Mayara segurava nos braços finos de Anny ajudando-a como podia a se içar para o trapiche, longe da água. A garota estava com o rosto vermelho e lágrimas escorriam em torrentes, mas era impossível que outra coisa não atraísse meu olhar: em sua cintura havia um buraco de carne viva, quase do tamanho do meu punho. Era possível ver uma mistura apavorante de carne e pele encharcada em um sangue aquoso e estranho. Eles ainda estavam lá.
Os dentes. Somente três cravado em sua pele como pregos.
Aquela incomoda visão dos dentes brancos sendo tingidos pelo sangue da minha amiga conseguiam arrancar de meu transe exausto. Nadei até ela e abracei seu quadril fazendo força ao erguê-la para que Mayara pudesse tirá-la da água. Ela gritou em protesto sua vo perdendo-se devido a dor porém conseguimos colocá-la sobr
Acordei com um salto, puxando com força o ar para os meus pulmões, como quem acorda de um afogamento. A simplesmente ideia de ter desmaiado em um momento tão terrível como aquele me dava náuseas. Eu não conseguia acreditar que meu corpo me abandonara na pior das horas, deixando Mayara sozinha a dor me dando boas vindas. Categoricamente ignorei essas sensações, sentando-me e olhando ao meu redor, atrás de Mayara.A garota loira estava sentada na ponta do cais, abraçada em seus próprios joelhos. Como estava de costas para mim, eu não conseguia ver absolutamente nada além de suas ondas loiras, que agora não mais pareciam hidratadas, somente úmidas e oleosas. Mayara estava quietinha talvez olhando para água, talvez chorando, porém completamente sozinha. Ao nosso redor não havia o menor sinal de Ann
Depois que Mayara se afastava tentei me recompor embora meu coração ainda cavalgando em ansiedade. Recuperei o meu bastão que a esta altura estava completamente ensopado de sangue enquanto observava os dois cadáveres que Mayara fizera na praia. Não que eu me sentisse nessa posição de superioridade, mas de certa forma eu estava orgulhosa.Limpei o sangue do bastão na água com cuidado de olhar bem ao meu redor. Era surpreendente que a criatura tivesse emergido da água do mais completo nada sem que qualquer um de nós estivesse esperando. Ela viera andando até nós sob a água? Essas criaturas não precisavam de ar?Eventualmente aproximei-me de Mayara acompanhando a em sua espera. Ela permanecia olhando fixamente para o horizonte esperando por Cláudio. Eu não era capaz de ler qualquer tipo d
Resmunguei fechando com mais força os olhos conforme e os raios de sol iluminaram minhas pálpebras fechadas, despertando-me do sono. Por impulso tentei mudar de posição a fim de esconder meu rosto do brilho, mas a dor avassaladora fez com que fosse expulso qualquer resquício de preguiça do meu corpo.Meus braços pareciam estar moídos, porém agora todo o meu corpo doía após passar a noite dormindo no chão. Com dificuldade ergui-me olhando ao redor. A maioria das pessoas ainda dormia, de maneira tão precária quanto eu, com as cabeças apoiadas em mochilas e um pedaço de pano ou um macaco sendo usado como cobertor. Somente Amanda e Valentina não estavam dormindo, mas encontravam se sentadas na outra extremidade daquele barraco, conversando baixo.Procurei Anny com os olhos, mas imediatamente a lembran&cced
Cuidado, Rute! Um puxão no braço fez aquela doce imagem desfazer-se dando lugar aos dentes manchados de sangue escuro de um zumbi. Cambaleei para trás seguindo a pressão do puxão e esbarrando em alguém. Cláudio imediatamente afastou a criatura com um chut3e, lançado-a para o lado. Recebi um olhar fulminante. Você está bem? Guga indagou-me.Olhei para os lados e vi que todos me fitavam um pouco confusos. Eu mesma estava confusa, completamente desligada para entender o que havia acontecido. Um calafrio pela minha espinha quando percebi do que se tratava e que um pequeno momento de distração quase poderia ter significado a minha vida. Senti as minhas bochechas esquentarem um pouco, envergonhada do meu amadorismo.Desculpe, eu… apertei mais as minhas maria chiquinhas como eu costumava fazer quando estava nervosa. A minha casa est&aacu
Mel é minha cachorrinha. Guga falou uma voz caricaturada extremamente fina que não se parecia em nada com a minha, embora eu soubesse que repetia a frase que eu lhe falará no bosque da escola. Nesse momento, Mel cheirava a sua mão e ele parecia um pouco assustado, provavelmente pelo tamanho dela. Ainda assim ele tentou sorrir para mim.Parecia ser bobo, mas o clima parecia estranhamente mais suave conforme Mel cheirava um a um, recebendo afagos e comprimentos. Um sorriso se desenhou pelo meu rosto. Não me sentia feliz assim em dias e pensei que poderia ficar ali para sempre, sentada na grama, amada e segura. Pela primeira vez, desde o começo daquele terrível apocalipse eu me sentia bem.Finalmente estava em casa...
Vó? Vó Aline? Falei algumas vezes após empurrar a porta que dava acesso à sala de estar. Assim que abri uma pequena fresta, Mel adentrou atropelando uma de minhas pernas e começando a cheirar cada canto daquela casa. Meus chamados eram somente para desencargo de consciência, pois sabia que minha avó não estava lá. Quando encontrei uma bacia de água cheia até que quase a boca e o saco de 20 kg de ração cuidadosamente rasgado de modo que a ração continuasse a cair conforme fosse consumida, tive certeza que vovó preparará tudo para ficar longe de casa deixando um plano B para Mel caso tudo desse errado. O portão meio aberto deu-me essa certeza. Mel entrou em cada um dos três quartos, banheiro e circundou duas vezes a mesa da cozinha antes de voltar e parar sentada em minha frente, servindo como testemunha de que não havia ninguém. Acariciei a sua cabeça sentindo seus pelos macios. Deixei a porta da fren
Era surpreendente como estava sendo fácil nosso trio mostrando se coordenado e confiantes uns nos outros. Era estranho pois fazia somente três dias que estávamos juntos, mas era evidente como já estávamos alinhados, inclusive na rápida aceitação de me seguirem em minha missão egoísta e maluca. Eu também era sortuda por tê-los ao meu lado ficando evidente como conseguíamos agir tão bem juntos. Caso tudo desse errado também tinha certeza que poderia contar com eles para qhe saíssemos vivos. Rápido como os experts que não éramos viramos a última esquina avançando rapidamente para o nosso destino. Haviam mais isso era evidente. Talvez 7 ou 8 talvez mais. Durante todo o percurso evitei cultivar pensamentos blasfemos em minha cabeça, como terrível ideia de chegar até a casa de Maria e encontrar a minha avó morta ou até mesmo não encontrá-la. Mesmo lutando contra aquelas ideias sempre havia no fundo do meu cérebro um eco da minha imagem adentrando naquela casa e me deparando com o
Eu quis chorar, mas até isso doía. Quando me vi sozinha totalmente e coberta de sangue em meio a um mar de corpos destruídos não sento a satisfação que me iludira a fazer aquilo. Parada entre tantos desejos dentre eles até mesmo a minha querida avó senti somente a solidão.O mundo havia acabado e meu corpo permanecia vagando por ele decompondo se lentamente em uma assustadora semelhança com aquelas criaturas.Rute... uma voz familiar recobrou um pouco de consciência em mim. Não estava mais alarmada, tampouco arfante como a minha certamente estaria se a minha garganta não estivesse destruída demais para falar. Só havia um sentimento que eu podia compartilhar naquela voz baixa: dor.Quando virei a minha cabeça sentindo meus cabelos pesados por estarem úmidos e vermelhos quis ver os olhos verdes que me dariam alguma segurança