CAPÍTULO 3

Então, ele, quase nervoso, mas usando todo o seu talento, segurou a mão dela, que a tirou, em um reflexo.

“Viviam, você não acha que nós devemos chegar de mãos dadas?”

“Ah... Er... Ah, sim, sim! Eu esqueci...” falou, gaguejando, sem graça.

Ele sorriu, pegando a mão dela de novo, que, dessa vez, segurou a dele de volta. Ambos sentiram, imediatamente, uma sensação agradável, confortável, nova. Ambos desejaram, silenciosamente, poder continuar de mãos dadas por muito tempo, sentindo o contato da pele quente do outro.

Mas logo Viviam avistou seus pais e se lembrou do que estava fazendo ali. E se deu conta de que aquele homem encantadoramente lindo não estava segurando sua mão por um gesto de carinho, mas porque era parte do jogo de cena. A sensação maravilhosa daquela mão tão grande e forte segurando a sua não poderia ser desejada, aproveitada, não deveria sequer existir.

Já ele ficava cada vez mais tenso, a cada passo que dava em direção ao casal que os aguardava em uma mesa de canto, e havia se levantado ao ver a filha. Olhando os dois, ele tinha uma sensação estranha!

As cenas que viriam adiante tinham sido muito bem ensaiadas por ele e pela pequena a seu lado. No entanto, inexplicavelmente, ele não podia evitar sentir que estava, de fato, caminhando em direção a seus futuros sogros.

Oh, céus! Como seria lidar com não apenas um, mas dois sogros?

Logo que Gabriel foi apresentado a Jensen e Paul Lavigne, e ele e Viviam juntaram-se aos dois em sua mesa, o falso casal usou um pouco de seu talento para fingir uma intimidade que não tinham. No entanto, não demorou muito para que eles sequer precisassem fingir risadas, sorrisos e brincadeiras, porque eles realmente sabiam muito um sobre o outro, ainda que tivesse sido por meio de papéis, e se identificavam muito um com o outro em gostos e interesses. Além disso, sentiam-se confortáveis na presença um do outro, a conversa fluía.

Os pais dela tinham ido até ali bastante desconfiados. Era muito estranho e não parecia ser coincidência que eles nunca tivessem ficado sabendo que Viviam tinha um namorado e, logo naquele momento, em que ela precisava casar para se tornar herdeira de fato, ela aparecia com um. No entanto, eles não podiam negar que os dois jovens faziam um belo casal e pareciam bem entrosados, bem à vontade um com o outro.

“Crianças, como vocês se conheceram?” Perguntou Jensen, sentindo que precisava investigar mais.

“Eu estudei com o Leandro, somos muito amigos. Uns meses atrás ele me chamou pra almoçar com ele e tinha convidado a Vivi também. Então nós ficamos amigos e começamos a nos encontrar com frequência, às vezes sem o Leandro, outras com ele... Mas um dia eu convidei a Vivi e resolvi não chamar o Mateu... E, bom, a gente foi jantar junto, tomou uns drinks e tal... E a gente ficou junto.”

“Nenhuma história extraordinária, pai.” Falou a filha, fingindo-se incomodada e sem jeito, e acrescentou, em tom de reclamação, olhando para Gabriel. “Podia ter deixado de fora os drinks.”

“Er... Foram só uns drinks...”

“Tudo bem, Gabriel...” Interrompeu Paul. “Viviam pensa que ainda a temos como nossa garotinha, mas sabemos que já é uma mulher.”

“Sim. Temos preocupações naturais de pais, mas não somos super protetores.” Viviam girou os olhos para isso. “Nesse momento, por exemplo, só estamos perguntando muitas coisas porque você nos apareceu com um namorado de repente... E num momento bem propício, você não acha, princesa?” Jensen era direto e objetivo.

“Papai, se estiver insinuando alguma coisa, vai estar me ofendendo... E ofendendo o Gabriel.” Repreendeu, entre dentes. “Vocês não o conheciam porque nunca conheceram nenhum namorado meu... Porque simplesmente não era sério o suficiente ainda. O Leandro mesmo vocês só conheceram depois que a gente terminou.”

Gabriel não conseguiu conter uma gargalhada e Viviam sentiu o rosto aquecer, corar. Seu plano iria por água abaixo agora. Estava ferrada!

“Você namorou o Leandro?” Ele continuou rindo. “Leandro é...” Arrependeu-se ao olhar para os pais dela. Talvez eles não soubessem e ele tivesse dado o furo da década! Ia ficar sem seu cachê. Estava fer-ra-do!

“Gay. Leandro é gay... Como eu e como Paul.”

Gabriel ficou aliviado com as palavras de Jensen, mas seu alívio não durou nada. Será que ele tinha estragado tudo ao deixar claro que não sabia que a pretensa namorada era ex do amigo?

“Por que você e Leandro nunca me contaram isso, babe?” Entrar no personagem de novo era a única solução para tentar remediar o que tinha feito.

“Porque não é legal contar que eu tive um namorado que, logo depois do nosso relacionamento, resolveu sair do armário! Basta ver a risada que você deu.” Ela disse, sem sequer precisar se fazer de aborrecida.

“Tudo bem.” Ele a surpreendeu com um sorriso simpático e um beijo no rosto. “A gente nunca mais precisa falar sobre o assunto, amor.”

O coração de Viviam quase saiu pela boca. O sorriso, o contato dos lábios dele com a pele dela, ele a chamando de amor. Tudo isso era tão bom! Ela poderia se acostumar tão facilmente! Precisou passar o resto da noite lembrando a si mesma que Gabriel era apenas um bom ator, com um ótimo cachê e que sonhar com ele, suspirar por ele, sentir-se como uma menininha tola, feliz só por ter recebido um beijo na bochecha, não fazia parte dos termos do contrato.

Gabriel agira espontaneamente. Alguma coisa dentro dele dizia que a irritação dela com a história envolvendo seu atual melhor amigo e antigo namorado era verdadeira, e ele tinha uma vontade genuína de fazer qualquer nuvem negra sobre a cabeça dela desaparecer. O seu sorriso fora sincero e ele a beijara porque tivera vontade. Muita, muita vontade!

Ele a beijaria de novo, se estivessem sozinhos e se ela deixasse. Não na bochecha, amigavelmente, como fez, mas por todo o rosto, pelo pescoço e nos lábios... Sensualmente. Enquanto o assunto na mesa mudava, o rapaz ficou alguns instantes alheio a ele, dando-se conta de que aquilo que mais temia que acontecesse estava, de fato, acontecendo. Ele desejava a mulher a seu lado, a mesma mulher com quem ele teria que viver por um ano, mas que não planejava ter nenhuma relação com ele, a não ser a estritamente profissional.

Gabriel estava fo-di-do!!!

Felizmente, o resto do jantar correu bem, sem grandes interrogatórios por parte dos pais de Viviam e sem novos contatos físicos entre ela e Gabriel. Ambos agradeceram mentalmente o fato de não precisarem fazer nenhuma cena em que se beijassem na boca, afinal, mesmo que fossem namorados de verdade, eles não se beijariam assim na frente dos pais da garota. Também sentiam um misto de desejo de que, um dia, houvesse alguma situação em que eles fossem precisar fazer isso, e esperança de que não. Ambos queriam esse contato, mas imaginavam que ele dificultaria ainda mais as coisas.

O suposto casal ficou sem se encontrar por dois meses, como tinham combinado, uma vez que os pais dela não teriam como saber que eles nunca se encontravam, até o dia em que foi marcado um jantar com os Lavigne e alguns amigos para, como também acordado, ser feito o pedido de casamento.

Foi um momento extremamente estranho. Viviam chorou bastante durante o pedido e em alguns outros momentos da pequena comemoração. Quase todos ali, com exceção de Leandro e da melhor amiga de Viviam, que também sabia de toda a situação, acharam que ela derramara lágrimas de felicidade. Gabriel achou que ela era uma excelente atriz e até fez uma nota mental para elogiá-la quando tivesse a oportunidade. Só Viviam sabia da profunda tristeza que aquele momento tinha lhe provocado.

“Vivi?” Samantha entrou no apartamento que dividia com Viviam, logo atrás da melhor amiga de longa data. “Você vai me contar a razão de tantas lágrimas, não vai?”

“Samy, eu acho que eu nem preciso, não é?” Disse, jogando o corpo no sofá e tirando os sapatos, enquanto a outra sentava ao seu lado. “Eu sou uma mulher. Eu tenho meu lado romântico, meus sonhos, meus desejos. Eu queria um pedido de casamento de verdade, alguém que me amasse me pedindo em casamento e eu vou me casar de verdade, mas não tive isso. E o casamento? O casamento também vai ser uma mentira, um teatro. Eu vou continuar sem ninguém na minha cama me abraçando, me amando...” ela deu um suspiro profundo “Eu não sei mais nem o que é sexo, Samy! E NUNCA soube o que é amor.” Ela fez uma pausa e amiga, sem palavras para rebater tudo isso, apenas segurou sua mão e fez carinho nela. “Acho que não precisa de mais nenhum motivo, não é?”

Samy acenou positivamente com a cabeça e abraçou a amiga, deixando que ela chorasse em seus ombros. Depois as duas foram em silêncio para seus quartos e dormiram, deixando aquele assunto esquecido, uma vez que não havia nada que pudesse ser feito para mudar as coisas. Viviam precisava se casar para tentar realizar parte dos seus sonhos. Por outro lado, o casamento parecia estar destruindo outra parte deles.

As duas amigas tinham crescido juntas, tinham sido vizinhas por muitos anos e, em seguida, haviam decidido morar juntas. A garota conhecia bem a amiga e sabia que ela se fazia de forte, mas tinha a mesma vontade que qualquer mulher tem de ser tocada com amor por um homem. Por mais que ela achasse que, depois do divórcio já previsto, Vivi poderia conhecer alguém e resgatar essa parte de seus desejos, ela podia imaginar o quanto era duro fingir, passo a passo, tudo aquilo que se quereria estar vivenciando de verdade.

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