Minha cabeça está doendo.
Fui arrancada das minhas memórias pela Serena que estava voltando da farmácia:
— O farmacêutico disse para você descansar e tomar líquidos. — Ela me disse me entregando um vidrinho que não parecia com uma cara boa. — Esse remédio deve te ajudar e ela disse que entre amanhã e segunda você já vai estar boa.
Peguei o remédio com uma careta.
— Não tinha comprimido? — Perguntei e ela deu de ombros.
— Sem chances de cinema hoje amiga. Desculpe! — Ela me disse desanimada.
Sim, eu já suspeitava que o remédio não seria tão milagroso assim.
Ao invés de suspirar de derrota pelos cantos eu estava só assoando o nariz.
— Eu estou horrível, não estou? — Perguntei para a Serena que fez uma careta.
— Um pouco, mas aposto que se você pentear os cabelos ninguém nem vai olhar tanto para o seu nariz vermelho. — Ela disse pegando uma escova que estava o seu lado e me entregando.
Não tive tempo de fazer muita coisa, pois Stella entrou irritada batendo a porta.
— Ravi vai me matar! — Ela disse irritada.
— Eu quero te matar. — Brinquei e Serena riu.
— Ele está furioso comigo e com Liam. — Stella completou.
— Claro, pois agora vocês dois vão a um encontro e ele e Liz têm que ficar porque ela está doente por causa da guerra de bolas de neve. — Serena explicou o obvio.
Isso fez eu me sentir melhor. Pelo menos, Ravi estava tão desapontado quanto eu.
— A culpa não foi minha. — Stella se defendeu na mesma hora. — Liz e Ravi que ficaram deitados na neve. — Ela reclamou, sim, ficamos, mas em minha defesa, eu acabei com ele na guerra.
A guerra de bolas de neve já estava acontecendo há algum tempo. Eu estava tentando me esconder e fiz até uma barreira de neve na minha frente, mas Serena já estava derrotada no chão rindo igual uma doida. Bernardo e Heitor estavam tentando ajudá-la a se levantar, mas Heitor acabava caindo quase todas as vezes, porque Serena acabava rindo tanto que puxava os dois para o chão.
Stella estava concentrada fugindo do Liam que estava com uma bola tão grande na mão que precisava das duas para segurar a neve. Caíque disputava em uma briga boa com Ravi que parecia ainda mais encantador com aquele olhar concentrado.
Eu estava atrás de uma árvore. Tínhamos combinado de atrair um dos meninos para ali, para que eu pudesse derrubá-los e Caíque estava chegando perto com Ravi na sua cola.
Quando dei por mim eu pulei na frente do Ravi, entre ele e Caíque o assustando, mas seu susto não durou mais do que dois segundos e logo aquele sorriso apareceu em seu rosto. Aproveitei a oportunidade e joguei quatro bolas de neve no rosto dele fazendo Caíque rir e Ravi ficar estático no lugar.
— Liz! — Ravi gritou rindo. — Isso foi traição.
— No amor e na guerra vale tudo, Ravi. — Gritei antes de sair correndo com ele atrás de mim. — Caíque! — Gritei pedindo ajuda, mas Caíque não veio ao meu socorro, porque ele já estava correndo atrás do Liam para ajudar a Stella.
— Peça clemência, Ravi! — Eu disse, lhe acertando outra bola, mas no peito agora.
— Jamais! — Ele disse tentando me acertar uma bola que eu consegui abaixar a tempo. — Sem contar que eu vou adorar te derrubar na neve. — Ele completou com um sorriso safado que me deu até arrepios.
— Liz? Você ouviu o que eu disse? — Stella me perguntou me fazendo esquecer as memórias do dia anterior.
— Ravi está vindo para cá. — Serena parecia alarmada.
— Só não abrir a porta da casa para ele — Eu comecei, mas minha garganta não me deixou continuar e Stella me ofereceu água.
— Os pais deles tem uma chave de emergência da casa. — Stella explicou me lembrando que os pais do Liam e Ravi são amigos do pai dela. — É bom você ir lá lavar o rosto pelo menos. — Stella completou com uma careta.
Eu provavelmente precisava lavar o rosto.
— Não quero que ele me veja assim. — Reclamei com as duas enquanto me levantava da cama lentamente.
Serena me ajudou a ir ao banheiro quase me arrastando até lá quando escutamos batidas na porta do quarto da Lene.
— Deve ser ele! — Eu disse alarmada e olhei para a porta do banheiro que ainda parecia muito distante.
— Sem pânico. — Stella disse me empurrando para o banheiro para pentear os cabelos.
Dois minutos depois Stella logo abriu a porta e Ravi entrou enquanto Serena me arrastava para fora do banheiro. Sim, ele estava lindo como sempre. Um suéter vermelho e calça jeans. Seus cabelos ainda estavam molhados, então acho que ele saiu do banho há pouco tempo. Como eu amo esse homem de calça jeans!
— Liz! — Ele disse alarmado vindo em minha direção. — Como você está?
— Ravi não me olhe. Eu estou horrível! — Reclamei me virando de costas para ele.
— Liz! — Ele me pediu e colocou a mão no meu ombro.
— Como entrou, Ravi? — Serena perguntou ao meu lado.
— Com a chave de emergência. — Ele respondeu e pude jurar que deu de ombros. — Você duas não tinham que se arrumar para um encontro? — Ele perguntou e senti sua voz ainda mais perto, mas me recusei a olhar para ele.
Eu estava de pijamas, assim como Serena, mas Stella já estava de banho tomado e pronta, pois tinha ido a casa dos gêmeos mais cedo.
— E deixar você sozinho aqui com a Liz? Nem pensar! — Serena foi rápida.
— Ravi, eu estou bem. Amanhã nos vemos. — Pedi, ou melhor, quase implorei.
— Amanhã? — Ele parecia alarmado. — Nem pensar. Já que eu não posso ficar aqui, eu vou para casa e te espero lá na porta. Se você não aparecer em meia hora eu venho te buscar.
Do que esse maluco estava falando?
Os gêmeos, Liam e Ravi moravam muito perto da Stella, uma quadra de distância.
— Ravi, eu não tenho condições nenhuma de ir ao cinema assim. Eu sinto muito! — Eu disse me virando para ele com os braços cruzados no peito.
Ele fez uma careta, mas abriu um sorriso logo em seguida.
— Não vamos para o cinema. Eu vou cuidar de você. — Ele me respondeu como se falasse do tempo.
— O que? — Stella foi mais rápida fazendo a pergunta que nós três queríamos.
— Eu quero cuidar de você. — Ele repetiu me pegando pelos ombros e me olhando nos olhos. — Se você está doente eu vou estar ao seu lado até que melhore.
Aquilo fez meu coração disparar!
Após aquela declaração linda e romântica, Ravi me deu um beijo na testa e saiu do quarto. — Meia hora! — Ele disse antes de fechar a porta atrás de si sem nem olhar para trás. Não demorou para escutarmos a porta da frente batendo indicando que ele havia saído da casa. — O que foi aquilo? — Stella perguntou assim que ele fechou a porta. — Liz! Já para o banho. Você vai ter um enfermeiro particular hoje. — Serena comentou empolgada. Fui arrastada para o banho por Serena que parecia muito animada com a cena. Tomei meu banho e não consegui deixar minha cabeça não vagar para o dia anterior: Ravi estava me perseguindo enquanto nós dois ríamos da situação. Eu caí quando dei um passo e afundei na neve e Ravi que não estava tão longe desviou de mim no chão e quase caiu ao meu lado. — Quem precisa admitir a derrota agora? — Ele perguntou me olhando divertido com uma bola de neve na mão que poderia acertar o meu rosto a qualquer momento. — Me ajude a sair daqui e eu vou acabar com você.
As duas pareceram ter uma conversa muda, mas decidiram me deixar com ele. Não demorou muito para que todos fossem para os seus encontros. Ravi ligou a televisão e nos sentamos no sofá para assistir a um filme. Acho que cochilei no sofá, pois não o vi saindo. Olhei ao redor confusa. Poster de banda de rock? Serrei os olhos para enxergar melhor, paredes azuis, bola de basquete no chão, roupas na cadeira. Onde eu estou? Foi quando eu olhei para o lado e o vi, deitado na cama ao meu lado novamente lendo um livro. Espera aí! Olhei mais uma vez para a "minha cama" e percebi que não, eu não estava nem no sofá nem no meu quarto. Eu estava no quarto dos gêmeos. Tentei me levantar em um pulo, mas fiquei com tontura, acho que por me levantar rápido demais. Eu ia cair na cama novamente, mas Ravi foi mais rápido. Sinceramente não sei como ele saiu de "lendo um livro na cama ao lado" para "me ter em seus braços me impedindo de cair". — Liz! — Ele disse alarmado. — Eu estou bem. Só me levante
Depois de tomar um chá quentinho feito por ele, chá raiz, feito com folhas de hortelã, os pais dos gêmeos só tomam chá natural, Ravi me surpreende mais a cada dia. Enfim, tomei o chá de hortelã que estava divino, ali, deitada na cama dele com o próprio sentado no chão ao meu lado conversando sobre banalidades. Acho que desde que nos tornamos amigos, nunca ficamos naquele silêncio constrangedor. — Como você acha que está sendo o encontro da Stella e do meu irmão? — Ele me perguntou mudando de assunto. — Se seu irmão inventou uma aposta para chamar ela para sair, eu diria que não está tão bem. — Dei de ombros. — Ele gosta dela. — Ele me respondeu sem rodeios. — Mas? — Perguntei. — Liam nunca teve problemas com garotas e Stella é diferente. — Deu de ombros. — Tipo você? — Perguntei e mordi a língua em seguida. Não queria entrar naquele assunto com ele, ali, toda bagunçada e ranhenta. — É diferente. Eu nunca iria te beijar, por exemplo, sem um sinal seu, já Liam, aposto que fo
Ravi ficou ali sentado ao meu lado na cama dele pensativo. Será que o rapaz estava pensando tanto em ontem como eu? Não! Eu que sou a obcecada aqui. Sim, eu estava toda molhada, principalmente os cabelos. Estávamos voltando para a casa da Stella. Os rapazes estavam mais atrás conversando animados e eu estava com o meu time perdedor mais à frente. — Fiquei sabendo de uns amassos na neve. — Lene comentou jogando a informação no ar. — Amassos? Eu estava sem condições de fazer isso enquanto corria atrás de vocês. — Caíque declarou fazendo Serena rir. Sim, poderia ter sido Serena e Caíque dando uns amassos, mas teve certeza de que o comentário foi para o meu beijo interrompido. Eu nunca chamaria aquilo de amassos. — Estou falando de um gêmeo presidente de classe e uma menina que adora maratonar séries de romance. — Stella se fez de desentendida novamente. Caíque e Serena me olharam espantados. — Não foi nada como Stella está falando. Quando eu senti seus lábios nos meus, Ravi foi ar
— Disponível? Pensei que tínhamos um encontro amanhã. — Stella respondeu com cara emburrada. — Tem Liam para todo mundo. — Ele respondeu animado. — Esse é exatamente o problema. — Cochichei para ele que fez uma careta. — Vamos todos juntos para o shopping amanhã? — Serena sugeriu animada. — Amor, não vê que é o primeiro encontro deles e vão querer privacidade? — Caíque perguntou para a namorada que concordou na mesma hora um pouco sem graça. — Eu acho que seria ótimo irmos todos juntos. — Stella se animou na mesma hora. — Eu não vou com vocês. — Heitor afirmou e ganhou um sorriso meu e do meu gêmeo preferido. — Eu posso ir. — Bernardo começou, mas Heitor deu uma cotovelada nele. — Ir com o Heitor para ele não ficar sozinho. — Bernardo completou. — Eu prefiro aproveitar um pouco com a minha namorada. Sempre estamos todos juntos. — Caíque brincou abraçando Serena pelos ombros. Fiquei olhando para o meu acompanhante esperando ele dizer algo, mas Ravi parecia, sei lá, inseguro? —
Por quê? Eu sabia que não deveria ter aceitado ir fazer guerra de bolas de neve, mas não. Eu tinha que ir! Vai ser divertido, Liz! — Eles me disseram. Você vai gostar. — Eles me disseram. Mas agora quem está de cama? Quem está com dor de garganta? Quem está com voz mais grossa que um adolescente de quinze anos? Eu! Argh! Tudo isso por causa de uma guerra de bolas de neve! — Hey Liz, vamos ter uma guerra de bolas de neve amanhã e falta um no nosso time. Vamos? — Me perguntou Stella chegando na sala da casa dela com Serena. Eu estava deitada no sofá tomando um chocolate quente e vendo minha série preferida pela milésima vez na televisão. O pai da Stella tinha ido viajar novamente e Serena e eu viemos dormir na casa dela para ajudar a cuidar do irmão mais novo e fazer uma festa do pijama. Fazíamos isso pelo menos a cada dois meses. Claro que na hora aquilo de guerra de bolas de neve me pareceu uma boa ideia, pelo menos até Serena soltar contra quem seria aquela loucura: — L