AndréAlexandre está uma fera. O tipo de fera desesperada. Não posso mais jogar em seus ombros minha traição.Eu vou sozinho resgatar o meu filho e sua mãe. E vou agora.Enquanto ele falava sobre termos um traidor, sai da casa.Não foi surpresa Amanda me seguir. Ela já deve ter sentido mais de uma vez a culpa que me corrói. É intensa demais para que não perceba e hoje chegou ao limite.― O que foi isso que senti? Culpa? ― chamou minha atenção antes que entrasse no carro.Eu parei, mas não tinha vontade de olhar para ela, fiquei segurando a porta do carro aberta.― Eu vou embora da cidade por um tempo. Preciso resolver uma coisa. ― Ignorei sua pergunta.― Você tem algo a ver com o que aconteceu com a mulher do nosso irmão? ― foi direta como sempre.Ela era outra que poderia ter se machucado por uma traição minha. Deixar dois trastes a solta quando facilmente poderiam ser pegos por eles quase causou várias tragédias. Nesse momento, a mulher do meu irmão está no hospital com o filho, ass
MarcelaHá quanto tempo estou aqui? Me recordo que estava em uma boate falando sobre a merda da minha menstruação que atrasou e que teria maior rolo por ser de um Rodrigues. Eu estava falando sobre ficar com o filho, tirar ou dar para ele e continuar livre.Já tirei um filho, não me custaria tirar outro. Eu não tenho condições de criar uma criança. Não dá para ser mãe só nos momentos bons, principalmente quando os momentos bons a cada dia ficam mais escassos. Não consigo ficar sóbria sem ouvir as palavras do médico sobre a gravidez adiantada, chego a sentir a dor do aborto. Meus pais me tratavam como se eu fosse uma estranha que os colocava em risco na sociedade.Se não fosse por Bia eu já estaria morta, com os pulsos cortados. Ela foi minha ancora durante anos. E por amor a ela não implorei que ficasse e deixasse de lado seus estudos para impedir que eu me matasse. Lutei contra meus demônios esperando suas férias e o fim do curso. Ai ela diz que ganhou a chance de estudar mais e que
MarcelaNo dia da fuga, escrevi uma carta para o caso de algo dar errado e guardei dentro do sutiã. Pelo menos eles me mantinham alimentada e com roupas decentes.Daria tudo certo na fuga, se um segurança não aparecesse do nada quando ela estava entrando no carro comigo. Só deu tempo de colocar Ângelo em um bebê-conforto. Antes que eu entrasse no carro uma bala me atingiu na barriga.― Ficou maluco, porra! ― outro segurança chegou e aproveitamos a pequena distração para entrar no carro e fugir.Por ser chefe de segurança ela comandava a abertura do portão. Logo estávamos longe. Mas sabíamos que poderiam vir atrás de nós.Ângelo estava no bebê-conforto como se não estivéssemos em fuga e sim em um passeio.― Não pare ― pedi quando ela começou a diminuir em uma área residencial.Tínhamos que chegar a capital. Soube que estávamos em uma cidade pequena.― Se não formos a um hospital você vai morrer ― avisou séria.― Siga o plano. Procure minha prima. E se eu morrer, entregue Ângelo e a car
BeatrizNão sei se tenho vontade de rir ou de chorar com esse presente do marido de Willow. Ainda estou encarando essa maleta cheia de dinheiro. Foi um segurança que me entregou na pensão. O recado era para eu considerar um presente por ter unido os dois.Sinceramente, essa maleta foi o cúmulo para eu entender que estava perdendo tempo. Não dá mais para procurar minha prima assim. Eu vou voltar para casa e dizer aos meus tios que se eles não procurassem a polícia, eu procuraria.Pro inferno com essa merda toda. Já deu de dar uma de detetive enquanto perco meus dias nesse lugar, me privando dos meus desenhos, da minha vida.Coloquei as poucas coisas que tenho aqui na mala, troquei de roupa para um jeans e uma camiseta verde e me preparei para sair da pensão. Depois de meses nesse lugar e sem respostas, já chega. Sei quando sou feita de besta. A última pessoa que falou saber do paradeiro de Marcela deu informação falsa, assim como todas as informações que recebi. Só queria dinheiro para
WillowNão me canso de olhar esse anjinho. Tão pequeno e tão poderoso. É capaz de deixar os pais de joelhos com um choro ou um sorriso.― Você é minha vida, Vitor! ― falei sorrindo para ele.Nem vi a porta abrindo.― Você vai furar nosso filho de tanto olhar. ― A voz de Alexandre se fez ouvir.― Não consigo parar. É mais forte que eu. Me arrasta daqui ― brinquei estendendo os braços.― Com prazer. Vamos nadar um pouco. Se ele acordar a babá leva para nós.― Isso, cunhada. Piscina. ― Amanda apareceu na porta de biquini fazendo barulho e causando uma expressão mortal no meu marido. Ela se calou na hora. Levantou os braços em rendição.Vitor ficava chatinho quando era acordado bruscamente.Me afastei da cama e meu celular começou a tocar, fazendo o olhar de Alexandre se virar na minha direção com o mesmo olhar que dirigiu a Amanda. Com uma mão atendia e com a outra mostrava o dedo do meio para ele. Era o telefone da Bia. Não falo com ela desde o casamento. Fiquei sabendo que Alexandre re
BeatrizO telefone continuava ligado. Como, mesmo com a confusão, o fone ainda estava pendurado em meu pescoço, ouvia a Rodrigues dizendo que estavam chegando. Aproveitei e li a tal carta. Se eu morresse pelo menos saberia as últimas palavras da minha prima.O choro de Ângelo ia e vinha. Eu tentava acalmá-lo, mas não sei nada sobre crianças.“Continue procurando. A vadia deve ter passado para outra pessoa. O sinal vem daqui.”“Devia ter rastreado a pulseira do garoto desde o começo, seu burro.”“Se é tão inteligente, por que não disse antes de seguirmos o carro atoa?”Ouvi vozes cada vez mais perto.Certeza que não eram do resgate.Para meu desespero, Ângelo começou a chorar. E eu também, ao perceber que seriamos descobertos.― Rápido, eles estão aqui ― gritei no telefone. Já estava um barulho mesmo.Mal terminei de falar e dois homens surgiram na minha frente. Era tarde demais. Ouviram o choro. Até tentei cobrir a boquinha dele, mas era tarde demais.― Acabou a brincadeira. ― Um dos
AndréFrustrado. Esse era o sentimento que me corroía enquanto voltava para a capital.Encontrei a casa vazia. Foi informação errada. Só espero que ir até lá com um falso mandato não coloque meu filho e a mãe em perigo.Liguei meu telefone pessoal novamente e enquanto dirigia ouvia mensagens de voz. A maioria era de Amanda me xingando e exigindo que voltasse para casa.A última me intrigou.Era uma mensagem de Alexandre.“Venha para minha casa assim que ouvir isso. Estamos com seu filho.”Como assim estão com meu filho?Enfiei o pé no acelerador.Em poucas horas estava na porta de Alexandre. Podia ter ligado do caminho, mas estava tão apavorado que nem pensei direito.― Onde ele está? ― perguntei enquanto entrava.― No quarto, dormindo com o Vitor. A babá está cuidando deles.― Como ele chegou até aqui?― A colega de pensão da Willow trouxe. Pelo que entendi, ela é prima da mãe do garoto e estava sendo perseguida por algumas pessoas. Os que achamos estão mortos.― A mãe dele é Marcela
AndréAlexandre parado na minha frente, esperando explicações que eu devia a todos. Era hora de confessar meus pecados.― Sampaio foi na delegacia algum tempo atrás e me ameaçou com um possível filho se eu não o ajudasse a escapar.― Ai você deixou.― Ele prometeu que ninguém sairia ferido. Por isso deixei que não fosse pego.― Mas alguém se feriu. Alguém morreu.― Sim. E estou disposto a pagar pelo meu erro.― E Jessica?― A mesma coisa. No fim percebi que não era coisa de Sampaio ou dela. Eles não tinham ligações. Exceto uma. Descobri que os dois foram atrás da família Pereira para conseguir proteção contra nós. E de alguma forma eles acharam Marcela e o menino. Pelo que Sampaio disse, estão com eles desde antes de o garoto nascer.― E por que só usaram essa carta agora?― Não sei. Talvez questão de oportunidade.― Isso é uma grande confusão. Ainda não sei o que fazer, meu irmão. Entendo a sua situação, porém ainda terá que ser castigado pelo seu erro. Temos que ser exemplo.― Faça