Por Matheus (MT)Hoje é sexta-feira, dia de baile no morro e também de resolver os caos das biqueras. Já tô puto com esses filhos da puta que tão dando derrame. Tão achando que eu sou o quê? Moleque? Chamei o Pé de Pano pra ir comigo até a biquera do meio, que tá me tirando do sério. Esses filhos da puta tão usando as paradas que era pra vender e tão fodendo meu esquema todo.— Tá indo pra onde assim, todo puto? — Luizinho perguntou, descendo da moto.— Vou na biquera do meio com o Pé de Pano. Deixei avisado que o prazo pra pagar era hoje, mas até agora nada. Vou lá, e se não tiverem com o dinheiro, vou quebrar geral. Aproveita que tu tá aqui e vai na biquera da rua de trás, dá o papo lá.— Esses caras tão vacilando faz tempo. Vai lá e dá neles do teu jeito. — Ele me deu um toquinho e segui com o Pé de Pano, que subiu na garupa rapidinho.Quando chegamos lá, os desgraçados tavam de marola, mas mudaram de atitude assim que me viram.— Calma aí, patrão, a gente pode explicar! — um deles
— O que foi tudo aquilo? — Halu me pergunta enquanto volto a dirigir.— Aquilo o quê? — Respondo, mesmo já sabendo do que ela está falando.— Odeio quando você se faz de desentendido. Vamos pra minha casa; quero me trocar antes de irmos ao baile.— Humm! Manera na roupa.— Já falei sobre isso. Não gosto que mande em mim, muito menos nas roupas que uso — ela me olha séria.— Eu sei que você não gosta, mas é sério. Fico irritado quando os caras olham pro que é meu — ela sorri pra mim.— E desde quando eu sou sua? — Ela pergunta, com aquele sorriso que amo.— Desde sempre. Só nos afastamos um pouco, mas você sempre foi minha — Ela tira o cinto e me beija.— Preciso te pedir uma coisa — digo, e ela me olha curiosa.— Fala logo. Não me deixa curiosa — ela continua me encarando.— Quero saber se você não quer morar comigo e com a Carlinha.— Acho que ainda é cedo pra isso — responde, e eu já esperava.— Eu não acho — tiro os olhos da estrada por um segundo, e ela me lança um olhar de reprov
Hannah Luiza (Halú)Não acredito que aqueles desgraçados estão tentando invadir de novo! Como eu queria ir lá e acabar com pelo menos uns cinco deles. A raiva que eu sinto é tão grande que nem sei explicar.— Amiga, o que foi? — Macla perguntou enquanto caminhávamos para a casa do Matheus.— Tô puta, amiga. Queria ir lá e acabar com aqueles desgraçados, mas tenho que ficar em casa feito uma “dondoca”. Eles sabem que eu sei atirar bem, mas ainda assim me deixam de fora. — Apertei a arma na mão, frustrada.Estávamos quase chegando quando aparece um cara do morro do Farinha. Nem pensei: antes que ele tivesse a chance de puxar o gatilho, fui mais rápida e descarreguei a minha arma nele.— Credo, amiga! Você é terrível. — Macla disse, rindo.— Você não viu nada. Ela matou um cara com seis anos. Eu tava lá e vi tudo acontecer. — João comentou com aquela cara de sempre. Ele tá na tropa desde os tempos do meu pai e do meu tio.— Deixa isso pra lá. Bora logo pra casa do Matheus. Tô preocupada
Acordei no dia seguinte morrendo de dores nas costas, porque Matheus praticamente dormiu em cima de mim. Fiz as minhas higienes e preparei o café para todos, liguei a televisão e fiquei assistindo até que a cambada de preguiçosos se levantasse.— Oi, amor, por que você acordou cedo? — Matheus perguntou olhando para mim.— Você praticamente dormiu em cima de mim. Acordei com falta de ar por sua causa.— Foi mal aí, por isso tava tão gostoso. — Ele se levantou e foi até o banheiro. Eu continuei assistindo TV até que ele retornou. — Agora tô cheiroso. — Ele me colocou no colo e ficamos nos beijando.— Ah, não! A gente acorda de manhã e vocês já tão se agarrando? Vão caçar um quarto pra trepar! — Minha amiga falou, e Matheus fez uma cara feia.— Mais respeito, porque tu tá na minha casa. — Ela fez língua para ele, que retribuiu. Os dois estavam parecendo duas crianças do jardim.— Parem de palhaçada, porra! — Meu irmão gritou, já com seu péssimo humor matinal.— Crianças, vão tomar banho,
Matheus (MT)Acordei com o barulho de risadas lá na cozinha. Eu estava com um pouco de dor ainda, mas nada que me impedisse de acordar e ir atrás deles. Halú estava lá, com aquele sorriso que só ela tinha, enquanto os outros conversavam como se fosse um domingo qualquer.Pulei da cama, me espreguicei e fui direto para a cozinha. Cheguei e vi Carlinha pulando em cima de Halú, tentando dar um abraço enquanto ela preparava o almoço. Não resisti e soltei um sorriso besta. Ela estava com o coração leve, como sempre, e isso me fazia sentir bem, embora eu tivesse os meus próprios fantasmas para lidar.— E aí, meu amor, já acordou? — Halú perguntou com um sorriso maroto, ainda segurando Carlinha no colo.— Tô acordado. Só tô pensando na dor que senti ontem; os caras não estão brincando mais. — Respondi, me encostando na porta da cozinha.— Não exagera, Matheus. — Carlinhos falou, mas eu sabia que ele estava só me zoando, como sempre. — Vai parar de ser criança e ajuda a arrumar essa casa.— A
Hannah Luiza (Halú)Estava chegando no estacionamento da faculdade quando avistei Vanny descendo do carro de um rapaz. Assim que me viu, ela sorriu e veio em minha direção.— Haluzinha! Tudo bem com você? — perguntou com a habitual energia, e eu assenti.— Não sabia que estava trabalhando por aqui.— E não estou. Estava com Fael, ele me deu uma carona. Na verdade, queria conversar com você. Está com tempo?Pelo jeito que ela me olhava, percebi que era algo sério. Só esperava que não tivesse nada a ver com o meu irmão. Caminhamos até uma lanchonete próxima e nos sentamos.— Han, quer um suco de melancia? — perguntou ela.— Sabe que não resisto.— Vou pedir para nós duas. — Ela chamou o garçom e, assim que ele saiu, me encarou. — Como está o Luizinho? Macla me contou que ele foi baleado.— Sim, semana passada. Tivemos um confronto complicado no Morro do Farinha. Ele e o Matheus foram baleados de raspão.Vanessa suspirou profundamente, o olhar perdido por um instante.— Fiquei muito preo
A aula foi bem cansativa, e quando cheguei em casa, Carlinha ainda estava acordada. Assim que me viu, ela correu e pulou no meu colo. Olhei para Matheus, que estava sentado no sofá, sorrindo.— Não me olha assim, ela quis te esperar — explicou ele, dando de ombros.— E você, como um bom pai, não a colocou na cama? — perguntei, cruzando os braços.Ele soltou uma risada baixa.— Essa menina é igual a você, uma pestinha. Mandei deitar três vezes, mas ela não quis.— Mamãe, não briga com o papai! — Carlinha protestou, me olhando com aqueles olhinhos pidões. — Eu não quis dormir porque queria te esperar. Achei que você não ia voltar mais.Senti um aperto no coração com aquelas palavras e a abracei apertado.— Não precisa se preocupar, filha. Sempre que eu precisar me afastar do seu pai, prometo que vou te levar comigo.— Você promete de dedinho? — ela perguntou, estendendo o mindinho.Sorri e entrelacei meu dedo no dela.— Prometo.Carlinha virou-se para Matheus e falou com a inocente petu
O despertador tocou cedo demais e, ao tentar me mexer, percebi que Matheus estava com um braço pesado sobre mim.— Você vai me deixar levantar ou pretende me prender aqui o dia todo? — perguntei, empurrando de leve seu braço.— Cinco minutos a mais — ele murmurou, com os olhos ainda fechados.— Matheus... — insisti, mas ele me puxou para mais perto.— Tá bom, tá bom. Vou levantar. Mas só se você me der um beijo de bom dia.Revirei os olhos, mas atendi ao pedido. Ele finalmente se mexeu, me soltando.Enquanto eu seguia para o quarto de Carlinha para acordá-la para a escola, Matheus ficou na cozinha começando a preparar o café. Quando voltei com ela pronta, ele estava terminando de servir panquecas. O cheiro delicioso já tomava conta do ambiente.— Uau, papai, isso tá com uma cara boa! — Carlinha exclamou animada enquanto subia na cadeira.— É porque fiz com amor — ele respondeu, piscando para mim.Carlinha comeu rapidamente, conversando sobre a escola, as amigas e o que planejava fazer