Me arrastei pela casa e franzi o cenho, tirei os sapatos perto da escada achando boa a sensação do frio sobre os meus pés, me segurei na barra e caminhei devagar subindo às escadas até o terraço. Arrastei meus pés sobre o chão gélido deslizando sobre a madeira e quase caí na pequena piscina. Botei a mão cobrindo a boca chocada e ri de mim mesma, voltei a dançar e me joguei sobre a cadeira reclinável também de madeira. “Droga, assim eu fico tonta” pensei e me levantei caminhando devagar olhei para o céu. — Rosa. A sua voz fez todo um arrepio percorrer pelo meu corpo, meu coração disparou e me virei para ele sem conter o riso. — O que é engraçado? — Quer mesmo que eu fale? Um silêncio pairou entre nós e então ele olhou para a minha mão e botou a garrafa para trás. — Você está bêbada? — Não! — Está sim! — Eu nem estou bebendo. Damon me encarou, podia jurar que ele também queria rir. — Você ia rir — Falei apontando o dedo para ele. — Não.
O dia amanheceu como cinzas, a neblina de fora da janela era o meu estado emocional por dentro enquanto eu acabava com a segunda cartela de cigarros, tinha certeza de que se eles não me matassem, eu mesmo ia. Não conseguia parar de repetir a cena que havia acontecido de noite, o rosto borrado de lágrimas de Rosa não saia da minha mente, a sua dor era nítida, ela estava sofrendo, graças a mim e pedia para que eu a deixasse de forma desesperada. Às vezes o amor dura, às vezes ele só fere e eu estava a ferindo, então havia tomado a minha decisão, conversaria com Anna para adiantarmos o casamento e então ia embora da mansão. Quando o rosto amigável de Lorenzo apareceu pela porta senti a pontada de ansiedade minar dentro de mim, ele se aproximou e ergueu a mão que apertei. — Bom dia Lorenzo. — Bom dia Damon, eu devo dizer que estou surpreso pela sua ligação. Ainda faltam duas semanas para o casamento. — Não acha melhor acabarmos com isso antes de ter que desconvidar a t
Acordei me sentindo um lixo, parei do lado de fora sem fome alguma pela ressaca, sentindo que minha cabeça ia explodir, não me lembro de ter bebido tanto e nem de parar na antiga sala onde fitas antigas de recordações da vida dos Bonner estava, mas havia acordado no sofá enquanto uma fita de Damon ainda rodava. Eu realmente parecia gostar de me torturar. — Quer que eu te traga um chá, café, água? — água, por favor, eu estou com uma ressaca horrível — Falei para Cláudio e ele assentiu saindo. Berto passou perto de mim e quando me viu veio me cumprimentar, sorri para ele. — Você parece bem essa manhã — Falei. — Ontem foi a formatura da minha neta, ela estava radiante, eu tentei te chamar, mas não achei você em lugar algum. Eu queria te agradecer de novo, porque melhorou com o tratamento e conseguiu fazer as provas com isso. — Não é preciso me agradecer Berto, essa notícia para mim já é o suficiente — Falei sincera, podia sentir meu coração se aquecer com aquela n
— Que cursos são esses ? — De artes, preferi não por cursos como educação financeira ou engenharia, já que ainda são crianças. — Eu quero ver. — Claro, mas antes quero te mostrar o refeitório, estou morrendo de fome — Falou Edgar — O que acha Erasto? — Acho uma ideia ótima — Respondeu ele — Mas vou ter que me ausentar um pouco agora, você sabe como a parte administrativa é chata. — Sim, eu sei — Responde Edgar com um sorriso maior do que o seu rosto. — Podemos jantar juntos — Às palavras de Erasto me fizeram arquear as sobrancelhas por um momento e se dando conta ele completou — Nós três. — Vai ser ótimo — Falei, Erasto assentiu e olhou para Edgar. — É bom o ter de volta. Edgar assentiu e olhou para a frente, Erasto saiu nos deixando sozinhos, podia notar o rosto de Edgar vermelho como um morango, ele que era branco destacava ainda mais. Mordi os lábios evitando um sorriso. — O que foi? — Você está vermelho, sabia? — Aqui é muito quente. — Si
Edgar me guiou pelos corredores me levando até a última sala, a sala de esculturas. Quando chegamos havia muitas formas em gesso, comecei a olhar enquanto as crianças pareciam concentradas. Um homem veio em minha direção e disse algo que não entendi. — Desculpa, não falo a sua língua — Sorri sem graça, sabia que ele também não ia entender e olhei para Edgar — Edgar me ajude. Edgar parecia caminhar para longe, ele se virou para mim. — Posso ajudar? — Perguntou o homem à minha frente, ele era alto e robusto, tinha dreads na cabeça e um cavanhaque charmoso. O olhei surpresa. — Você fala a minha língua. — Sim, falo espanhol e portuques também. — Ele é poliglota — Disse Edgar se aproximando de nós — Me desculpem, acabei esquecendo de os apresentar, Bomani essa é Rosalina, Rosalina esse é Bomani. Ele ergueu a mão que apertei com um sorriso. — É um prazer Rosalina. — O prazer é meu, é muito bom alguém aqui fora Edgar me entender. Ele sorriu de volta. —
— Prove, por favor — Pediu Erasto — E seja sincera se não gostar. Olhei para Edgar e para Erasto, temia que não gostasse da comida, mas quando a botei em meus lábios automaticamente gostei. — Gostou? — Perguntou Edgar enquanto Erasto olhava ansioso. — Sim, é gostosa — Abri um sorriso e Erasto também sorriu — O que é? — Nyama, Choma, Braaivleis e Mechoui, o meu favorito. — É um nome bem grande, né? — Olhei para Edgar intrigada. — É tipo churrasco — Respondeu Edgar simplificando e Erasto riu, Edgar o olhou de cima a baixo — Eu não sabia dessa, que era sua comida favorita. — Acho que não sabe muitas coisas sobre mim. — É verdade, não sei. — Pergunte o que quiser e eu te direi. Olhei para eles animada, Edgar parecia desconcertado. — Você tem filhos? Erasto riu. — Não, mas pretendo ter. — Adotados ou seus? — Perguntei curiosa. — Adotados. Assenti. — Eu fiquei sabendo que gostou de Jafari, vi que passou um tempo com ele ontem. — É um me
Assim que botei os pés na casa senti meu peito afundar. Eu estava apreensiva em ver Damon e Anna, não estava preparada para isso, mas sabia que seria muito errado não ir ao casamento deles uma vez que eu mesma havia os juntado, tinha que aguentar toda a dor até o fim. Eu só não sabia que ia doer tanto. Enquanto Edgar dormiu no jatinho eu passei o voo inteiro me sentindo horrível, a tristeza parecia falar de cada poro do meu corpo e eu não sabia de onde vinham tantas lágrimas, mas aquele tempo de voo parecia ter sido para que eu sentisse um pouco mais a dor. — Já chegou? — Perguntou Renato descendo às escadas — Eu estava torcendo para que só voltasse mês que vem. — Você com certeza sentiria muito a minha falta — Falei. — Tanto quanto eu sinto de uma planta. O olhei de cara feia e então dei de cara com Damon que apareceu no corredor, percebi que estava o olhando por tempo demais e me voltei para Renato. — Renato não me estressa, por favor eu não estou de bom humor
— Rosa, que bom que você apareceu! Me ajude a convencer Damon de que ele precisa fazer uma despedida de solteiro — Disse Brad segurando Damon pela gola, olhei para Damon por um momento e então desviei os olhos — Rosa? Você está chorando? — Não — Falei me virando e subindo às escadas, olhei para Brad da escada do qual ele já começava a subir — Não me siga! Ele parou de andar e continuei, totalmente desestabilizada, não queria conversar com ninguém e nem mesmo prolongar aquele drama, ainda não sabia direito o que havia acontecido quando conversei com Anna, mas me sentia totalmente transtornada, havia concordado em aparecer mesmo no casamento? Agora, sentia o peso na consciência com a mesma intensidade que eu me sentia sufocar, eu precisava aparecer, fingir, sorrir e esperar que o dia acabasse assim como o jantar de ensaio hoje do qual para mim não fazia o menor sentido, ainda assim apareceria ao lado de Edgar. Não podia ser egoísta e criar um drama em cima de mim, entendi o q