Capítulo 28: A irmã ocultaMarcoA noite havia caído sobre a casa de campo e o silêncio só era interrompido pelo som ocasional do vento e das folhas secas que se arrastavam pelo chão. Júlia estava em um estado de vulnerabilidade, e isso a fazia ainda mais insistente. Eu estava cansado e desgastado por meses de tensão constante. A cada dia, a pressão aumentava e a distância entre o segredo e o dever se tornava mais difícil de atravessar.— Marco, eu preciso de você — disse Júlia, a voz carregada com uma mistura de desespero e desejo. Ela estava visivelmente embriagada, seus olhos brilhando com uma vulnerabilidade que ela normalmente não mostrava. Estava apoiada em mim, tentando criar uma proximidade que eu sabia ser um convite para cruzar uma linha perigosa.— Júlia, você não está bem — tentei argumentar, embora a tensão em minha voz revelasse a dificuldade de manter o segredo oculto. — Você deve descansar.Ela não estava ouvindo. Em vez disso, ela se aproximou mais, suas mãos tocando
Capítulo 29: Rendidos e ArrependidosMateusAs noites quentes de Palermo eram como uma presença sufocante, envolta em mistério e perigo. Eu saía pelas ruas escuras, acompanhado dos meus capangas de confiança, em busca de qualquer informação sobre o paradeiro de Moretti. As ruelas e becos pareciam sussurrar segredos enquanto nós avançávamos, sempre alertas.Os homens da máfia chinesa estavam fora do seu território. Ao avistá-los, sabia que algo grande estava para acontecer. A tensão no ar era palpável, e em um piscar de olhos, as balas começaram a serem disparados de ambos os lados. A troca de munição foi feroz, e eu me vi cercado pelo caos e pela adrenalina.No meio da confusão, uma visão inesperada surgiu: Marco e Júlia. Eles chegaram a tempo, atirando com precisão para me resgatar. A visão de Júlia, determinada e implacável, me atingiu de uma maneira que eu não esperava. Mesmo com os tiros cruzando ao nosso redor, eu não conseguia tirar os olhos dela.— Mateus! — gritou Júlia, sua v
Capítulo 30: Um presente e uma condenaçãoJúliaSeis meses se passaram desde aquela noite em que tudo mudou. Olhando pela janela da casa de campo, acariciei suavemente a barriga que agora abrigava uma nova vida. Estava grávida de uma menina, a quem decidi chamar de Catarine. A alegria que sentia por ter essa nova esperança em meu ventre era indescritível, mas também carregava uma grande responsabilidade e segredo.As coisas com Mateus não avançaram além daquela noite. Nosso encontro foi uma explosão de emoções, mas deixou um rastro de confusão e frustração. Ele continuava morando na mansão, enquanto eu permanecia isolada na casa de campo, tentando manter minha gravidez em segredo. O pensamento de Mateus descobrir a existência de Catarina me enchia de temor. Sabia que não podia confiar nele, não depois de tudo o que aconteceu.Marco, meu fiel segurança, foi meu porto seguro durante esses meses. Ele prometeu me proteger acima de tudo, e juntos, elaboramos um plano para lidar com a situa
Capítulo 31: Lembraças amargas HelenaA morte de Moretti foi um alívio e, ao mesmo tempo, uma vitória inesperada. Paris agora parecia um eco distante do passado, um capítulo encerrado com uma sensação de satisfação amarga. Meu pai, Hassan, sempre teve uma visão clara do que precisava ser feito, e agora, com Moretti fora do caminho, era hora de realizar os últimos passos de nosso plano meticuloso.No entanto, havia uma tarefa crucial a ser cumprida antes de me unir a ele: garantir a segurança de George, ou melhor, Thomaz, como ele foi registrado no Brasil. A identidade de George era uma chave preciosa para nós, uma peça fundamental em um jogo que estava prestes a ser reescrito.Envolvi o menino em um cobertor e o carreguei com cuidado para o carro. Ele estava tranquilo, inconsciente do caos ao seu redor e das mudanças drásticas em sua vida. A transferência de George de Paris para Palermo foi realizada em silêncio, sem alarde, com todos os detalhes planejados minuciosamente.Chegamos a
Capítulo 32: Assim se fez uma famíliaJúliaQuando voltei para a casa de campo, o sol estava se pondo no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. A tranquilidade do ambiente parecia um contraste gritante com a turbulência que se acumulava dentro de mim. As últimas semanas no orfanato haviam me dado uma perspectiva nova e um toque de esperança, mas ao entrar na minha casa, a realidade cruel de minha vida atual se impôs com força renovada.Catarine, minha filha, estava sentada no chão da sala de estar, rodeada por brinquedos espalhados. Seu rosto estava fechado em uma expressão de frustração e raiva, um reflexo direto das tempestades que passávamos em casa. Ela tinha menos idade do que o menino no orfanato, mas seu temperamento forte e indomável me lembrava tanto de Mateus que era quase doloroso.Eu me aproximei dela, tentando manter a calma, mas o peso do dia estava me fazendo vacilar.— Catarine, querida, como foi seu dia? — perguntei, tentando disfarçar a preocupação em
Capítulo 33: O lamento de quem perdeMateusDez anos. Uma década inteira havia se passado desde aquele fatídico dia em que George desapareceu e minha vida se despedaçou. Um ano desde o divórcio de Júlia, que, por mais doloroso que fosse, parecia inevitável. Descobri, quase casualmente, que ela estava grávida de uma menina. Uma filha que poderia ou não ser minha, mas isso, no final das contas, pouco importava. O que importava era vê-la feliz, completa com uma criança que parecia dar-lhe uma razão para continuar.Minha própria vida havia tomado um rumo inesperado. As noites em Palermo se tornaram mais silenciosas, e os becos escuros onde eu costumava procurar por pistas de Moretti agora pareciam vazios de qualquer esperança. Minha busca por vingança e justiça se esvaiu com o tempo, deixando um vazio que nem mesmo as lembranças mais intensas podiam preencher.Um ano divorciado de Júlia. Não poderia dizer que sentia falta das brigas e dos confrontos constantes, mas havia uma saudade amarg
Capítulo 34: Novos ObjetivosCatarineEu sempre soube que minha mãe teve um filho antes de mim. Não foi difícil descobrir, mesmo que ela tente esconder. As conversas sussurradas, os olhares tristes, as visitas frequentes ao orfanato em Palermo... Tudo isso me deu as pistas de que havia algo mais na história da minha família.Mas eu nunca falei nada. Por que eu deveria? Esse irmão, esse fantasma do passado, só atrapalharia. Quero minha mãe só para mim. Ela é tudo o que tenho, e não estou disposta a dividir seu amor com ninguém, especialmente com alguém que nem sequer conheço.O Marco... Ele é como um pai para mim. Sempre esteve ao meu lado, cuidando de mim, me protegendo. Ele é forte, carinhoso, e sempre sabe o que fazer. Não sei o que minha mãe faria sem ele. Eu também não sei o que faria. Para mim, ele é mais pai do que qualquer outro homem poderia ser.— Catarine, você sabe que sempre pode contar comigo, não é? — ele me diz, com aquele sorriso que me faz sentir segura.— Claro, Marc
Capítulo 35: Um pouco de normalidade JúliaO restaurante estava elegantemente decorado, com velas suaves em cada mesa, criando uma atmosfera de intimidade que eu precisava desesperadamente. Meu advogado, Edward Sinclair, estava sentado à minha frente, parecendo igualmente ansioso e determinado. Era uma rara oportunidade de fingir que éramos pessoas normais, longe das intrigas e perigos da máfia.— É um lugar bonito — disse Edward, tentando quebrar o gelo enquanto olhava ao redor. Seus olhos refletiam a luz suave das velas, mostrando uma vulnerabilidade que ele raramente permitia transparecer.— Sim, é. Precisamos desses momentos, sabe? Para lembrar que ainda somos humanos — respondi, tentando encontrar um pouco de paz na normalidade forçada.Ele assentiu, um sorriso pequeno e melancólico em seus lábios. Edward tinha sentimentos por mim, sentimentos que iam além da sua função como meu advogado. Porém ele entendia a complexidade da minha vida e os riscos que corremos simplesmente por e