Herdeira do Submundo
Prólogo
O Barril de Pólvora
Sou feito de controle.
Cada decisão, cada movimento, é cuidadosamente calculado.
O poder não permite deslizes, e fraqueza é um veneno que consome lentamente.
Sei disso porque o controle é minha essência, e viver sem ele é como sufocar.
Mas então ela chegou.
Com sua força indomável, seu olhar desafiador, seu silêncio carregado de significados.
Ela me fez querer mais.
Não apenas tê-la, mas possuí-la de todas as formas.
E por um instante, apenas um instante, pensei que poderia ser diferente.
Que poderia conquistá-la com toques suaves, palavras doces, mentiras sutis que escondem o que realmente sou.
Como fui ingênuo.
A escuridão em mim não pode ser apagada.
Ela é parte de quem sou, o que sempre fui. Tentando mudar por ela, tornei-me um estranho para mim mesmo.
Mas agora... agora, tudo está claro.
Eu a quero de um jeito que ela talvez nunca aceite.
Quero dobrar sua vontade até que não haja mais resistência.
Quero ouvir sua respiração presa entre o medo e o desejo, sentir o momento exato em que ela percebe que não há como escapar.
Há uma guerra dentro de mim.
Ela me desafia, me testa.
Mas não entende o que significa jogar comigo. Não percebe que estou no controle desde o início.
Outra mulher me lembrou disso.
Reacendeu o fogo que eu tentava apagar.
Ela trouxe à tona quem realmente sou, o que realmente desejo.
E agora, tudo que restou é decidir como equilibrar o que quero e o que ela, a outra, acredita que pode me dar.
Estou em ebulição.
Um barril de pólvora prestes a explodir.
O desejo e o controle misturados de forma tão perigosa que mal consigo respirar.
Não importa o que ela pense.
No final, tudo será como eu quero.
Porque, no meu mundo, ninguém foge do meu domínio.
Ela será minha.
E quando for, não restará dúvida alguma sobre quem está no comando.
Capítulo 1: "O Testamento do Medo"
(Sofia Narrando)
“O poder não vem sem sacrifícios, Sofia. Ele cobra um preço de sangue.”
A voz do meu pai ecoava na minha mente, mesmo agora, enquanto eu observava seu corpo inerte no caixão de mogno escuro.
Ele parecia tão sereno… Uma serenidade que nunca vi em vida. Era irônico que ele só encontrasse paz agora, quando tudo o que me deixou foi uma herança manchada de sangue e responsabilidade.
O salão do velório estava repleto de homens de terno escuro e expressões duras. Eles se moviam de maneira calculada, com passos pesados e olhares afiados que pareciam prontos para capturar qualquer sinal de fraqueza em mim.
Eu sabia o que todos estavam pensando.
“Será que a “princesinha” está pronta para a coroa? Será que ela suportará o peso do império Romano?”
Inspirei profundamente, mantendo o olhar firme e o rosto inexpressivo. O luto era um luxo que eu não podia me permitir. Aqueles homens não estavam aqui para prestar suas condolências, estavam para medir minha força, testar se eu era digna de comandar a família Romano.
O respeito deles não seria dado de graça, e eu sabia disso melhor do que ninguém.
Minha mãe, vestida em um luto profundo, olhava o corpo do marido com uma expressão de desgosto misturada a um certo alívio.
Ela nunca gostou do peso da máfia, das reuniões secretas, das traições, mas aceitou tudo por lealdade. Ela era fria e distante.
Mas ela sabia que eu tinha deveres importantes pela família
Ela era uma mulher forte e dura que sabia que o que tinha que ser feito era para o bem da família.
Assim que o padre terminou a cerimônia, senti uma mão pousar em meu ombro. Olhei para cima e encarei os olhos frios e calculistas de Vincenzo, o braço direito do meu pai, que agora me servia de conselheiro, por pura conveniência, claro.
Vincenzo estava sempre presente, na sombra do poder. Era o tipo de homem que conhecia cada segredo e não hesitava em lembrar a todos de que também tinha poder.
— Sofia, precisamos conversar sobre os termos do testamento — murmurou ele com a voz baixa, enquanto nossos “convidados” começavam a dispersar.
A urgência em sua voz mostrava que ele não perderia tempo para deixar claro o que eu devia fazer. Eu podia ver a expectativa dele de que eu acatasse cada ordem.
Sem responder, indiquei que ele me seguisse até o escritório que agora era meu, embora o peso do lugar ainda parecesse pertencer a ele. Os móveis de couro, as paredes de madeira escura, o cheiro do tabaco do meu pai, que ainda persistia, tudo ali exalava sua presença.
Assim que fechei a porta, fui até a cadeira de couro atrás da mesa, sentando-me com o máximo de rigidez. Vincenzo ajeitou os óculos e abriu uma pasta de couro desgastada, tirando dela um papel que parecia pesar uma tonelada.
— Seu pai sabia que sua morte traria certos… desafios — ele começou, medindo as palavras com cuidado. — Ele fez arranjos para garantir a proteção da família e do império.
Cruzei os braços, arqueando uma sobrancelha, sentindo a familiaridade desconfortável de quando meu pai me usava como peça em seus jogos.
— Vincenzo, não quero rodeios. Qual é o “arranjo” que meu pai fez?
Ele suspirou, parecendo um pouco desconfortável pela primeira vez em anos.
Era raro ver Vincenzo hesitar.
“Isso não deve ser bom.”
— Seu pai… firmou um acordo de paz com a família Moretti. Um casamento entre você e Leonardo Moretti para unir as famílias.
As palavras dele foram como um soco no estômago.
Leonardo Moretti.
O nome por si só exalava perigo.
Ele era famoso por sua brutalidade, e rumores sobre seus métodos e segredos escusos circulavam como lendas urbanas.
Esse homem… meu marido?
— Você está me dizendo que meu pai me prometeu como um bem de barganha? — falei, com a voz fria e controlada, mas sentindo o sangue ferver por dentro.
Como ele pôde…
— Foi a única forma de manter a segurança de todos. Seu pai sabia que, sem um vínculo sólido entre as famílias, a guerra seria inevitável — disse ele, a voz tão prática que me deu náuseas. Vincenzo não via o casamento como algo emocional, para ele, era uma transação como qualquer outra.
Fechei os olhos, respirando fundo, tentando digerir aquilo.
Minha vida, minha liberdade… tudo agora estava à mercê de um casamento com um homem que eu sabia ser implacável.
"Você tem medo, Sofia?", a voz do meu pai retornou como um sussurro.
Eu podia ouvir a resposta clara em minha mente. Não, eu não tinha medo. Não depois de tudo que passei para chegar até aqui. Mas a ideia de ser “entregue” a Leonardo Moretti…
Vincenzo me observava, esperando uma reação, uma fraqueza. Quando abri os olhos, fiz questão de encará-lo de forma dura.
— Se é isso que precisa ser feito, então eu farei. — minha voz saiu firme, fria. — Mas não espere que eu seja uma esposa submissa, Vincenzo. Esse casamento pode unir as famílias, mas eu não me ajoelharei para ninguém.
Ele me olhou por um momento, algo que quase parecia… respeito em seu olhar.
— Esperava essa resposta de você, Sofia. Esse é o espírito da família Romano. — Ele se levantou, satisfeito. — Você conhece Leonardo esta noite. Um jantar privado foi arranjado.
— Esta noite? — Um frio percorreu minha espinha, mas mantive o rosto impassível.
Não podia mostrar fraqueza agora. O peso da noite se tornava mais real.
Conhecê-lo.
Olhar para os olhos do homem que controlará minha vida.
Quando Vincenzo saiu, permiti-me fechar os olhos por um instante. Esse casamento não seria uma união, mas uma guerra silenciosa, e eu precisaria estar preparada para enfrentar o homem que, em breve, estaria não só ao meu lado, mas também contra mim.
“Ninguém tira o controle da minha vida. Nem mesmo Leonardo Moretti."
Eu repetia essa frase em minha mente como um mantra, uma promessa silenciosa. Essa era minha herança, meu legado. E eu iria provar que estava pronta.
Capítulo 2: "Um Jogo de Olhares"(Leonardo Narrando)Eu sempre soube que aquele dia chegaria. O dia em que meu pai e o Conselho cobrariam meu preço por ser um Moretti. Ninguém herda um império sem carregar cicatrizes. Eu já estava acostumado com isso, a perda da liberdade, das escolhas, de uma vida comum. Mas, casar com a filha de Marco Romano… isso estava além do que eu imaginava suportar. Sofia Romano.O nome dela ressoava em minha mente, e eu não conseguia evitar a curiosidade mesclada com desprezo. A "princesinha da máfia," diziam. Fria, calculista, uma mulher que esconde por trás da beleza uma ferocidade digna de sua linhagem. Seria verdade? Eu estava prestes a descobrir.Assim que entrei no restaurante reservado, o ambiente discreto e opulento refletia a essência das famílias que ele abrigava. Os lustres dourados, o aroma de madeira antiga e a privacidade das paredes de veludo me lembravam que estávamos em território neutro, mas essa neutralidade terminaria no instante em q
Capítulo 3: "O Fardo do Poder"(Sofia Narrando)Depois daquele jantar, tudo parecia se mover em um ritmo vertiginoso. Eu nunca fui alguém que se permitisse hesitar ou mostrar insegurança, mas aquele acordo, aquele casamento forçado, era uma ameaça àquilo que eu mais rezava, minha liberdade.Quando voltei para casa naquela noite, o rosto de Leonardo ainda estava gravado em minha mente. Seus olhos me lembravam de uma noite sem fim, um tipo de escuridão que nunca se permite iluminar. Eu sabia que ele era perigoso, mas o que realmente me perturbava era a percepção de que ele também sabia exatamente como manipular e controlar qualquer um ao seu redor. E agora ele era meu futuro marido.As horas se arrastaram, e eu mal dormi. O medo, o ódio e uma estranha expectativa faziam meu coração acelerar. Minha mente girava em torno das palavras trocadas no jantar, cada expressão e cada silêncio. As implicações desse casamento eram imensas, não apenas para as famílias, mas para mim como pessoa. O q
Capítulo 4: "Território Romano"(Leonardo Narrando)Ao entrar na mansão Romano, a primeira coisa que notei foi o silêncio. Aquele lugar era muito diferente da casa onde cresci, onde cada canto era dominado por vozes, risadas, e o som de negócios acontecendo em cada sala. A casa dos Romano, por outro lado, parecia ser governada pelo mesmo gelo que parecia fluir nas veias da minha futura esposa.Dois seguranças me acompanharam até a sala principal. Eu sabia que estavam me observando com atenção. Para eles, eu não passava de um intruso em território hostil, um representante de uma família rival. Mas isso só me fazia sorrir internamente. Eu sempre gostei do desafio, e sabia que conquistar o respeito dos Romano era o primeiro passo para afirmar minha posição nesse jogo.Quando a porta se abriu, lá estava ela, Sofia. Sentada em um dos sofás de couro, como se fosse a dona daquele império, observando-me com um olhar que misturava desprezo e interesse. Ela quer saber até onde eu sou capaz d
Capítulo 5: "Entre Linhas e Mentiras"(Sofia Narrando)Quando Leonardo saiu da mansão, eu continuei ali, imóvel, tentando ignorar o turbilhão que ele deixara para trás. Ele tinha a habilidade de transformar o ar ao redor em uma mistura de tensão e ameaça, cada palavra, cada olhar. Eu tentava me convencer de que o odiava, de que aquilo era nada mais que um sacrifício necessário.Mas… ele estava ali, na minha mente, sem pedir licença. “O que eu realmente ganhei com tudo isso?”, me perguntei. Desde o funeral do meu pai, o controle de meu destino parecia estar escapando por entre meus dedos, a cada decisão que não era minha. Mas eu não podia me dar ao luxo de demonstrar hesitação. Se eu permitisse que eles vissem fraqueza, seria o fim. Leonardo, principalmente, me veria como algo a ser moldado, como um peão. Mas eu não seria isso. Não para ele, nem para ninguém.❤️🔥❤️🔥O som dos saltos ecoava pelos corredores da mansão enquanto eu me dirigia ao meu escritório. Era ali que eu toma
Capítulo 6: "Fronteiras Cruzadas"(Leonardo Narrando)A mansão Romano estava silenciosa quando cheguei pela segunda vez naquela semana. Eu sabia que minha visita era Inesperada, Sofia não me chamara, não havia nenhum “encontro diplomático” agendado entre nossas famílias. Mas para lidar com alguém como ela, eu sabia que precisava ignorar os planos e surpreender. Sofia Romano era como um animal que pressentia qualquer ameaça e se preparava para o confronto. E essa era a exata reação que eu queria dela.Passei pelos seguranças na entrada, e eles hesitaram por um momento, não sabendo se deviam me barrar ou me deixar passar. Quando um deles tentou me parar, dei-lhe um olhar frio, calculado, que o fez recuar. Eu não ia deixar ninguém interferir na maneira como escolhi lidar com minha esposa.Assim que entrei, observei os detalhes daquele lugar, cada objeto, cada quadro, como se tudo tivesse sido posicionado para expressar o orgulho e o domínio dos Romano sobre aquele território. Era a c
Capítulo 7: "Segredos em Chamas"(Sofia Narrando)A luz da lua invadia a sala pela janela, refletindo nos móveis de madeira escura que sempre foram símbolo da riqueza e poder da minha família. Mas, naquele momento, nada parecia tão seguro quanto antes. Cada sombra que se formava ao redor da sala parecia carregar segredos, segredos que até então eu me recusei a ver.O silêncio de minha casa estava pesado, as horas avançavam lentamente enquanto eu aguardava Leonardo. Aquele homem misterioso, mas com uma aura de perigo que me fazia questionar tudo sobre ele. Ele não dizia palavras doces, e algo em seus olhos me dizia que ele não estava ali para se apaixonar por mim. Ele estava em busca de algo, algo que eu ainda não conseguia compreender totalmente. E, a cada dia, a verdade parecia escapar mais das minhas mãos, como se fosse uma peça de quebra-cabeça que eu ainda não soubera montar.O som da porta se abrindo me tirou dos meus pensamentos. Eu o vi entrar, sua postura ereta e seu olhar c
Capítulo 8: "Cercada de Sombras"(Sofia Narrando)A noite parecia mais fria do que o normal. As sombras das árvores se alongavam pelo chão do pátio da casa, e eu caminhava em direção ao jardim, em busca de um momento para pensar. Depois do confronto no escritório, algo dentro de mim não me deixava em paz. As palavras de Leonardo ecoavam na minha mente, e eu tentava entender o que estava acontecendo.Estava começando a me perguntar o que era real e o que era manipulação. Mesmo sem eu querer, Leonardo tinha esse poder sobre mim, uma habilidade de fazer com que eu questionasse tudo ao meu redor, inclusive a mim mesma. Ele me desafiava de uma maneira que ninguém nunca tinha ousado, e, por mais que eu quisesse resistir, algo dentro de mim começava a ceder.Enquanto caminhava pelo jardim, perdida nesses pensamentos, ouvi passos. Virei-me, e lá estava ele. Leonardo. Parado, me observando com aquela intensidade que só ele tinha, como se pudesse ler meus pensamentos e soubesse exatamente o
Capítulo 9: "Entre Votos e Veneno"(Sofia Narrando)A igreja estava lotada, mas o silêncio era quase mortal. Cada um dos convidados parecia mais interessado em observar do que celebrar. As alianças de famílias poderosas sempre atraíam as atenções, e os interesses, de aliados e inimigos. Eu podia sentir o peso dos olhares, mas o mais intenso era, sem dúvida, o de Leonardo. Ele estava ao meu lado, vestindo um terno preto impecável, mas o olhar dele… era como uma promessa velada, algo que eu não podia decifrar totalmente.Vestida de branco, me aproximei do altar com passos lentos, meu coração batendo forte. Ao contrário do que sempre imaginei para o meu casamento, não havia flores deslumbrantes nem rostos sorridentes. Ao invés disso, via-se guarda-costas de terno escuro e convidados com expressões calculistas. Esse era o cenário que agora fazia parte do meu mundo, e cada detalhe me lembrava disso.Enquanto eu caminhava, vi minha mãe na primeira fila, com a expressão dura e o olhar sé