As duas pareceram ter uma conversa muda, mas decidiram me deixar com ele.
Não demorou muito para que todos fossem para os seus encontros. Ravi ligou a televisão e nos sentamos no sofá para assistir a um filme.
Acho que cochilei no sofá, pois não o vi saindo.
Olhei ao redor confusa. Poster de banda de rock? Serrei os olhos para enxergar melhor, paredes azuis, bola de basquete no chão, roupas na cadeira. Onde eu estou?
Foi quando eu olhei para o lado e o vi, deitado na cama ao meu lado novamente lendo um livro. Espera aí! Olhei mais uma vez para a "minha cama" e percebi que não, eu não estava nem no sofá nem no meu quarto. Eu estava no quarto dos gêmeos.
Tentei me levantar em um pulo, mas fiquei com tontura, acho que por me levantar rápido demais.
Eu ia cair na cama novamente, mas Ravi foi mais rápido. Sinceramente não sei como ele saiu de "lendo um livro na cama ao lado" para "me ter em seus braços me impedindo de cair".
— Liz! — Ele disse alarmado.
— Eu estou bem. Só me levantei muito rápido. — Afirmei tentando me afastar dele novamente, mas ele não deixou.
— Eu estava preocupado. Você apagou lá embaixo e como você tinha dito que preferia ir para o quarto dormir... — Ele começou passando uma das mãos pelos cabelos e a outra ainda me segurando fortemente pela cintura.
— Quando eu disse isso? — Perguntei confusa.— Hoje de manhã quando estava comendo. Eu te perguntei e você disse "Claro, Ravi." — Então era isso que ele estava falando.
Concordei confusa, mais pela mão dele na minha cintura do que pela conversa que eu não tinha prestado atenção.
Ele estava tão perto que me lembrei novamente do dia anterior:
Ele sorriu antes de voltar a correr atrás de mim, e sim, dessa vez ele me pegou em menos de dois minutos nos fazendo cair na neve com ele por cima.
— Estou esperando a minha recompensa. — Ele brincou com o rosto muito próximo ao meu e um sorriso debochado.
Eu só fiquei ali sorrindo igual boba para ele por alguns segundos, antes de tirar minhas luvas e passar por dentro da sua jaqueta o fazendo tremer com o meu toque gelado.
Por mim eu tinha passado por de baixo da camiseta também, mas não queria assustá-lo.
Ele fechou os olhos e suspirou me fazendo abrir ainda mais o sorriso.
— Me lembre de te derrubar mais vezes. — Ele comentou após alguns segundos, que para mim foram longos minutos maravilhosos sentindo sua respiração se confundir com a minha.
Sim, acho que estava na hora. Eu já não conseguia escutar nossos amigos em volta, mas tenho certeza de que eles estavam por ali. Olhei para a boca dele e inconscientemente mordi meu lábio inferior. Sim, eu queria muito beijá-lo.
— Nós temos um encontro amanhã! Amanhã. — Ravi repetiu para si mesmo parecendo desesperado com alguma coisa.
— Ravi! — O chamei quando ele fez um movimento leve para se afastar. — Isso é um encontro. — Eu disse olhando fundo nos seus olhos e não demorou um segundo para o seu sorriso aumentar e ele se aproximar ainda mais do meu rosto.
Não me aguentei e puxei para perto usando minhas mãos que ainda estavam em suas costas por dentro da jaqueta e finalmente senti seus lábios colados aos meus.
— Liz! Quer que eu te leve ao médico? — Escutei Ravi me perguntando. — Você parece avoada.
— Estava pensando em como peguei essa gripe. — Achei melhor me atentar aos fatos e não a todo o resto.
Ele me ajudou a me sentar em sua cama, sim, eu estava dormindo na cama dele.
— Me desculpe! — Ele me pediu se sentando ao meu lado.
— Desculpar por quê? — Perguntei alarmada e minha garganta reclamou um pouco.
Se ele pedir desculpas pelo beijo, eu juro que jogo ele em frente a um ônibus. Igual Regina George no filme.
— Eu deveria ter imaginado que você ficaria doente depois de ficarmos tanto tempo deitados na neve e... — Ele começou a se explicar e senti um alívio no peito. Ele não estava se desculpando pelo beijo.
— Eu coloquei minhas mãos geladas nas suas costas e você está aí: firme e forte. — Brinquei mostrando as mãos.
— Se fosse nas minhas costas teria sido ainda melhor. — Ele sussurrou antes de se levantar sacudindo a cabeça parecendo querer se livrar de algum pensamento. — Eu tenho uma saúde de ferro. — Completou com aquele sorriso novamente. — Trouxe para você dá cozinha, espero que esteja certo. — Ele disse me empurrando um copo que estava na mesa de cabeceira dele.
Olhei para a consistência do líquido e aquilo não era remédio. Era mel com limão. Ravi fez mel com limão para mim.
Acho que fiquei olhando para o copo com a boca aberta por tempo demais, pois quando percebi a voz dele chegou aos meus ouvidos novamente:
— Está muito errado? Eu não fazia ideia da quantidade de cada um. — Ele parecia encabulado passando as mãos pelos cabelos, parado ali na minha frente. — Minha mãe não costuma nos dar essas coisas quando estamos doentes.
Tomei a receita caseira em praticamente um só gole.
— Está tão gostoso quanto minha mãe faz. — Respondi e ele abriu aquele sorriso.
— Eu trouxe também mais um pouco de remédio para gripe. — Ele disse me estendendo outro copo, desta vez com a aparência pouco agradável. Acho que fiz uma careta para o copo, pois ele logo emendou — Se tomar tudo, têm seu chá preferido. — Ele disse com uma caneca na mão.
— E como você sabe qual meu chá preferido? — Perguntei antes de virar aquele líquido ruim na minha boca.
— Preciso mesmo responder isso? — Ele me perguntou sem graça.
Descobri que adoro deixar Ravi sem graça.
Depois de tomar um chá quentinho feito por ele, chá raiz, feito com folhas de hortelã, os pais dos gêmeos só tomam chá natural, Ravi me surpreende mais a cada dia. Enfim, tomei o chá de hortelã que estava divino, ali, deitada na cama dele com o próprio sentado no chão ao meu lado conversando sobre banalidades. Acho que desde que nos tornamos amigos, nunca ficamos naquele silêncio constrangedor. — Como você acha que está sendo o encontro da Stella e do meu irmão? — Ele me perguntou mudando de assunto. — Se seu irmão inventou uma aposta para chamar ela para sair, eu diria que não está tão bem. — Dei de ombros. — Ele gosta dela. — Ele me respondeu sem rodeios. — Mas? — Perguntei. — Liam nunca teve problemas com garotas e Stella é diferente. — Deu de ombros. — Tipo você? — Perguntei e mordi a língua em seguida. Não queria entrar naquele assunto com ele, ali, toda bagunçada e ranhenta. — É diferente. Eu nunca iria te beijar, por exemplo, sem um sinal seu, já Liam, aposto que fo
Ravi ficou ali sentado ao meu lado na cama dele pensativo. Será que o rapaz estava pensando tanto em ontem como eu? Não! Eu que sou a obcecada aqui. Sim, eu estava toda molhada, principalmente os cabelos. Estávamos voltando para a casa da Stella. Os rapazes estavam mais atrás conversando animados e eu estava com o meu time perdedor mais à frente. — Fiquei sabendo de uns amassos na neve. — Lene comentou jogando a informação no ar. — Amassos? Eu estava sem condições de fazer isso enquanto corria atrás de vocês. — Caíque declarou fazendo Serena rir. Sim, poderia ter sido Serena e Caíque dando uns amassos, mas teve certeza de que o comentário foi para o meu beijo interrompido. Eu nunca chamaria aquilo de amassos. — Estou falando de um gêmeo presidente de classe e uma menina que adora maratonar séries de romance. — Stella se fez de desentendida novamente. Caíque e Serena me olharam espantados. — Não foi nada como Stella está falando. Quando eu senti seus lábios nos meus, Ravi foi ar
— Disponível? Pensei que tínhamos um encontro amanhã. — Stella respondeu com cara emburrada. — Tem Liam para todo mundo. — Ele respondeu animado. — Esse é exatamente o problema. — Cochichei para ele que fez uma careta. — Vamos todos juntos para o shopping amanhã? — Serena sugeriu animada. — Amor, não vê que é o primeiro encontro deles e vão querer privacidade? — Caíque perguntou para a namorada que concordou na mesma hora um pouco sem graça. — Eu acho que seria ótimo irmos todos juntos. — Stella se animou na mesma hora. — Eu não vou com vocês. — Heitor afirmou e ganhou um sorriso meu e do meu gêmeo preferido. — Eu posso ir. — Bernardo começou, mas Heitor deu uma cotovelada nele. — Ir com o Heitor para ele não ficar sozinho. — Bernardo completou. — Eu prefiro aproveitar um pouco com a minha namorada. Sempre estamos todos juntos. — Caíque brincou abraçando Serena pelos ombros. Fiquei olhando para o meu acompanhante esperando ele dizer algo, mas Ravi parecia, sei lá, inseguro? —
Por quê? Eu sabia que não deveria ter aceitado ir fazer guerra de bolas de neve, mas não. Eu tinha que ir! Vai ser divertido, Liz! — Eles me disseram. Você vai gostar. — Eles me disseram. Mas agora quem está de cama? Quem está com dor de garganta? Quem está com voz mais grossa que um adolescente de quinze anos? Eu! Argh! Tudo isso por causa de uma guerra de bolas de neve! — Hey Liz, vamos ter uma guerra de bolas de neve amanhã e falta um no nosso time. Vamos? — Me perguntou Stella chegando na sala da casa dela com Serena. Eu estava deitada no sofá tomando um chocolate quente e vendo minha série preferida pela milésima vez na televisão. O pai da Stella tinha ido viajar novamente e Serena e eu viemos dormir na casa dela para ajudar a cuidar do irmão mais novo e fazer uma festa do pijama. Fazíamos isso pelo menos a cada dois meses. Claro que na hora aquilo de guerra de bolas de neve me pareceu uma boa ideia, pelo menos até Serena soltar contra quem seria aquela loucura: — L
Minha cabeça está doendo. Fui arrancada das minhas memórias pela Serena que estava voltando da farmácia: — O farmacêutico disse para você descansar e tomar líquidos. — Ela me disse me entregando um vidrinho que não parecia com uma cara boa. — Esse remédio deve te ajudar e ela disse que entre amanhã e segunda você já vai estar boa. Peguei o remédio com uma careta. — Não tinha comprimido? — Perguntei e ela deu de ombros. — Sem chances de cinema hoje amiga. Desculpe! — Ela me disse desanimada. Sim, eu já suspeitava que o remédio não seria tão milagroso assim. Ao invés de suspirar de derrota pelos cantos eu estava só assoando o nariz. — Eu estou horrível, não estou? — Perguntei para a Serena que fez uma careta. — Um pouco, mas aposto que se você pentear os cabelos ninguém nem vai olhar tanto para o seu nariz vermelho. — Ela disse pegando uma escova que estava o seu lado e me entregando. Não tive tempo de fazer muita coisa, pois Stella entrou irritada batendo a porta. — Ravi va
Após aquela declaração linda e romântica, Ravi me deu um beijo na testa e saiu do quarto. — Meia hora! — Ele disse antes de fechar a porta atrás de si sem nem olhar para trás. Não demorou para escutarmos a porta da frente batendo indicando que ele havia saído da casa. — O que foi aquilo? — Stella perguntou assim que ele fechou a porta. — Liz! Já para o banho. Você vai ter um enfermeiro particular hoje. — Serena comentou empolgada. Fui arrastada para o banho por Serena que parecia muito animada com a cena. Tomei meu banho e não consegui deixar minha cabeça não vagar para o dia anterior: Ravi estava me perseguindo enquanto nós dois ríamos da situação. Eu caí quando dei um passo e afundei na neve e Ravi que não estava tão longe desviou de mim no chão e quase caiu ao meu lado. — Quem precisa admitir a derrota agora? — Ele perguntou me olhando divertido com uma bola de neve na mão que poderia acertar o meu rosto a qualquer momento. — Me ajude a sair daqui e eu vou acabar com você.