Havia acabado de chegar do trabalho. Abri a porta do meu apartamento, e imediatamente aquele cheiro caseiro invadiu as minhas narinas. Rapidamente o meu peito começou a queimar. Aquela sensação de casa acolhedora não acontecia desde que a minha mãe havia morrido quando eu ainda tinha 9 anos de idade. Os meus pés pareciam congelados naquela sala, mas logo eu pude voltar a andar. Eu conseguia escutar cada som das panelas na cozinha, e os barulhos dos meus sapatos contra o chão. Era como se tudo estivesse tão aguçado e em câmera lenta que eu estivesse sendo transportando para o passado. Por dois segundos, eu me senti uma criança com seu auge da expectativa. Expectativa... Os meus olhos não captaram uma bela mulher de olhos verdes intensos em seu vestido longo, mexendo nas panelas com tanta elegância que mais parecia uma arte. A minha visão era de uma assistente feia, mas de olhos meigos e sorriso inocente e tão... bonito. Eu só estava confuso, irritado, mal humorado, mas de alguma form
Meu sorriso começou a se desfazer, enquanto o dela se estabelecia no rosto. Eu nem mesmo conseguia vê-la feia. O que havia de errado com os meus olhos, afinal? Pisquei varias vezes, enquanto os lábios dela voltavam a cantar, e ela mexia em cada armário nunca tocado na minha cozinha. Empurrei a cadeira e me levantei. Eu precisava descansar. Eu precisava sair daquele ambiente, e parar de pensar nas coisas que estavam surgindo na minha mente. Eu com certeza precisava mais me livrar da segunda parte. – Você não vai ficar para o jantar. – Desculpe. Estou cansado demais para isso agora. Com licença. Eu sabia que ela queria continuar a falar, mas não podia ficar. Não desse jeito. Andei até o meu quarto, enquanto ouvia o suspiro de decepção atrás de mim. Era como se aquilo me acompanhasse dentro da cabeça. Maldição! Por que eu resolvi trazer essa mulher para a minha casa. Meses sem contato, e eu simplesmente trouxe a Livy Clarke... Eu sou uma piada. Eu certamente vou virar uma, assim que o
Mas eu não olhei para aquele prato. Eu simplesmente não conseguia. Aquela maldita garota baixa de olhos apertados e vestido florido na minha cozinha havia roubado toda a minha sanidade. Aquela menina feia e doce que já não parecia mais tão feia. Ela me encarava, confusa, com seu sorriso largo e lindo, até que ele se desfizesse quando eu a toquei no pulso novamente. Mas eu o fazia delicado, passando as pontas dos dedos. Mas aquilo não parecia o bastante quando senti o coração palpitar. Eu queria mais, e eu teria mais. Minha mão não esperou a permissão do meu cérebro para colocar na nuca daquela mulher. – O que foi? – Livy Clarke perguntou, enquanto eu a segurava firme. Eu podia notar o quanto ela estava se esforçando para manter o pescoço arqueado para trás. Os olhos dela estavam arregalados, e eu adorava aquilo. – Eu não sei... – Sussurrei. Ela parecia ter achado engraçado quando disse aquilo, mas a confusão se estabeleceu naquele rosto, e uma ruga se formou entre as sobrancelhas.
Me sentei na cadeira do escritório, enquanto tentava, inutilmente, manter a minha atenção nas coisas que Eliot me falava. – Está me ouvindo? Não, eu não estava. A minha mente não parava de rebobinar aquela maldita cena. O que deu em mim para fazer uma coisa tão estupida? Eu precisava dela. A empresa precisava da Livy Clarke, e agora, eu tinha estragado tudo. Aquela mulher me odeia ainda mais. – Desculpe, o que? – Perguntei. – Pode repetir? Eliot fechou a pasta de papel pardo e me encarou. As suas sobrancelhas estavam erguidas, e ele parecia ainda mais surpreso. – O que está acontecendo com você? Permaneci em silêncio por algum tempo, mas não consegui manter aquilo. Eu precisava falar. Sem que eu olhasse para ele, soltei a bomba presa na minha cabeça. – Livy Clarke esta morando no meu apartamento. – Entendi... Livy... – Os olhos dele se arregalaram. – A monstro? – Eliot praticamente saltou da poltrona, apoiou as duas mãos na mesa, e me encarou com firmeza. – Por favor, não brinqu
Escondido atrás de uma pilastra, eu me sentia absolutamente ridículo. Aquele homem a segurou pela cintura levemente arredondada, enquanto abria a porta do taxi. A senhorita Clarke sorriu para ele quando entrou. Aquela troca de olhares estava começando a me irritar. Eu deveria estar em uma reunião de negócios, e não aqui, escondido como um idiota, tentando descobrir o motivo para uma mulher feia não desejar um homem como eu. Aquele rapaz podia ser bonito, mas nem de longe a merecia. Não que a beleza dela fosse o relevante, mas a senhorita Clarke certamente merece alguém melhor... Mas quem seria melhor? Eu ri de mim mesmo quando percebi a palhaçada que armei para mim mesmo. Era óbvio que eu só estava obcecado. Não havia motivo algum para amar alguém como ela. Mas aquele táxi partiu, e eu joguei a maldita pasta no banco do carro e entrei. Estava dirigindo, e tentando manter distancia a todo custo. Parecia a tarefa mais impossível do mundo, especialmente quando aquele homem dirigia tão
O sorriso dela se forçou no rosto. Eu sabia que ela estava tremendo, e não parava de mexer as mãos uma na outra. Os meus olhos acompanhavam a cada movimento, e só desviou quando ela passou os dedos pela barriga. Ela não tinha que me lembrar disso naquele momento... Eu já estava nervoso o bastante. – Juan... Esse é o meu chefe. Os olhos dele se arregalaram, como se ele compreendesse algo. A mão dele se ergueu para mim, e eu o segurei firme. A senhorita Clarke podia gostar dele, mas aquele homem apertava a minha mão como uma mocinha. – Muito prazer, chefe da minha... Eu o cortei antes que finalmente dissesse. Eu sei, foi um erro. – Meu nome é Hardin... Aquele homem me olhou como de estivesse tentando entender o que eu havia acabado de falar. – Muito prazer, senhor Hardin. – Eu conseguia notar a decepção nos olhos dele. Eu sabia que havia algo de errado ali. Aquele homem estava com ciúmes? O que ele acharia se soubesse sobre o beijo? – Se me der licença, eu tenho que ir agora. – Di
Eu só senti o impacto de um soco segundos depois. O meu rosto estava virado para o lado, e eu encarava o chão. Mas o canto dos meus lábios se moveram em um sorriso irônico e distorcido. Agora eu estava com ciúmes, e louco de raiva. O meu punho se fechou, e eu só senti que estava aliviando todo o meu ódio. Eu não conseguia notar como o derrubei com um único soco, ou como eu havia sido tão covarde em continuar socando aquele homem caído no chão. Tudo que eu sabia, era que a senhorita Clarke se importava com ele, e por isso, eu o odiava. As pessoas começavam a se aglomerar ao nosso redor, enquanto eu escutava os gritos dela. – Vamos. Lute como um homem! – Eu segurei na roupa dele e o obriguei a ficar de pé. Eu sabia que a minha boca sangrava, mas o rosto dele nem de longe, se comparava ao meu. Aquelas mãos pequenas se fecharam, e ele tentou se defender de um soco, e outro. Eu tinha que admitir, ele era forte. – Para, por favor! – Ela gritou. Mas eu não estava disposto a parar. Ele
Eu, sarcástico, me sentei em uma cadeira de um bar desconhecido qualquer e pedi uma dose de qualquer bebida forte o bastante para me fazer esquecer da maldita cena ruim que eu mesmo criei a segundos atrás. Eu estava olhando as pontas das minhas falanges sangrando, enquanto tentava conter aquela doe intensa no peito. Não dava. Eu simplesmente não conseguia evitar não sentir ciúmes dela. Eu nunca deveria ter me permitido chegar tão perto de uma mulher outra vez. Eu errei. Eu era o chefe, e criei sentimentos que nem mesmo ela o sente, e agora, eu estava aqui, tentando esquecer da forma como ela sorria para outro homem. Como eu me tornei um espectador, quando sempre fui o protagonista das mulheres? Como eu acabei sendo trocado outra vez. Entornei mais uma dose, e então pedi outra. Não... Eu acho que sequer fui uma escolha. Eu acho que ela nunca, nem mesmo cogitou que eu fosse uma possibilidade na vida, e eu não posso culpa-la por isso. Por que seria diferente? A senhorita Clarke jamais