– Isso é ridículo. Eu não vou comer isso, Juan! – Ah, você vai! Eu quero que você esteja perfeita quando tiver que encontrar aqueles... Miseráveis... – Juan praguejou. – É só um pouco de barriga. Não vai fazer diferença. Ninguém se importa! – Se importam sim! Já faz um mês que teve a Maive. Agora, você me prometeu que vai ser uma nova mulher. Anda! – Juan... – Fiz uma careta, mas nada adiantava. Ele continuava a bater aqueles sapatos irritantes contra o chão. – Ótimo, eu me rendo.– Acho bom! – Ele se virou, e balançou a cabeça quando saiu da cozinha. Eu sabia que ele ainda estava triste pelo John, mas tudo isso mudaria em poucas horas. Eu comi, tomei banho e me arrumei. Parei na frente do espelho, e eu estava exatamente igual ao que sempre fui. Talvez, o meu cabelo estivesse maior agora, mas era tudo que havia mudado em mim. Calcei os sapatos e abaixei o meu olhar. Eu nunca teria concerto. Eu sempre fui exatamente desse jeito, e talvez por isso, o senhor Holloway preferiu me ver
Os meus olhos percorriam por todos os caminhos que eu podia, apenas para evitar olhar o Daren Holloway. O juiz nos escutou por apenas trinta minutos, antes de se recolher para algum lugar. Eu estava apavorada, e tinha medo do que ele iria dizer. O meu advogado se inclinou, direcionando o rosto na minha direção, então eu fiz o mesmo. – O que esta acontecendo? – Perguntei. Ele rapidamente olhou para a frente. O advogado do Daren havia acabado de entrar no gabinete do juiz. Eu juro, o meu coração congelou no momento que o vi ser tão receptivo. – Ele foi cumprimentar o juiz. Nada demais! – Por que não foi também? – Não se preocupe. Não é nada demais. Esse juiz é um homem bastante sério. Ele apenas pediu uma audiência sozinho. – Audiência sozinho? Por que? – O meu rosto estava cheio de medo. – Ele quer contestar as provas. – Que provas? – O testamento do seu pai. Eu me sentei reta novamente, tentei não raspar uma unha na outra. Não queria que ele soubesse o quanto de medo eu esta
– Acontece que o senhor Holloway deixou uma cláusula, onde dizia que a única e legitima herdeira seria a senhorita Livy Clarke, sempre, de forma intransferível. Ficando a cargo do seu esposo, comandar a indústria e a fortuna da família. Entretanto... – Entretanto o que? Eu sou o filho dele! Ela não é filha do meu pai. Ele nunca a reconheceu como filha. Ela era uma agregada da família. – Ele bateu o punho contra a mesa. – Uma empregada! O juiz largou o papel em cima da mesa, uniu as mãos, e olhou fixamente para o Daren Holloway. – Até onde me foi informado, o senhor sempre foi um mulherengo, que cresceu de internatos em internatos, não conviveu com o senhor Holloway, ao contrario da senhorita Clarke. Então, ao meu ver... – O senhor não tem que ver nada! Tem que me dar o que é meu por direito. Ela não é filha do meu pai. Eu sou! Ele me escolheu entre milhares. Eu mereço, não ela! – Daren gritou. – Sente-se, ou eu mandarei prende-lo agora mesmo! – O juiz disse. Estava tão calmo que
Agarrei a minha filha nos braços, enquanto observava Daren ser retirado algemado. Eu nunca pensei que veria algo assim na vida. Ele havia tocado nos meus tornozelos enquanto foi puxado, e a sensação ruim daquelas mãos ainda não haviam passado. Maila me encarou com crueldade e frieza. Eu sabia que aquilo era uma forma de me ameaçar. Mesmo sem me tocar, aquilo me afetou. Eu ainda podia me lembrar de como todas haviam rido de mim pelas costas, e como havia sido doloroso descobrir que sempre fui motivo para piadas. – Vamos... – Juan sequer parecia estar vendo toda aquela cena caótica. Ele apenas agarrou a minha mão e me levou para fora do predio enorme. – Nós temos que comemorar. Você agora é herdeira. – Juan... Eu não tenho animo. Ele se virou para mim. Seu semblante estava serio e desafiador. Eu podia jurar que ele queria me seduzir, pela maneira sorrateira como andou na minha direção, erguendo lentamente seu dedo indicador. – Olha aqui, eu sei que está sendo bem difícil. Mas você a
Hardin Holloway...Eu sentia um vazio imenso me preenchendo. Por dois segundos, era como se eu estivesse ali, com a Livy Clarke. Eu simplesmente me distrai, em meio aos beijos frios, que nada me diziam. Não significou nada. Eu agarrei os braços daquela mulher e a afastei de mim. Ela ainda estava com os olhos fechados quando eu a tirei de mim. Foi quando finalmente podia ver claramente. Obvio que eu sabia que ela era Maila, mas estar embriagado não ajudava com a minha sanidade. – O que você pensa que está fazendo? – Por favor... Hardin, vamos esquecer tudo que aconteceu... Eu ainda te amo. Eu ri, baixinho, inaudível. Mordi a parte inferior da minha boca com força, e eu quase podia sentir alguma dor. Então eu sorri e me virei. Estava prestes a ir embora, quando senti as mãos dela segurarem meu antebraço. – Já chega! Eu não vou ficar aqui escutando isso! – Não! Por favor, fique! Eu não sei o que aconteceu comigo. Prometo que não farei mais... Eu olhei para ela, entre os meus ombros.
Eu andei por todos os lugares. Eu corri. Estava sumida a quase dois meses agora. Longe de tudo que eu conhecia, tomei folego, empurrando o carrinho de bebê, junto ao meu cansaço. Olhei para o lado, e em um banco de praça, de pernas cruzadas, Juan me observava. – Posso parar agora? Ele me encarou, sorriu, e então olhou para o relógio. – Mais cinco minutos.Eu exibi minha melhor versão de careta, enquanto me entregava ao suor e a falta de ar. – Já chega! Maldita hora em que deixei você me transformar em uma nova mulher. – Maldita hora, não é? Mas agora, você precisa de um bumbum durinho. Vamos lá? Eu o amaldiçoei, mas não era serio. Estava praguejando mentalmente, enquanto sentia as minhas pernas derretendo lentamente. – Me diz que essa tortura já acabou. Eu preciso ir para casa. Maive ainda tem que comer... – Vamos. – Juan anunciou. Eu senti o meu corpo tocar fogos de alegria. – Graças a deus. – Ainda estava tão ofegante, que sequer havia restado alguma vontade de pular de alegria
Hardin Holloway. Escutei o bater de portas. Tudo parecia agitado desde que Livy Clarke deixou a minha empresa. A mesa em que ela costumava estar, ainda continuava vazia. Eu me sentei e analisei toda a papelada empoeirada. Ninguém podia tocar naqueles objetos. Tudo ainda pertencia a ela. Divaguei por ali, observando tudo que ela havia esquecido ao ir embora. A foto estranha abraçada com o amigo, guardada dentro da gaveta, os doces que ela escondia para aplacar os desejos de grávida... Eu ainda não entendia como havia sido tão insensível. Me perguntava sempre que a minha cabeça encostava no travesseiro, se tudo seria muito diferente se eu a tivesse amado quando decidi odiar. Quanto tempo eu perdi a tirando do meu prédio? Da minha vida? Quanto ela me odiou quando eu a demiti? Eu a assustei naquele hospital, ou Livy Clarke sempre fugir de mim por que sua intenção sempre foi recuperar a herança que de fato pertencia a ela? Todas as perguntas não me deixavam dormir direito, e já se podia n
Eu estava sentindo tudo novo quando deixei a clinica. Meus olhos estavam embaçados por um tempo razoável de vinte e quatro horas, até que finalmente eu pude ver como nunca antes. Mas agora, não estava mais tão feliz. Sentada em uma cadeira, alguém jogava agua gelada no meu cabelo, e eu precisava que Juan segurasse os meus ombros para não fugir daquele salão. Duas mulheres cuidavam dos meus pés e mãos, enquanto alguém mexia no meu cabelo muito longo, mas que sempre estava preso. Eu só queria ir para casa, cuidar da minha filha. Eu não conhecia aquelas pessoas, e não sabia se podia confiar nelas. O que eu estava fazendo? Se eu ficar mais feia? Se eu não conseguir alcançar as expectativas do Juan? Se as pessoas naquela festa rirem da minha aparência? – Por favor, me distrai! Eu preciso parar de pensar no que estão fazendo comigo, por que se não, vou ficar louca. – O que você colocou naquele convite que enviou para os seus antigos atormentadores? – Você não pode falar de outra coisa?