O Fardo do Poder

Capítulo 3: "O Fardo do Poder"

(Sofia Narrando)

Depois daquele jantar, tudo parecia se mover em um ritmo vertiginoso. Eu nunca fui alguém que se permitisse hesitar ou mostrar insegurança, mas aquele acordo, aquele casamento forçado, era uma ameaça àquilo que eu mais rezava, minha liberdade.

Quando voltei para casa naquela noite, o rosto de Leonardo ainda estava gravado em minha mente. 

Seus olhos me lembravam de uma noite sem fim, um tipo de escuridão que nunca se permite iluminar. Eu sabia que ele era perigoso, mas o que realmente me perturbava era a percepção de que ele também sabia exatamente como manipular e controlar qualquer um ao seu redor. E agora ele era meu futuro marido.

As horas se arrastaram, e eu mal dormi. O medo, o ódio e uma estranha expectativa faziam meu coração acelerar. Minha mente girava em torno das palavras trocadas no jantar, cada expressão e cada silêncio. 

As implicações desse casamento eram imensas, não apenas para as famílias, mas para mim como pessoa. O que eu seria daqui para frente? Apenas uma peça em um jogo de poder?

Eu estava decidida a nunca permitir isso.

Ao amanhecer, me preparei para a reunião com Vincenzo. O testamento de meu pai exigia uma série de assinaturas e documentos para que o casamento fosse oficialmente registrado, e Vincenzo, sempre calculista, queria que tudo fosse feito o mais rápido possível. 

Eu vestia uma blusa branca e um blazer preto, formal, mas firme, um reflexo da fachada que estava disposta a manter. A maquiagem leve escondia os sinais de cansaço, mas, por dentro, o cansaço emocional começava a pesar. 

Que tipo de vida eu teria ao lado de Leonardo?

Assim que entrei na sala de reuniões, Vincenzo já me esperava com uma expressão impassível. Havia papéis espalhados sobre a mesa e, ao lado dele, um assento vazio. 

Como de costume, ele manteve o semblante profissional, mas seus olhos revelavam uma certa impaciência.

— Bom dia, Sofia.— Ele começou, enquanto ajeitava os óculos, sem levantar o olhar dos papéis. — Precisamos acertar os detalhes da união com a família Moretti.

— Apressado, como sempre, Vincenzo. — respondi com sarcasmo, sentando-me no lugar à frente dele. Eu não lhe daria o prazer de me ver hesitar, mesmo que cada fibra do meu ser quisesse gritar contra tudo aquilo.

— A questão exige urgência. Quanto mais cedo o casamento for oficializado, menos espaço haverá para que nossos inimigos explorem essa transição de poder. — Ele fez uma pausa e me olhou, avaliando minha reação. — Seu pai confiava nesse acordo, Sofia. O casamento fortalecerá a aliança e solidificará sua posição como herdeira.

Cruzei os braços, fitando Vincenzo com frieza. Eu sabia que ele não estava realmente preocupado com meu bem-estar. Tudo para ele girava em torno de poder e segurança para a família, e, de alguma forma, isso significava vender a minha liberdade. 

Para ele, eu era apenas um peão.

— Entendo o ponto, Vincenzo. Mas isso não muda o fato de que eu estou sendo forçada a me casar com alguém que conheci ontem. — A firmeza na minha voz disfarçava a pontada de vulnerabilidade que senti ao verbalizar aquilo.

Ele permaneceu inabalável.

— Leonardo Moretti é um homem respeitado, mesmo entre nossos inimigos. Ele tem recursos, controle, e uma reputação que certamente beneficia o nome Romano. Isso não é algo que se possa ignorar, Sofia.

Fiquei em silêncio por um momento, ponderando suas palavras. 

Recursos. Controle. Reputação.

Tudo o que Vincenzo via em Leonardo eram qualidades estratégicas. Mas, para mim, ele era uma ameaça. Eu sabia que ele não me aceitaria como igual, ele me veria apenas como outra conquista, um troféu que ele usaria para afirmar seu domínio.

— E o que eu ganho com isso, Vincenzo? Alguma vantagem pessoal? Alguma garantia?

Ele desviou o olhar por um segundo, como se ponderasse a melhor resposta.

— Você ganha poder, Sofia. Ao lado de Leonardo, você terá controle sobre um império maior do que qualquer Romano já teve.— Ele fez uma pausa antes de acrescentar, quase como um aviso — Se souber jogar suas cartas.

Essas palavras pairaram no ar, cheias de uma ameaça velada. Vincenzo estava me lembrando de que, mesmo com todo o poder herdado, eu ainda teria de lutar para mantê-lo. 

E agora, o principal obstáculo no meu caminho seria meu próprio marido.

Fiz uma anotação mental. 

Se eu realmente quisesse preservar minha liberdade, precisaria ter uma estratégia clara. Minha vida com Leonardo seria uma dança delicada entre poder e resistência. Eu não poderia confiar nele, mas também não poderia mostrar fraqueza. Ele teria que me ver como uma parceira de igual poder, e, talvez, até de igual ameaça.

— Muito bem, Vincenzo. — murmurei, recolhendo os documentos e colocando minha assinatura onde era necessário. — Se é o que precisa ser feito, eu farei. Mas lembre-se de uma coisa, eu nunca serei apenas uma sombra no império de Leonardo. Ele precisa entender que, assim como ele, eu não estou disposta a me submeter.

Ele me olhou por um instante, e algo como orgulho reluziu em seu olhar.

— É exatamente isso que seu pai esperaria de você, Sofia.

Mas eu sabia que ele também me observava com um leve traço de cautela. 

Afinal, na mente dele, “até onde ia minha lealdade à família Romano?*

Terminei de assinar os papéis e me levantei, determinada a não deixar que nem Vincenzo nem Leonardo duvidassem da minha força. Eu estava entrando em um território perigoso, onde cada movimento deveria ser cuidadosamente calculado.

Ao sair da sala de reuniões, cruzei os corredores da mansão que agora eram meus, mas que ainda carregavam as memórias de meu pai. 

Eu sempre soube que este dia chegaria, o dia em que eu teria de lutar para manter minha posição de poder. Mas não imaginei que a batalha começaria tão cedo.

Quando cheguei ao meu quarto, sentei-me na cama, olhando para o espelho do outro lado do cômodo. No reflexo, vi uma mulher que estava disposta a arriscar tudo. Uma mulher que já perdera tanto e, agora, estava disposta a jogar esse último jogo perigoso com cada fibra de sua força.

“Ninguém me controla, Sofia.”

A frase ecoou em minha mente, lembrando-me de meu pai, do legado que ele deixara para mim. E, agora, Leonardo Moretti seria o primeiro a entender isso.

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