Levantou-se de repente, como se o movimento pudesse aliviar a pressão que sentia. Deu alguns passos, a mente presa entre a incredulidade e a fúria. Stavri, no entanto, permaneceu sentada, indiferente ao espetáculo. Para ela, ele merecia. —Ela vinha passar férias aqui? Nunca mencionou isso —e Jarret começou a achar que Cristal não era tão ingénua como ele pensava; ela nunca mencionou que vinha passar férias a Itália. —Pois terá os seus motivos para não falar disso consigo, jovem —continuou Stavri, enquanto continuava a beber o seu café com movimentos estudados e lentos—. Mas posso dizer-lhe com toda a certeza que aquele rapaz era o seu amor desde criança. —Amor? Pensava que eu era o primeiro amor da Cristal. Nunca teve namorado antes de mim —replicou Jarret incrédulo. —Pois eu nã
Stavri, indiferente ao desespero dele, consultou o relógio com um gesto de impaciência. Tinha algo mais importante para fazer. —E vais ter de me perdoar, mas acho que já perdi demasiado tempo contigo —anunciou, deixando claro que a conversa chegava ao fim. A forma como o olhou, como se ele fosse apenas um incómodo, deixou em Jarret uma sensação amarga. Para Stavri, ele não era mais que um homem desesperado, preso numa rede que ele mesmo tinha tecido, sem sequer perceber com quem estava realmente a lidar. Antes que ele conseguisse responder, a porta abriu-se. A entrada de um homem alto, vestido impecavelmente com um fato escuro, encheu a sala com uma autoridade que eclipsou tudo à volta. Atrás dele, um jovem de aparência semelhante seguia-o, reflexo perfeito da sua figura, mas com um ar mais jovem. —Boa tarde, amore mio —cumprimentou o recém-chegado a
O capo deu um passo atrás. Inspirou profundamente enquanto observava Jarret com uma mistura de desdém e uma advertência definitiva. —Esquece a minha sobrinha! Ela é uma mulher casada! E mesmo que não fosse, nunca permitiria que alguém como tu estivesse com ela. Esquece-a; acredita, é o melhor para ti. —Estava a destruir qualquer esperança que Jarret pudesse ainda guardar. Lentamente, baixou a arma, afastando-se, mas mantendo a sua omnipresente aura de ameaça. Sem se virar totalmente, acrescentou com um sarcasmo quase zombeteiro: —Não te preocupes, querida, hoje não vou sujar o teu tapete. Mas se este idiota aparecer aqui novamente, podes ter a certeza de que te compro um novo. O jovem, ainda com aquele sorriso arrogante que tanto destacava o sangue da linhagem a que pertencia, dirigiu-se a Jarret com um tom esmagador, carregado de despre
Maximiliano permanecia em silêncio, brincando com a borda da toalha de mesa enquanto os sons cotidianos da cozinha pareciam amplificar-se com o peso dos seus pensamentos. Podia sentir o olhar de Stavri, pesado como um julgamento, embora carregado daquela peculiar mistura de ternura e determinação que só a sua mãe era capaz de expressar sem dizer uma palavra.—Tu tens sempre um plano, não é verdade? —perguntou ele, com admiração e uma incredulidade céptica. —Sempre —respondeu Stavri sem vacilar—. Sobretudo se for pela felicidade dos meus filhos. Mas o que significava realmente? Até onde estaria ela disposta a ir por aquela felicidade que defendia com tanta convicção? Maximiliano não era tão ingénuo para não suspeitar que por trás dos olhos verdes da sua mãe se tecia uma narrativa muito mais complexa do que ela deixava transparecer. Aquilo não era uma simples questão de sonhos.—Mamã, não precisas de fazer isto sozinha —disse ele de repente, rompendo o silêncio. —Sozinha? —repetiu
Jarret, ao ser expulso da casa dos pais de Cristal, amaldiçoava uma e outra vez. Não podia acreditar, recusava-se a aceitar as palavras que acabavam de lhe ser lançadas como uma bomba impossível de evitar. Cristal não podia tê-lo enganado. Durante todo este tempo, ele tinha estado completamente alerta, a vigiá-la, a certificar-se de que nada nem ninguém se aproximasse dela. Cristal não se encontrava com homens, nem sequer tinha amigos do sexo masculino. Ele assegurou-se disso desde o início, afastando-os um por um. Então, quem diabos era aquele rapaz a quem ela gritava que o amava? A cena continuava a reproduzir-se na sua mente como uma fita danificada: as palavras de Cristal cheias de uma paixão inconcebível, o seu rosto iluminado por um fogo que ele nunca tinha presenciado. "Não me casarei com mais ninguém", tinha gritado ela àquele tipo, enquanto este estendia os braços como se a esperasse há séculos. Jarret mordia o interior das bochechas, tentando conter uma fúria que ameaçav
Esse comentário feriu mais do que Jarret estava disposto a admitir. Os dentes rangeram ao apertar a mandíbula, mas obrigou-se a manter-se firme. —Não fazes ideia do que estás a falar —replicou—. Cristal e eu estamos destinados a casar. Há coisas que tu não entendes… coisas que nada têm a ver contigo. Por isso, se sabes alguma coisa útil, diz de uma vez. Muito bem, compro este carro se me disseres onde a deixaram. Guido ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa, embora os seus gestos não parecessem levar Jarret a sério. —Tens a certeza? Esse carro vale muito dinheiro —avisou, mas sem grande insistência. —Posso dar-me a esse luxo —contestou Jarret com arrogância. Jarret odiava ser tratado como um pedinte incapaz de pagar um carro. O pai tinha muito dinheiro, por isso isto não seria um grande gasto, pensou. Seria o seu presente de formatura e de casamento quando lhe dissessem alguma coisa. Comportara-se bem, portanto merecia-o. —Muito bem, vou dizer-te —aceitou Guido, retoman
Enquanto estava no escritório, Filipo analisava meticulosamente os documentos do carro que Jarret supostamente estava disposto a comprar. Fazia-o com uma precisão quase irritante, deixando que o silêncio se estendesse entre ambos, salvo pelo leve som do deslizar da caneta sobre o papel. Jarret, desconfortável com aquela atmosfera tensa, passeava o olhar pelas fotografias que decoravam as paredes. Eram imagens cheias de movimento e adrenalina, momentos capturados na plena glória das corridas de alta velocidade organizadas pela família Garibaldi. Era inevitável que a curiosidade tomasse conta dele.—Organizam corridas de carros? —soltou ao acaso, tentando quebrar o gelo, mas sobretudo procurando dar mais fluidez à conversa para recolher peças soltas de informação.—Sim, organizamos corridas profissionais e também por entretenimento —respondeu Filipo com uma voz impass&i
Filipo vê-o afastar-se e não gosta nada disso. Sempre teve um bom olho para ler as pessoas, e este Jarret não lhe parece uma boa pessoa; mandará vigiá-lo. Tem de avisar Gerónimo, pensa enquanto pega no telemóvel. —Onde estás, primo? —pergunta num sussurro. —A chegar à cabana —responde Gerónimo. —Então fica lá um tempo —ordena-lhe com firmeza—. O ex-noivo anda à procura da tua mulher e não acredito que seja com boas intenções. Como estão as coisas com ela? —Depois de ela ter descoberto quem sou, não muito bem —confessa Gerónimo; entre eles não há segredos. —Isso é lógico —faz uma pausa antes de dizer—. Bom, estás de férias. Se precisar de ti, eu ligo-te. Aproveita, irmão