Acordei cedo pela manhã. O cheiro do café quente impregnava as minhas narinas. Entrei no chuveiro, e após estar perfeitamente acordado com a água gelada matinal, vesti um terno e desci as escadas. Estava prestes a me sentar em uma mesa na varanda, esperando ser servido, quando a vi ali, sentada na grama, usando nada mais que a minha camisa azul marinho. Ela ainda devorava um sanduíche, e olhava a paisagem do lado logo ao lado. Aquela mulher era tão feia, mas de alguma forma, a maternidade a tinha deixado linda como um anjo. Ao menos era como eu a via agora. E eu não deveria. É por merdas como essas que ando sonhando com algo que não deveria. As mãos dela desceram para a barriga e ela acariciou o bebê. Eu precisei colocar a mão no peito para me certificar de que ele ainda estava dentro do meu peito. Parecia um insulto o quanto ela desejava ser mãe daquela criança. Por que? Por que a senhorita Clarke gostava de me torturar assim. Eu a vi levantar. Seus pés mergulharam na água, e aqui
Eu abri os meus olhos procurando pelos sons que me atormentaram por horas. Eu sei que estava sonhando, mas a minha garganta estava seca, e eu sentia dor. Tanta dor. Toquei na minha barriga e estava tudo tão quieto, tão frio. O meu corpo inteiro tremeu. Perder o meu filho seria como a morte. Eu não poderia aguentar tanta dor. Não essa dor! Olhei ao redor da sala, mas eu estava completamente sozinha. Não havia ninguém ali, comigo. Eu não tinha família, e o Juan estava no trabalho. Mas de que importava? No final, ele não poderia me ver. Nem mesmo sabe que estou aqui. Estiquei a minha mão para pegar a água, mas a dor quase me matou. – Hei! – Alguém gritou andando rapidamente na minha direção. – Deixe que eu pego para você. Aquele homem gentil sequer deixou que eu segurasse o copo. Enquanto a água tratava de hidratar a minha garganta, eu o observava. Seu terno preto era luxuoso, e eu tinha quase certeza que o conhecia de algum lugar. – Aonde eu estou? – Perguntei. Ele sabia que eu est
Abri os meus olhos mais tarde. Tudo estava tão estranho. Eu olhei ao redor, e nada parecia o mesmo. A minha barriga... O bebê... Passei a mão na grande protuberância e percebi que ele ainda estava comigo. Dentro de mim. Mas eu estava sozinha, sem ninguém. O que teria acontecido se ele tivesse nascido? E se o meu bebê não tivesse ninguém no mundo? Eu sei que o Daren Holloway nega que seja o pai. Mas nunca teve outro homem na minha vida. Eu ainda podia me lembrar vividamente do primeiro momento em que estivemos juntos. A luz apagada. E a vela que eu soprei pouco antes dele entrar no quarto. Eu nem mesmo tirei a camisola que estava usando. Provavelmente o Daren não gostaria de ter meu corpo colado ao dele. Mas aquele cheiro de bebida... Eu podia sentir aquele cheiro até hoje. Eu sei que ele precisava de “inspiração” para se deitar com alguém como eu, mas eu me iludi. Eu preferi acreditar no que a minha mente achou menos doloroso. Seria tão errado assim? Mas agora eu estava sozinha. E
Me sentei no sofá. As coisas não estavam indo bem. Ter a senhorita Clarke na minha casa foi a pior ideia que tive nos últimos tempos. Como eu poderia confiar que ela não era realmente uma traidora? Aquela mulher havia traído o marido, e nem mesmo sabia de quem era aquela criança... Aquela mulher me enganou uma vez, e quase... Respirei fundo, ingerindo mais uma dose de qualquer coisa que encontrei em cima do meu balcão na cozinha enquanto vinha para a sala. Olhei ao redor. As paredes vazias desse cômodo não me incomodavam. Eles eram tão melhores que as fotos da mansão que eu nunca conseguia arrancar das paredes. Eu sei, a minha expressão mudou completamente enquanto ela andava na minha direção. Aqueles olhos inocentes estavam grudados no meu rosto conflituoso. Olhei para a senhorita Clarke e pensei que quem quer que a tenha engravidado, certamente havia sido um homem de muita coragem. Ela sentou ao meu lado, mas eu ainda não havia sido capaz de encara-la de volta. – Eu demorei quas
Havia acabado de chegar do trabalho. Abri a porta do meu apartamento, e imediatamente aquele cheiro caseiro invadiu as minhas narinas. Rapidamente o meu peito começou a queimar. Aquela sensação de casa acolhedora não acontecia desde que a minha mãe havia morrido quando eu ainda tinha 9 anos de idade. Os meus pés pareciam congelados naquela sala, mas logo eu pude voltar a andar. Eu conseguia escutar cada som das panelas na cozinha, e os barulhos dos meus sapatos contra o chão. Era como se tudo estivesse tão aguçado e em câmera lenta que eu estivesse sendo transportando para o passado. Por dois segundos, eu me senti uma criança com seu auge da expectativa. Expectativa... Os meus olhos não captaram uma bela mulher de olhos verdes intensos em seu vestido longo, mexendo nas panelas com tanta elegância que mais parecia uma arte. A minha visão era de uma assistente feia, mas de olhos meigos e sorriso inocente e tão... bonito. Eu só estava confuso, irritado, mal humorado, mas de alguma form
Meu sorriso começou a se desfazer, enquanto o dela se estabelecia no rosto. Eu nem mesmo conseguia vê-la feia. O que havia de errado com os meus olhos, afinal? Pisquei varias vezes, enquanto os lábios dela voltavam a cantar, e ela mexia em cada armário nunca tocado na minha cozinha. Empurrei a cadeira e me levantei. Eu precisava descansar. Eu precisava sair daquele ambiente, e parar de pensar nas coisas que estavam surgindo na minha mente. Eu com certeza precisava mais me livrar da segunda parte. – Você não vai ficar para o jantar. – Desculpe. Estou cansado demais para isso agora. Com licença. Eu sabia que ela queria continuar a falar, mas não podia ficar. Não desse jeito. Andei até o meu quarto, enquanto ouvia o suspiro de decepção atrás de mim. Era como se aquilo me acompanhasse dentro da cabeça. Maldição! Por que eu resolvi trazer essa mulher para a minha casa. Meses sem contato, e eu simplesmente trouxe a Livy Clarke... Eu sou uma piada. Eu certamente vou virar uma, assim que o
Mas eu não olhei para aquele prato. Eu simplesmente não conseguia. Aquela maldita garota baixa de olhos apertados e vestido florido na minha cozinha havia roubado toda a minha sanidade. Aquela menina feia e doce que já não parecia mais tão feia. Ela me encarava, confusa, com seu sorriso largo e lindo, até que ele se desfizesse quando eu a toquei no pulso novamente. Mas eu o fazia delicado, passando as pontas dos dedos. Mas aquilo não parecia o bastante quando senti o coração palpitar. Eu queria mais, e eu teria mais. Minha mão não esperou a permissão do meu cérebro para colocar na nuca daquela mulher. – O que foi? – Livy Clarke perguntou, enquanto eu a segurava firme. Eu podia notar o quanto ela estava se esforçando para manter o pescoço arqueado para trás. Os olhos dela estavam arregalados, e eu adorava aquilo. – Eu não sei... – Sussurrei. Ela parecia ter achado engraçado quando disse aquilo, mas a confusão se estabeleceu naquele rosto, e uma ruga se formou entre as sobrancelhas.
Me sentei na cadeira do escritório, enquanto tentava, inutilmente, manter a minha atenção nas coisas que Eliot me falava. – Está me ouvindo? Não, eu não estava. A minha mente não parava de rebobinar aquela maldita cena. O que deu em mim para fazer uma coisa tão estupida? Eu precisava dela. A empresa precisava da Livy Clarke, e agora, eu tinha estragado tudo. Aquela mulher me odeia ainda mais. – Desculpe, o que? – Perguntei. – Pode repetir? Eliot fechou a pasta de papel pardo e me encarou. As suas sobrancelhas estavam erguidas, e ele parecia ainda mais surpreso. – O que está acontecendo com você? Permaneci em silêncio por algum tempo, mas não consegui manter aquilo. Eu precisava falar. Sem que eu olhasse para ele, soltei a bomba presa na minha cabeça. – Livy Clarke esta morando no meu apartamento. – Entendi... Livy... – Os olhos dele se arregalaram. – A monstro? – Eliot praticamente saltou da poltrona, apoiou as duas mãos na mesa, e me encarou com firmeza. – Por favor, não brinqu