>PATRÍCIO<
O clima entre mim e Allan, depois da revelação sobre nossa relação, estava mais tenso do que nunca.A raiva que ele sentia por mim não era novidade, mas o peso da acusação que ele fez... aquilo me doía profundamente.A última coisa que eu queria era ter perdido o contato com ele desse jeito.Como poderia explicar tudo que aconteceu? Como poderia fazê-lo entender que, apesar de tudo, eu ainda me importava com ele? E como faria ele entender que o que aconteceu entre mim e Liz não tem nada haver com ele? Que não foi intencional?Quando saí da empresa, a primeira coisa que fiz foi ir direto para casa. Meu instinto me dizia que Allan ainda estava lá, ou, pelo menos, que ele voltaria para o local onde sempre morou.Nossa casa, que tinha sido nossa, até aquele momento, parecia agora um território estrangeiro.A ansiedade tomava conta de mim, e eu não sabia como reagir. Como ele reagiria ao ver meu rosto de novo? Ele estava tão ferido, tão confuso>PATRÍCIOMamãe suspirou, e eu soube que ela estava profundamente preocupada. Mas o que poderia fazer? Eu era o responsável, e se ele estava fugindo de mim, então eu falhei como pai.— Oh, meu filho... — A voz dela se suavizou, mas havia um tom de preocupação claro. — Onde ele pode ter ido?— Eu não sei, mãe — disse com uma voz mais baixa. — Não faço ideia.— Ele não deu um motivo para desaparecer assim? O que houve filho? Suspirei, não tinha uma maneira fácil de falar aquilo.— Você estava certa sobre a viagem naquele dia. Não fui a negócios, eu fui com uma mulher.— Ok… — mamãe hesitou — É por isso que Allan fugiu?— Não. A garota é… ela é a ex pela qual o Allan estava obcecado.Ouvi a mamãe suspirar, eu podia imaginar seus olhos arregalados de surpresa.— Patrício, isto é… Não tenho nem palavras para descrever.— O que está havendo mulher? — ouço o meu pai se aproximando.Mamãe explica rapidamente o que aconteceu e posso sent
>PATRÍCIOMeu amigo bufou, provavelmente tentando organizar os pensamentos.No fundo ele estava tão frustrado quanto eu. Fernando se preocupa bastante com Allan.— Bom, você não vai conseguir resolver isso sozinho. Talvez devesse ligar para a Liz. Ela pode não ter uma boa relação com ele, mas pode tentar encontrá-lo. Ele tem uma certa obsessão por ela, talvez se ela ligar.Liz... Ela realmente poderia conversar com Allan? Será que ela seria alguém que poderia acalmá-lo? Era ela a pessoa certa?Não, ele está muito nervoso para deixá-la chegar perto. Pode ser muito arriscado.— Acho que não pode ser uma boa ideia — respondi. — Você mesmo viu o quão agressivo ele ficou com ela. Não posso pedir que Liz vá ao encontro de Allan no estado em que ele tá Fernando parecia mais focado.— Você está certo — Fernando concordou. — Meu amigo, eu sei o quanto você se preocupa com ela, e com, mas calma. Vamos procurar, nós vamos encontrá-lo, mas você precisa est
>PATRÍCIOJá se passaram sete dias, e a ausência de Allan ainda pesa em minha vida como uma sombra difícil de afastar.Tentamos de todas as formas encontra-lo mas não conseguimos, ele havia bloqueado Liz também e cortado todos os laços com amigos da faculdade.Então nem mesmo Liz conseguiu falar com meu filho.O telefone não tocava, e o silêncio da casa onde costumávamos viver em uma relativa guerra se tornou ensurdecedor.Eu não sabia o que fazer. Passei a evitar a empresa, não conseguia focar em mais nada. Não conseguir encontrar Allan me consumia de uma forma que eu não podia controlar.— Cara, você precisa sair. Ficar trancado aí não vai te ajudar e nem ajudar a encontrar seu filho. Não vai se afundar de novo Patrício — Fernando me disse tentando me convencer a sair de casa ou a voltar a trabalhar.De início eu neguei, mas estava na hora de assumir uma nova postura, procrastinar não vai me ajudar em nada. Estava na hora de voltar para a empresa
>PATRÍCIOEra uma tarde como qualquer outra, o céu cinza lá fora refletia a nuvem espessa de pensamentos que se acumulavam na minha mente.Eu estava em minha pela primeira vez em uma semana, sentado na minha cadeira, enquanto Liz se preparava para sair.A gente mal conversou e as poucas vezes que conversamos, foi sobre trabalho ou sobre o meu filho. No fundo ela está preocupada também.Quando ela entrou na sala, olhou para mim com um sorriso suave, mas seus olhos revelaram uma preocupação que ela não conseguia esconder. Ela se aproximou, e com sua voz tranquila, perguntou:— Oi. — Ela disse timidamente. — Patrício, você está bem? Que pergunta a minha, eu percebo que você não está... você não tem saído de casa como antes e vem pouco à empresa. Posso imaginar o quanto toda essa situação está sendo difícil para você.Eu não sabia o que responder. A verdade era que ela estava certa, eu não estava bem. Allan ainda estava sumido, a culpa me corroía, e eu não
>PATRÍCIOEla não tentou me interromper, não me acusou. Ela apenas me olhava com uma paciência que, de alguma forma, me acalmava, mas também me incomodava. Eu não queria que ela sentisse pena de mim. Eu queria que ela me entendesse.— Eu... eu sei que isso pode ser difícil de entender, Liz. Mas, desde então, eu nunca consegui confiar em ninguém o suficiente para me abrir ou ter um relacionamento. Eu sempre fiquei distante, fechado. Eu sentia vergonha, e o medo de ser vulnerável me consumia. Isso afetou minha vida inteira, minha forma de lidar com relacionamentos... com tudo. E eu... eu não quero que você pense que sou um monstro por isso. Não quero que você me veja de forma diferente. — Suspirei, escolhendo as palavras certas — Eu sou um quebrado Liz, e talvez você merece alguém melhor que eu.Liz deu um passo à frente, sem pressa, sem julgamentos. Ela estendeu a mão e colocou suavemente sobre a minha, fazendo-me olhar para ela. Seu toque me deu forças.— Patrí
>ELIZABETHQuando Patrício finalmente me contou a sua história, uma mistura de emoções tomou conta de mim.Eu nunca poderia imaginar o que ele havia passado na infância, o quanto a dor e o trauma haviam marcado a vida dele de uma forma tão profunda.Até aquele momento, eu apenas sabia que ele era um homem fechado, distante, mas nada que explicasse a magnitude do que ele tinha vivido.Ao ouvi-lo falar de Estela, de como ele foi abusado, meu coração ficou apertado. Eu queria gritar, xingar Estela por tudo o que ela fez, mas ao mesmo tempo, uma sensação de impotência me tomou.Como é possível que alguém tão jovem tenha sido privado de uma infância, de uma relação saudável de confiança, de amor? Como ele conseguiu sobreviver a isso?As perguntas invadiram minha mente, mas nenhuma resposta parecia suficiente.Eu queria abraçá-lo naquele momento, oferecer-lhe um consolo, mas também sabia que ele não estava pedindo isso.Ele estava se abrindo de uma ma
>ELIZABETHApós nossa conversa, fui para minha casa, e a noite se arrastou lenta e silenciosa. A gente não estava mais ficando tanto tempo juntos. Nós dois precisamos de tempo para processar tudo o que está acontecendo.E talvez essa distância seja uma opção, afinal.Eu tentei processar tudo o que ele tinha me dito, mas era como se uma nuvem de tristeza e empatia estivesse pesando sobre mim.Patrício me confessou o que mais doía nele, ele abriu todas as suas feridas para mim.Ele tinha me dado um vislumbre de sua alma, e eu queria poder fazer mais por ele, aliviar suas dores, mostrar-lhe que ele era capaz de se curar.Mas não havia muito que eu pudesse fazer, além de ser presente e apoiar sua recuperação, por mais difícil que fosse.Meus pensamentos voltaram a Allan, e o que ele havia feito, e eu percebi que havia muito mais coisas acontecendo em nossa vida do que eu poderia controlar.Allan não é um desequilibrado como eu pensei, Estela que é.
>ELIZABETHOs dias seguintes foram pesados.O desaparecimento de Allan estava me consumindo de uma maneira que eu não sabia como lidar. Eu sabia que Patrício estava passando pelo seu próprio turbilhão emocional, lidando com a história dolorosa do seu passado e o desaparecimento repentino de seu filho, mas eu não podia evitar sentir que a situação em que estávamos envolvidos, de alguma forma, havia contribuído para o que aconteceu com Allan.Eu sabia que o meu envolvimento com Patrício tinha criado uma tensão insuportável na vida do filho dele, e agora, com o desaparecimento dele, uma sensação de culpa começou a crescer dentro de mim.Eu queria poder ajudar, eu queria poder ver Patrício bem novamente, e sei que a única forma é encontrar Allan.Será que, se eu tivesse ficado distante de Patrício, as coisas poderiam ter sido diferentes? Será que Allan teria reagido de outra maneira? Talvez, se eu tivesse tomado mais cuidado, se tivesse sido mais sens