NORIAH NORTE, 22 ANOS ANTES.
Assim que o movimento enfraqueceu, pedi para minha chefe:
— Senhora Miranda, não me sinto bem. Será que eu poderia sair um pouco mais cedo hoje?
A mulher, com cara de poucos amigos, olhou no relógio e disse, secamente:
— Vou descontar estes quinze minutos do seu salário.
— Ok — aceitei.
Peguei minha bolsa e senti-me enjoada novamente. E sabia que um pouco era pela forma como ela havia me tratado. Não bastava ser rica, tinha que ser também uma pessoa cruel e sem coração.
Além de não estar realmente nos meus melhores dias, tinha que passar no laboratório para retirar o exame antes que fechasse as portas. Sim, porque meu horário de trabalho não coincidia com o deles, então o simples fato de retirar um papel era algo extremamente difícil. E não, eu não tinha ninguém que pudesse fazer aquilo por mim.
Assim que saí na rua, senti o cheiro de escapamentos de carros, o trânsito congestionado, o vai e vem de pessoas de um lado para o outro e incrivelmente aquilo fez-me sentir melhor do que dentro do meu local de trabalho.
Andei rapidamente, enquanto olhava os ponteiros do relógio indo mais rápido do que eu esperava.
Senti uma mão firme segurar meu braço, de forma tão brusca que quase caí.
Olhei o homem baixo, bem vestido e não lembrei de ter tido contato com ele antes em algum momento de minha vida.
Fixei o olhar no braço, que o homem seguia apertando.
— Precisamos conversar — a voz foi gélida e tão firme quanto os dedos dele na minha pele.
— O senhor... Deve estar me confundindo com alguém — andei um passo para o lado, quase encostando na fachada de um prédio, puxando meu braço do toque nada gentil dele.
— Não estou confundindo você com outra pessoa, “Candy” — o meu nome soou de forma debochada, reiterado com o sorriso de desdém dos lábios dele.
— De onde... Me conhece? O que quer comigo?
— Podemos tomar um café? Eu pago.
— Não — falei amedrontada.
— Seria melhor falarmos num lugar mais reservado.
— Não... — minha voz soou mais fraca e olhei para os lados, pensando se era possível fugir dali.
— Não quero ser violento com você, Candy.
— O que... Eu fiz?
Certamente o homem estava me confundindo com alguém. Eu era morena, magra, olhos escuros... Um tipo comum. Respirei fundo e sorri:
— Não sou quem o senhor está pensando, eu garanto. Deve haver um mal-entendido aqui.
— Candy Smith... Trabalha na loja de tecidos na esquina da quinta com a sexta avenida. A “doce” proprietária se chama Miranda Collor. Ah... Você mora num quarto fedido e nojento, que chama de “casa”.
— Eu...
— Venha comigo agora!
Eu poderia dizer não. Mas tive medo. Como aquela pessoa que eu nunca vi sabia tanto sobre mim?
Ele saiu andando e eu o acompanhei, mesmo sabendo que sair correndo era a melhor coisa a fazer. Entramos numa cafeteria antiga e barata, que tinha como principal clientela os trabalhadores das redondezas.
O homem, vestido com roupas caras e de grife, sentou-se e empurrou uma cadeira com o pé, para que eu fizesse o mesmo.
Sentei e já comecei a sentir meu estômago embrulhar com o cheiro de fritura do local.
— Candy, vou direto ao ponto. Você está envolvida com meu filho e quero que isso acabe.
O olhei, incrédula:
— Você é o pai de...
— Sim, sou o pai dele. Você não é nada para o meu filho. Exijo que termine logo a porra que vocês começaram por bem ou farei de uma forma que certamente você não vai gostar.
— Nós... Nos amamos. Ele nunca sequer mencionou sobre a família.
— Ele é de uma família tradicional e rica. E mulheres como você não estão à altura de homens como nós.
Levantei. Eu não precisava ouvir aquilo:
— O senhor é repugnante. Mande seu filho acabar comigo... Porque eu não vou fazer isso.
— Candy, Candy... Não seja ingênua. Sabe que não tem onde cair morta, literalmente... Nem viva você tem onde cair.
Senti as lágrimas invadirem meus olhos e uma dor incontrolável dentro de mim. Passei por muitas coisas horríveis na vida, mas jamais fui tão humilhada da forma como estava sendo.
Saí correndo, sem olhar para trás. A visão estava turva por conta das lágrimas. Tinha somente cinco minutos para chegar no laboratório, que ficava na outra quadra. E se não bastasse, começou a chover.
Atravessei a rua entre os carros que não paravam para os pedestres, pondo minha vida em risco. Cheguei em frente ao laboratório exatamente às 18 horas. Estavam fechando a porta, mas creio que ao avistarem minha cara de desespero e o estado deplorável que me encontrava por conta da chuva, me deixaram entrar.
— Obrigada... — falei, sem sair de onde estava, próximo da porta, não querendo sujar o local. — Eu vim buscar um exame.
A mulher sorriu:
— Candy Smith?
— Sim, sou eu... — retribui o sorriso, confusa.
Agora todo mundo sabia quem eu era? Fiquei com medo novamente. Ela procurou entre os papéis e entregou-me:
— Seu nome é diferente. E bonito. Ficou na minha cabeça.
Eu sorri gentilmente, me tranquilizando:
— Obrigada... O nome é tão criativo quanto minha mãe.
O estrondo de um trovão me fez dar um salto:
— Obrigada... Muito obrigada.
Fui saindo, sabendo exatamente o quanto era horrível estar fechando o estabelecimento, vendo o descanso na sua frente quando chegava um cliente a um minuto de o horário encerrar.
Não consegui esperar chegar em casa. Abri o papel e li o resultado, claro como água: POSITIVO.
Agora sim eu chorei... E se fosse uma hora antes de aquele homem cruzar meu caminho, estaria feliz da vida sabendo que estava grávida. Mas agora já não tinha certeza. Por que o amor da minha vida mentiu-me? Teria ficado com medo de eu estar com ele por interesse, caso fosse rico? E se ele realmente tinha posses, como o dito “pai” falara, por qual motivo fingia ser pobre?
Andei na chuva, devagar, sem me preocupar, visto que já estava completamente encharcada. Assim que cheguei em frente ao portão da pensão onde morava, fui diretamente até a recepção:— Olá, dona Eva. Será que eu poderia, por favor, usar o seu telefone?Ela me olhou e disse, sem pensar duas vezes:— Claro.Arqueei a sobrancelha. A mulher disse “claro”? A velha detestava quando eu pedia para ligar e ainda pedia dinheiro na hora para cobrir o custo da conta.Enfim, eu não iria questionar. Pior seria se ela agisse como sempre, praticamente me fazendo implorar.Disquei o número que já sabia de cor:— Alô — ouvi a voz que fazia meu coração bater mais forte.— Sou eu, meu amor.— Candy? — a voz dele foi de felicidade ao saber que era eu.— Sim... Eu... Preciso falar com você.— Eu também preciso falar com você — pude ouvir a risada dele do outro lado. — Tenho uma surpresa.— Jura? Eu também... — limpei as lágrimas que ainda me atormentavam.— A minha vai ser especial.— A minha mais... — gara
NORIAH NORTE, TEMPOS ATUAISAssim que chegamos, Cristiano me olhou demoradamente antes de desligar o carro.Senti um arrepio percorrendo minha espinha, sabendo tudo que aconteceria.- Preparada? – Ele perguntou.- Sim... Nasci preparada.Cristiano riu, me fazendo rir também. Meu namorado era um homem maravilhoso. Antes que eu abrisse a porta do automóvel, ele já estava fazendo isso, me auxiliando a descer.- Espere. Fique aqui e feche os olhos... Por favor. – Pediu, com um sorriso encantador e nervoso nos lábios.- Ok... Eu... Acho que consigo. – Pronunciei o “acho” de forma sincera.Achei que não conseguiria, mas no fim, tive a capacidade de fechar os olhos e não abrí-los, como ele pediu. Porque na verdade, eu já imaginava que ele criaria um ambiente bem romântico para aquele momento.Escorei-me no capô do carro, me sentind
- Não... Está... Tudo bem... – Olhei para tudo encharcado de espumante ao nosso redor.- Que coisa chata... Eu acho que sobrou... Uma taça só.Ele mostrou o líquido que não chegou a encher a taça e me deu um ataque de riso. O problema é que quando me dava estes ataques, eu não conseguia parar. Cris, de início, achou engraçado. Mas depois ficou sério, talvez pensando que eu pudesse estar forçando a situação. A questão é que eu tentava falar, mas não saía. Olhava para taça e lembrava da situação e tudo voltava à minha mente.Eu ri até o ar faltar nos meus pulmões e minha barriga doer. E não sei se era só pela situação com o espumante. Mas pela forma automática como estava sendo aquilo tudo.Respirei fundo e disse:- Vamos transar, “
Já era quase três horas da madrugada. Eu e Tiago tínhamos bebido mais do que de costume. Era aniversário de uma conhecida da época da faculdade. Comida boa, bebida de qualidade e mulheres gostosas.Eu já nem raciocinava mais direito. Olhei duas loiras me observando do mezanino. Sorvi rapidamente o restante do uísque que havia no copo e subi as escadas, sem desviar o olhar delas.Assim que cheguei mais perto, fiquei ainda mais excitado. Não eram gêmeas, embora parecidas.— Nunca fodi duas loiras ao mesmo tempo... Mas posso tentar — fui direto.Elas riram e uma desafiou:— Por acaso você tem dois “paus”?— Não... Só um. Mas é grande pra caralho. Ninguém reclamou até hoje... Nem do tamanho, tampouco do que ele é capaz de fazer. E aposto que, mesmo com um pau, consigo fazer as duas gozarem ao mesmo tempo.Uma delas deslizou a mão pelo meu peito e disse, com a boca convidativa:— Eu gostaria de ver como vai fazer isso, gostoso!— Eu gostaria de mostrar... Agora!As duas vieram uma de cada
— Talvez... — pisquei.— Vamos ligar, hein?— Vou esperar — ou não. Afinal, mulheres como elas encontrava todos os dias, só interessadas numa boa noite de sexo num lugar agradável e caro, e se dessem sorte, eu me apaixonar, casar e elas ficarem ricas.Virei as costas. Eu conhecia todos os tipos de mulheres e delas só queria uma coisa: a boceta.Parei na frente de Tiago, que ainda alisava a gostosa no colo dele.— O que foi?— Meu pai morreu. Acabei de receber a notícia.Ele levantou, quase derrubando a mulher de cima dele.— Devo dar os pêsames?— Se quiser, pode me felicitar também.Meu amigo arqueou a sobrancelha:— Quanto ressentimento.— Ressentimento? Imagina! — debochei. — Vou para Noriah Norte. Preciso participar do funeral.— Eu vou com você.— Eu volto até o final do dia.— E vou perder a oportunidade de conhecer a sua madrasta gostosa? Nem morto!Tiago deu um beijo na testa da garota e saiu comigo da casa.— Beijo na testa? — comecei a rir.— Ela tem que ficar feliz que aind
— Por que... Diabos você desligou os faróis? — arqueei a sobrancelha.— Está louca, Liah?— Eu... Gostaria que me visse nua, Cris.Ele voltou e parou na minha frente, pegando meu queixo e fazendo encará-lo:— Relaxa, Liah... Vai dar tudo certo.Eu estava relaxada, ao contrário dele. Sempre fui uma pessoa muito decidida e dona de mim mesma. Mas naquele momento, mesmo tendo esperado muito por ele, não me sentia segura nem mesmo para dizer ao meu namorado que eu achava que não seria bom transarmos.— Peguei preservativo — ele me mostrou, feliz.Respirei fundo e o abracei. Quando percebi, Cristiano começou a beijar-me de novo.O beijo começou a ficar quente e então o puxei para o colchão novamente, mesmo este estando molhado de espumante. Abri as pernas, só de calcinha, enquanto Cris não havia tirado u
Assim que cheguei na casa de repouso, fui diretamente para o quarto da minha avó, que por um milagre, estava sozinha e não compartilhando com outras mulheres coisas sobre sua própria vida.Abri a porta e ela estava saindo do banho, com uma toalha enrolada nos cabelos e o corpo nu.— Vó, e se entra um enfermeiro? Está tomando banho com a porta aberta?— Liah, a porta ficou aberta para o enfermeiro, querida. Claro que se ele entrar, não sai mais.— Caralho, vovó.— Já sabe, nada de me chamar de vovó em público ou mato você.Rosela Smith foi trocar de roupa enquanto eu sentei numa cadeira de balanço que tinha na sacada individual do quarto dela.Mesmo o prédio sendo todo térreo, cada quarto tinha uma sacada, com sofás confortáveis e mesa. E sim, minha avó fumava escondido, já que era proibid
Exatamente às 19 horas eu estava junto de Milano entrando no prédio que era a Matriz da Construtora Partenon.Os anos passaram, a empresa que meu pai criou foi ficando cada vez mais conhecida e famosa. Por fim, acabou se estabilizando econômica e financeiramente de modo a se tornar a maior de Noriah Norte, havendo inclusive filiais em outros países. No entanto, ele nunca mudou a sede principal e acredito que fosse pelo fato de sua excelente localização.Apesar da matriz ficar na área central, Robson Archambault Chalamet morava em outra cidade, num local mais tranquilo, embora urbano. A mansão havia sido feita pela construtora da família, óbvio. Certamente um dos melhores trabalhos realizados no quesito residencial. Hoje a Construtora Partenon não trabalhava mais com casas de moradia, independentemente do valor que se oferecesse à empresa. O foco era construção de Shoppings,