Fez muito bem em ligar ao seu primo, disse a si mesmo enquanto se levantava sob o olhar interrogante de Guido. Procurou no lugar onde tinha escondido o certificado de casamento, pegou nele e, depois de se certificar de que estava em ordem, virou-se para Guido, que o olhava intrigado, sem entender o que ele estava a fazer.
—Vamos, Guido, leva-me a registar o certificado de casamento. O Filipo concorda contigo, mas disse que devo registá-lo para que os nossos pais não possam fazer nada —explicou com um grande sorriso—. Esse nosso primo é um génio. —Eu disse-te! —Guido levantou-se de um salto, entusiasmado—. Essa é a melhor solução. Sim, eu sei onde temos de ir. Vamos, é no centro. Gerónimo, agora decidido a tudo, estava pronto. Contar-lhe-ia aos pais mesmo que ainda não tivesse encontrado a esposa. —Vamos agora, temos de chegarNão se casaria com um homem que não estivesse disposto a aceitar ter filhos. Era filho único e tinha sofrido muito com isso; tinha prometido a si mesmo criar uma família grande. O sorriso desapareceu dos seus lábios antes de murmurar com um fio de voz, quase num sussurro covarde: —Não queres? —Estava a pensar em encontrar uma mãe de substituição e ter um filho teu e meu —clarificou Darío, provocando em Oliver um salto de felicidade. —Isso é ainda melhor! —gritou Oliver, apaixonado com a ideia—. Nesse caso… —Espera! —interrompeu-o Darío, com um sorriso—. Quero ser eu a fazer essa pergunta. Porque, entre nós dois, está bem claro quem será o dominante. —O que queres dizer com isso? —perguntou Oliver, um pouco assustado. —Oli, queres s
O que deveria dizer aos seus pais? Sabia, pelas perguntas do seu irmão, que eles estavam a par do seu casamento, embora ela não os tivesse convidado. Não queria que Jarret descobrisse que lhes tinha mentido. Deixou que a água corresse pelo seu longo cabelo loiro e encaracolado, a única coisa que tinha mantido como lembrança do seu pai. Ele dizia sempre que adorava o seu cabelo comprido, igual ao da deusa Afrodite, e, por isso, nunca o tinha cortado. Saiu do duche e olhou-se ao espelho. Grandes olheiras negras emolduravam os seus olhos, dando-lhe um aspeto exausto. Mas recompôs-se. Tinha de pensar. Precisava de encontrar uma história para contar aos pais: diria que tinha fugido com o amor da sua vida e que tinha casado com ele. —Pensa, Agapy, não podem descobrir a mentira —disse para si mesma—. Como vais dizer que ele se chama? É italiano, disso tens a certeza. E
Cristal baixou a cabeça tentando evitar que a sua mãe visse o seu olhar de culpa. Lembrava-se de que, quando era criança, a mãe sempre sabia quando ela mentia. Temia que, apesar de todo o tempo que tinha passado, ainda fosse assim. —Por que fugiste do teu casamento? O Jarret não era o homem da tua vida? —A pergunta da mãe foi seguida por uma expressão de surpresa ao ouvir a resposta de Cristal: —Não, não era! Percebi isso quando o descobri no quarto com o… membro dele na boca de quem supostamente era a minha melhor amiga, Helen. —Panayía mu! (Virgem Maria!) —exclamou a mãe, incrédula—. Fizeram isso? —Sim, aqueles desgraçados só estavam a usar-me porque queriam entrar na nossa família de mafiosos —confessou Cristal com uma mistura de raiva e alívio. Sentia uma enorme neces
Cristal encolheu os ombros, deliciando-se com as iguarias que a sua mãe tinha preparado para ela. Naquele momento, percebeu o quanto os tinha saudades. Enquanto comia, acrescentou que tinha de falar com o seu marido ao regressar, já que ainda não tinham conversado. Explicou à mãe que, antes de tudo, ele tinha ido à América para tentar convencê-la a não casar, mas ela, por estupidez, tinha recusado por causa dos anos que tinha passado com o Jarret. Sentia que não devia fazer-lhe uma coisa dessas. Contudo, no final, revelou-se tudo uma grande farsa; Jarret era uma personagem inventada apenas para a conquistar e usá-la. Por isso, tinha fugido com o seu verdadeiro amor italiano. —Quando o conheceste? —perguntou Stavri, cheia de curiosidade. —Há um ano, quando vim a Roma para um desfile de moda —respondeu Cristal de forma despreocupada, surpreendendo a m&atil
Cristal olhou para ela incrédula. Nunca, em todas as desculpas que tinha imaginado para justificar a sua situação, lhe tinha passado algo assim pela cabeça. Observou atentamente a mãe, agora desejosa de saber toda a verdade. Stavri acenou com a cabeça e continuou a contar: —Naquela altura, ele era um poderoso mafioso aqui em Roma. Não sei exatamente o que aconteceu, mas ele meteu-se com os mafiosos Garibaldi por causa de uma mulher. Acho que ela era amiga deles. —E o que aconteceu? —perguntou Cristal, agora muito interessada. Talvez a tenham afastado da família por isso, e afinal não havia motivos para odiá-los. —Tivemos sorte que isso acontecesse —explicou Stavri, soltando um longo suspiro—. Os Garibaldi eram muito temidos por todos; ainda o são. Têm boas relações com a Cosa Nostra. Entre eles e o teu pai, armaram-l
Cristal ficou a olhar para o pai com raiva contida. Queria dizer tantas coisas, mas decidiu calar-se, recordando que precisava mantê-lo calmo para enfrentar o que estava por vir com o seu misterioso marido. Com um suspiro, virou-se para a mãe. —Mamã... é melhor que sejas tu a contar-lhe —disse, vendo a incredulidade nos rostos de ambos—. Tenho muitas coisas para fazer. Para começar, papá, preciso de dinheiro para comprar roupa. Não tenho nada; deixei tudo na América. —Sim, filha, sim —respondeu o pai apressadamente, tirando a carteira—. Toma este cartão, tem crédito ilimitado. Compra o que quiseres. Mas não vás sozinha, leva o teu irmão contigo. —Prefiro ir sozinha. Afinal de contas, vocês não têm filha, porque morreu quando tinha dez anos. Não estou em perigo nenhum. Esqueceram-se disso? &md
Lorenzo imediatamente contou que, há pouco tempo, tinha saído uma rapariga de cabelo loiro encaracolado, com uns olhos verdes de sonho. —Conheces-la, por acaso? —pergunta Gerónimo, cravando o seu olhar inquisitivo em Lorenzo. —Não, é a primeira vez que a vejo. Tem sotaque estrangeiro. E, por pouco, comprava a loja toda... até um disfarce levou —responde Lorenzo sem hesitar. O dono da loja continua a detalhar: comenta que ela não estava acompanhada e que, enquanto pagava, ouviu-a a falar ao telefone com o irmão. Segundo ele, tinham escolhido fatos para irem naquela mesma noite ao clube dos Grecos. —Não sei se sabes, abriram um novo no centro. Tem-se tornado bastante famoso ultimamente, embora ainda lhe falte muito para competir com o vosso —acrescenta Lorenzo, como quem não resiste a continuar a falar—. Hoje há um baile
Coral olhou divertida para os seus dois primos, mas não lhe convinha dizer-lhes nada. Infelizmente, eram muito ciumentos, e com os seus primos já bastava; por isso, como sempre, evitou responder. —Gerónimo, não perguntes. Só te direi que preciso ver o que está a fazer o meu Gatinho —respondeu Coral, rindo para si mesma. —Tens um gato? —perguntou Guido, incrédulo, arqueando uma sobrancelha—. Mas tu nem gostas de animais! —Bem, Guido, pode ser que este me venha a agradar —replicou Coral, divertida ao ver a expressão de espanto dos primos—. K, k, k… Vou divertir-me muito a domesticar o meu Gatinho. —Coral, tem cuidado. Já sabes que o tio Carlos te mandou para aquela escola por causa das tuas loucuras —advertiu Gerónimo com seriedade. —Não te preocupes, primo. Vou fazer tudo muito