Maximiliano permanecia em silêncio, brincando com a borda da toalha de mesa enquanto os sons cotidianos da cozinha pareciam amplificar-se com o peso dos seus pensamentos. Podia sentir o olhar de Stavri, pesado como um julgamento, embora carregado daquela peculiar mistura de ternura e determinação que só a sua mãe era capaz de expressar sem dizer uma palavra.—Tu tens sempre um plano, não é verdade? —perguntou ele, com admiração e uma incredulidade céptica. —Sempre —respondeu Stavri sem vacilar—. Sobretudo se for pela felicidade dos meus filhos. Mas o que significava realmente? Até onde estaria ela disposta a ir por aquela felicidade que defendia com tanta convicção? Maximiliano não era tão ingénuo para não suspeitar que por trás dos olhos verdes da sua mãe se tecia uma narrativa muito mais complexa do que ela deixava transparecer. Aquilo não era uma simples questão de sonhos.—Mamã, não precisas de fazer isto sozinha —disse ele de repente, rompendo o silêncio. —Sozinha? —repetiu
Jarret, ao ser expulso da casa dos pais de Cristal, amaldiçoava uma e outra vez. Não podia acreditar, recusava-se a aceitar as palavras que acabavam de lhe ser lançadas como uma bomba impossível de evitar. Cristal não podia tê-lo enganado. Durante todo este tempo, ele tinha estado completamente alerta, a vigiá-la, a certificar-se de que nada nem ninguém se aproximasse dela. Cristal não se encontrava com homens, nem sequer tinha amigos do sexo masculino. Ele assegurou-se disso desde o início, afastando-os um por um. Então, quem diabos era aquele rapaz a quem ela gritava que o amava? A cena continuava a reproduzir-se na sua mente como uma fita danificada: as palavras de Cristal cheias de uma paixão inconcebível, o seu rosto iluminado por um fogo que ele nunca tinha presenciado. "Não me casarei com mais ninguém", tinha gritado ela àquele tipo, enquanto este estendia os braços como se a esperasse há séculos. Jarret mordia o interior das bochechas, tentando conter uma fúria que ameaçav
Esse comentário feriu mais do que Jarret estava disposto a admitir. Os dentes rangeram ao apertar a mandíbula, mas obrigou-se a manter-se firme. —Não fazes ideia do que estás a falar —replicou—. Cristal e eu estamos destinados a casar. Há coisas que tu não entendes… coisas que nada têm a ver contigo. Por isso, se sabes alguma coisa útil, diz de uma vez. Muito bem, compro este carro se me disseres onde a deixaram. Guido ergueu as sobrancelhas, fingindo surpresa, embora os seus gestos não parecessem levar Jarret a sério. —Tens a certeza? Esse carro vale muito dinheiro —avisou, mas sem grande insistência. —Posso dar-me a esse luxo —contestou Jarret com arrogância. Jarret odiava ser tratado como um pedinte incapaz de pagar um carro. O pai tinha muito dinheiro, por isso isto não seria um grande gasto, pensou. Seria o seu presente de formatura e de casamento quando lhe dissessem alguma coisa. Comportara-se bem, portanto merecia-o. —Muito bem, vou dizer-te —aceitou Guido, retoman
Enquanto estava no escritório, Filipo analisava meticulosamente os documentos do carro que Jarret supostamente estava disposto a comprar. Fazia-o com uma precisão quase irritante, deixando que o silêncio se estendesse entre ambos, salvo pelo leve som do deslizar da caneta sobre o papel. Jarret, desconfortável com aquela atmosfera tensa, passeava o olhar pelas fotografias que decoravam as paredes. Eram imagens cheias de movimento e adrenalina, momentos capturados na plena glória das corridas de alta velocidade organizadas pela família Garibaldi. Era inevitável que a curiosidade tomasse conta dele.—Organizam corridas de carros? —soltou ao acaso, tentando quebrar o gelo, mas sobretudo procurando dar mais fluidez à conversa para recolher peças soltas de informação.—Sim, organizamos corridas profissionais e também por entretenimento —respondeu Filipo com uma voz impass&i
Filipo vê-o afastar-se e não gosta nada disso. Sempre teve um bom olho para ler as pessoas, e este Jarret não lhe parece uma boa pessoa; mandará vigiá-lo. Tem de avisar Gerónimo, pensa enquanto pega no telemóvel. —Onde estás, primo? —pergunta num sussurro. —A chegar à cabana —responde Gerónimo. —Então fica lá um tempo —ordena-lhe com firmeza—. O ex-noivo anda à procura da tua mulher e não acredito que seja com boas intenções. Como estão as coisas com ela? —Depois de ela ter descoberto quem sou, não muito bem —confessa Gerónimo; entre eles não há segredos. —Isso é lógico —faz uma pausa antes de dizer—. Bom, estás de férias. Se precisar de ti, eu ligo-te. Aproveita, irmão
Cristal então abre os olhos devagar, incorporando-se para olhá-lo diretamente. No seu olhar há algo diferente, uma urgência que atravessa qualquer tentativa de consolo. —Não, Gerónimo, não passou —afirma, cheia de determinação—. Ainda há coisas que precisamos resolver com urgência, e vais ter de me ajudar. Ou não sei se o terão de fazer os meus pais… Gerónimo sente um arrepio percorrer-lhe a espinha, mas em vez de responder, limita-se a observá-la por mais um instante, tentando decifrar a magnitude do que ela está a pedir. Sabia que isto não tinha terminado. A sombra do passado… esse passado, continuava a persegui-la com ferocidade. —A que te referes? O que é que os teus pais têm de fazer? —pergunta Gerónimo, cravando o olhar na sua esposa, tentando descobrir o qu
Cristal fica em silêncio por um momento, como se reunir as palavras dentro de si fosse mais difícil do que tinha imaginado. Finalmente, tomando forças da mão que a sustenta, responde num fio de voz: —Agapy Papadopulos. Ao ouvir a revelação, Gerónimo acena levemente, como que saboreando o nome pela primeira vez. Mas Cristal, olhando-o com atenção, sente como a tensão se apodera dela. A sua respiração torna-se pesada, o peito preso numa rede invisível de dúvidas. Queria que ele soubesse, sim, mas agora que disse, teme a cada segundo que passa sem que ele reaja. Por que não diz nada? Como pode manter-se tão sereno? A sua mente enche-se de suposições. Estava convencida de que esse apelido seria suficiente para despertar nele algum tipo de reconhecimento, ainda mais tratando-se do terreno em que ambos se movem. Toda R
Cristal encolhe-se ligeiramente, como se quisesse tornar-se mais pequena no seu assento. Esforça-se para responder, mas a incerteza invade-a. —Não sei se é o mesmo, não sei o apelido dele... —balbucia finalmente, mordendo o lábio inferior enquanto desvia o olhar para algum ponto indefinido no chão. E depois, permanece em silêncio. Gerónimo, que por segundos fica imóvel, parece debater-se internamente sobre o que fazer com essa informação. Finalmente, a sua própria determinação prevalece. Segura-lhe a mão outra vez com mais força, embora no toque ainda haja uma carícia reconfortante. O polegar desenha círculos na pele de Cristal. Ele não a olha enquanto o faz, mas a sua aura imponente diz tudo. —Amor... —rompe o silêncio com uma voz grave. Cada palavra pronunciada é uma declara&cced