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Herdeira do Submundo
Herdeira do Submundo
Por: Fabiana Antunes
O Barril de Pólvora

Herdeira do Submundo 

Prólogo 

O Barril de Pólvora  

Sou feito de controle. 

Cada decisão, cada movimento, é cuidadosamente calculado. 

O poder não permite deslizes, e fraqueza é um veneno que consome lentamente. 

Sei disso porque o controle é minha essência, e viver sem ele é como sufocar.  

Mas então ela chegou. 

Com sua força indomável, seu olhar desafiador, seu silêncio carregado de significados. 

Ela me fez querer mais. 

Não apenas tê-la, mas possuí-la de todas as formas. 

E por um instante, apenas um instante, pensei que poderia ser diferente. 

Que poderia conquistá-la com toques suaves, palavras doces, mentiras sutis que escondem o que realmente sou.  

Como fui ingênuo.  

A escuridão em mim não pode ser apagada. 

Ela é parte de quem sou, o que sempre fui. Tentando mudar por ela, tornei-me um estranho para mim mesmo. 

Mas agora... agora, tudo está claro.  

Eu a quero de um jeito que ela talvez nunca aceite. 

Quero dobrar sua vontade até que não haja mais resistência. 

Quero ouvir sua respiração presa entre o medo e o desejo, sentir o momento exato em que ela percebe que não há como escapar.  

Há uma guerra dentro de mim. 

Ela me desafia, me testa. 

Mas não entende o que significa jogar comigo. Não percebe que estou no controle desde o início.  

Outra mulher me lembrou disso. 

Reacendeu o fogo que eu tentava apagar. 

Ela trouxe à tona quem realmente sou, o que realmente desejo. 

E agora, tudo que restou é decidir como equilibrar o que quero e o que ela, a outra, acredita que pode me dar.  

Estou em ebulição. 

Um barril de pólvora prestes a explodir. 

O desejo e o controle misturados de forma tão perigosa que mal consigo respirar.  

Não importa o que ela pense. 

No final, tudo será como eu quero. 

Porque, no meu mundo, ninguém foge do meu domínio.  

Ela será minha.  

E quando for, não restará dúvida alguma sobre quem está no comando.  

Capítulo 1: "O Testamento do Medo"

(Sofia Narrando)

“O poder não vem sem sacrifícios, Sofia. Ele cobra um preço de sangue.”

A voz do meu pai ecoava na minha mente, mesmo agora, enquanto eu observava seu corpo inerte no caixão de mogno escuro. 

Ele parecia tão sereno… Uma serenidade que nunca vi em vida. Era irônico que ele só encontrasse paz agora, quando tudo o que me deixou foi uma herança manchada de sangue e responsabilidade.

O salão do velório estava repleto de homens de terno escuro e expressões duras. Eles se moviam de maneira calculada, com passos pesados e olhares afiados que pareciam prontos para capturar qualquer sinal de fraqueza em mim. 

Eu sabia o que todos estavam pensando. 

“Será que a “princesinha” está pronta para a coroa? Será que ela suportará o peso do império Romano?”

Inspirei profundamente, mantendo o olhar firme e o rosto inexpressivo. O luto era um luxo que eu não podia me permitir. Aqueles homens não estavam aqui para prestar suas condolências, estavam para medir minha força, testar se eu era digna de comandar a família Romano. 

O respeito deles não seria dado de graça, e eu sabia disso melhor do que ninguém.

Minha mãe, vestida em um luto profundo, olhava o corpo do marido com uma expressão de desgosto misturada a um certo alívio. 

Ela nunca gostou do peso da máfia, das reuniões secretas, das traições, mas aceitou tudo por lealdade. Ela era fria e distante. 

Mas ela sabia que eu tinha deveres importantes pela família 

Ela era uma mulher forte e dura que sabia que o que tinha que ser feito era para o bem da família. 

Assim que o padre terminou a cerimônia, senti uma mão pousar em meu ombro. Olhei para cima e encarei os olhos frios e calculistas de Vincenzo, o braço direito do meu pai, que agora me servia de conselheiro, por pura conveniência, claro. 

Vincenzo estava sempre presente, na sombra do poder. Era o tipo de homem que conhecia cada segredo e não hesitava em lembrar a todos de que também tinha poder.

— Sofia, precisamos conversar sobre os termos do testamento — murmurou ele com a voz baixa, enquanto nossos “convidados” começavam a dispersar. 

A urgência em sua voz mostrava que ele não perderia tempo para deixar claro o que eu devia fazer. Eu podia ver a expectativa dele de que eu acatasse cada ordem.

Sem responder, indiquei que ele me seguisse até o escritório que agora era meu, embora o peso do lugar ainda parecesse pertencer a ele. Os móveis de couro, as paredes de madeira escura, o cheiro do tabaco do meu pai, que ainda persistia, tudo ali exalava sua presença.

Assim que fechei a porta, fui até a cadeira de couro atrás da mesa, sentando-me com o máximo de rigidez. Vincenzo ajeitou os óculos e abriu uma pasta de couro desgastada, tirando dela um papel que parecia pesar uma tonelada.

— Seu pai sabia que sua morte traria certos… desafios — ele começou, medindo as palavras com cuidado. — Ele fez arranjos para garantir a proteção da família e do império.

Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha, sentindo a familiaridade desconfortável de quando meu pai me usava como peça em seus jogos.

— Vincenzo, não quero rodeios. Qual é o “arranjo” que meu pai fez?

Ele suspirou, parecendo um pouco desconfortável pela primeira vez em anos. 

Era raro ver Vincenzo hesitar. 

“Isso não deve ser bom.”

— Seu pai… firmou um acordo de paz com a família Moretti. Um casamento entre você e Leonardo Moretti para unir as famílias.

As palavras dele foram como um soco no estômago. 

Leonardo Moretti. 

O nome por si só exalava perigo. 

Ele era famoso por sua brutalidade, e rumores sobre seus métodos e segredos escusos circulavam como lendas urbanas. 

Esse homem… meu marido?

— Você está me dizendo que meu pai me prometeu como um bem de barganha? — falei, com a voz fria e controlada, mas sentindo o sangue ferver por dentro. 

Como ele pôde…

— Foi a única forma de manter a segurança de todos. Seu pai sabia que, sem um vínculo sólido entre as famílias, a guerra seria inevitável — disse ele, a voz tão prática que me deu náuseas. Vincenzo não via o casamento como algo emocional, para ele, era uma transação como qualquer outra.

Fechei os olhos, respirando fundo, tentando digerir aquilo. 

Minha vida, minha liberdade… tudo agora estava à mercê de um casamento com um homem que eu sabia ser implacável.

"Você tem medo, Sofia?", a voz do meu pai retornou como um sussurro. 

Eu podia ouvir a resposta clara em minha mente. Não, eu não tinha medo. Não depois de tudo que passei para chegar até aqui. Mas a ideia de ser “entregue” a Leonardo Moretti…

Vincenzo me observava, esperando uma reação, uma fraqueza. Quando abri os olhos, fiz questão de encará-lo de forma dura.

— Se é isso que precisa ser feito, então eu farei. — minha voz saiu firme, fria. — Mas não espere que eu seja uma esposa submissa, Vincenzo. Esse casamento pode unir as famílias, mas eu não me ajoelharei para ninguém.

Ele me olhou por um momento, algo que quase parecia… respeito em seu olhar.

— Esperava essa resposta de você, Sofia. Esse é o espírito da família Romano. — Ele se levantou, satisfeito. — Você conhece Leonardo esta noite. Um jantar privado foi arranjado.

— Esta noite? — Um frio percorreu minha espinha, mas mantive o rosto impassível. 

Não podia mostrar fraqueza agora. O peso da noite se tornava mais real. 

Conhecê-lo. 

Olhar para os olhos do homem que controlará minha vida.

Quando Vincenzo saiu, permiti-me fechar os olhos por um instante. Esse casamento não seria uma união, mas uma guerra silenciosa, e eu precisaria estar preparada para enfrentar o homem que, em breve, estaria não só ao meu lado, mas também contra mim.

“Ninguém tira o controle da minha vida. Nem mesmo Leonardo Moretti."

Eu repetia essa frase em minha mente como um mantra, uma promessa silenciosa. Essa era minha herança, meu legado. E eu iria provar que estava pronta.

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