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Entre Linhas e Mentiras

Capítulo 5: "Entre Linhas e Mentiras"

(Sofia Narrando)

Quando Leonardo saiu da mansão, eu continuei ali, imóvel, tentando ignorar o turbilhão que ele deixara para trás. Ele tinha a habilidade de transformar o ar ao redor em uma mistura de tensão e ameaça, cada palavra, cada olhar. 

Eu tentava me convencer de que o odiava, de que aquilo era nada mais que um sacrifício necessário.

Mas… ele estava ali, na minha mente, sem pedir licença. 

“O que eu realmente ganhei com tudo isso?”, me perguntei. 

Desde o funeral do meu pai, o controle de meu destino parecia estar escapando por entre meus dedos, a cada decisão que não era minha. Mas eu não podia me dar ao luxo de demonstrar hesitação. Se eu permitisse que eles vissem fraqueza, seria o fim. 

Leonardo, principalmente, me veria como algo a ser moldado, como um peão. Mas eu não seria isso. 

Não para ele, nem para ninguém.

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O som dos saltos ecoava pelos corredores da mansão enquanto eu me dirigia ao meu escritório. Era ali que eu tomava as decisões mais importantes, onde planejava como liderar, como proteger o que restava da honra da minha família. 

Vincenzo já estava ali, esperando por mim, de pé ao lado de minha mesa, com uma expressão impassível, típica dele. Ele sempre fora um apoio fiel para meu pai, mas, desde sua morte, percebi uma ambição crescente em seus olhos. 

E agora ele parecia satisfeito com o rumo das coisas.

Assim que entrei, ele se virou e sorriu, de um jeito quase cínico.

— Parece que o senhor Moretti causou uma forte impressão. — comentou ele, enquanto fechava a porta atrás de mim.

Ignorei o sarcasmo em sua voz, sentando-me na cadeira de couro atrás da mesa. Recostei-me, mantendo a expressão serena.

— Leonardo é apenas uma peça em um jogo muito maior, Vincenzo. Nada mais que isso. — disse, num tom firme, embora eu mesma soubesse que ele era muito mais que isso. 

Só que Vincenzo não precisava saber.

Ele sorriu, inclinando-se levemente, avaliando-me com aquele olhar de alguém que acha que entende mais do que realmente entende.

— Sofia, todos sabem que um casamento como esse é um equilíbrio delicado de poder. Seria sábio se você conseguisse extrair mais benefícios da relação com o senhor Moretti. Ele já é um aliado poderoso e pode fortalecer sua posição.

Soltei uma risada seca, incapaz de segurar o sarcasmo.

— Fortalecer minha posição, Vincenzo? Não preciso de um marido para isso. Não sou a sombra de ninguém. — afirmei, com uma firmeza que eu sabia que ele precisava ouvir. 

Vincenzo, como muitos dos homens ao nosso redor, pensava que uma mulher precisava de uma presença masculina ao lado para ser relevante, mas eu estava disposta a provar o contrário. 

Para ele, para Leonardo e para todos. 

Ele continuou a me observar por alguns instantes, em silêncio, antes de dar de ombros, como se aceitasse minha resposta sem realmente concordar.

— Claro, Sofia. Mas não esqueça que Leonardo Moretti não é o tipo de homem que vai aceitar uma união onde ele não tem controle. Ele pode ser perigoso.

Desviei o olhar, apenas por um instante, pensando nas palavras de Leonardo. 

Sim, ele era perigoso, disso eu não tinha dúvidas. Mas esse era o tipo de risco que eu estava disposta a correr. 

Depois que Vincenzo saiu, finalmente fiquei sozinha no escritório, o silêncio caindo ao meu redor como uma espécie de conforto. Mas mesmo ali, na quietude do ambiente que eu considerava meu refúgio, a presença de Leonardo ainda parecia pairar. 

As palavras dele ecoavam na minha mente, uma ameaça constante.

“Não me importo com as regras se for preciso.”

Uma sensação estranha tomou conta de mim. Eu sempre me orgulhei de ser alguém que sabia se manter no controle, mas algo me dizia que, ao lado de Leonardo, essa segurança desapareceria. Ele era o tipo de pessoa que destruiria qualquer barreira para conseguir o que queria, e não me restavam dúvidas de que ele tinha planos muito claros para nossa união.

Mas não era apenas isso que me incomodava. Era o fato de que eu sentia uma estranha expectativa crescendo dentro de mim, uma inquietação que eu tentava ignorar. 

Como ele conseguiria me testar daquela maneira? E por que, ao invés de me afastar, isso parecia me puxar ainda mais para dentro desse abismo?

Decidi que não podia me permitir tais dúvidas. Havia um plano a seguir, uma estratégia. Eu era Sofia Romano, e Leonardo teria que entender que nossa união jamais seria uma submissão. Eu não era fraca, e jamais seria.

Peguei meu celular e disquei o número dele, sentindo a adrenalina crescer enquanto o telefone chamava. 

Quando ele atendeu, sua voz soou calma, mas com aquele tom calculado, frio.

— Sofia. Que surpresa. — ele disse, e eu podia sentir o leve sorriso em sua voz, como se estivesse aguardando exatamente por esse momento.

— Precisamos esclarecer algumas coisas, Leonardo. Não farei parte de nenhum plano seu que vá além do que foi acordado. Se estamos nisso juntos, então que fique claro que eu também tenho meus próprios termos.

Ele riu, uma risada baixa e carregada de ironia.

— Ah, Sofia, não subestime a complexidade desse casamento. Não existe apenas o que foi acordado. As coisas sempre… evoluem.

Minha paciência se esgotava, e decidi que, se ele queria joguinhos, eu também sabia jogar.

— Escute bem, Leonardo. Você pode ter qualquer ilusão de controle que quiser, mas não me terá como aliada submissa. Isso não é uma parceria de poder e submissão. Eu sou sua igual, ou sou sua inimiga. — mantive minha voz fria, o bastante para que ele entendesse o quão séria eu estava.

Ele permaneceu em silêncio por um momento, e por um segundo achei que talvez ele estivesse reavaliando a situação. Mas Leonardo não era o tipo de homem que mudava de ideia tão facilmente.

— Muito bem, Sofia. Se é isso que você quer, posso aceitar esses termos. Mas saiba que, se decidir entrar no meu jogo, não haverá retorno. Você sabe que é um caminho sem volta.

Eu senti um arrepio percorrer minha espinha. Havia algo na voz dele, um tipo de ameaça que era mais sutil do que qualquer coisa que ele já dissera. Mas não me deixei intimidar. 

Eu estava pronta para o que fosse necessário. Afinal, eu já tinha feito minha escolha quando aceitei esse casamento. Não haveria volta para mim também.

— Então estamos entendidos. Não espere nada menos que resistência de mim, Leonardo. E se um de nós tentar cruzar o limite, lembre-se de que posso ser tão perigosa quanto você.

Dessa vez, foi ele quem ficou em silêncio, e eu sabia que minhas palavras o haviam atingido. 

De alguma forma, naquele breve momento, senti que havíamos chegado a uma espécie de acordo não verbal. Um entendimento de que ambos estávamos prontos para jogar o mesmo jogo, sem ilusões e sem piedade.

Quando desliguei o telefone, senti uma sensação de alívio e tensão misturados. 

Sabia que aquilo era apenas o começo, que ainda havia muito mais por vir. Mas, pela primeira vez desde a morte de meu pai, sentia que estava no controle da situação, mesmo que parcialmente.

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