Eu sabia! Sabia que me perderia naquela casa imensa assim que coloquei os meus pés na sala. Ainda estava a procura da cozinha, e sabia que quase vinte minutos já havia se passado, e eu continuava a andar. Por que ele não poderia ter uma casa normal como todo mundo? O meu apartamento minúsculo não era algo difícil. Fácil limpar, fácil cuidar, e impossível se perder. Quando finalmente encontrei a cozinha, tive certeza de que eu seria perfeitamente capaz de ter o meu filho no chão tão obsessivamente limpo, usando um dos talheres, se precisasse. Qualquer ser humano no mundo aceitaria uma cirurgia no lugar. Andei, com medo de que os meus sapatos acabassem sujando a perfeição daquele chão brilhante. As minhas mãos tocaram na cafeteira, e rapidamente eu tinha café em uma caneca. Ótimo, agora eu só precisava levar para o meu chefe e ouvir o quanto eu sou inútil por me perder em uma casa grande. Meus olhos estavam tão cansados. Eu estava exausta, e após ter dirigido por tanto tempo, precisa
Os meus olhos estavam arregalados. – Não vai o que? Não vai o que, senhor Hardin? A voz dele estava calma mais uma vez, mas ele já não olhava mais para mim. Não olhava para mim, e agora eu havia me tornado um fantasma, de pé em um banheiro sujo de café. Eu sabia que ele havia jogado aquilo, mas não me acertaria. Não de propósito. Não quando sabia que teria machucado o bebê. Eu sabia que ele estava envergonhado. Agarrei um pouco de papel e passei no chão, limpando tudo que consegui. Eu só queria evitar que um homem bêbado acabasse escorregando e morrendo de uma forma tão imbecil. – Deixe isso. Você não ter que limpar nada. Eu continuava encarando o chão... minha barriga estava em uma posição desconfortável, e eu me sentia como a minha mãe agora. Ela sempre limpou a casa de pessoas ricas como o senhor Hardin, até encontrar o senhor Holloway, e então, toda a nossa vida mudou. A minha vida mudou, e agora eu estou aqui, limpando o chão, como ela... – Tudo bem! – Para! – Ele disse. A
Hardin Holloway – Senhorita Clarke, anda mentindo para mim? O corpo dela tremeu de medo. – Por que diz isso, senhor? – Disse que não estava com o seu amante. Então por que quer voltar para a sua casa? – Senhor, eu só quero descansar na minha cama. – Eu tenho uma cama ótima, senhorita Clarke... Os olhos dela se arregalaram ainda mais. Eu estava tão bravo, mas quase pude rir da expressão naquele rosto. O fato dela pensar que eu a atacaria era, no mínimo, estranho. – Senhor, isso é... E-eu... – Ela estava gaguejando e olhando para os lados. Me aproximei. Nos dois estávamos molhados, dentro de um banheiro frio, e por mais que eu não estivesse tão afetado, aquela mulher estava tremendo. Toquei seu queixo e a obriguei a olhar para mim. – Quarto de hóspedes, senhorita Clarke. Você não vai dormir na minha cama. – Não! – Não. Nem pensar. – Por que não? – Os olhos dela se arregalaram assim que ela terminou de dizer. – Quero dizer... Não foi nesse sentido, senhor. É que a sua cama
Acordei cedo pela manhã. O cheiro do café quente impregnava as minhas narinas. Entrei no chuveiro, e após estar perfeitamente acordado com a água gelada matinal, vesti um terno e desci as escadas. Estava prestes a me sentar em uma mesa na varanda, esperando ser servido, quando a vi ali, sentada na grama, usando nada mais que a minha camisa azul marinho. Ela ainda devorava um sanduíche, e olhava a paisagem do lado logo ao lado. Aquela mulher era tão feia, mas de alguma forma, a maternidade a tinha deixado linda como um anjo. Ao menos era como eu a via agora. E eu não deveria. É por merdas como essas que ando sonhando com algo que não deveria. As mãos dela desceram para a barriga e ela acariciou o bebê. Eu precisei colocar a mão no peito para me certificar de que ele ainda estava dentro do meu peito. Parecia um insulto o quanto ela desejava ser mãe daquela criança. Por que? Por que a senhorita Clarke gostava de me torturar assim. Eu a vi levantar. Seus pés mergulharam na água, e aqui
Eu abri os meus olhos procurando pelos sons que me atormentaram por horas. Eu sei que estava sonhando, mas a minha garganta estava seca, e eu sentia dor. Tanta dor. Toquei na minha barriga e estava tudo tão quieto, tão frio. O meu corpo inteiro tremeu. Perder o meu filho seria como a morte. Eu não poderia aguentar tanta dor. Não essa dor! Olhei ao redor da sala, mas eu estava completamente sozinha. Não havia ninguém ali, comigo. Eu não tinha família, e o Juan estava no trabalho. Mas de que importava? No final, ele não poderia me ver. Nem mesmo sabe que estou aqui. Estiquei a minha mão para pegar a água, mas a dor quase me matou. – Hei! – Alguém gritou andando rapidamente na minha direção. – Deixe que eu pego para você. Aquele homem gentil sequer deixou que eu segurasse o copo. Enquanto a água tratava de hidratar a minha garganta, eu o observava. Seu terno preto era luxuoso, e eu tinha quase certeza que o conhecia de algum lugar. – Aonde eu estou? – Perguntei. Ele sabia que eu est
Abri os meus olhos mais tarde. Tudo estava tão estranho. Eu olhei ao redor, e nada parecia o mesmo. A minha barriga... O bebê... Passei a mão na grande protuberância e percebi que ele ainda estava comigo. Dentro de mim. Mas eu estava sozinha, sem ninguém. O que teria acontecido se ele tivesse nascido? E se o meu bebê não tivesse ninguém no mundo? Eu sei que o Daren Holloway nega que seja o pai. Mas nunca teve outro homem na minha vida. Eu ainda podia me lembrar vividamente do primeiro momento em que estivemos juntos. A luz apagada. E a vela que eu soprei pouco antes dele entrar no quarto. Eu nem mesmo tirei a camisola que estava usando. Provavelmente o Daren não gostaria de ter meu corpo colado ao dele. Mas aquele cheiro de bebida... Eu podia sentir aquele cheiro até hoje. Eu sei que ele precisava de “inspiração” para se deitar com alguém como eu, mas eu me iludi. Eu preferi acreditar no que a minha mente achou menos doloroso. Seria tão errado assim? Mas agora eu estava sozinha. E
Me sentei no sofá. As coisas não estavam indo bem. Ter a senhorita Clarke na minha casa foi a pior ideia que tive nos últimos tempos. Como eu poderia confiar que ela não era realmente uma traidora? Aquela mulher havia traído o marido, e nem mesmo sabia de quem era aquela criança... Aquela mulher me enganou uma vez, e quase... Respirei fundo, ingerindo mais uma dose de qualquer coisa que encontrei em cima do meu balcão na cozinha enquanto vinha para a sala. Olhei ao redor. As paredes vazias desse cômodo não me incomodavam. Eles eram tão melhores que as fotos da mansão que eu nunca conseguia arrancar das paredes. Eu sei, a minha expressão mudou completamente enquanto ela andava na minha direção. Aqueles olhos inocentes estavam grudados no meu rosto conflituoso. Olhei para a senhorita Clarke e pensei que quem quer que a tenha engravidado, certamente havia sido um homem de muita coragem. Ela sentou ao meu lado, mas eu ainda não havia sido capaz de encara-la de volta. – Eu demorei quas
Havia acabado de chegar do trabalho. Abri a porta do meu apartamento, e imediatamente aquele cheiro caseiro invadiu as minhas narinas. Rapidamente o meu peito começou a queimar. Aquela sensação de casa acolhedora não acontecia desde que a minha mãe havia morrido quando eu ainda tinha 9 anos de idade. Os meus pés pareciam congelados naquela sala, mas logo eu pude voltar a andar. Eu conseguia escutar cada som das panelas na cozinha, e os barulhos dos meus sapatos contra o chão. Era como se tudo estivesse tão aguçado e em câmera lenta que eu estivesse sendo transportando para o passado. Por dois segundos, eu me senti uma criança com seu auge da expectativa. Expectativa... Os meus olhos não captaram uma bela mulher de olhos verdes intensos em seu vestido longo, mexendo nas panelas com tanta elegância que mais parecia uma arte. A minha visão era de uma assistente feia, mas de olhos meigos e sorriso inocente e tão... bonito. Eu só estava confuso, irritado, mal humorado, mas de alguma form