Senhor RodriguesAssim que meu filho sai, meu conselheiro e amigo entra na sala.― Estava ouvindo? ― pergunto enquanto ele pega uma bebida no bar. Somos grandes amigos desde moleques e ele sempre esteve ao meu lado.― É um defeito que devo morrer com ele.― O que acha?― Sobre a mulher? Me pergunto se não é arriscado demais trazer uma pessoa normal para nossa família. Lavinia convive com os Rodrigues desde que nasceu, é filha de um primo. Com ela como Grande Mãe, tudo seria mais fácil.― Lavinia perdeu o lugar assim que aquela mulher entrou na vida do meu filho. Ela devia ter sido mais esperta e o convencido a se casar há tempos.― Por que diz isso? Achei que a mulher fosse apenas o útero que carrega o filho.― Meu filho estava com aquele olhar.― Que olhar?― O mesmo que eu via no espelho toda vez que me encarava enquanto minha Lucia estava viva. Talvez ele nem saiba ainda, mas vai descobrir em breve que deixou de ser dono dos seus próprios sentimentos, de suas ações. Não terá uma
WillowDepois que chegamos na cobertura, Alexandre e eu não conversamos. Ele só me avisou que precisava sair e que se demorasse eu poderia jantar sem ele.Fui deixada na cobertura com uma senhora simpática que cozinhava algo que cheirava deliciosamente.― As suas coisas estão no quarto do patrão. Enquanto espera o jantar me pode se instalar ― ela avisa enquanto eu como uma banana para esperar o jantar.Converso mais um pouquinho com ela e descubro que trabalha há anos com Alexandre. Seu nome é Nina.Depois de conversar com ela, ando pela casa até encontrar um quarto gigante onde está uma mala tamanho família. Dentro dela estão minhas coisas, totalmente organizadas. Fecho os olhos com força ao imaginar aqueles seguranças guardando meus trapos, minhas calcinhas velhas que eu já devia ter jogado fora, mas que não consigo abrir mão.Como Alexandre e eu não conversamos, não faço ideia de onde posso colocar minhas coisas. Pego um vestido e uma calcinha decente e tomo um banho inicialmente f
Alexandre― Por que dormiu no sofá? Estava me esperando? ― pergunto quando estamos tomando café da manhã lado a lado.― Na verdade, só tinha o sofá e o seu quarto. Como você não estava aqui para abrir as portas trancadas... ― deixa no ar.― Agora aquele é nosso quarto ― informo.― É melhor não. Se eu dormir e acordar com você, ficar brincando de família, vou acabar me apaixonando de verdade.― Azar o seu. Meu pai quer que a gente se case e vamos nos casar.― Como assim? ― se mostra perplexa.Sorrio.― Minha pequena Willow, você entrou em uma enrascada que não faz ideia. Sua antiga vida já era. Eu vou te ensinar a ser uma Rodrigues. E mesmo que isso te assuste, não há porta por onde sair.― Está mesmo me assustando.― Ainda não viu nada.― E se eu me negar a casar?― Sem opções. Quando meu pai quer, ele tem. Vai ver que é o mesmo comigo.― Devem ser dois convencidos ― debocha, mas sua voz mostra que está nervosa.― Foi você quem abriu a porta para a pessoa errada.― Abriu as pernas, vo
WillowAmanda Rodrigues chegou quando estávamos tomando café. A primeira coisa que Alexandre fez quando ela chegou foi sair e me deixar nas mãos dela. Ele age como se eu não precisasse trabalhar. Precisamos conversar sobre isso.― Então cunhadinha mentirosa. Me lembro de alguém dizer que não estava grávida do meu irmão. ― Mostra um sorriso de julgamento.― Desculpe por mentir.― Eu te entendo. Você teve medo dele. Os Rodrigues causam essa sensação.― Sendo sincera, você me assusta muito mais que qualquer um dos seus irmãos ― confesso. Desde a primeira vez que a vi que sinto essa energia emanando dela. É como se essa mulher tivesse poder para qualquer coisa, boa ou ruim.Ela ri.― Eu sei. Posso sentir isso. Assim como senti que estava mentindo para mim naquele dia.― São seus olhos. São tão negros. Parece capaz de devorar uma alma.― Nunca me descreveram assim. Gostei. Devoradora de almas. É um nome apropriado para alguém como eu.― Alguém como você? ― pergunto para saber um pouco mais
WillowQuando Alexandre chegou era quase fim de tarde, eu também tinha acabado de chegar. Deixei as sacolas que Amanda me fez trazer, para me decidir sobre mais coisas do que devo ter capacidade de conseguir, e me joguei no sofá. Meus pés me matavam.― Como foi? ― ele pergunta se sentando e colocando a minha cabeça em seu colo. Parecemos um casal de verdade.― Cansativo e caro. Eu não sabia que estava me casando com alguém da realeza.― Pois é, princesa ― brinca sorrindo. Ele tem um sorriso tão lindo.― Por falar em coisas caras, eu não posso simplesmente abandonar meus empregos ― falo. Está na hora de conversar sobre isso.― Você já foi demitida. Aquela vaga nem existia mesmo. Ajeitei para te ter por perto e descobrir o que estava aprontando ― conta o que eu já imaginava. ― Aproveite seu seguro-desemprego.― Eu não sei ser dondoca. Preciso me ocupar. Por enquanto vou ficar no outro que é em casa, mas tenha certeza que quanto mais tempo eu ficar dentro de casa mais vou me tornando ins
WillowNo sábado, me vesti com uma das roupas que comprei com Amanda. Um vestido vinho sem decote e com uma fenda um pouco ousada.― Está linda! ― Alexandre comenta me comendo com os olhos. ― Se não fosse um jantar com meu pai, a festa seria só nós dois na cama.― Quero ver se vai ter esse fogo todo quando eu estiver imensa ― brinco para aliviar a tensão.― Vai ver, prometo.Pelo olhar dele, chego a sentir sua mente funcionando, calculando se teríamos tempo para uma rapidinha.― Vamos de uma vez. Nem pense em bobagens! ― Pego minha bolsa e ando até a porta.Ele vem atrás e segura minha cintura.― A noite está só começando, pequena Will. Ainda farei muitas “bobagens” com você.O que eu iria adorar. Mas não respondi. Deixei que me guiasse até o carro com motorista e seguimos até uma mansão imensa. Lá encontramos os irmãos de Alexandre, que me trataram muito bem. Logo um senhor chegou. Ele tem cabelos grisalhos, é bastante magro e tem um bigode branco engraçado, além de olhos azuis que p
Alexandre― Seu pai me disse sobre ensinar. Você me disse. Amanda me disse. Sinto que não tem nada a ver com regras de etiqueta. Pode me dizer? Ou tem a ver com regras de etiqueta e estou fantasiando? ― No dia seguinte ao jantar, Willow me pergunta.Está na hora.― Eu vou te apresentar a verdadeira família Rodrigues. Vamos fazer um passeio.A levo de volta a mansão.― Por que estamos nessa casa onde aconteceu o jantar com sua família? Vamos nos encontrar com seu pai? Ele mora aqui?― Não. Ele não mora e não vamos nos encontrar com ele. Hoje é só nós dois. Hoje quero que conheça quem realmente sou. E se quiser desistir, talvez até possa tentar aceitar.Ela se mostra confusa, mas logo entenderia.Ando com ela pela casa, e decido começar mostrando o meu passado mais distante. A levo ao calabouço e deixo que escute a minha história. Aquela que ouvia sempre que precisava ser castigado.Quando a voz cessa, ela está chorando.― Esse fui eu. Um menino abandonado, assassino desde criança, que
WillowSinceramente, não sei o que fazer. Alexandre não me toca mais há dias e sei que ele teme ser recusado. Ele abriu sua alma para mim naquela casa. Tive pena do menino que ele foi e da forma dolorosa como se tornou homem, mas isso não justifica ele matar pessoas por dinheiro. Amanda me contou coisas tão assustadoras. Ela disse que não matam inocentes, mas como podem julgar quem é culpado e quem é inocente?Como posso viver com um homem assim? E se isso prejudicar nosso filho? Se ele se machucar? É uma situação tão difícil. E a cada dia em que ele dorme sem sequer encostar em mim, parece que um pedaço meu morre. Em algum momento esse homem se impregnou em mim de uma forma que não sei explicar.Se eu quiser me afastar de tudo que ele representa terei que conviver com meus pedaços mortos.Talvez eu tenha que fazer isso, pelo bem-estar do meu filho. Eu disse a ele que se continuássemos vivendo juntos acabaria me apaixonando. E adivinha? Me apaixonei. O amo tanto que sinto falta de ar