Hannah Luiza (Halú)Estava chegando no estacionamento da faculdade quando avistei Vanny descendo do carro de um rapaz. Assim que me viu, ela sorriu e veio em minha direção.— Haluzinha! Tudo bem com você? — perguntou com a habitual energia, e eu assenti.— Não sabia que estava trabalhando por aqui.— E não estou. Estava com Fael, ele me deu uma carona. Na verdade, queria conversar com você. Está com tempo?Pelo jeito que ela me olhava, percebi que era algo sério. Só esperava que não tivesse nada a ver com o meu irmão. Caminhamos até uma lanchonete próxima e nos sentamos.— Han, quer um suco de melancia? — perguntou ela.— Sabe que não resisto.— Vou pedir para nós duas. — Ela chamou o garçom e, assim que ele saiu, me encarou. — Como está o Luizinho? Macla me contou que ele foi baleado.— Sim, semana passada. Tivemos um confronto complicado no Morro do Farinha. Ele e o Matheus foram baleados de raspão.Vanessa suspirou profundamente, o olhar perdido por um instante.— Fiquei muito preo
A aula foi bem cansativa, e quando cheguei em casa, Carlinha ainda estava acordada. Assim que me viu, ela correu e pulou no meu colo. Olhei para Matheus, que estava sentado no sofá, sorrindo.— Não me olha assim, ela quis te esperar — explicou ele, dando de ombros.— E você, como um bom pai, não a colocou na cama? — perguntei, cruzando os braços.Ele soltou uma risada baixa.— Essa menina é igual a você, uma pestinha. Mandei deitar três vezes, mas ela não quis.— Mamãe, não briga com o papai! — Carlinha protestou, me olhando com aqueles olhinhos pidões. — Eu não quis dormir porque queria te esperar. Achei que você não ia voltar mais.Senti um aperto no coração com aquelas palavras e a abracei apertado.— Não precisa se preocupar, filha. Sempre que eu precisar me afastar do seu pai, prometo que vou te levar comigo.— Você promete de dedinho? — ela perguntou, estendendo o mindinho.Sorri e entrelacei meu dedo no dela.— Prometo.Carlinha virou-se para Matheus e falou com a inocente petu
O despertador tocou cedo demais e, ao tentar me mexer, percebi que Matheus estava com um braço pesado sobre mim.— Você vai me deixar levantar ou pretende me prender aqui o dia todo? — perguntei, empurrando de leve seu braço.— Cinco minutos a mais — ele murmurou, com os olhos ainda fechados.— Matheus... — insisti, mas ele me puxou para mais perto.— Tá bom, tá bom. Vou levantar. Mas só se você me der um beijo de bom dia.Revirei os olhos, mas atendi ao pedido. Ele finalmente se mexeu, me soltando.Enquanto eu seguia para o quarto de Carlinha para acordá-la para a escola, Matheus ficou na cozinha começando a preparar o café. Quando voltei com ela pronta, ele estava terminando de servir panquecas. O cheiro delicioso já tomava conta do ambiente.— Uau, papai, isso tá com uma cara boa! — Carlinha exclamou animada enquanto subia na cadeira.— É porque fiz com amor — ele respondeu, piscando para mim.Carlinha comeu rapidamente, conversando sobre a escola, as amigas e o que planejava fazer
Matheus (MT)Acordar com a Halu do meu lado era uma das poucas certezas boas que eu tinha na vida. Halu sempre teve a cabeça mais no lugar do que Luizinho e eu. Levantei e fui direto pra cozinha. O café da manhã era minha forma de compensar por tudo que eu fiz a ela. Fiz panquecas porque sabia que Carlinha adorava, e o sorriso dela quando chegou à mesa valeu a correria.Mas o melhor momento não foi ela me chamar de "papai". Foi ver Halu rindo enquanto cortava a panqueca pra Carlinha.Depois de deixar as duas na escola, eu sabia que o dia ia ser pesado. O "dia do arrego" era sempre assim. Um risco aqui, outro ali. Mas, quando eu vi a Halu preocupada, prometi que ligaria se algo desse errado. Claro que era mentira. Não porque eu não queria falar com ela, mas porque eu sabia que, se ela soubesse de qualquer problema, ia largar tudo pra resolver por conta própria. O dia começou tranquilo até a ligação do Pé de Pano. Fuba tinha sido pego pelos canas. — Qual foi do B.O, por que agarraram
Hannah Luiza (Halú)O trabalho penal que tínhamos que fazer era denso e cheio de detalhes que podiam definir o futuro do réu na nossa análise fictícia. — Olha, eu ainda acho que a pena poderia ser reduzida se considerarmos o histórico dele — argumentou Rafaela, sublinhando uma passagem do texto com a caneta. Luigi balançou a cabeça, discordando: — Reduzir a pena pode até ser justo, mas o cara precisa pagar pelo que fez. Se a gente considerar só os atenuantes, parece que estamos ignorando o impacto das ações dele. Suspirei, colocando o papel de lado: — Mas, Luigi, a justiça não é só sobre punir. É sobre reabilitar também. Se apresentarmos um bom argumento, podemos mostrar que ele merece uma chance de se reintegrar. Não dá para tratar todo mundo como um caso perdido. Estávamos nesse vai e vem há quase uma hora, quando senti uma mãozinha tocar meu braço. Virei para ver Carlinha ao meu lado, segurando seu ursinho de pelúcia. — Mamãe, me dá colo? — ela pediu, com aquele olhar
Estava com Carlinha no sofá quando Matheus começou a me fazer uma massagem gostosa. — Aí, amor. Continua assim. — Pedi a ele que continuou com as suas mãos firmes. — Ixi! Daqui a pouco Halú vai gozar no sofá. — Macla estava rindo. — Mamãe, o que é gozar? — Carlinha perguntou e encarei minha amiga e cara feia. — É coisa de adulto meu amor. — Minha pequena apenas assentiu. Dona Jacira nos chamou para comer e agradecemos a ela, Rafaela estava ao meu lado quando meu irmão chegou, ele estava com os olhos vermelhos e o encarei. — Carlos Luiz não me diz que você estava se drogando de novo? — Perguntei a ele que abaixou a cabeça. — Depois tu come meu rabo no esporro, agora tô na ‘mó’ larica. Meu irmão não muda mesmo,já conversei com ele sobre se drogar assim, mas as vezes ele sucumbe a tentação, essa é a merda de quem se enfia nessas merdas. Matheus me encarou sabendo como me sinto quando meu irmão se mete nessas merdas. Carlinha terminou de comer e foi pra sala. — Tamo de olho no f
Uma Semana Depois A madrugada era fria, mas isso nunca me incomodou. O ponto cego do morro era um lugar que muitos evitavam, mas pra mim era apenas mais um pedaço do território que eu conhecia como a palma da mão. Caminhava calmamente, o radinho preso ao cinto e "Berenice", minha fiel companheira, escondida sob a jaqueta. Carlinhos e Matheus estão putos comigo, eles acham que eu não deveria servir de isca, Macla quis se voluntariar, mas eu sabia que esse era um tipo de serviço que só cabia a mim. As ruas estavam desertas, o silêncio quebrado apenas pelo som dos meus passos. Eu gostava da madrugada e o tempo estava me ajudando já que na noite passada havia chovido e hoje está frio, será que o filho da puta vai aparecer ou não? De repente vi uma sombra, acho que o desgraçado chegou. — O que uma mulher gostosa dessas tá fazendo sozinha a essa hora? ‘Tá quereno arruma’ um caô? Continuei andando, ignorando o comentário, mas no fundo quero muito que esse babaca seja o cara que estou pr
Enquanto eu comia, ouvi passos rápidos e, em poucos segundos, Carlinha apareceu na porta do quarto. Ela estava impecavelmente arrumada, com o uniforme da escola e os cabelos presos em um rabo de cavalo.— Mamãe, você não vai me levar pra escola? Não vai trabalhar hoje? — perguntou, com uma carinha curiosa.Olhei para ela, confusa.— Quem te arrumou, filha?— Foi o papai. — Respondeu com um sorriso orgulhoso, apontando para Matheus, que estava escorado na porta com aquele ar típico de quem aprontou algo.Virei o rosto para ele, arqueando uma sobrancelha.— O que você quer, Matheus? Primeiro café na cama, agora arrumando a Carlinha? Tá querendo algo?Ele ergueu as mãos, fingindo inocência.— Já disse que não é nada. Só tô agradando minha bandida preferida.— Sei... Essa história tá muito mal contada. — Respondi, desconfiada, mas decidi não insistir. Ele sempre tinha uma carta na manga.Terminei meu café da manhã e me arrumei rapidamente. Matheus nos levou até a escola.— Vai lá, pequena