - agradecendo-me pela companhia. Foi então que me contou que quase não tinha amigos, devido a sua triste doença que a fazia estar em quartos escuros durante o dia e só poder sair depois que o sol se punha. Desejei-lhe melhoras com todo o meu coração. Mal sabia eu que ambas riríamos muito da situação mais tarde, da minha inocência e da de Charlotte. Eu havia sido convidada para ser o prato principal, mas a pobre garota precisava mais de uma amiga que de um jantar.

No acampamento, só fomos dormir em meio à madrugada, pois todos fizeram questão de ouvir os detalhes de minha pequena aventura. Só Ivan parecia amuado. Eu ri-me por dentro dessa reação tão infantil, ele era como o meu irmãozinho mimado e ciumento. Acreditava que ele esqueceria a birra ao acordar e me faria repetir tudo.

No dia seguinte, porém, ainda sonhando com minha bela noite naquela casa, com pessoas tão interessantes, minha mãe me chamou para uma conversa em particular.

"Lori, eu não sei bem como lhe perguntar isso... Tenho um pouco de receio sobre o que você me responderá." - houve uma longa pausa - "Agora há pouco esteve aqui um mensageiro do barão van der Heyden..."

Meu coração deu um salto.

"A senhorita que a convidou ontem pergunta se você poderia e gostaria de ser sua dama de companhia..."

Ainda posso lembrar claramente da minha reação. Senti um arrepio de emoção, eu queria pular e gritar "sim", mas ao mesmo tempo não podia suportar a ideia de ficar longe de minha família, especialmente de minha mãe, que estava lá, sentada à minha frente, parecendo atordoada. Era óbvio que ela estava me dando a chance de escolher. De fato, apesar de isso significar praticamente perder a única filha, ela seria incapaz de me tolher essa chance. Ser uma dama de companhia significava levar uma vida infinitamente mais confortável, aprender muitas coisas novas e ter a chance de contrair um bom matrimônio.

Aquele foi um dia de muitas lágrimas, mas também de grande alegria. Todos me davam inúmeros conselhos, prometiam-me cartas e me diziam para visitá-los quando estivessem por perto.

Só Ivan não me dissera nada. Na verdade, logo que anunciei minha decisão, ele correu para um lugar escondido e não voltou até que eu tivesse ido buscá-lo. Ele estava sentado em um alto galho de uma velha árvore próxima ao acampamento e parecia muito interessado em quebrar galhinhos e rasgar folhas nos pedaços mais miúdos que pudesse. Eu tive de insistir muito antes que ele se decidisse a descer e conversar comigo.

"Você vai embora com aquelas pessoas..."

"Eu tenho que ir, Ivan... Eu não posso simplesmente desprezar a minha sorte. É uma chance que eu nunca sonhei ter!"

Ele tinha um olhar decepcionado, triste e parecia tão frágil que eu me odiei por não desistir.

"Eu também estou triste, Ivan. Eu vou sentir muita saudade de você e de todos os outros, vocês são minha família querida, mas eu quero muito poder conhecer coisas novas, crescer e ter uma vida melhor."

"Você vai me abandonar..."

"Ivan, eu nunca vou abandonar nenhum de vocês! Eu só vou me mudar de casa, mas, sempre que puder, vou vê-los. Vocês vão me m****r cartas para eu saber como estão, não é?"

"Você vai voltar para se casar comigo quando eu tiver idade?"

Eu não podia iludi-lo e depois de alguns minutos de silêncio, ele simplesmente correu para a carroça onde dormia e eu não o vi mais. Nunca qualquer palavra havia sido pronunciada que pudesse dar-lhe uma esperança tão sólida. Nós tínhamos uma relação de amizade pura, casarmo-nos algum dia seria uma opção bastante óbvia, já que ele me era bastante próximo e, em alguns anos, nossa diferença etária seria insignificante... Eu senti muito, aquela amizade era muito importante para mim e, por isso mesmo preferia ir sem seu perdão que dar-lhe anos de falsas esperanças coroados por uma terrível decepção.

Minha nova vida iniciou-se com uma demorada viagem até Maastricht, nos Países Baixos, cidade natal de meus novos patrões. O caminho não era longo, mas viajávamos somente à noite. Meu trabalho se revelou bastante agradável, consistindo, basicamente, em ajudar minha jovem senhora a vestir-se, penteá-la, levar e trazer alguns recados e acompanhá-la em seus passeios noturnos. Charlotte Marie van der Heyden era mais uma amiga que uma patroa. Eles não recebiam muitas visitas, a maioria eram senhores que vinham tratar de negócios com o barão, sempre ao anoitecer. O irmão mais velho nunca mencionara nada, mas também era seu costume dormir durante o dia e acordar à noite. O único que fazia alguma coisa à luz do sol era Willem, mas este também ficava acordado até muito tarde com os outros dois.

Certa noite, minha jovem senhora acordou muito indisposta. Sentia o corpo fraco e um cansaço anormal. Estava pálida e gelada além do normal, seus olhos brilhavam doentios e ela parecia prestes a desfalecer.

"Lori... Eu sinto muito..." - Ela se aproximava de mim com passos dúbios - "Eu..."

Nesse momento, ela pegou meu braço com uma força que eu jamais esperaria naquele corpo esguio e delicado. Não tentei me desvencilhar, achei que sofria alguma espécie de espasmo e só me dei conta do que estava acontecendo realmente quando ela já tinha tomado bons goles do meu sangue. Como num sonho irreal e macabro, eu tentava me libertar do corpo dela que me prendia contra o divã, mas meus músculos pareciam ter subitamente enfraquecido.

Alguns minutos depois, ela me soltou, parecendo um pouco confusa e envergonhada, mas seu rosto exibia um tom saudavelmente corado. Ela me pedia perdão compulsivamente, mas eu não podia responder. Sentia meus lábios se mexendo, mas o ar que saía de meus pulmões não tinha força para vibrar minhas cordas vocais, dando som às palavras.

Ela saiu correndo do quarto, as mãos cobrindo a boca, tentando abafar um soluço. Eu comecei a sentir meus olhos pesados, mas, inconscientemente, não queria dormir... Em meio ao silêncio e à letargia, sentia os membros pesados e o coração batendo devagar, mas com força. Sentia o pulsar em meus ouvidos e mãos... Não posso precisar quanto tempo fiquei assim, mas logo vi Charlotte e o barão entrarem apressados. Ele tomou meu pulso e respirou fundo.

"Ela ficará bem. Você bebeu um pouco mais do que deveria... Eu lhe disse para não ficar muito tempo sem se alimentar. É isso o que acontece, você se descontrola e acaba machucando as pessoas... Venha cá, pare de chorar... A senhorita Lorelei vai ficar bem. Olha, vou levá-la para um quarto mais arejado, com a cama maior. Peça à cozinheira que traga um copo de leite quente, frutas e algumas torradas."

O barão me tomou em seus braços e me pôs em um dos quartos de visitas, acomodando-me reclinada na cama. Eu não sabia o que pensar. Então a minha doce patroa era... Naquela época eu nem sabia que nome dar a um vampiro. Lembrava-me de ter escutado histórias terríveis sobre monstros chupadores de sangue habitantes das trevas noturnas, mas nunca que eles podiam se disfarçar de belas e inocentes garotas. E, não, eu não achava que ela pudesse ser um monstro disfarçado. Eu sabia que ela era exatamente o que aparentava: uma jovem sensível e delicada.

"Você deve estar assustada, Lorelei." - Ele passou a mão em meus cabelos - "Acho que eu não posso dizer para não estar... É uma realidade cruel, não? Ter de se alimentar de outros seres humanos? Mas, por favor, acalme-se. Nós não queremos seu mal. Minha irmãzinha gosta muito de você... Daqui a alguns dias, quando estiver melhor, nós conversaremos adequadamente. Vou explicar-lhe como funcionam as coisas por aqui, que era o que deveríamos ter feito logo de início. Mas, repito, fique calma, ou você demorará a se recuperar."

Charlotte voltou acompanhando a cozinheira. Como disse, estávamos sem empregados suficientes na casa e, não era raro ver os próprios senhores fazendo coisas que não precisariam fazer em uma situação normal. Ela ainda tinha o semblante envergonhado e choroso e fez questão de me ajudar a tomar o leite, o que consegui devagar e com algum esforço. A pobre esteve ao meu lado por longas horas, me fazendo comer de quando em quando e não me deixou adormecer até que troquei com elas algumas palavras fracas.

Eu sabia que o temor que tive daquela criatura não me faria querer deixá-la. Eu via Charlotte como qualquer uma das pessoas do circo que até a pouco fora meu lar: seres humanos com uma diferença um tanto chamativa. Ela não era um monstro assassino e eu estava lá para provar. Consideravelmente debilitada, mas não morta. E eu sentia pena dela, sabia que ela me queria bem, estava estampado em seu rosto arrependido.

Ainda hoje não posso deixar de sentir ódio daquele que a fez imortal. Charlotte não era jovem apenas fisicamente - pois eu o era e não sinto tanto por mim mesma - ela tinha uma alma inocente. Ela confiava tanto nas pessoas, ela sentia tanto cada vez que tinha de se alimentar!

Minha recuperação foi breve, em questão de dois dias eu já estava fora da cama e me ocupando de meus afazeres diários, mas meus patrões ainda demoraram-se alguns dias cobrando que me alimentasse bem. Charlotte se apegara ainda mais a mim, mas não tocara no assunto do ocorrido. Eu, tampouco, quis perturbá-la com questionamentos constrangedores. Eu estava bem ali. Sentia-me perfeitamente à vontade, apesar do pouco tempo de estadia.

No terceiro dia, Aaron van der Heyden - o barão - me mandou chamar em seu escritório.

"Lorelei" - ainda hoje minha memória recupera com facilidade a voz firme com que ele me falou - "Imagino que minha irmã ainda não tenha comentado nada sobre a descoberta que você fez há alguns dias. É complicado e Charlotte, especialmente, não gosta do assunto, mas penso que não há como fugir dele."

Eu me limitei a permanecer calada, enquanto ele, caminhando pela sala, continuava seu discurso.

"Essa é a primeira vez que conto isso a alguém e não creio que vá se repetir com muita frequência... Sua atitude de permanecer na nossa casa foi extraordinária. Como pode ver, perdemos quase todos os nossos empregados e, mesmo os novos não tem ficado muito tempo. Imagino que os boatos sobre nossa família estejam fermentando por todos os cantos da cidade. Isso, porém, não me preocupa muito. O culpado por nossa condição viveu muito tempo nessas redondezas e conseguiu manter as histórias sobre sua natureza com a aparência de mera intriga de maus empregados. Mas, bem... Por onde começar? Você obviamente já deve ter escutado lendas sobre vampiros... Eu não tenho muita experiência com essa natureza, mas acho que vou iniciar nossa conversa deixando claro o que você deve temer e o que não passa de imaginação. Não posso, porém, afirmar essas coisas com total certeza, pois já vi alguns de nós realizando feitos de que não sou capaz..."

Ele parou em frente a um grande retrato de um homem muito sério e o observou calado por um momento.

"Lorelei, minha pequena, nós tentamos não ser assassinos... E, por 'nós' eu me refiro a mim e Charlotte, pois não posso falar por todos de minha espécie. Nos alimentamos de sangue, o que assusta um pouco num primeiro momento, mas aprendi que não preciso levar minhas vítimas à morte sempre que me alimento. Isso é o suficiente para mim, mas minha jovem irmã sente-se mal com a ideia de causar o menor ferimento a quem quer que seja. O que ela fez com você foi inevitável. Quando ficamos muito tempo sem nos alimentar, ficamos sedentos de tal forma que às vezes se torna impossível manter o controle, o que, não raro, pode ser fatal para a vítima. Por isso, minha querida, aconselho a sempre insistir com Charlotte para que se alimente regularmente."

O barão, então, sentou-se à minha frente, encarando-me mais uma vez com aquele seu olhar perscrutador. Finalmente, suspirou e disse:

"Eu tenho uma proposta a lhe fazer. É tão absurda que hesito, mas é inevitável. Minha jovem, eu não posso mais permitir que deixe minha casa. De fato, esperávamos ter que mantê-la presa, mas, como já lhe falei, você reagiu ao caso de uma maneira inesperada e acredito que possa interessar-lhe o convite para continuar aqui como dama de companhia de minha irmã e sua... fonte de alimento."

O que se passou em minha mente naquela hora, eu seria incapaz de descrever. Na verdade, demorei anos para organizar meus pensamentos e sentimentos em relação a tudo o que me acontecia e ao que viria a acontecer. Aquele homem estava propondo que eu ficasse lá e deixasse sua irmã se alimentar do meu sangue... Acredito que ele tinha percebido como minha mente estava tendo dificuldade em transpor a fronteira do absurdo sem simplesmente cair na insanidade, porque logo ele continuou:

"Ela não irá deixá-la daquela maneira toda vez que o fizer... O que estou propondo é que ceda um pouco de seu sangue para ela... Uma pequena quantidade por dia é o suficiente para que ela consiga viver bem. Ela não precisa de muito, não faz grandes esforços... A dor da mordida é quase inexistente e Charlotte é tão delicada! Lorelei, ela gosta muito de você para vê-la presa no calabouço e alimentar-se de você contra sua vontade. É provável que se recusasse e, num frenesi de fome acabasse por..."

É engraçado como Aaron achava que estava realmente me dando uma escolha... Em resumo, era algo como "seja a comida de minha irmã ou morra no calabouço". Difícil decidir, não?

Ele se aproximou de mim mais do que eu gostaria e falou com suavidade:

"Vou deixá-la pensar sobre tudo que lhe falei... Tenho negócios a resolver agora, quando voltar, venho ouvir sua resposta."

Ele me deixou só no escritório sem que eu houvesse pronunciado uma palavra em nossa suposta conversa. Aos poucos, aquela aura de irrealidade que anuviava minha mente desapareceu e eu simplesmente chorei. Porque minha escolha de vir para aquela casa agora parecia um erro terrível, por confiar nas pessoas erradas, por estar naquela situação, porque cada possibilidade de fuga que eu imaginava parecia mais arriscada e porque Charlotte era tão pura e meiga, não merecia que eu a submetesse à fome e a macular sua alma com a violência.

Não sei quanto tempo estive pranteando antes que Willem me descobrisse por lá.

"Ora, o que houve? Ah, sim... Você esteve conversando com meu irmão, não é?"

Fiz um gesto afirmativo com a cabeça.

"É... Eu sinto muito... Eu também já fui vítima deles... Quando Lorde Rayleigh fez isso a eles eu não estava na cidade e, bem... Foi muito difícil. Meu pobre pai, posso jurar que ele definhou de desgosto... Ele atribuía a si a culpa por isso tudo."

Eu o olhava sem compreender os elos da história a que ele se referia e, então, meu interlocutor continuou:

"Meu pai devia favores a Lorde Rayleigh e este exigiu um pagamento que estava além do que ele poderia ou gostaria de fazer... Então, para forçá-lo, aquele maldito inglês o ameaçou e, como palavras não foram o suficiente, ele... Bem, fez o que fez... Amaldiçoou-nos para sempre."

Pela primeira vez desde que Aaron me chamara, pronunciei-me. Naquele momento eu me identificava com aqueles olhos tão sinceros e cheios de dor.

"Eu sinto muito..."

"É... De qualquer forma, meus irmãos não se tornaram assassinos loucos. Aaron sempre foi muito senhor de si e aprendeu rapidamente como controlar seus novos instintos. Vamos levando a vida como podemos... Ele tem feito alianças com muitos como ele e até mesmo tem ajudado alguns mais velhos a alimentarem-se de forma racional... Vários deles não viam como fazê-lo sem darem cabo à vida de suas vítimas. Ele não é mau, senhorita Lorelei... Apenas está tentando achar uma forma de ajudar minha irmã. Ela não se conforma com sua condição e a temos visto passar por grandes crises."

"Eu entendo..."

"Mas Charlotte está bem no momento. Sei que se dão muito bem, se quiser ir fazer-lhe companhia..."

Ele me deu um sorriso melancólico e eu, aceitando sua sugestão, fui encontrá-la. Charlotte estava ao piano, tocando uma música muito triste. Não percebeu que eu me aproximava e só voltou os olhos para mim quando pus a mão em seu ombro. Eles carregavam tanta dor que senti os meus turvando-se com lágrimas por ela.

"Você... Não posso pedir que fique..."

Ela parecia não saber das "opções" que o irmão havia me dado.

"Eu vou ficar."

Acariciei-lhe o rosto macio como se fosse o de uma criança. Nos abraçamos e ela finalmente sorriu, afirmando-me que seria boazinha comigo.

Quando o barão voltou da rua, encontrou-nos sentadas no mesmo banquinho do piano, rindo e tocando pequenas sequências que ela me ensinava. Willem também estava na sala, observando-nos, embora não o houvéssemos percebido.

"Veja, Willem, o gato e o rato ficaram amigos."

"Não fale assim, seu malvado! Eu sou... Como um beija-flor! Tiro um pouco da seiva vital da minha flor, mas a deixo mais bela!"

"Quanto romantismo!" - ele riu - "Fico feliz que tenho tomado uma decisão sábia, senhorita Lorelei. Estou sendo verdadeiramente sincero. Fez minha irmã feliz e saiba que será compensada."

Ah, e pudera eu saber o quanto! Definitivamente deixei de ser uma empregada e passei a fazer parte da família. Charlotte e eu éramos como irmãs. Ela não só me deu vestidos como mandava fazê-los especialmente para mim sempre que tinha de m****r fazer um para si. Aprendi tudo o que uma jovem de linhagem nobre deve saber: piano, desenho, bordados, dança... Eu agora comparecia a vários eventos - bailes, teatros, concertos, saraus - e era apresentada como uma prima distante e misteriosa dos irmãos van der Heyden.

Eu estava felicíssima com minha nova vida e, embora de início sentisse muita saudade de minha família, agora tinha muitas coisas novas com que me ocupar, de maneira que a dor e a melancolia não me atingiam. Estava me acostumando muito bem com a inversão de horários e em pouco tempo já não tinha dificuldade alguma em dormir durante o dia, embora em algumas esparsas ocasiões gostasse de sair pela cidade para observar o movimento e comprar algumas pequenezas.

Toda vez que ela precisava se alimentar era como se fôssemos um casal de namorados muito jovens que vão se beijar pela primeira vez: havia muita timidez, algum receio, hesitação no toque e uma leve tensão quando a boca dela se aproximava de meu pescoço - arrisco dizer que, depois das primeiras vezes, havia até mesmo um certo prazer, uma sensualidade velada no ato. Ela roçava de leve a boca em minha pele, procurando o melhor ponto e, encontrando-o, mordia-me. Seus caninos longos e afiados perfuravam a artéria e ela sugava com vontade por vários segundos, até que percebesse que era o suficiente, quando lambia timidamente a ferida que causara para acelerar a cicatrização. Nas primeiras vezes, Aaron fez questão de estar presente para impedir que ela bebesse em demasia e acabasse por deixar-me fraca demais.

Minha relação com os irmãos de Charlotte também era boa. Willem era um homem tranquilo e muito gentil, sempre disposto a acompanhar-nos a todos os lugares, fazer-nos todos os tipos de favores. Gostava especialmente de ler, ouvir música e fazer longas caminhadas jogando conversa fora.

Aaron, ao contrário, era bastante agitado. Não ficava muito em casa, sempre saía com alguns amigos - descobri, mais tarde, que eram também todos vampiros. Quando estava conosco, porém, sempre gostava de cavalgar e caçar. Eu, particularmente, apreciava muito as caçadas noturnas - sempre voltávamos exaustos, mas rindo muito e ficávamos todos jogando conversa fora até que o sol começasse a surgir no horizonte.

Naquela noite, perseguíamos um javali. A lua estava cheia e a claridade estava boa, mas acabei por me perder do grupo. Fiquei um pouco assustada, pois já ouvira várias histórias sobre caçadores mortos por javalis. Acho que já cavalgara por um quarto de hora tentando encontrar o grupo quando um ruído entre as folhas me fez estacar quase em pânico. Apontei a arma naquela direção e escutei o que quer que fosse se aproximar. Sorri aliviada quando vi o barão aparecer entre as folhas.

"Céus, que susto! Estou perdida, achei que era o javali..."

"Lorelei..." - Ele apoiou-se numa árvore, parecendo muito cansado. Se pudesse respirar, certamente estaria ofegante. "Estamos perto de casa... Meu cavalo quebrou a perna do outro lado do bosque... Estou... Fraco..."

"O que houve, senhor?"

"Não me alimentei o suficiente ontem... Essa caminhada me consumiu mais do que esperava..."

Eu sabia o que fazer. Eu nunca compartilhara meu sangue com ninguém além de Charlotte, mas não tinha dúvidas que ela aprovaria totalmente minha decisão. Apeei da minha montaria e despi o casaco, aproximando-me dele.

"Por favor, meu senhor, eu estou aqui para isso mesmo, afinal de contas..."

Ele me dirigiu um olhar entre agradecido e agoniado, me encostou na árvore e, apoiando o corpo contra o meu, mordeu-me o pescoço. Charlotte era bem mais delicada e, a princípio, estranhei o toque firme, tenso e a força de sua mordedura. Meu corpo, porém, reagiu com bem mais intensidade. Era óbvio que eu já estava na idade de conhecer o beijo do sexo oposto, mas meu destino quisera que essa oportunidade só chegasse naquele momento. Senti cada fibra do meu corpo estremecer e um calor se espalhar rapidamente. Minha respiração se tornou curta e eu desejava que aquele momento se prolongasse infinitamente, embora soubesse que qualquer demora poderia me ser fatal.

Aaron foi breve. Ele tinha prática em dosar a quantidade necessária de alimento para seu corpo e, quando finalmente lambeu a área afetada, inconscientemente respondi com um suspiro. Ele não era nenhum monge e soube interpretar com exatidão o que eu estava sentindo. Segurou, então, minha nuca olhando diretamente em meus olhos e, sem que eu pudesse ou quisesse reagir, beijou-me demoradamente, tocando meu corpo de uma forma que eu, até então, apenas imaginara.

A partir daquela noite eu passei a compartilhar com ele também o meu sangue. Charlotte soube que eu o ajudara, mas o que houve depois lhe podia ser poupado.

Aaron era muito mais resistente à luz que sua irmã. Não que ele pudesse sair durante o dia, mas, com as cortinas fechadas, não tinha problemas com o a aurora e o ocaso. Dessa maneira, sempre que Charlotte se recolhia à cama, o barão tinha pouco mais de uma hora para ensinar-me coisas que certamente aprendera nos piores antros.

Nunca mais em minha longa existência conheci amante tão criativo e ousado como o meu primeiro. Quando disse que sentia por Charlotte, por sua inocência tão terrivelmente atirada à maldição do vampirismo e que não sentia tanto por mim, apesar de nossa mesma idade, devo isso a Aaron van der Heyden, que levou minha ingenuidade aos poucos, entre sedas e gemidos antes de me legar sua maldição. Ele foi, porém, bastante discreto. O que acontecia dentro de seu quarto - ou do calabouço, em momentos de maior perversão - permanecia lá. Willem não aparentava ter qualquer suspeita e Charlotte se contentava com a explicação de que seu irmão me dava joias por gratidão pela minha ajuda naquela ocasião. Eu me sentia triste por não poder compartilhar meus segredos com minha melhor amiga, mas sabia que ela não reagiria bem.

A maioria de nós, depois de algum tempo, deixa de lado a moral e as convenções sociais. Alguns mais, outros menos. Ter de alimentar-se de seres semelhantes desgasta um pouco o psicológico e muitos vampiros que conheci viviam na mais completa devassidão. Aaron não chegava perto disso, mas com certeza atingiria esse ponto se vivesse mais tempo. Charlotte, pelo contrário, agarrava-se às convenções, amava-as. Rezava muito, inclusive. Ela era um caso raro, mas não era a única: até hoje tenho de conviver com um vampiro cristão e isso me irrita às vezes, mas é um karma que eu mesma tomei para mim.

Mas, quem pode dizer até quando aquilo teria durado? Não só aquela espécie de "vida dupla" que eu levava, mas a própria existência de Charlotte, que apreciava tanto a humanidade... Ela, com suas ideias sobre amor, casamento, filhos... A pobre acreditava que podia levar uma vida normal e pacata. Aaron talvez a preservasse demais. E a mim e Willem, também. Ninguém na casa fazia ideia da influência que ele estava exercendo sobre os vampiros da região. Todas aquelas visitas que ele recebia eram amaldiçoados (sei que a palavra soa um pouco mal, mas é um termo comum entre nós) em busca de informações e conselhos. O barão pesquisava incansavelmente a natureza de sua espécie e mantinha um caderno com um relatório de indivíduos e seus talentos. Sim, alguns de nós desenvolvem certas características peculiares ao sermos abraçados: conheci metamorfos, leitores de mente, hipnotizadores e até um que podia voar. Eu, por exemplo, posso distinguir um vampiro de um humano sem qualquer esforço. Fato é que, com o tempo, o mais velho dos van der Heyden ganhou influência nessa sociedade noturna, e, com ela, aliados e inimigos.

Não posso dizer com exatidão o que causou aquele incidente, mas o caso foi que, numa noite qualquer, enquanto discutíamos qualquer coisa no salão, um grande grupo de vampiros entrou e, depois de umas poucas palavras rudes trocadas entre seu líder e Aaron, uma briga começou e todos nós fomos atacados. Ainda me dói lembrar daquela noite. Perdi minha segunda família... A pobre Charlotte... Pelo menos ela se foi rápido... Um golpe certeiro separou sua cabeça do corpo. Foi uma visão que eu jamais esquecerei. Depois disso, não pude testemunhar mais nada: um deles sugou meu sangue até o limiar da morte e fiquei esquecida, tendo visões delirantes por não sei quanto tempo. Em dado momento, lembro-me de Aaron falando comigo, de ter sentido uma terrível fome e um mal-estar indescritível. Depois disso, acordei muito confusa. A sala estava num estado caótico, havia corpos em todos os cantos e Willem, muito ferido, conversava com três vampiros. Eu o posso dizer, porque foram os primeiros que consegui identificar sem que me dissessem qualquer palavra. Não notei, porém, que havia mudado. Só depois, em segurança, numa carruagem que me levava para longe é que pude perceber que me sentia completamente revigorada e saudável, apesar de não mais respirar.

"Lori, que bom que está bem!"

"O barão lhe deu seu sangue, não?"

Eu não pude lhe responder.

"Lorelei, não é? Ele falou muito de você. É um mal momento para se juntar a nós..."

"Como assim?" - Willem perguntou assustado.

"Ela agora é uma vampira também... Acredito que algum deles deve ter drenado-lhe o sangue. Suponho que o barão a tenha abraçado ao vê-la à beira da morte... Mas você deve fugir, garota. Dumonceau não gostava nada de van der Heyden e a coisa vai esquentar por aqui. Uma novata não vai durar muito." - e, voltando-se para Willem, continuou - "O senhor também deve se afastar por um tempo. Acredito que eles ainda virão atrás de nós e de todos que estavam do lado de seu irmão... Sinto muito por não termos chegado antes."

Eles se foram e eu fiquei cuidando dos ferimentos de Willem até o amanhecer, quando ele fez questão de velar meu sono. Aaron também se fora e eu era grata por ele ter salvo minha vida, mesmo que dessa maneira. Acho que poderíamos ter sido felizes juntos... Mas a nossa vida é longa e perigosa demais para manter-se estável por muito tempo, não há como saber.

No dia seguinte, Willem decidiu partir mais uma vez - depois de três anos - para o castelo de seus tios, os duques de Arenberg. Agora que sua irmã se fora, ele não podia simplesmente andar por aí comigo sem chamar a atenção, ainda mais porque recentemente ficara noivo. Mas ele decidiu que não me deixaria desamparada. Ele teria muito que inventar sobre a morte dos irmãos - não podia simplesmente dizer que fora uma briga de vampiros ou que saqueadores os atacaram dentro de seu castelo, então, resolveu me dar um estranho presente.

"Lorelei, minha irmã gostava muito de você e eu sei que o que fez por ela foi... Não tenho palavras para agradecê-la. Minha querida Charlotte ficaria feliz se soubesse que você vai ficar bem... Tenho certeza que ela não se importaria de emprestar-lhe o nome, se sua segurança e bem estar dependessem disso. Lorelei, eu não posso levá-la comigo fingindo que é minha irmã, muitas pessoas a conhecem... Mas, já que você quer ir para longe, vá como Charlotte Marie van der Heyden. A jovem baronesa teria muitas casas abertas para acolhê-la... Com certeza mais do que Lorelei Goldstein, que nasceu em uma família simples e sem títulos."

Eu cogitava ir à Viena. Já havia mais de um ano que não recebia cartas de minha família, eu não fazia ideia de onde eles poderiam estar e não tinha certeza se voltar ao circo era uma boa ideia. A capital da Áustria, naquela época, era um dos grandes centros culturais da Europa, não faltava emprego para quem tivesse um pouco de talento e eu não era nenhuma má atriz. A proposta de Willem, no entanto, era muito melhor.

E foi assim que ganhei o nome pelo qual fui conhecida durante a maior parte de minha vida. Nunca me imaginei sendo, de fato, a minha querida Charlotte. Nunca fingi ser ela. Eu simplesmente ganhara um novo nome e até hoje o uso. Não sei se porque me acostumei a ele ou se porque as outras pessoas se acostumaram, mas fato é que, nas poucas vezes em que fui chamada pelo meu nome verdadeiro, depois que deixei os Países Baixos, foi como se não estivessem falando comigo.

Willem me deu uma pequena fortuna e muito do que fora de sua irmã. Recomendou-me que procurasse o palácio imperial, pois, para as filhas da nobreza, sempre havia a oportunidade de se tornar uma dama da imperatriz ou de alguma princesa. Prometeu-me, ainda, que pediria à tia, que tinha bons contatos na corte austríaca, para enviar uma carta recomendando a sobrinha.

Dois dias depois, eu estava mais uma vez a caminho de uma vida completamente nova.

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