BeatrizMeses antes do casamento do WillowÉ tão bom chegar em casa. Não via a hora do avião aterrissar e encontrar minha família. É quase cinco anos sem vê-los. Férias não conta. Gosto de ficar com meus pais, meus tios, principalmente minha prima Marcela.Há tempos ela não me manda uma mensagem, nem me liga. Vai ter que me dar uma ótima explicação. Simplesmente parou de responder minhas mensagens e ligações.― Seja bem-vinda, senhorita. ― Clovis, o senhor de setenta anos, veio me receber. Já aposentado, ele ainda trabalha como nosso mordomo. Diz não conseguir deixar a casa onde conheceu sua esposa, que também continua trabalhando aqui. Eles se tornaram da família. Como não fazem nada pesado ou prejudicial na idade, mamãe e tia Vivi deixam que continuem conosco.― Obrigada, Clovis. ― Sorri para ele. ― Como o senhor está? Cuidando da saúde?Ele devolveu o sorriso.― Estou bem, menina. Sempre cuidando para viver até os cem anos.― Você vai conseguir passar disso.Entrei sorrindo na sala
BeatrizDe acordo com o detetive que ainda está no caso da minha prima, Marcela passou alguns meses em uma pensão do Brás com alguns viciados que ela sustentava. E por uma confusão eles foram expulsos. Também soube que dois dos viciados dessa época voltaram a pensão e não sabem do paradeiro dela. Dizem que eles foram em uma boate cara e foi a última vez que se viram. Perguntei qual era a boate e a resposta foi: Rodrigues.Tudo decidido. Da mesma forma que meus pais e meus tios esconderam de mim, farei escondido. Vou encontrar Marcela.Informei que voltaria para a França. Não conseguiria ficar em casa enquanto eles não tratassem o sumiço de Marcela como desaparecimento e envolvessem a polícia.Depois de muita conversa sem sentido, eles me deixaram ir. Pareciam até aliviados com a minha decisão.O taxi parou na porta do aeroporto. Onde peguei outro e segui de volta para o centro, em direção ao Bras. Logo estava como moradora da pensão onde minha prima ficou.Dividia o quarto com mais du
André― Veio se entregar? ― fui logo falando ao entrar na sala e encontrar Sampaio sentado na minha cadeira. Já havia sido avisado que ele estava me esperando. É muita cara de pau dele estar aqui quando seu nome está na lista negra dos Rodrigues. ― Fiquei sabendo que tem muita gente querendo sua cabeça.Ele não pareceu abalado. Isso disparou um alarme em mim.― Quis ser o primeiro a te parabenizar.― Por? ― encarava cada detalhe dos seus movimentos. Teria que ficar esperto. Esse tipo é ardiloso.― Pensar mais com o pau que com a cabeça de cima. ― Ele riu.― Vai direto ao assunto.― Parabéns, papai. Seu filho é a sua cara.Não falei nada.― Você deve estar pensando: mas eu não tenho filho. Tem sim. E o mais legal é que a mãe o chamou de Ângelo. Deve ser para seguir a linha dos Rodrigues. Ridículo todos vocês como nomes iniciados com A.― Se eu tenho um filho ou não, onde você se encaixa? Comi alguma parente sua por acaso? ― debochei.― Acontece que se o seu irmão colocar as mãos em mim
AndréChegamos na mansão dos Albuquerque pouco depois que sai da delegacia, fomos direto para eles. Já estavam avisados da nossa visita. O lugar é imenso, só perde para a mansão do meu pai que sempre quis ter tudo melhor e maior que os outros.Os Albuquerque nos receberam muito bem. Até falarmos sobre Marcela e a proposta.― Infelizmente não será possível. Nossa filha está na França com a prima, estudando. Não retornarão tão cedo.Amanda me cutucou. Mas não precisava nem de poderes mágicos para saber que eles estavam escondendo algo. A tensão ficou quase palpável de uma hora para outra.― Que pena! Ter Marcela em nossa divulgação daria uma grande visibilidade. Pelo nome da família de vocês e pela beleza espetacular dela. ― Amanda falou, fingindo não notar a mudança no clima.Conversamos um pouco mais e, quando saímos, Amanda disse o que eu estava pensando.― Eles estão escondendo alguma coisa.― Também percebi. O senhor Albuquerque chegou a suar nesse clima gelado.― A senhora disfarç
AndréMeses que descobri que tenho um filho e que esse filho está nas garras do inimigo. Daqui a pouco ele será adolescente e não o terei resgatado.Regularmente recebo atualizações dos dois e chantagens. O desgraçado do Sampaio estava a solta e a culpa é minha. O pior é que ele matou um dos nossos. Disse que não o faria e fez. E eu não pude fazer nada. Não posso fazer nada enquanto eles estiverem com meu filho.Luiz está me ajudando na busca. Ele é o único que sabe. Confio que ele não contará nem para o seu namorado.Até agora nem uma pista de onde encontrar Marcela e meu filho. E pelas fotos que recebo, ela não parece nada bem. Cheguei a ver marcas de agulhas em seus braços em uma delas. Parecia recente.Assim que conseguir salvá-los, vou tirar meu filho dela. Essa mulher precisa se tratar antes de ser tornar responsável pela vida de alguém.O cerco estava se fechando ao redor de Sampaio. Com ou sem minha ajuda ele acabaria pego. O desgraçado se expõe, como se me chantagear o tornas
AndréAlexandre está uma fera. O tipo de fera desesperada. Não posso mais jogar em seus ombros minha traição.Eu vou sozinho resgatar o meu filho e sua mãe. E vou agora.Enquanto ele falava sobre termos um traidor, sai da casa.Não foi surpresa Amanda me seguir. Ela já deve ter sentido mais de uma vez a culpa que me corrói. É intensa demais para que não perceba e hoje chegou ao limite.― O que foi isso que senti? Culpa? ― chamou minha atenção antes que entrasse no carro.Eu parei, mas não tinha vontade de olhar para ela, fiquei segurando a porta do carro aberta.― Eu vou embora da cidade por um tempo. Preciso resolver uma coisa. ― Ignorei sua pergunta.― Você tem algo a ver com o que aconteceu com a mulher do nosso irmão? ― foi direta como sempre.Ela era outra que poderia ter se machucado por uma traição minha. Deixar dois trastes a solta quando facilmente poderiam ser pegos por eles quase causou várias tragédias. Nesse momento, a mulher do meu irmão está no hospital com o filho, ass
MarcelaHá quanto tempo estou aqui? Me recordo que estava em uma boate falando sobre a merda da minha menstruação que atrasou e que teria maior rolo por ser de um Rodrigues. Eu estava falando sobre ficar com o filho, tirar ou dar para ele e continuar livre.Já tirei um filho, não me custaria tirar outro. Eu não tenho condições de criar uma criança. Não dá para ser mãe só nos momentos bons, principalmente quando os momentos bons a cada dia ficam mais escassos. Não consigo ficar sóbria sem ouvir as palavras do médico sobre a gravidez adiantada, chego a sentir a dor do aborto. Meus pais me tratavam como se eu fosse uma estranha que os colocava em risco na sociedade.Se não fosse por Bia eu já estaria morta, com os pulsos cortados. Ela foi minha ancora durante anos. E por amor a ela não implorei que ficasse e deixasse de lado seus estudos para impedir que eu me matasse. Lutei contra meus demônios esperando suas férias e o fim do curso. Ai ela diz que ganhou a chance de estudar mais e que
MarcelaNo dia da fuga, escrevi uma carta para o caso de algo dar errado e guardei dentro do sutiã. Pelo menos eles me mantinham alimentada e com roupas decentes.Daria tudo certo na fuga, se um segurança não aparecesse do nada quando ela estava entrando no carro comigo. Só deu tempo de colocar Ângelo em um bebê-conforto. Antes que eu entrasse no carro uma bala me atingiu na barriga.― Ficou maluco, porra! ― outro segurança chegou e aproveitamos a pequena distração para entrar no carro e fugir.Por ser chefe de segurança ela comandava a abertura do portão. Logo estávamos longe. Mas sabíamos que poderiam vir atrás de nós.Ângelo estava no bebê-conforto como se não estivéssemos em fuga e sim em um passeio.― Não pare ― pedi quando ela começou a diminuir em uma área residencial.Tínhamos que chegar a capital. Soube que estávamos em uma cidade pequena.― Se não formos a um hospital você vai morrer ― avisou séria.― Siga o plano. Procure minha prima. E se eu morrer, entregue Ângelo e a car