Matheus foi colocado atrás das grades junto a outro homem, que parecia bêbado demais para notar a presença dele ali. Não demorou muito e logo Rafa e o outro apareceram sendo colocados em uma cela à frente da dele.— Eu vou almoçar. Quando eu voltar, vou analisar a oportunidade de vocês poderem ligar para alguém — disse o policial que interrogava Matheus.— Ligar para um advogado ou requerer um defensor público é um direito nosso. Não pode negar isso. E depois, se não acusaram a gente, por que estamos detidos?O policial se aproximou dele.— Porque eu quero! — sussurrou para Matheus.Rindo, saiu dali.— A gente devia ter dado no pé.— Cala a boca, Coelho. — Esse era o apelido ridículo que deram ao soldado que estava com Rafa. — O que vamos fazer agora? — Rafael perguntou para Matheus.— Eu sei para quem pedir ajuda, mas eles têm que me deixar fazer uma ligação.— E para quem vai ligar?Matheus não respondeu. Caminhou até o fundo do cubículo e sentou-se no chão, já que o único banco est
Óscar abriu a porta e caminhou para fora.— Vamos, Matheus!Matheus encarou o policial e saiu no encalço de Óscar. Lá fora, o outro homem que o interrogou de maneira discriminada, se aproximou quando viu Matheus caminhar em direção à saída. O advogado o viu se aproximando e tomou à frente.— Foi você que o deteve? — perguntou.— E que interrogou — Matheus disse baixinho, somente para ele ouvir.— Torça para gente não abrir uma denúncia contra você. O que fez, se despejado na mídia, poderia acarretar um afastamento por tempo indeterminado e uma bela investigação.— Está me ameaçando? — perguntou ele em um tom ofendido, se aproximando do advogado.— Não, jamais. — Sorriu cinicamente para ele. — Não faço ameaças, policial. Faço processos e defesas. Diga tchau, Matheus. — Continuou a caminhar.Matheus nada disse, apenas se foi enquanto Óscar solicitava a soltura dos seus amigos. Quando ele chegou ao estacionamento, encontrou Barbara escorada no seu carro. Apressou os passos na sua direção
Um pouco mais tarde, Matheus pegou um táxi e seguiu de volta para o morro. Ao chegar, disseram que Bodão o aguardava na Boca 1. Ele subiu a pé até lá. Quando entrou, estava tudo escuro. Apenas via um pequeno ponto de luz vermelha pairando sobre o sofá. Então, alguém expeliu fumaça e um terrível cheiro de tabaco invadiu as suas narinas. A luz se ergueu e andou na sua direção. Os passos pesados o fizeram recuar. Matheus conseguiu enxergar o rosto de Caio através da pouca iluminação que adentrava pela porta aberta. Ele retirou o cigarro da boca e expeliu fumaça outra vez no rosto dele, que se engasgou.— Disseram que queria falar comi...Antes que ele pudesse terminar a sua frase, um forte tapa no seu rosto o interrompeu. Cambaleou para trás e quase caiu. Apoiou as mãos no chão e olhou para o seu chefe, assustado.— O que saiu desse teu bico na delegacia?— Nada. — Colocou-se de pé outra vez, rapidamente. — Não sou idiota!— Ligou para filha do Falcão ir soltar vocês? Quer merda tem na c
— Puta que pariu! — Rafa olhou-o incrédulo e de queixo caído. — Ela sabe?— Não. Não faz ideia do que o pai faz além de construir prédios.— Foi sempre esse Falcão que mandou no morro?— Não diria que ele manda no morro, mas manda no tráfico lá fora.— Bodão foi um safado contigo.— Não sei o porquê eu me surpreendi com o que ele fez.— Fala com a Barbara. Entrega a merda desse dinheiro e vamos atrás de recuperar a mochila. Assim que a gente descobrir o que aconteceu, vemos se não tem mais nenhum engraçadinho envolvido e devolvemos o dinheiro pra tua patricinha.Matheus odiava assumir, mas aquele tinha sido o único e melhor plano daquela noite. Comendo o teu orgulho, ele pegou o celular e discou o número da Barbara.— Oi. Está tudo bem? — A voz dela denunciou a sua preocupação ao atender.— Desculpa. Você não merece isso — disse derrotado.— O que não mereço?— Contribuir com todo esse lixo. Vou precisar do dinheiro que me ofereceu.— Não tem que pedir desculpa. Você não é o culpado,
Era quase onze da manhã quando Barbara seguiu para praia do Flamengo. Ao chegar, parou no estacionamento que já se encontrava um tanto cheio por ser um dia de semana. Minutos depois, uma SUV preta estacionou ao lado do seu carro. Os vidros eram absolutamente pretos. A porta do motorista foi aberta e Matheus desceu de lá. Barbara fez o mesmo. Quando ela o viu, abraçou-o com força. Em seguida, segurou o rosto dele entre as suas mãos e o olhou apaixonada.— Eu precisava muito disso — disse ele.— De um abraço? — perguntou, sorrindo.— De você!O sorriso alargou-se.— E disso aqui? — Selou os seus lábios. — Sentiu falta disso também?Ele riu baixinho.— Senti falta de muito mais. — Segurou firme a sua nuca e a beijou com fome dos seus lábios.Com o outro braço, ele laçou a sua cintura e a prensou contra o SUV. Barbara se agarrou firme nele. O desejo cresceu de forma rígida e pulsante entre eles. Ela gemeu nos volumosos lábios do Matheus. Aquela boca era tão sexy.— Gemendo assim, você me
— Tudo bem se não estiver pronto para dizer ou ainda estiver incerto se o que sente por mim é amor — disse Barbara.— Não estou incerto sobre o que sinto por você, é só que... — interrompeu-se, sem palavras.— Está tudo bem, Matheus. — Acariciou a sua face. — Quando estiver pronto.Ele sorriu e assentiu.— Vamos sair. Vou pegar a bolsa com o dinheiro para você.Eles desceram e Barbara apanhou a bolsa clássica da Louis Vuitton para ele, que a pegou rapidamente.— Vai até lá agora?— Vou.— Se cuida. E me avise quando chegar sã e salvo em casa. — Selou os lábios dele.— Aviso, sim. — Retribuiu o beijo.Eles se despediram e cada um entrou no seu carro. Barbara seguiu para casa, angustiada e ansiosa, enquanto Matheus foi para o endereço que Bodão lhe passou naquela manhã. Era uma construção em Niterói. Quanto mais perto chegava, mas ele se sentia com medo. Os seus instintos gritavam em alerta o mandando voltar, mas ele tinha uma obrigação a cumprir. Quando chegou à obra, o deixaram entrar
— Tá tudo bem.— Deu tudo certo?— Sim.— Está tudo bem mesmo?— Tá.— Por que palavras tão curtas, Matheus? A sua voz... não sinto que está tudo bem. Está falando baixinho.— Eu tô bem. Deu tudo certo graças a você. Obrigado mais uma vez.— Eu fui intimada para jantar com os meus pais essa noite. Devo chegar tarde, mas... quer ir dormir comigo?Ele ficou em silêncio.— Não. Eu preciso de um tempo. Uns dias.O corpo dela ficou rígido de tensão.— O quê? Por quê?Ele precisava de uns dias? Para quê? Barbara já se perguntava se ele ia deixá-la outra vez.— Nada. Eu só preciso pôr as coisas em ordem por aqui.— Matheus... Está me deixando muito ansiosa. Está me escondendo algo, eu sinto. O que aconteceu? Foi eu dizer que amo você? Aconteceu algo na entrega do dinheiro? — A sua voz saiu baixa e amargurada. Matheus conseguiu sentir a aflição dela.— Não é isso. E já disse, deu tudo certo. Só me dê uns dias, tá?Um nó se formou na garganta dela.— Não está me deixando outra vez, não é? Está
Matheus estava machucado e não queria que ela o visse. Um soluço lhe escapou e mais lágrimas desceram. E se fosse o seu pai quem tivesse o machucado? Era evidente que ele estava envolvido com os oitenta e cinco mil. Isso simplesmente seria a resposta para sua segunda e terceira questão. Carlos era o chefe do tráfico. Se certo o raciocínio da Barbara, a primeira pergunta também seria respondida automaticamente. A bolsa havia ido parar ali porque ela havia sido preparada para ele.Tudo isso era muita informação. Ela não se sentia bem, queria ir para casa. Precisava de um tempo sozinha para colocar as ideias no lugar. Era inacreditável que o seu pai comandava uma organização criminosa. Não conseguia crer. Era uma ideia absurda! Será mesmo que os negócios da família iam além da construção civil?Barbara se levantou, secou as lágrimas e tentou se recompor ao máximo. Ao sair do banheiro, deu de cara com a sua mãe no corredor. Ela não parecia nada feliz.— Melhora essa cara e se sente na mes