4. Mais lembranças

As duas pareceram ter uma conversa muda, mas decidiram me deixar com ele.

Não demorou muito para que todos fossem para os seus encontros. Ravi ligou a televisão e nos sentamos no sofá para assistir a um filme.

Acho que cochilei no sofá, pois não o vi saindo.

Olhei ao redor confusa. Poster de banda de rock? Serrei os olhos para enxergar melhor, paredes azuis, bola de basquete no chão, roupas na cadeira. Onde eu estou?

Foi quando eu olhei para o lado e o vi, deitado na cama ao meu lado novamente lendo um livro. Espera aí! Olhei mais uma vez para a "minha cama" e percebi que não, eu não estava nem no sofá nem no meu quarto. Eu estava no quarto dos gêmeos.

Tentei me levantar em um pulo, mas fiquei com tontura, acho que por me levantar rápido demais.

Eu ia cair na cama novamente, mas Ravi foi mais rápido. Sinceramente não sei como ele saiu de "lendo um livro na cama ao lado" para "me ter em seus braços me impedindo de cair".

— Liz! — Ele disse alarmado.

— Eu estou bem. Só me levantei muito rápido. — Afirmei tentando me afastar dele novamente, mas ele não deixou.

— Eu estava preocupado. Você apagou lá embaixo e como você tinha dito que preferia ir para o quarto dormir... — Ele começou passando uma das mãos pelos cabelos e a outra ainda me segurando fortemente pela cintura. 

— Quando eu disse isso? — Perguntei confusa.

— Hoje de manhã quando estava comendo. Eu te perguntei e você disse "Claro, Ravi." — Então era isso que ele estava falando.

Concordei confusa, mais pela mão dele na minha cintura do que pela conversa que eu não tinha prestado atenção.

Ele estava tão perto que me lembrei novamente do dia anterior:

Ele sorriu antes de voltar a correr atrás de mim, e sim, dessa vez ele me pegou em menos de dois minutos nos fazendo cair na neve com ele por cima.

— Estou esperando a minha recompensa. — Ele brincou com o rosto muito próximo ao meu e um sorriso debochado.

Eu só fiquei ali sorrindo igual boba para ele por alguns segundos, antes de tirar minhas luvas e passar por dentro da sua jaqueta o fazendo tremer com o meu toque gelado.

Por mim eu tinha passado por de baixo da camiseta também, mas não queria assustá-lo.

Ele fechou os olhos e suspirou me fazendo abrir ainda mais o sorriso.

— Me lembre de te derrubar mais vezes. — Ele comentou após alguns segundos, que para mim foram longos minutos maravilhosos sentindo sua respiração se confundir com a minha.

Sim, acho que estava na hora. Eu já não conseguia escutar nossos amigos em volta, mas tenho certeza de que eles estavam por ali. Olhei para a boca dele e inconscientemente mordi meu lábio inferior. Sim, eu queria muito beijá-lo. 

— Nós temos um encontro amanhã! Amanhã. — Ravi repetiu para si mesmo parecendo desesperado com alguma coisa.

— Ravi! — O chamei quando ele fez um movimento leve para se afastar. — Isso é um encontro. — Eu disse olhando fundo nos seus olhos e não demorou um segundo para o seu sorriso aumentar e ele se aproximar ainda mais do meu rosto.

Não me aguentei e puxei para perto usando minhas mãos que ainda estavam em suas costas por dentro da jaqueta e finalmente senti seus lábios colados aos meus.

— Liz! Quer que eu te leve ao médico? — Escutei Ravi me perguntando. — Você parece avoada.

— Estava pensando em como peguei essa gripe. — Achei melhor me atentar aos fatos e não a todo o resto. 

Ele me ajudou a me sentar em sua cama, sim, eu estava dormindo na cama dele. 

— Me desculpe! — Ele me pediu se sentando ao meu lado. 

— Desculpar por quê? — Perguntei alarmada e minha garganta reclamou um pouco. 

Se ele pedir desculpas pelo beijo, eu juro que jogo ele em frente a um ônibus. Igual Regina George no filme.

— Eu deveria ter imaginado que você ficaria doente depois de ficarmos tanto tempo deitados na neve e... — Ele começou a se explicar e senti um alívio no peito. Ele não estava se desculpando pelo beijo. 

— Eu coloquei minhas mãos geladas nas suas costas e você está aí: firme e forte. — Brinquei mostrando as mãos. 

— Se fosse nas minhas costas teria sido ainda melhor. — Ele sussurrou antes de se levantar sacudindo a cabeça parecendo querer se livrar de algum pensamento.  — Eu tenho uma saúde de ferro. — Completou com aquele sorriso novamente. — Trouxe para você dá cozinha, espero que esteja certo. — Ele disse me empurrando um copo que estava na mesa de cabeceira dele.

Olhei para a consistência do líquido e aquilo não era remédio. Era mel com limão. Ravi fez mel com limão para mim.

Acho que fiquei olhando para o copo com a boca aberta por tempo demais, pois quando percebi a voz dele chegou aos meus ouvidos novamente:

— Está muito errado? Eu não fazia ideia da quantidade de cada um. — Ele parecia encabulado passando as mãos pelos cabelos, parado ali na minha frente. — Minha mãe não costuma nos dar essas coisas quando estamos doentes.

Tomei a receita caseira em praticamente um só gole.

— Está tão gostoso quanto minha mãe faz. — Respondi e ele abriu aquele sorriso. 

— Eu trouxe também mais um pouco de remédio para gripe. — Ele disse me estendendo outro copo, desta vez com a aparência pouco agradável. Acho que fiz uma careta para o copo, pois ele logo emendou — Se tomar tudo, têm seu chá preferido. — Ele disse com uma caneca na mão.

— E como você sabe qual meu chá preferido?  — Perguntei antes de virar aquele líquido ruim na minha boca.

— Preciso mesmo responder isso? — Ele me perguntou sem graça.

Descobri que adoro deixar Ravi sem graça.

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