>ELIZABETHMe sentei em minha mesa, tentando ignorar a sensação incômoda deixada por Hugo. O jeito como ele me olhou, a forma intrometida como perguntou sobre mim… Algo nele me fez sentir como se estivesse sendo observada demais.Seu olhar penetrante parecia me desnudar de uma forma muito ruim.Soltei um suspiro e passei os dedos pelos cachos úmidos, tentando me concentrar no trabalho. Porém, antes que eu pudesse, sequer, ligar o computador, Jerusa, se aproximou com um olhar curioso e um sorriso discreto nos lábios.- Então… Você e o Patrício? - Perguntou baixando a vozPisquei, surpresa.- Como assim? - me fiz de desentendidaJerusa cruzou os braços e inclinou um pouco a cabeça.- Não se faça de desentendida, Liz. Você saiu da sala dele com o cabelo molhado e usando a camisa para fora, ao invés de para dentro, como quando chegou aqui. - Olhei para a minha camisa social que agora está com as pontas soltas - E, sinceramente, isso já estava óbvio
>ELIZABETHDepois daquela conversa eu não conseguia me concentrar no trabalho.Desde que Jerusa havia deixado aquela insinuação no ar, minha mente não parava de criar possibilidades. Que tipo de coisa poderia ter acontecido com Patrício para que ele tivesse dificuldade em se entregar a alguém? Seria algo da infância? Um trauma familiar? Alguma mulher do passado que o magoou profundamente? Seria a mãe do seu filho?Eu me peguei mordendo o lábio, inquieta.Era estranho pensar que Patrício, tão seguro de si, tão controlador e experiente, pudesse carregar uma dor tão profunda que o fazia relutar contra os seus próprios sentimentos."Não foi culpa dele."As palavras de Jerusa ecoaram na minha mente, aumentando minha inquietação.Passei a mão pelos meus cabelos, suspirando. Eu queria perguntar. Queria saber. Mas como? Não podia simplesmente chegar para ele e dizer: "Ei, Patrício, eu soube que você tem um trauma, quer falar sobre isso?"Isso seria absu
>ELIZABETHAo final do expediente, eu estava arrumando as minhas coisas enquanto falava de coisas triviais com Jerusa, sorrimos com tudo o que era falado.Ela me contou o quanto ela e Fernando odiavam o Hugo. Também disse que Patrício era um coração mole que sempre perdoava as merdas que ele fazia.Ela me contou mais sobre o pequeno Gael, eu adorava ouvir sobre ele e quando não estávamos falando de negócios, falávamos dele.Eu achava tão linda aquela ligação entre mãe e filho, e espero profundamente poder viver isso algum dia.Todos os outros funcionários já tinham ido embora, enquanto nós quatro éramos os únicos aqui além dos seguranças noturnos.Fernando e Patrício passaram o resto da tarde trancados no escritório da diretoria. Então não nos falamos depois que aquele Hugo foi embora.Estava prestes a fechar o expediente, então achei que iria embora sem me despedir, quando a porta se abriu.- Princesas! - Fernando sorriu assim que atravessou o
>ELIZABETHEu caminhava pelas ruas em direção à minha casa, mas havia uma sensação incômoda que me acompanhava desde que saí do trabalho que não a abandonava.Era como se alguém me observasse.Nesse momento eu me arrependi profundamente de não ter aceitado a oferta de Patrício.Eu olhei discretamente para os lados, tentando parecer despreocupada. As ruas estavam movimentadas, pessoas indo e vindo, carros passando, nada que parecesse suspeito.Talvez seja coisa da minha cabeça.Mas então, ao virar uma esquina, senti um arrepio subir pela minha espinha.Era uma presença estranha. Não podia ver ninguém em específico, mas meu instinto dizia que não estava sozinha.Virei-me de súbito.Nada.Apenas um grupo de pessoas caminhando, um homem mexendo no celular encostado em um poste, um casal discutindo baixinho. Nada parecia fora do comum.Respirei fundo e apressei o passo.Ao chegar em casa, destranquei a porta rapidamente e entrei, sent
>ELIZABETHMamãe e eu terminamos nossa conversa e subi para o quarto e me joguei na cama, exausta. O dia tinha sido intenso desde a manhã ao lado de Patrício até a conversa com minha mãe.Sorrio ao imaginar tudo que eu e Patrício fizemos em cima da mesa de seu escritório.Meu sorriso morreu quando me lembro, que além de tudo, tinha aquela sensação estranha de estar sendo observada ainda não me deixava completamente.Suspirando, peguei o celular e abri o grupo de vídeo chamada com suas melhores amigas, Bianca e Inocência.Assim que atendeu, as duas apareceram na tela. Inocência estava de pijama de cetim e deitada na cama, enquanto Bianca, como sempre, usava um coque mal feito e óculos tortos, provavelmente ocupada com algum trabalho que insistia em terminar tarde da noite.- Finalmente! Mulher, achei que tinha esquecido da gente! - Inocência falou, dramática como sempre.- Se esqueceu, com certeza foi por um bom motivo. Conta logo, Liz, seu dia foi e
>PATRÍCIOEu e Fernando entramos no restaurante sofisticado onde Hugo já nos esperava. O ambiente era refinado, iluminado por luzes baixas e velas discretamente distribuídas pelas mesas. O cheiro de vinho misturava-se ao aroma dos pratos requintados sendo servidos.- Alguém está interessado em esbanjar - Fernando resmungou ao meu lado. Eu apenas fiquei em silêncio, porém entendi a intenção daquela frase.Assim que chegamos à mesa, eu percebi de imediato a expressão pouco satisfeita de Hugo ao ver Fernando.Ele odeia a forma como meu melhor amigo o tira do sério.- Eu não sabia que o convite incluía o Fernando. - disse forçando um sorriso Fernando, sempre astuto, sorriu debochado ao puxar a cadeira.- Surpresa, bebê! O Patrício e eu somos praticamente um pacote fechado. Convide um, leve dois.Reprimi um sorriso, finalmente aquela personalidade irritante do meu melhor amigo estava ao meu favor.Ignorei a tensão sutil e me sentei, pegando o ca
>PATRÍCIOEu segurei a taça de vinho com firmeza, girando lentamente o líquido escuro enquanto ouvia Hugo continuar com suas perguntas disfarçadas de conversa casual.Já estava cansado daquele jogo.Hugo nunca tinha sido um homem direto — sempre preferiu manipular e testar os limites dos outros para conseguir as informações que queria. Mas eu não era alguém fácil de dobrar.Não mais…A muito tempo, quando éramos crianças eu me deixava levar por sua cara de bom moço arrependido, porém agora vejo exatamente que tipo de cobra ele pode ser.- Bom, agora estou ainda mais curioso sobre essa mulher que te fez mudar tanto. Você sempre foi um homem reservado… deve ser alguém muito especial para fazer você se abrir.Não reagi, apenas bebi um gole do vinho.Fernando, ao meu lado, observava tudo com uma expressão de tédio misturada com atenção. Acho que ele já tinha percebido a mesma coisa que eu, Hugo estava se esforçando demais para arrancar algo.Hug
>PATRÍCIOFechei a porta do meu apartamento e imediatamente senti a tensão no ar. Allan estava ali, sentado no sofá da sala, com uma garrafa de uísque quase vazia ao lado. Seu olhar estava carregado, mas não de embriaguez — havia algo mais sombrio nele.Seus olhos vermelhos e profundos me diziam que talvez o álcool não era a única coisa que ele usava hoje.- De novo, Allan? - disse suspirando Meu filho ergueu o olhar, visivelmente irritado.- De novo o quê? Você some a noite inteira e eu sou o problema agora?Joguei as chaves sobre a mesa e desfiz o nó da gravata.- Não é sobre onde eu estava. É sobre você se enfiar na bebida cada vez que te der vontade.Allan soltou uma risada seca, debochada.- Engraçado você falar isso, considerando que foi exatamente o que você fez a vida toda.Eu senti o golpe.Eu realmente tinha usado a bebida como anestesia no passado, quando era um jovem quebrado com uma criança para criar. Mas não ia permit