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🏛️🌊🌍Capítulo 5 – Ruína

Melina sentiu algo quebrar por dentro como um espelho estilhaçado. A mulher que ergueu um império com sangue, suor e silêncio, não era de se abalar facilmente. Mas aquela sensação — aquela intuição visceral de que algo estava errado — cravou fundo. Como uma adaga enfiada por alguém que ela nunca imaginaria.

Tudo começou com um envelope, deixado sobre a mesa da sala da cobertura. Sem remetente. Apenas o nome dela rabiscado em tinta preta. Dentro, poucas páginas. Relatórios. Horários. Locais. Uma nota fiscal de hotel. E uma foto tremida, tirada de longe. Miguel, entrando num saguão luxuoso. Sozinho. Mas dias depois, a mesma rotina, no mesmo hotel. Só que dessa vez... acompanhado. A imagem não mostrava o rosto da mulher. Apenas as pernas esguias e um salto vermelho que parecia ter sido escolhido para ser notado.

Melina encarou aquela foto como se fosse uma sentença. Não havia beijo. Não havia nudez. Mas havia um cheiro de traição tão forte que o ar pareceu rarefeito. Ela sentiu as mãos suarem. Os olhos queimarem. A cabeça latejar.

Mas não chorou.

Ela já chorou por homens antes. Chorou até secar. Dessa vez, não. Dessa vez, a dor era diferente. Era silenciosa, densa e calculada.

À noite, não disse uma palavra. Observou Miguel chegar, sorrir, tirar o paletó e beijá-la como fazia sempre. Como se nada estivesse fora do lugar. Como se aquele salto vermelho não estivesse cravado em sua mente como um espinho envenenado.

No galpão, seus passos soavam duros, pontuados de raiva contida. A tempestade que se formava no céu parecia uma extensão dela mesma. Os relâmpagos, gritos internos. Os trovões, seus pensamentos em ebulição.

— Jonas — ela disse ao entrar, a voz mais afiada que lâmina.

— Senhora? — ele respondeu, endireitando o corpo.

— Relatórios da movimentação no porto. Quero nomes, horários, e... se alguém diferente tem frequentado a região. Principalmente mulheres.

— Mulheres?

— Não repita. Apenas faça.

Ela já não era só suspeita. Era investigação.

Na penumbra do galpão, viu Kauan, sempre à espreita. O homem das sombras, dos silêncios. Desde que entrou em seu círculo, Melina sentia algo nele: um reflexo talvez. Uma ameaça talvez. Mas acima de tudo... confiança.

Ela caminhou até ele, decidida.

— Preciso que descubra algo.

— Diga.

— Miguel. Quero saber onde tem ido. Com quem tem falado. Discretamente.

— Está desconfiando de algo?

Ela apenas o encarou.

— Quando tiver algo, me avise.

Kauan assentiu com um movimento seco.

Naquela noite, Melina não dormiu. Ficou sentada na poltrona da varanda, cigarro entre os dedos, olhos perdidos no nada. A cidade lá embaixo pulsava, mas dentro dela tudo estava suspenso, como se o tempo tivesse parado para dar lugar ao presságio.

Pela manhã, Kauan reapareceu.

— Estive em um dos locais citados nos relatórios do porto. Miguel esteve lá sim, mas... não sozinho.

— Quem estava com ele?

— Não consegui ver. Mas era uma mulher. Entraram em um carro com placas falsas. Foram até um prédio em Copacabana.

— E o que tem nesse prédio?

— Ainda estou investigando. Mas ele pertence a uma empresa de fachada. Conexões com o cartel do Salazar.

O nome a fez cerrar os olhos.

Salazar.

O mesmo nome que há anos ela enterrou com ódio. O cartel que quase matou seu irmão.

O sangue gelou.

Mas ela não mostrou. Apenas sorriu, com os olhos cheios de guerra.

— Continue. Sem alarde. Quero saber quem é essa mulher. Quero ver o rosto dela.

Kauan hesitou, mas assentiu.

Horas depois, em sua cobertura, Melina pegou o salto vermelho de seu armário. Era idêntico ao da foto. Ela o observou com cuidado, lembrando-se de quem costumava usar esse modelo. Apenas uma mulher veio à mente. E isso fez seu estômago virar.

Mas não. Ainda era cedo para certezas. A raiva precisava ser fria. Calculada. Mortal.

Jonas entrou no escritório.

— Miguel sumiu. Disseram que viajou, mas ninguém sabe pra onde.

— Ele sempre some quando tem algo a esconder — ela respondeu.

O telefone tocou. Um número desconhecido. Ao atender, ouviu apenas uma voz mascarada:

— O salto vermelho é só o começo.

A ligação caiu.

Ela largou o aparelho e respirou fundo. Agora era pessoal. Agora era fogo.

A ruína não a destruía.

A ruína a reerguia.

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