Capítulo 02 - Perdida

Puxei o celular do bolso da jaqueta já se passavam das 23horas. A noite estava linda, um céu estrelado deslumbrava um brilho naquela noite de verão, eu estava perdida mentalmente, precisava arrumar um abrigo pra passar a noite, meu celular começou a vibrar, era Clara ligando, deixei no silencioso para não atender chamadas de ninguém, não agora. O celular não parava de vibrar. Um certo momento parou de tocar, e começou a chegar mensagens de notificação, tirei novamente o celular e olhei o visor.

"Beatrice, onde você está? Me fala que vou até você. Eu não ligo para o que minha mãe diz, me deixe ajudar você."

Clara mandou essa mensagem seguida por vários pontos de interrogação .

Eu não vou falar onde estou, não quero ser a causa de afastar minha amiga de sua casa nem de sua mãe.

Clara é uma garota de 21 anos, que gosta de viver livre, ela é intensa e um pouco rebelde, mais não é de dar trabalho para seus pais. Nos conhecemos no primeiro ano do ensino médio, depois daquele dia nunca mais nos afastamos, é parte de mim e eu sou a parte dela, tudo que fazíamos quando não estávamos juntas contávamos uma para outra, trocávamos presentes quando fazíamos aniversário de amizade, todo ano na mesma data que nos conhecemos trocávamos presentes. Acho que agora tudo isso foi por água abaixo, anos de amizade com Clara, minha vida com minha mãe, tudo vai ficar na lembrança.

Meu celular voltou a vibrar, eu ignorei e continuei andando, uma hora ela teria que desistir.

Continuei andando sem rumo, já estava na orla da praia de San Clemente, fui em direção a beira da praia tirei os chinelos e deixei as ondas molharem meus pés, a água estava morna e fresca, em outra ocasião Clara e eu estaríamos tirando a roupa e tomando banho somente de lingeries.

[Lembranças on]

— Vamos tomar um banho? — Clara perguntou levantando-se da areia.

— Agora? — me espantei. Eu nunca havia tomado banho de praia a noite.

— Vamos Beea, o clima está fresco e a noite está quente.

— Mais eu não estou com roupa de banho.

— e daí sua boba. Toma banho de sutiã e calcinha mesmo não tem quase ninguém aqui.

— Aí será? — eu estava com vergonha, realmente não tinha ninguém, as pessoas que estavam lá, estavam distantes.

— Vamos amiga levanta.

Clara começou a tirar a roupa, tirou a blusa, depois o shorts. Eu permanecia sentada na areia vendo ela se despir, Clara me levantou puxando meu braço.

— Vamos senão te levo a força. Você vai gostar. Prometo.

Eu sabia que ela não ia parar, então comecei a tirar a roupa, tirei a blusa, eu estava usando um sutiã de renda vermelho com detalhes pretos, comecei a desabotoar meu shorts quando ouvi alguém assoviando de modo descarado, olhei para trás e tinha um grupo de garotos olhando em nossa direção.

— Aí amiga não vou mais! — falei vestindo a camisa de novo.

— Não liga pra eles, são uns bobos. — Ela falou. — Vão procurar o que fazer seus desocupados. — Clara gritou em seguida.

Continuei tirando a roupa, Clara me puxou pela mão e fomos em direção ao mar. Clara soltou minha mão e deu um mergulho emergindo em seguida.

— Está deliciosa Beea, mergulha.

Fiz o mesmo e mergulhei, e a água estava fresca, iluminada apenas pela luz da lua e das estrelas, lançados brilhos cintilantes no horizonte.

Ficamos ali na água por uns quarenta minutos.

[Lembranças off]

Aqueles momentos de liberdade eram perfeitos eu me sentia livre e feliz.

Olhei a tela do celular novamente, já passavam das 00:00hs tinha cinco chamadas perdidas de Bernardo, meu irmão, e várias mensagens.

"Onde você está?"

"Clara me ligou desesperada"

"Atende o celular Beatrice"

"Você está bem?"

Eu desbloqueei a tela e respondi a mensagem, Bernardo estava online.

[Troca de Mensagem on]

Beatrice: "Oi Beh, mamãe me expulsou de casa, por que estou grávida."

Bernando: "O que você foi fazer minha irmã?"

Beatrice: "Por favor irmão, chega de sermões, já basta a mamãe"

Bernardo: "Crueldade da nossa mãe também viu. Se papai estivesse aqui você não estaria passando por isso."

Beatrice: "Pois é irmão, mais a culpa é minha, eu fiz a burrada, tenho que aprender com meus erros agora. Eu não vou tirar esse bebê, não quero ficar com dor na consciência por ter tirado uma vida."

Bernardo: "Calma irmã, eu não estou falando pra você abortar. Eu estou do seu lado. Pena que estou muito longe e não posso fazer muito. Você tem dinheiro? Onde você vai dormir?"

Beatrice: "Estou na rua, ainda não sei onde vou passar a noite. Eu peguei um dinheiro de Clara emprestado, mais não dá pra um quarto de hotel."

Bernardo: "Olha eu vou te mandar um dinheiro que tenho guardado. Isso vai te ajudar a pagar um quarto em qualquer Motel"

Beatrice: "Tem certeza que não vai fazer falta? Mais Motel?? Como que vou entrar num Motel??"

Bernardo: "Da um jeito mana, você só não pode ficar na rua. Amanhã vejo como fazer pra ajudar você. Vou falar com alguns amigos que tenho por ai. Deixa seu celular ligado, assim que possível te ligo."

[Fim da troca de mensagem]

Bernardo é meu irmão mais velho, temos 4 anos de diferença, ele está com 22 anos agora e foi estudar fora do país pra tentar uma chance na medicina, em Seattle, lá os ensinos são avançados e tem mais chances de se conseguir trabalhar em um bom hospital depois de se formar. Bernardo foi embora logo depois de terminar o ensino médio, fez o intercâmbio, entrou na faculdade e já está fazendo o internato na medicina. Sempre o admirei por isso. Meu irmão nunca foi um menino de dar trabalho, sempre foi esforçado, sempre obedecia as ordens de nosso pai e de nossa mãe, nunca foi de correr atrás de mulher, pelo contrário, todas as meninas queria ele, Clara minha amiga era uma delas. Mais ele não a quis, ele havia me falado que Clara era muito saidinha, e que se eles namorassem ela ia dar trabalho. Clara não se importou em ser escanteada, a amizade continuou a mesma.

Segurei o pingente em meu pescoço com força, olhei para o céu estrelado e pensei em meu pai.

— Sinto sua falta papai! — Falei baixinho e uma lágrima descia pelo meu rosto.

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