“Vivi, você sabe... Você é a coisa mais próxima de uma mulher que eu tenho na minha vida...”
“Eu não sou uma coisa próxima de uma mulher, Gabriel. Eu SOU uma mulher...” Interrompeu, rindo dele.“Você entendeu, vai?” Retrucou, impaciente.“Uhum.” Ela voltou a misturar suas frutas e cereais matinais, enquanto ele passava geléia no waffle que ela tinha preparado especialmente para ele.“Eu pediria à minha mãe, mas ela mora longe e...”“Gabriel... Quer falar logo?” Estava ansiosa para saber qual era a missão feminina que ele teria para ela.“Eu preciso de ajuda para comprar umas coisas... Roupas e... Essas coisas.” Ela o olhou, balançou a cabeça, positivamente, e voltou a atenção para as frutas. “Principalmente para essa tal festa...”“Ai, eu to tão animada! Você não tá?” A animação de Viviam era não somente genuína, como perceptível e contagiante. “É claro que nós vamos ao shopping! Eu também preciso comprar um vestido novo. Eu tenho que ir bem bonita, à altura... Afinal, você vai ser o foco das atenções, hum?” Sorriu para ele, que devolveu o gesto.A partir desse momento, ela falou e falou e falou um pouco mais, sobre a ida deles ao shopping, tudo que eles iriam comprar, como seria a festa, o fato de que ela precisaria marcar hora no salão. Ele, todavia, não estava prestando mais nenhuma atenção. Só olhava, encantado, hipnotizado, aquela mulher que estava preocupada em comprar uma roupa nova, para ficar bonita, à altura dele, sem se dar conta do quanto era LINDA, deslumbrante, perfeita a seus olhos.As compras, alguns dias depois, foram uma diversão só. Gabriel não gostava de ir ao shopping, de escolher, experimentar, ficar em fila, aguentar bajulação de vendedor, e sempre fugia desse tipo de “passeio”, quando convidado pela mãe e o irmão mais novo. Contudo, ao lado de Viviam, uma tarde inteirinha entrando e saindo de lojas, e tendo como resultado uma porção de sacolas para ele carregar, tinha sido surpreendentemente agradável.Enquanto Viviam estava na última loja em que ela queria adquirir alguns itens, a Victoria Secret, Gabriel ficou sentado em um banco, no corredor, secretamente imaginando a falsa esposa em um conjunto de calcinha e sutiã exposto em um manequim, na vitrine. Perdido em seus devaneios, nem viu quando alguém se aproximou.“Gabriel, cara! Quanto tempo!”“E aí, brother?” Disse, levantando e abraçando o amigo.“Não aparece mais pra ver os pobres, hein! Desse jeito, eu quase acredito que você deu o golpe do baú, como o Matt fala, cara.” Os dois riram. “Por falar nisso, foi mal não ter ido ao casamento. A agência me mandou fazer uma fotos na Califórnia. Foi de última hora.”
“Sem problemas. Casamento é meio chato, bom mesmo é a lua de mel.” Deu um risinho safado. Seu amigo mais pegador nunca poderia saber que ele não transou com a própria mulher na noite de núpcias. E em nenhuma outra noite. Estava há meses sem sexo!“E cadê a sortuda, hein? Eu preciso conhecer essa gata tão foda, que colocou você na coleira de dedo... E rápido pra cacete!”Nesse momento, os dois ouviram um grito, que os fez olhar na direção da loja.“FELIPO?” Viviam veio correndo e largou as sacolas, atirando-se nos braços de Felipo, que a pegou no colo e rodopiou com ela.“Spice-Vivi?” Ele a colocou no chão e os dois se olharam, sorridentes. “Você tá linda! Mais linda! Cara, quanto tempo! Uns... Cinco anos?”“É... Por aí, uns cinco, seis anos.” Os dois riram e se abraçaram de novo, apertado. Gabriel se sentia confuso, surpreso, mas principalmente ignorado.“Caraca! Que saudades, minha spice-Vivi mais apimentada de todas.” Acrescentou, maliciosamente.“É...” Limpou a garganta. “Felipo, você conhece o Gabriel?”Ela se deu conta de que jamais uma mulher poderia deixar alguém falar com ela, daquele jeito, na frente de seu marido e, como não tinha certeza se Felipo deveria saber que o casamento era falso, então ela não poderia deixar que ele a tratasse como sua spice-Vivi na frente de Gabriel. Se deu conta também do fato de que os dois estavam conversando antes de ela chegar, então certamente se conheciam, o que ela não sabia se era bom ou ruim.“Claro! Gabriel é meu amigo, moramos juntos e tudo! Você...” A ficha dele caiu. “Cara, a sua mulher é a Viviam Lavigne?”“Obviamente, não! Ela não é mais Lavigne. O nome dela é Viviam Oliveira.”“Ah, cara, foi mal por usar o apelido que eu dei a ela na nossa adolescência. Eu nunca poderia adivinhar...”“Tá tudo bem, Felipo...”Não estava nada, nada bem, mas ele não ia perder o amigo por causa de uma mulher que nem era mulher dele realmente. Nesse momento, ele só queria entender de onde vinha essa intimidade toda, o que não foi difícil, porque Viviam convidou Felipo para jantar com eles, uma vez que era justamente isso que os dois tinham combinado de fazer quando ela saísse da loja.Os três sentaram em um restaurante com opções vegan, já que Viviam seguia esse tipo de dieta, quase sempre, e, além de comer, conversaram por algumas horas. Viviam ficou sabendo que Felipo agora era fotógrafo de uma agência de modelos e ele soube que ela tinha voltado a estudar há pouco tempo, que estava começando a fazer testes para peças de teatro, e que ainda tinha envolvimento com o coral do colégio.Gabriel, por sua vez, não ficou nada feliz ao saber que Felipo tinha sido o primeiro namorado de Viviam, com quem ela tinha ficado por dois anos, enquanto ele era jogador de futebol e ela a capitã das líderes de torcida.Eles não entraram em tantos detalhes assim na conversa, mas o fato é que o namoro só tinha acabado porque ela optara por ficar no coral e deixar a torcida organizada, e ele não aceitara bem a decisão dela. Ela saíra de coração partido da história, porque acreditava que os dois ficariam juntos, pelo menos até cada um ir para sua faculdade, se um deles fosse sair de NY. Ele tinha sido o primeiro namorado dela, seu primeiro homem e, na verdade (isso nem ele sabia), o único, já que Leandro, depois de ter saído do armário, sequer entrava na conta.Mais tarde, os dois tinham ficado amigos e ele mesmo acabara fazendo parte do coral, depois de ter sido expulso do time por transar com a namorada do quarterback. Só tinham perdido o contato porque ele tinha ido estudar fora de NY realmente, mas ambos estavam felizes em se encontrar.Com certeza, não se perderiam de vista de novo, como afirmaram, inúmeras vezes, durante o jantar. Nenhum dos dois percebeu, dentro da bolha que acabaram criando, o quanto aquilo estava incomodando a terceira pessoa ali presente.“Você lembra quando você quase foi expulso da aula do professor Cohen, por colar chiclete no cabelo da Helga...” Viviam quase não conseguia terminar, de tanto rir, e Felipo ria tanto quanto ela. “... Mas a garota era tão maluca por você, que disse pra ele que tinha colado, ela mesma, o chiclete sem querer?” Os dois continuavam às gargalhadas.
Alguns dias depois do encontro inesperado no shopping, Viviam tinha convidado Felipo para jantar com ela e Gabriel, na casa dos dois. Depois do jantar, tinham ido todos para a sala de TV, para tomar cervejas e ver um filme, mas o ex casal conversava sem parar e nenhum filme tinha sido sequer escolhido ainda.Gabriel, que tinha ido buscar cervejas para os três, voltou para a sala de estar, onde os ex namorados recordavam mais uma das muitas histórias de sua adolescência juntos, sentados lado a lado, no chão, encostados no sofá. Ele entregou as garrafinhas long neck aos dois e sentou no outro sofá, em frente a eles, observando os dois aos risos. Seu mau humor era crescente, mas não era percebido por nenhum deles.“A Helga era maluca! Ela nem era feia, mas eu nunca iria ficar com ela, porque depois ela não ia mais me deixar em paz. Lembra quando ela deu uma calcinha pro Jacob, pra tentar evitar que ele colocasse no blog que eu tinha ficado com a Mia?” Viviam soltou outra gargalhada, encostando a cabeça no ombro de Felipo, enquanto Gabriel se contorcia no sofá, tentando controlar a irritação que tomava conta dele.“Pior! Ela deu uma calcinha enorme... Nem a minha avó usava uma calcinha tão grande!”Os risos não paravam nunca e Oliveira virou toda a cerveja, indo buscar outra, só pra sair dali. Passou alguns minutos na cozinha, encostado na bancada. Não sabia o que estava incomodando mais. Se era a proximidade física dos dois, o receio de que ainda existisse uma atração entre eles, ou se era o fato de, para todos os efeitos, ele ser o marido dela e, mesmo assim, estar sendo praticamente ignorado pelos dois.“Escuta essa, Gabriel.” A garota falou, quando ele voltou, finalmente, à sala, ocupando novamente um lugar no sofá. “O seu amigo aqui fala que não ficaria com a Helga Levy porque ela era maluca... Mas ele ficou com a Mia Katz, a namorada do David Boldin... Do quarterback... O maior jogador do time e o mais adorado pelos outros jogadores!”“Essa história, não, Viviam...”“Essa história, sim, Felipo! Gabriel, a garota era hipócrita e perigosa! Ela era do clube do celibato e transou com o Felipo, logo na primeira vez, nada mais nada menos do que no vestiário masculino... Na escola! Ela frequentava a igreja com os pais, toda princesinha, mas participava de pega com os meninos, usava drogas. No último ano, ela foi até presa... Com cocaína!”“Tá, ok, Viviam! Eu não tinha juízo... Eu andava com as pessoas erradas. Mas, porra... Eu também tinha um lado bom, vai.”“Tudo bem... É verdade... É... Você era... Um bom dançarino.” Lembrando-se de algo, ela se animou. “Meu Deus, eu nem me lembrava mais!” Levantou-se, enquanto os dois homens na sala olhavam um para o outro e perguntavam o que ela ia fazer.Viviam colocou um DVD e logo se viu na tela uma festa. O local do baile era um ginásio e havia uma faixa com o ano escrito, portanto não era difícil perceber que se tratava de uma festa do colégio.“É a festa de que ano, B?”“Do nosso primeiro ano... É a única que eu tenho. Eu não fui às outras. Saí com o pessoal do coral.”“Tem a nossa coroação, então.” No mesmo momento em que Felipo perguntou, os dois apareceram na tela, dançando juntos. Gabriel, que até então prestava atenção como eles, desviou o olhar da tela, o que não passou despercebido pelo amigo.“Já é tarde, Viviam. Vai demorar pra aparecer a coroação... Então... Vamos deixar pra ver outro dia, ok?”Felipo levantou-se do chão, ao mesmo tempo desligando a TV. Estava sem jeito. Eram ele e a mulher do amigo dançando. Tinha sido há muitos anos, mas seu brother não parecia nada confortável e ele não queria ser a razão de nenhum problema.“Poxa, Felipo, eu tava vendo...” Falou, fazendo bico, sem entender por que o rapaz tinha resolvido ir embora de repente e, ainda por cima, desligado a TV sem nenhuma educação.O falso casal se despediu de seu convidado e, se a situação já estava estranha, ficou ainda mais, porque, alheia a tudo, em razão da bebida, das lembranças do passado, do conforto que sentia na presença do velho amigo,Viviam abraçouFelipo demoradamente, carinhosamente.Aquilo era a gota d’água paraGabriel. Já tinha suportado demais!“O que foi tudo isso?” Disse, irritado, depois de fechar a porta e ver a mulher se jogando no sofá.“O quê?” Falou, surpresa.“O que foi isso,Viviam? Você dando mole proFelipo bem debaixo do meu nariz?”“Gabriel, você tá louco, eu não tava... E,Gabriel, você não é meu marido! Não de verdade. Se eu tivesse...” Acrescentou, com toda calma.“Eu não sou, mas ele acha que eu sou!” Estava cada vez
Todos se encontraram nos bastidores a fim de rumar para a festa.Viviam usava um vestido vermelho curto, decotado, que a deixava de tirar o fôlego, sem que ficasse nem um pouco vulgar, sua maquiagem era discreta e o cabelo estava preso em uma trança de lado.Gabriel estava boquiaberto, olhando-a, quandoLeandro, chamando todos para a saída, passou por ele e murmurou um “cuidado para não babar.”Tirado de seu transe momentâneo, ele foi até ela, pegando sua mão e declarando que ela estava maravilhosa, o que a fez ficar feliz e sem jeito ao mesmo tempo.Como ela tinha prometido,Felipo jamais desconfiaria que eles não eram casados. Não com o comportamento dela na festa daquela noite! Ela sentou-se extremamente perto dele, encostava nele o tempo todo, falava em seu ouvido toda hora, segurava sua mão e lhe lançava olhares e sorrisos.O estranho é que, quando el
Os dois trocaram mais alguns beijos até que ela se separou dele, apenas o suficiente para abrir o robe e se livrar dele, com gestos delicados, aproveitando a sensação de ser observada por ele.“Você tava planejando isso quando me chamou pra beber com você, hum?” Disse, ao ver a camisola curtíssima e decotada que ela usava, no mesmo tom azul bebê do robe. Não era uma pergunta, era uma constatação. “Você tá uma delícia com essa camisola!” Disse, deslizando as mãos pelas coxas deViviam, indo do joelho em direção à barra da camisola, onde parou e ficou brincando, roçando os polegares.Ela voltou a beijá-lo, apertando o corpo contra o dele, mais do que antes, sentindo a ereção dele tocar sua intimidade pela primeira vez. Ela já sentia o calor e a umidade entre suas pernas, então criou um atrito
Depois de trocarem mais um beijo e sorrisos maliciosos, ela saiu, lentamente, do colo dele, sentando a seu lado na banheira. Com um gesto, ele perguntou se ela queria sua taça de volta e ambos terminaram o que restava nas taças, ficando em silêncio dentro d’água por mais alguns minutos.“Acho melhor a gente sair. Já estou ficando enrugada.” Disse, mostrando os dedos, como comprovação.“Eu também.” Ele riu, espelhando o movimento dela de mostrar as mãos e, a seguir, pegando a mãozinha dela e beijando, delicadamente, os dedos.Ela se levantou, saindo da banheira e vestido um roupão preto que havia perto dela. Sabendo que o roupão dele estava em seu próprio banheiro, pegou uma toalha bem grande branca e ofereceu a ele, que também deixou a banheira, aceitando-a e começando a se secar, enrolando, por fim, a toalha na cintura.“O q
“Como você faz isso,Gabriel?”“O que?” Respondeu, realmente sem entender do que ela estava falando.“Como você tem esse domínio sobre o meu corpo? Como você faz eu me sentir assim... Tão...Viva?” Ele riu.“Se você não percebeu, babe, eu não tenho controle algum sobre o meu corpo também, quando você chega perto de mim, hum?” Afirmou, com um sorrisinho malicioso nos lábios, fazendo um carinho nela.Os dois começaram a se beijar e acariciar de novo, mas agora com muito mais calma que antes, apesar de ser visível o efeito do contato no corpo deGabriel, agora coberto apenas pela boxer branca.“Você tá cansado, não é?”Viviam perguntou, ao verGabriel respirar de forma mais profunda.“Eu tô um pouco, sim,Vivi... Me desculpa. Eu
Era muito errado pensar nessa paixão como uma doença grave nesse momento em que ela só estava trazendo dor? E, ironicamente logo depois de trazer tanta felicidade, que ele poderia ter cantado pela rua, no meio do temporal, ou gritado o nome dela, a plenos pulmões, no meio do Central Park, ou do alto do Empire State? Agora ele só era capaz de recolher suas roupas e sair, como ela queria. Dizer que estava apaixonado estava fora de questão, é claro. Quem diz isso exatamente quando está sendo rejeitado, tratado como mais um?“Eu não entendo,Viviam. Eu dormi com você aqui nas últimas três noites e você não pareceu se importar nem um pouco. Muito pelo contrário, né?” Ele olhou para ela, mas ela escolheu admirar o chão. “Agora, você chega aqui, me jogando esse balde de água fria, quase me expulsando...”“Gabriel! Eu..
"Acho que todo artista passa por isso... Mas mesmo assim, é frustrante! E no meu caso, eles sempre elogiam tudo! Tudo... A minha interpretação, a minha voz, a minha técnica, o meu conhecimento sobre o personagem. Eu chego a ser aplaudida de pé, mas na hora H, não estão procurando alguém como eu." Suspirou, cansada. "Eu sei que eu não sou bonita o suficiente pras telas... TV, cinema... Masteatro? Até pra trabalhar no teatro agora eu vou ter que fazer plástica no nariz?" Terminou, indignada, irritando-se, ainda mais, ao ver queGabriel ria."Eu não acredito em você,Viviam." Afirmou, ainda rindo."O quê? Você concorda com eles?""Claro que não,Vivi. Eu não concordo... Ou melhor, eu não acho que uma mulher tenha que ser bonita pra fazer teatro. Só que esse não é o ponto. Eu não acredi
Toda a tequila no sangue deViviam fez com que ela tivesse vontade de invadir o quarto deGabriel ao chegar a sua casa de madrugada e, no dia seguinte, causou uma super dor de cabeça, que demorou horas e alguns analgésicos para ser extirpada. Já a conversa comLeandro resultou em uma vontade enorme de mandar tudo para o espaço e dar uma chance real ao que sentia porGabriel. Ele realmente enchia sua vida de felicidade muito mais do que todo o dinheiro e os bens recebidos, apesar de a herança estar sendo bem aproveitada, nos inúmeros cursos e no patrocínio ao coral, que tinha sido, por anos, um sonho seu.No entanto, por alguns dias, ela apenas refletiu. Havia muita coisa em jogo. E se ele gostasse dela, eles tivessem toda aquela química sexual, mas ele não estivesse apaixonado? E se os dois estivessem apaixonados, mas o relacionamento não desse certo, como acontece com muitos casais, mesmo