Escutei um pequeno ruído distante, um som de um bip que ficava cada vez mais alto. Uma dor profunda se apossou dos meus ossos, tornando impossível me mover. Meus olhos se abriram lentamente, acostumando-se à iluminação do lugar, enquanto uma agonia corroía minha alma.Respirei pesadamente, tentando me lembrar onde estava ou simplesmente o que havia acontecido. Meus olhos pesaram enquanto eu tentava acalmar algo dentro de mim. Mas o que exatamente eu estava tentando acalmar?Meu coração batia em um ritmo frenético enquanto meus olhos tentavam reconhecer o lugar. Nada fazia sentido, nada ali se encaixava na minha mente. Enquanto eu pensava e processava, a porta foi aberta e uma mulher com uma bandeja correu em minha direção.– Senhorita? Graças a Deus!Ela soltou um suspiro de alívio enquanto depositava a bandeja na mesa ao lado e se aproximava de onde eu estava.– Estávamos todos preocupados, a senhorita deveria ter acordado há dias.Eu quase não entendia o que ela falava. Olhei ao red
Eu ainda estou digerindo toda a informação que me foi passada. Mariana disse que nosso pai está a caminho e, junto dele, Alexander.Tenho várias perguntas surgindo e girando na minha cabeça, mas não vou incomodar Mariana com isso. Ela parece bem agitada e nervosa com toda esta situação, por esse motivo, mesmo querendo gritar, correr, me desesperar, não o faço. Não irei preocupar Mariana com os meus problemas.Não estou bem. Me sinto um peixe fora d'água. Algumas coisas que ela me diz eu finjo aceitar, mas não aceito. A única coisa extraordinária de tudo é Lucas. Ela fala do meu filho com tanta devoção que me deixa maravilhada. Já Alexander, ela não tem muito a dizer, só que ele é bom para mim.Os minutos passam e escuto um burburinho do lado de fora. Já sei que é meu pai; por onde ele passa, causa um alvoroço. A porta se abre e meu pai entra a passos largos. Ele me abraça com tanta força que tenho dificuldade de respirar.– Pai... dói... – resmungo, tentando empurrá-lo.– Nunca mais f
Ela não é mais a mesma.O tom de sua voz não possui aquele ar de mágoa e arrogância. Pela primeira vez, ela me olhou com os olhos brilhando e, mesmo estando cansada e medicada, não deixou de sorrir.Quando entrei no quarto, estava com medo da sua reação. Sinceramente, uma parte de mim não quer que ela se lembre. É tão bom conversar com ela sem ter que discutir, sem ter que me preocupar que feridas serão novamente abertas. Eu não quero estar em um impasse com ela, onde terei que dizer coisas que, no fundo, não queria dizer. Foi tão bom poder ouvi-la, tocar sua mão sem ter que me preocupar com suas palavras amargas. Essa é a Helena que eu queria ter conhecido, essa é a Helena que um dia eu ajudei a destruir. Eu gostaria que essa Helena não se lembrasse de todo o mal que lhe foi feito.Porém, mesmo que ela não se lembre, eu irei contar.Tenho que ter em mente a nossa realidade: Helena nunca quis nada comigo e, embora eu considere a possibilidade de construir uma família com ela, eu sei q
Três semanas se passaram. É horrível ficar trancada em um quarto sem poder fazer nada. Para minha sorte, Alexander fica comigo nas horas em que não estou fazendo fisioterapia. Nesses momentos, ele me atualiza sobre alguns eventos lá fora ‐ não que ele goste de falar, ele é um cara bem calado ‐ mas eu o obrigo a me contar coisas que são do meu interesse e que não consigo saber por meio de Mariana.É engraçado ver como um pequeno vinco se forma no meio da sua testa quando ele se sente contrariado, ou quando ele sorri sem jeito quando falo algo sem pensar.Ele me mostrou fotos de Alice. A garotinha é linda e, pelo que descobri, ela se parece muito com a mãe. É lógico que a minha curiosidade não iria parar em Alice; também fiz perguntas sobre a ex-esposa, que pelo o que descobri, morreu em um atentado. Alice perdeu a mãe muito nova. Alexander desconfia que por esse motivo, Alice se tornou independente. Diz ele que a pequena não lhe dá trabalho em nada, porém é muito tagarela e curiosa. Pe
A viagem de Chicago a Nova York foi tranquila, embora eu tenha me sentido um pouco apreensiva no começo. Quando vi o avião, senti uma sensação de desconforto. Creio que seja por causa do acidente. Ainda não lembro exatamente o que houve, mas posso sentir na pele, na alma.Foram cerca de três horas até chegarmos à casa onde Alexander morava, que para minha surpresa, era um lugar parecido com um bosque. Era muito lindo. As árvores abriam caminho até a entrada principal da casa. Ao descer do carro, pude ver um campo de futebol, um belo gramado cheio de flores e um fontanário muito grande, todo branco.A casa é magnífica. Uma casa de dois pisos, com telhados pintados de cinza claro. Há muitas pedras espalhadas na parede, e onde não tem pedra, é pintado de bege. Simplesmente magnífico, uma verdadeira casa americana.Observo Alexander conversar com alguns homens de terno e não demora até que ele venha ao meu encontro.– Vamos – ele me pega pela mão e me puxa para dentro.Subimos uma pequena
Depois de muito pensar, resolvi tomar um banho. Uma leve dor de cabeça me atingiu e, como ela não me deixava dormir, resolvi tomar meus medicamentos antes da hora. Não quero me automedicar, apenas preciso dormir e, se me entupir de remédios for a solução, assim será. Minutos depois, o sono me atingiu e senti uma paz inexplicável.Acordo com o som estridente do meu celular, atendo ainda sonolenta.– Oi?Aquela voz rouca e suave me atingiu, fazendo meu coração acelerar.– Helena, vamos descer para o almoço.– Eu poderia almoçar no quarto?Ouço ele suspirar.– Não! Minha família está reunida para te dar boas-vindas.– Em vinte minutos eu saio.Desligo o celular sem dar tempo para ele falar algo. Me sento na cama, ainda analisando minha situação. Parece que dormi por duas horas e ainda estou morrendo de sono.Tomei um banho rápido, vesti um macacão plissado vermelho com um cinto dourado e uma sandália também dourada. Deixo meus cabelos soltos e passo uma leve maquiagem. E, como prometido,
Acordei e olhei no relógio que fica no criado-mudo. Eram seis horas da tarde. Não sei como consegui dormir tanto. Vou ao banheiro e tomo outro banho. Tantas coisas estão fervilhando na minha cabeça.A reação e as palavras de Mariana quando acordei, o comportamento apreensivo do meu pai, as falas e as atitudes de Alexander. Não posso esperar mais, preciso ter respostas agora.E Yago? Como esse nome é tão comum para mim? É como se eu já tivesse falado este nome milhares de vezes. Eu sinto que a pessoa que possui este nome foi alguém muito importante na minha vida.Saio do banho e visto um vestido confortável. Procuro meu celular e só agora me lembro que o esqueci na mesa de jantar.Desço as escadas rápido, preciso fazer uma ligação urgente para Mariana.Na sala, encontro Maíra, Alice, Samanta e meu filho. Como eu posso esquecer que tenho um filho? Meu Deus, eu vou ficar louca!Me aproximo de Lucas, que, quando me vê, vem andando devagar na minha direção, dizendo "mamãe". O pego no colo,
Estou há mais de dez horas enfiado neste galpão. Antes de tratarmos do cúmplice de Yago, tínhamos outros assuntos para resolver, até que chegou a vez dele.Rodolfo é um sádico. Nosso pai sempre pegou mais pesado com ele, transformando-o em um lunático. Esses momentos de tortura são os preferidos dele, por este motivo Otávio e eu sentamos e aguardamos o subchefe se acalmar.Ouço mais um osso sendo quebrado e o grito irritante de Paulo. Se continuar assim, ele virará farelo, e eu não terei as informações que preciso.– Já chega – digo, me aproximando.– Agora que eu comecei – reclama Rodolfo. Ele está com sua camisa branca banhada de sangue. Bom, era uma vez a camisa.– Você está há mais de quatro horas torturando o pobre homem, e ele ainda não disse nada – diz Otávio, se aproximando com uma pasta na mão. Ele puxa uma cadeira e se senta em frente a Paulo, que o olha com os olhos meio fechados. – Eu tenho uma surpresinha para te mostrar. Olha o que eu encontrei.Paulo cospe um pouco de s