Guido continuava a rir-se sem qualquer controlo. Não conseguia conter-se. O grande Gerónimo, reduzido e domado por uma mulher desconhecida.
—K, k, k, ha… Isto é algo que nunca pensei ver —disse, segurando a barriga. —Para de gozar comigo, por favor, irmão! —pediu-lhe Gerónimo, visivelmente frustrado, tentando não explodir contra ele—. Sinto que não consigo respirar sempre que penso nela, juro-te! Estou loucamente apaixonado pela minha esposa desconhecida. —Gosto de como isso soa… K, k, k… —disse Guido entre risos—. A minha esposa desconhecida. Vou dizer ao Darío e ao Asiri para fazerem um filme sobre vocês, K, k, k… —¡¡¡Guido…!!! —gritou-lhe Gerónimo num tom ameaçador, mas o irmão não conseguia parar de rir. Apesar do tom, GFez muito bem em ligar ao seu primo, disse a si mesmo enquanto se levantava sob o olhar interrogante de Guido. Procurou no lugar onde tinha escondido o certificado de casamento, pegou nele e, depois de se certificar de que estava em ordem, virou-se para Guido, que o olhava intrigado, sem entender o que ele estava a fazer. —Vamos, Guido, leva-me a registar o certificado de casamento. O Filipo concorda contigo, mas disse que devo registá-lo para que os nossos pais não possam fazer nada —explicou com um grande sorriso—. Esse nosso primo é um génio. —Eu disse-te! —Guido levantou-se de um salto, entusiasmado—. Essa é a melhor solução. Sim, eu sei onde temos de ir. Vamos, é no centro. Gerónimo, agora decidido a tudo, estava pronto. Contar-lhe-ia aos pais mesmo que ainda não tivesse encontrado a esposa. —Vamos agora, temos de chegar
Não se casaria com um homem que não estivesse disposto a aceitar ter filhos. Era filho único e tinha sofrido muito com isso; tinha prometido a si mesmo criar uma família grande. O sorriso desapareceu dos seus lábios antes de murmurar com um fio de voz, quase num sussurro covarde: —Não queres? —Estava a pensar em encontrar uma mãe de substituição e ter um filho teu e meu —clarificou Darío, provocando em Oliver um salto de felicidade. —Isso é ainda melhor! —gritou Oliver, apaixonado com a ideia—. Nesse caso… —Espera! —interrompeu-o Darío, com um sorriso—. Quero ser eu a fazer essa pergunta. Porque, entre nós dois, está bem claro quem será o dominante. —O que queres dizer com isso? —perguntou Oliver, um pouco assustado. —Oli, queres s
O que deveria dizer aos seus pais? Sabia, pelas perguntas do seu irmão, que eles estavam a par do seu casamento, embora ela não os tivesse convidado. Não queria que Jarret descobrisse que lhes tinha mentido. Deixou que a água corresse pelo seu longo cabelo loiro e encaracolado, a única coisa que tinha mantido como lembrança do seu pai. Ele dizia sempre que adorava o seu cabelo comprido, igual ao da deusa Afrodite, e, por isso, nunca o tinha cortado. Saiu do duche e olhou-se ao espelho. Grandes olheiras negras emolduravam os seus olhos, dando-lhe um aspeto exausto. Mas recompôs-se. Tinha de pensar. Precisava de encontrar uma história para contar aos pais: diria que tinha fugido com o amor da sua vida e que tinha casado com ele. —Pensa, Agapy, não podem descobrir a mentira —disse para si mesma—. Como vais dizer que ele se chama? É italiano, disso tens a certeza. E
Cristal baixou a cabeça tentando evitar que a sua mãe visse o seu olhar de culpa. Lembrava-se de que, quando era criança, a mãe sempre sabia quando ela mentia. Temia que, apesar de todo o tempo que tinha passado, ainda fosse assim. —Por que fugiste do teu casamento? O Jarret não era o homem da tua vida? —A pergunta da mãe foi seguida por uma expressão de surpresa ao ouvir a resposta de Cristal: —Não, não era! Percebi isso quando o descobri no quarto com o… membro dele na boca de quem supostamente era a minha melhor amiga, Helen. —Panayía mu! (Virgem Maria!) —exclamou a mãe, incrédula—. Fizeram isso? —Sim, aqueles desgraçados só estavam a usar-me porque queriam entrar na nossa família de mafiosos —confessou Cristal com uma mistura de raiva e alívio. Sentia uma enorme neces
Cristal encolheu os ombros, deliciando-se com as iguarias que a sua mãe tinha preparado para ela. Naquele momento, percebeu o quanto os tinha saudades. Enquanto comia, acrescentou que tinha de falar com o seu marido ao regressar, já que ainda não tinham conversado. Explicou à mãe que, antes de tudo, ele tinha ido à América para tentar convencê-la a não casar, mas ela, por estupidez, tinha recusado por causa dos anos que tinha passado com o Jarret. Sentia que não devia fazer-lhe uma coisa dessas. Contudo, no final, revelou-se tudo uma grande farsa; Jarret era uma personagem inventada apenas para a conquistar e usá-la. Por isso, tinha fugido com o seu verdadeiro amor italiano. —Quando o conheceste? —perguntou Stavri, cheia de curiosidade. —Há um ano, quando vim a Roma para um desfile de moda —respondeu Cristal de forma despreocupada, surpreendendo a m&atil
Cristal olhou para ela incrédula. Nunca, em todas as desculpas que tinha imaginado para justificar a sua situação, lhe tinha passado algo assim pela cabeça. Observou atentamente a mãe, agora desejosa de saber toda a verdade. Stavri acenou com a cabeça e continuou a contar: —Naquela altura, ele era um poderoso mafioso aqui em Roma. Não sei exatamente o que aconteceu, mas ele meteu-se com os mafiosos Garibaldi por causa de uma mulher. Acho que ela era amiga deles. —E o que aconteceu? —perguntou Cristal, agora muito interessada. Talvez a tenham afastado da família por isso, e afinal não havia motivos para odiá-los. —Tivemos sorte que isso acontecesse —explicou Stavri, soltando um longo suspiro—. Os Garibaldi eram muito temidos por todos; ainda o são. Têm boas relações com a Cosa Nostra. Entre eles e o teu pai, armaram-l
Cristal ficou a olhar para o pai com raiva contida. Queria dizer tantas coisas, mas decidiu calar-se, recordando que precisava mantê-lo calmo para enfrentar o que estava por vir com o seu misterioso marido. Com um suspiro, virou-se para a mãe. —Mamã... é melhor que sejas tu a contar-lhe —disse, vendo a incredulidade nos rostos de ambos—. Tenho muitas coisas para fazer. Para começar, papá, preciso de dinheiro para comprar roupa. Não tenho nada; deixei tudo na América. —Sim, filha, sim —respondeu o pai apressadamente, tirando a carteira—. Toma este cartão, tem crédito ilimitado. Compra o que quiseres. Mas não vás sozinha, leva o teu irmão contigo. —Prefiro ir sozinha. Afinal de contas, vocês não têm filha, porque morreu quando tinha dez anos. Não estou em perigo nenhum. Esqueceram-se disso? &md
O burburinho em frente ao luxuoso hotel dividia-se entre murmúrios, risos e exclamações, mas nada, absolutamente nada, podia competir com a imagem de uma mulher vestida de noiva a correr descalça, com as saias do seu vestido enroladas nas mãos. O seu longo véu voava no ar enquanto ela virava a cabeça para trás para ver se estava a ser perseguida, enquanto a sua mente lhe repetia uma e outra vez que devia escapar, devia fugir agora ou não iria conseguir! —Pára, amor! Pára…! Vou contigo, amor, vou contigo…! —gritou com todas as suas forças. As suas palavras cortaram o ar como um impacto direto no peito de qualquer pessoa que a ouvisse. Era um grito de socorro, um apelo que parecia conter toda a força de quem tenta salvar a sua vida ou... recuperar algo que não quer perder. —Não me deixes…! Não me deixes…! Não me casarei com outro que não sejas tu…! —gritou novamente, rompendo a monotonia do lugar—. Amo-te! Amo-te! Espera por mim! A multidão, que a princípio mal prestou atenção,